Vision, de Naomi Kawase


Naomi Kawase tem uma postura corajosa em seus filmes. O cinema japonês, assim como outros aspectos culturais, tem um tempo muito diferente ao que estamos acostumados e, neste sentido, Kawase é bastante japonesa: seus filmes acontecem de maneira muito peculiar e intimista. Diferentemente de Terrence Malick, que também é intimista e contemplativo, Kawase abraça um tipo de sensação em seus filmes bastante solta, ou seja, momentos que bastam em si mesmos. Enquanto em Árvore da Vida – e, em menor grau, em Cinzas no Paraíso e Além da Linha Vermelha, por exemplo – Malick liga a humanidade ao “divino” traçando paralelos que ilustram o que quer dizer, Kawase tenta construir seus filmes com essa ligação já estabelecida. Não vemos a criação do Universo que nos levará à vida vivida pelo casal de Jessica Chastain e Brad Pitt como no filme de Malick; vemos um mundo que já é dado como encantado e que apenas se mostra para nós desse modo. 

Por essa razão, Kawase não se preocupa tanto com a verossimilhança de sua trama em Vision. A jornalista francesa Jeanne (Juliette Binoche) vai ao Japão em busca da erva “vision” que floresce a cada 997 anos e que curará todas as angústias da humanidade. Lá ela encontra Satoshi (Masatoshi Nagase), um agricultor auto-exilado da vida em sociedade. Os protagonistas do filme, então, não possuem muitas motivações que carregam a trama, apenas a espera pela erva milenar. A economia da narrativa dá espaço à contemplação da paisagem exuberante e ao exercício de conexão entre os personagens, protagonistas e coadjuvantes que, mesmo com as dificuldades iniciais dos idiomas e da timidez, passam a se conhecer a fundo, trocando experiências e visões de mundo. 


É interessante que Kawase tenha nomeado a erva milagrosa como “visão”. Na primeira noite sozinhos, Jeanne pergunta a Satoshi os motivos de ele ter ido viver numa montanha, se não sente falta de nada da vida na cidade. Ele a responde que “se você pode ver, pode ouvir, pode tocar e sentir o toque, você tem tudo”. Kawase deixa claro que Vision é um filme para ser visto e ouvido, e, se der certo, tocado também. Não vemos apenas as copas das árvores de seus planos aéreos, ouvimos e sentimos a ventania impressionante que dá a sensação de que despertará a alma de todos os seres da floresta com ela. 

Vision abraça essa tentativa sensorial, principalmente em sua primeira metade. Perto de seu clímax, entretanto, o filme foca na função narrativa de justificar a aventura de Jeanne. Os traumas da personagem e como a erva funciona são bastante confusos e às vezes repetitivos e desnecessários. Um exemplo é Jeanne tentando explicar em inglês a influência dos números primos na natureza e no florescimento da “vision” para um personagem que mal fala o idioma.

De qualquer forma, Vision é um longa bonito que tenta se manter coerente com sua proposta, mesmo beirando o brega em muitos momentos. O que, por si só, não há como negar que não seja corajoso.

Trailer

Ficha Técnica

Título Original e ano: Vision, 2018. Direção e Roteiro: Naomi Kawase. Elenco: Juliette Binoche, Masatoshi Nagase, Minami, Mirai Moriyama, Takanori Iwata, Min Tanaka, Mari Natsuki. Nacionalidade: Japão, França. País: Japão, França. Música: Makoto Ozone. Fotografia: Arata Dodo. Edição: Yoichi Shibuya. Figurino: Meg Mochiduki. Produção: Marianne Slot, Naomi Kawase. Distribuição: Imovision. Classificação: 14 anos. Duração: 109 minutos.

EM CARTAZ

Programação do dia 12/09 a 18/09:


Belo Horizonte: Cineart Ponteio • Cinema Belas Artes
Brasília: Cine Cultura Liberty Mall
Curitiba: Cine Passeio
Florianópolis: Paradigma
Fortaleza: Cinema do Dragão
Niterói: Reserva Cultural
Porto Alegre: Cinemateca Paulo Amorim • GNC Moinhos
Rio de Janeiro: Estação Net Rio • Estação Net Gávea • Cine Jóia
Salvador: UCI Orient Shopping Barra
São Paulo: Petra Belas Artes • Espaço Itaú Augusta • Reserva Cultural • CineSesc • Cinemark Iguatemi

Escrito por Marisa Arraes

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