No Fim do Túnel

Abre-se a tela. Ouvem-se gritos.  No fundo uma voz de criança se distingue e responde a mãe o seu paradeiro. Aparentemente, chove e, instantaneamente, os olhos de quem assiste suplicam por claridade, porém esta é nula. Mais que isso, a situação não apresenta nenhum tipo de estabilidade. O que cria tensão. Dali se é levado a conhecer o mundo solitário de Joaquin (Leonardo Sbaraglia). Um cadeirante que é extremamente engenhoso e vive apenas com a companhia de um cachorro debilitado pela passagem dos anos. Ambos dividem uma casa assombrada por sentimentos de culpa. Algo que se evidencia em detalhes ínfimos pelo caminhar da trama. Uma intuição que, na verdade, se transforma em certeza: aquele homem vivera ali momentos felizes com a família, antes de perdê-la junto com os movimentos de seus membros inferiores.

Num piscar de olhos, adentram a cena Berta (Clara Lago) e sua filha Betty (Uma Salduende). As duas batem à porta da casa, pois um anúncio feito por Joaquín diz que há um quarto no terraço para ser alugado. Berta é rápida e tem certeza de que o cômodo será perfeito para ela e a filha. Sai por segundos e retorna com seus pertences. Não dá, sequer, tempo para que o dono da casa respire e diga não a ela. Seu charme e simpatia fazem um balé na cabeça de Joaquin e ele não resiste a ideia de que a chegada delas possa lhe causar uma mudança significativamente boa. O que fica claro com a alteração de ânimos também de seu cachorro. 

No entanto, uma pulguinha aparece no meio daquele conto de fadas e, antes mesmo que Joaquin se deixe levar pela sensualidade de Berta, descobre-se toda a farsa por trás do interesse da mulher em alugar aquele quarto. A moça costumava ganhar a vida como stripper e há pouco tempo conheceu Galereto(Pablo Echarri), um ladrão que está construindo um túnel para roubar um banco na rua em que Joaquin mora. Berta se aproxima do cadeirante então para se certificar de que ele não descubra nada do que está acontecendo, contudo, Joaquin fica a par da situação em todos os sentidos inimagináveis e coloca em prática um plano para acabar com Galereto e sua quadrilha.

Com boa pitada de suspense, a trama ousa, mas não se perde. Vinda diretamente da Argentina, 'No Fim do Túnel' chega aos cinemas para agradar o nosso imenso amor por boas histórias (e por que não pelos portenhos ❤?!).
A película tem direção e roteiro de Rodrigo Grande (Cuestion de Principios) e ganha força com a distribuição dos estúdios Warner Bros. No elenco, Uma Salduende, Clara Lago, Leonardo Sbaraglia, Federico Luppi e Pablo Echarri.


O roteiro de Rodrigo é inteligente, bem desenhado e prende nossa atenção. Nos impele uma leva de emoções e sensações. Agonia é talvez a maior delas, no meu caso. Todavia, aguça nosso faro de 'detetive' e raramente nos deixa saber qual o destino daqueles personagens. Ou seja, ele nos surpreende bem com tudo que joga em tela. Faz isso com uma direção detalhista que não entrega nada de graça e que pede que o espectador continue seguindo atento os conflitos da trama. O diretor guia seu elenco tão bem que é impossível não destacar os aspectos morais e éticos dos heróis e anti-heróis.

Leonardo Sbaraglia é precioso e domina o filme confortavelmente. O ator esteve em uma das melhores cenas do maravilhoso 'Relatos Selvagens', de 2014, (lembram do episódio dos motoristas?). Federico Luppi é magistral. Em certa parte, seu personagem vai a casa de Joaquin e se senta no escuro como um mafioso ridiculamente poderoso. Ali se tem uma fotografia de colocar os joelhos no chão e venerar. Clara Lago traz nuances muito bons a sua personagem 'dúbia' e a pequena Uma consegue expressar muito com pouquissimo. Pablo é daqueles atores que explode na vilania e ele nos brinda com um distinto grupo de ladrões que não só se encaixam no suspense como dosam comédia por ele.

A trilha sonora é uma parceria de dois monstros. Federico Jusid, responsável pela trilha do aclamado 'O Segredo dos Seus Olhos', e Lucio Godoy, compositor de milhares de trilhas, incluindo a de ''Um Conto Chinês''. A fotografia de Félix Monti consegue ser suja, escura e consolidar o drama da vida de Joaquin. A edição do trio Leire Alonso, Manuel Bauer e Irene Blecua é ainda pontual e acertadíssima.
 
Trailer


Uma obra cinematográfica que emplaca tensão, comédia, sensibilidade, drama, tesão e não foge do bom cardápio que a Argentina tem nos apresentado nos últimos anos. 

Imperdível! E altamente indicado!


Ficha Técnica: Al Final del Túnel, 2016. Direção e Roteiro: Rodrigo Grande. Elenco: Leonardo Sbaraglia, Clara Lago, Pablo Echarri, Federico Luppi, Uma Salduende, Walter Donado, Javier Godino, Daniel Morales Comini, Sergio Ferreiro, Ariel Nuñez Di Croce, Facundo Nahuel Giménez, Laura Faienza. Nacionalidade: Argentina, Espanha. Gênero: Suspense, Policial. Trilha Sonora Original: Lucio Godoy e Federico Jusid. Fotografia: Félix Monti. Edição: Leire Alonso, Manuel Bauer e Irene Blecua. Distribuidor: Warner Bros Pictures. Duração:  02h00min.


Avaliação: Quatro pulos da cadeira de muita agonia e meio gritinho de maravilhamento (4,5/5).
É tão ótimo que quase foi excelente!

Não recomendado para menores de 16 anos
Hoje em Cinemas seletos!

See Ya!
B-

Escrito por Bárbara Kruczyński

    Comentários Blogger
    Comentários Facebook

0 comments:

Postar um comentário

Pode falar. Nós retribuímos os comentários e respondemos qualquer dúvida. :)