Rocketman, de Dexter Fletcher


Reginald Kenneth Dwight, mundialmente conhecido como Sir Elton John, lançou seu primeiro disco em 1969 e trabalhou muito até sua carreira como cantor e pianista decolar. Desde que entrou para o ramo da música sempre contou com o compositor Bernie Taupin como parceiro e por quase toda a juventude drogas, sexo, fama e rock'n'roll foram parte dos seus dias.

Em 2012, o cantor anunciou que supria interesse em levar aos cinemas um pouco de sua jornada e que o também músico Justin Timberlake poderia interpretá-lo na produção já que se saíra muito bem como Elton no videoclipe, lançado anos atrás, para a canção 'This Train Don't Stop There Anymore (ver aqui)' do disco 'Songs from the West Coast. 

Com o passar dos anos, o filme entrou em produção e para o papel de Elton um ator britânico, jovem e em ascensão acabou chamando a atenção, o talentoso e versátil Taron Egerton. Egerton não só já havia estado em outros trabalhos nos quais o próprio Elton estivera envolvido (Sing: Quem Canta Os Males Espanta e Kingsman: O Círculo Dourado) como também já havia sido dirigido por Dexter Fletcher no longa de 2015, 'Voando Alto'.


Para escrever a trama, Lee Hall (Billie Elliot), foi convocado e a decisão final foi trazer ao público um olhar em tom de fantasia usando da discografia do artista para contar sua incrível história de revelação. Claramente, fatos foram alterados para criar e dar mais dramaticidade, mas a essência da carreira e dos dilemas de Elton se encontram ali e com perfeição.

O roteiro, aliás, escolhe nos mostrar como inicio da história um ponto crucial da vida de Elton: o momento em que ele realmente decidiu largar as drogas. À beira de iniciar uma mega tour pelos Estados Unidos, transtornado por acontecimentos em sua vida amorosa e familiar, ele acaba entendendo que para sair daquele estado teria que sacrificar seus dias de farra e se dirige para a reabilitação. Ali começa a rever sua vida em uma sessão de terapia, inclusive, participa de uma por quase todo o filme, e é neste momento que o espectador é levado a conhecer sua infância e como a música entrou em seu caminho. Os laços familiares com os pais Sheilla (Bryce Dallar Howard) e Stanley (Steven Mackintosh), de largada, não são tão bem resolvidos assim, e o pequeno Reggie (Matthew lllesley), apelido de Elton, vê na avó Ivy (Gemma Jones) uma oportunidade de afeto. É também a matriarca que insiste que o garoto tenha aulas de piano, após vê-lo tocar e ficar intrigada.

Com os anos, o menino vai ficando cada vez melhor no instrumento (na mudança de fase o papel é vivido por Kit Connor) e aos quase doze, ele ganha uma bolsa para estudar na 'Royal Academy of Music'. Já na adolescência e chegando na fase adulta começa a tocar nas noites londrinas e é ao entrar em contato com Dick James (Stephen Graham) que acaba conhecendo Bernie Taupin (Jamie Bell) e decidem enviar músicas um ao outro para trabalharem em parceria - o que na realidade não aconteceu, pois eles se conheceram através de concursos para compositores, alteração nem assim tão irrelevante.


É com Dick que Elton consegue atenção e investimento para lançar seus primeiros discos e viajar aos Estados Unidos, onde faz suas primeiras modestas, mas bem sucedidas, apresentações. Por lá, ele e o parceiro Bernie começam a criar uma rede de contatos interessante e também iniciam relações amorosas. 

Bernie ganha um ar de paquerador em certos momentos e Elton começa um relacionamento homoafetivo com o produtor musical John Reid (Richard Madden). Aliás, este último logo dá seus pulos e vira agente de Elton também, o que deixa Dick enfurecido (o fato gerou até uma briga judicial pelo gerenciamento da carreira do inglês). E o intrigante é que Reid, por volta dos anos 70, também era agente da banda de Rock QUEEN, algo que não é mencionado, mas está gravado na história da música.


