O Beijo No Asfalto, de Murilo Benício



“Nós não realizamos esse filme pela mensagem, na realidade a gente só queria fazer uma adaptação de uma peça de Nelson Rodrigues e escolhemos O Beijo por ser tão bom. Nós tivemos sorte.” 

Essas são as palavras de Murilo Benício, respondendo a um jornalista, durante a coletiva da produção, realizada em São Paulo, no último dia vinte e seis de novembro, sobre a escolha de produzir e dirigir O Beijo no Asfalto, uma adaptação de uma peça de teatro datada de 1960 que, infelizmente, acaba sendo incrivelmente atual 
           
O longa em si revela duas histórias e elas são contadas simultaneamente. E Benício, em seu primeiro filme como condutor, decidiu não fazer simplesmente uma adaptação de O Beijo, mas também apresentar uma homenagem as pessoas envolvidas com o projeto e toda a produção.
           
Trailer

Para melhor compreensão de como a narrativa se dá, por exemplo, a primeira cena do longa não mostra Cunha (Augusto Madeira) - um policial fracassado que está recebendo atenção por ter dado um tapa na barriga de uma mulher grávida e provocado um aborto - e Amado Ribeiro, um jornalista que está à procura da próxima tragédia para tentar ficar famoso, conversando sobre como manipular um acontecimento pequeno em algo grande. Não, ao invés disso, assistimos a roda de leitura desses atores, com todos os que fazem parte desta produção sentados em uma mesa e compartilhando esta primeira atuação de O Beijo.

Segundo Murilo, a parte mais difícil foi a edição já que saber o quanto mostrar desta roda é importante para não tirar a atenção da trama. E o interessante é que ele soube jogar as tomadas na tela de uma forma que a platéia irá gostar e achar divertido vê-los discutindo o porquê os personagens agem do jeito que agem, ou como eles acreditam que cada um deveria atura-los. Outro fator intrigante é que Fernanda Montenegro, atriz que participou da peça original e da primeira vez que ela foi parar nas telas, em 1964, conta de como foram as reações, o clima e faz uma ótima comparação de como há diferença no significado do texto apresentado no passado e no momento atual.


Ficha Técnica
 
Título original: O Beio No Asfalto, 2018. Direção e roteiro: Murilo Benício. Elenco: Fernanda Montenegro, Lázaro Ramos, Débora Falabella, Augusto Madeira, Otávio Müller, Luiza Tiso, Amir Hadad, Stênio Garcia, Raquel Fabri, Marcelo Flores e Arlindo Lopes. Ney Matogrosso – Participação na canção “A vida é ruim”, de Caetano Veloso. Gênero: .Trilha: Berna Ceppas. Fotografia e Câmera: Walter Carvalho. Direção de Arte: Tiago Marques Teixeira. Figurino: Valeria Stefani. Som direto:  Marcel Costa. Edição de Som: Denilson L. Campos. Montagem: Pablo Ribeiro. Maquiagem: Gabriela Figueira. Produção: Marcello Ludwig Maia e Murilo Benício. Direção de produção: Barbara Isabella Rocha. Produção-executiva: Marcello Ludwig Maia. Distribuição: Arthouse. Duração:01h38min.    
   

Assim, o diretor atinge sua meta em mostrar um material criativo e que faz as pessoas se interessarem pelo conjunto que ele entrega - o behind the scenes e a trama em si. No final das contas, as cenas mais introspectivas acabam suportando uma história consideravelmente consistente e interessante, com personagens cheios de falhas  - e por isso realistas - vivendo uma situação real na década de sessenta que agora volta ao cenário novamente mais e mais: a influência da mídia sobre a cabeça das pessoas. Um poder desmedido que acaba trazendo a tona pequenos e insignificantes acontecimentos e os transformando em escândalos enormes. E não importa o que realmente rolou, somente o que a maioria acredita que aconteceu de fato.
           
Com uma edição fenomenal, O Beijo no Asfalto chega para dizer que é um dos filmes brasileiros mais importantes do ano e que não devem ser esquecido jamais. Ademais, coloca no alto o artista brasileiro que temos em Nelson Rodrigues, alguém que claramente não recebe e nem recebeu reconhecimento suficiente e é revisitado aqui. 

Escrito por Lucas Pereira

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