Bate Coração, de Glauber Filho



Às vezes os filmes de baixa qualidade nos ensinam muito por possuírem elementos interessantes deslocados dos pontos que normalmente são analizados. Esses pontos são ora de natureza técnica, como a clareza nas vozes do elenco e o acabamento do design de produção; ora narrativos, se a trama avança de modo instigante e coerente; ora temática, no seu discurso por debaixo dos acontecimentos que se dão. Bate Coração é quase tudo isso junto.

Mas às vezes, uma produção é ruim por romper com a forma cinematográfica e ser realizada de maneira disruptiva, até mesmo afrontosa. Logo, estudar filmes de tal categoria é importante para que entendamos o que faz com que outros sejam bons. Também para compreender se o que consideramos "bom ou ruim "faz sentido. E o longa de Glauber Filho se encaixa em um universo perigoso 

Trailer


Ficha Técnica


Título original e ano: Bate Coração, 2019. Direção e roteiro: Glauber Filho. Elenco: Aramis Trindade, André Bankoff, Heloisa Jorge, Daniel Dias, Germana Guilhermme, Dênis Lacerda, Patricia Dawson, Paulo Verllings, Brenno Leone, Laura Paiva, Daniel Dias, Ilvio Amaral, Mariana Armellini, Fernanda Zeballos , Klistenes Braga, Larissa Goes, Mauricio Canguçu,  Jane Azeredo, Natalia Coehl, Henrique Patricius, Marilza Colombo, Fernando Catony, Andre Campos, Juliana Beirac, Anderson Barreto, Natasha Farias, Anastacia Duarte, Fernanda Levi, Tais Sanford, Rodrigo Ferreira, Roberta Wermont, Ivanilde Rodrigues, Fabíola Liper, Lara Nogueira, Haroldo Serra. Gênero: Comédia. Nacionalidade: Brasil. Diretor de Fotografia: Xuxu. Diretor de Montagem: Joe Pimentel. Continuista: Loly.  Assistente de direção: Paulo Colares, Maya Chacon e Martina Quezado. Produtora Executiva: Isabela Veras. Produtor: Sidney Girão. Produtor Associado: Halder Gomes. Assistente de Produção Executiva: Thiago Walraven. Diretora de produção: Dayane Queiroz. Produtora de locação: Naiana Moura. Assistente de Produção: Natyara Damasceno. Alimentação: Gabriela Claro. Coordenadora de Transporte: Andrea Brasil. Platô: Leo Carrero. Assistente de Platô - Jessé de Sousa. Produtora de elenco: Monice Mendes. Câmera: Bruno Pimentel. Assistente de câmera: Zé Bob. Assistente de câmera: Junior Bocão. Logger: Neném. Chefe de Elétrica: Serjão. Assistente de Elétrica: Taciano Moraes. Assistente de Elétrica: Valdécio Santiago. Chefe de Maquinária: Junior Sindeaux. Assistente de Maquinária: Fábio Sindeaux. Assistente de Maquinária: Toquinho. Diretor de arte: Andre Scarlazzari. Produtora de Arte: Ana Lucia Castelo Branco. Produtor de objetos: Fábio Vasconcelos. Produtor de Arte: Ricardo Castro. Estagiário de arte: Beatriz Mont'alverne. Contra Regra: Davi Florencio. Figurinista: Dami Cruz. Assistente de figurino: Non Sobrinho. Produtor de figurino: Juliana Gadelha Moreira Pereira. Maquiador: Enoque Acioli Abikian. Assistente de maquiagem: Diane Barreto Ferreira. Operador de Áudio: Acácio Campos. Microfonista: Toth Amon Campos. Distribuição: Diamond Films.  

A drag Isadora Sunshine (Aramis Trindade) tem um salão de beleza e uma vida, com certas dificuldades, é claro, todavia, é uma pessoa muito feliz. Quando é atropelada e morre, seu coração vai parar no peito do publicitário Sandro (André Bankoff). O enredo, então, mostra a segunda chance deste último num caminho de aprendizados com a ajuda silenciosa da alma de Isadora.



Acontece que a trama não respeita as próprias ideias e escolhas. O baque de ter conseguido um doador de coração obriga Sandro a repensar suas atitudes perante o mundo e as mulheres. Assim, por quase metade da duração da película, o órgão físico, o "coração", o auxilia na própria transformação. Em certas cenas, ele entra em transe e, durante uma reunião, passa nos lábios o batom anunciado por sua agência. Mas, ao mandar o amigo e subordinado Igor descobrir quem era aquele que tinha lhe dado o novo coração, o homem tem um ataque de homofobia no hospital por achar um ultraje que a doação tenha sido feita por uma drag queen.

Todos os caminhos que Bate Coração escolhe pra si mesmo acabam sendo descartados quando o roteiro não dá mais conta deles. Por essa razão, outras quatro histórias paralelas acontecem para dar alguma liga e sustentação ao filme. E cada uma delas segue um estilo diferente, sendo uma inclusive espiritual, onde o guia que precisa levar Isadora para a vida eterna tem uma própria side quest. Aparentemente ele é pai de Sandro, não fica muito claro.


Bate coração não assume que não é um filme hollywoodiano — e nem das produções Globo — e tenta consertar problemas sérios com um humor, que até funciona às vezes, e um discurso sobre doação de órgãos, que se exibe como qualquer publicidade feita na agência de Sandro. Não é que Bate Coração seja um filme desonesto, muito pelo contrário, ele é apenas iludido. 

Um exemplo é a confusão da identidade de gênero de Isadora e de suas amigas. Isadora é uma mulher trans que assume sua identidade feminina, mas o filme a trata como a personagem drag queen que Isadora performava na noite gay da cidade e age como se todo esse espectro de performances de gênero fosse um ponto único. A tentativa de apontar para muitos lados faz com que todos fiquem rasos. 

O longa de Glauber Filho tem seus momentos inspiradores, mas ao não abraçar sua propria causa se faz tolo e enquanto obra nem sequer encontra seus defeitos para que questionemos se são erros mesmo. Ele apenas vai se remendando a cada virada para que caiba em qualquer caixinha e atinja quem conseguir atingir.

HOJE NOS CINEMAS

Escrito por Marisa Arraes

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