O filme apresenta conveniências típicas de musicais e ainda assim consegue ser maravilhoso.  Toma seu tempo para explorar os dilemas de Elton com a sexualidade, mostra um sutil primeiro beijo entre ele e um 'back in vocal' de uma banda na qual tocava e vai afundo na busca do ídolo por aceitação, amor e o equilíbrio disso ao seu trabalho. Como nem sempre foi fácil "sair do armário" ou lidar com quem realmente era, Elton acaba se casando com uma amiga e nestas cenas sentimos um forte pedido de 'desculpas'.

A relação com os pais é bastante importante na trama e emociona. A mãe é mostrada como uma mulher que nunca foi exatamente carinhosa e atenta e o pai acabou se casando novamente e não tendo participação na vida de Elton como este queria. Ainda assim, foram Sheilla e Stanley que apresentaram Elvis Presley e outros cantores importantes da época ao filho.

Bernie e Elton também passam por algumas poucas desavenças, mas no geral se tratam como irmãos e não há dúvidas de que o sucesso das músicas é devido a este fator de uma química sem igual.






Como musical, o filme usa de um jeito simples, mas altamente eficiente, as canções clássicas do cantor (escute aqui a lista de músicas) para embalar os diálogos e não é só Egerton que é visto entoando hinos dos anos 70 e 80. Jamie, Bryce, Gemma, Richard e etc também.

Aliás, Egerton conquista não só como ator, mas como showman. Sem medo e preparado para o papel, ele vive lindamente o arco do personagem e a cada look ou mudança de cabelo percebemos que ele tenta crescer e ir afundo no que lhe é pedido. Quando canta, não soa caricato, mas soa parecido. E há muita verdade em sua interpretação. Suas cenas sensuais ou mais provocantes vem cheias de poesia e há metáfora ali e acolá pelo filme. Os atores mirins, Matthew e Kit, são tão bons quanto se precisou que eles fossem. Richard vai com tudo no sotaque irlandês de seu personagem, sem contar que é uma cobra interesseira, Jamie é um dos melhores atores desta geração e continua a ser tão incrível quanto da primeira vez que o vimos em Billie Elliot, Bryce, apesar de não ser tão mais velha assim que Egerton, encarna bem sua mãe e Gemma, que já conhecemos de 'O Diário de Bridget Jones como a enlouquecida mãe da heroína, aparece tão amável que fica impossível não se apaixonar.


O design inteiro da película é bem orquestrado. O figurino não foge a regra e entrega todos os looks possíveis de Elton, se não igual, semelhante. Ambientação e direção de arte também são mestres em nos levar aos anos 70. E com a ajuda do tom ofuscado e mais escuro dos vídeos, assistimos algumas representações de videoclipes clássicos ou até apresentações de Elton.

Dexter Fletcher não traz exatamente um filme cheio de takes inovadores, mas movimenta bem a câmera e usa tal ação para passar o tempo e fazer o personagem envelhecer. Sua condução não deixa em nenhum momento o tom do filme se perder e há um ótimo compasso para a entrega dos grandes acontecimentos em tela. O desfecho, claro, vem com aquele famoso 'resuminho' do que ocorreu depois. Como o cantor ficou sóbrio, montou uma instituição de apoio aos portadores da AIDS e até o seu casamento nos anos 2000, quando finalmente encontrou o amor. Tudo com uma pitada de comédia e os clássicos de Elton ao fundo.

Trailer


Ficha Técnica
Título original e ano: Rocketman, 2019. Direção: Dexter Fletcher. Roteiro:  Lee Hall. Elenco: Taron Egerton, Jamie Bell, Richard Madden, Bryce Dallas Howard, Gemma Jones, Matthew IIIesley, Tate Donavan, Kit Connor, Charlie Ray, Stephen Graham. Gênero: Musical, Biografia, Comédia. País: Reino Unido. Trilha Sonora Original: Matthew Margeson. Direção de Fotografia: George Richmond. Edição: Chris Dickens. Design de Produção: Peter Francis e Marcus Rowland. Direção de Arte: Sophie Bridgman, Steve Carter, Emily Norris, Astrid Sieben Alice Walker. Figurino: Julian Day. Duração: 2h01min. Distribuição: Paramount Pictures.
Avaliação: Quatro vestimentas e cinquenta pianos coloridos (4,5-5)

See Ya!
B-

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Escrito por Bárbara Kruczyński

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