Raia 4, de Emiliano Cunha


Amanda (Brídia Moni) é uma garota de 12 anos começando a descobrir a vida e a si mesma. Coisas ligadas ao universo infantil deixam de ter importância, seu gosto pessoal começa a divergir do de sua mãe, e uma intensa sensação de solidão vem de encontro à menina. A relação com os pais é carinhosa, mas um tanto distante. Profissionais de medicina, tanto a mãe quanto o pai estão sempre à disposição do chamado do dever, mas nem tão disponíveis para a filha. Introspectiva e calada, Amanda parece isolada do mundo, mesmo com a presença constante de colegas dos treinos de Natação em sua rotina. A piscina, inclusive, parece ser seu habitat natural. A água traz à tona o lado atleta da protagonista, mas também serve como refúgio, um lugar de calmaria que simboliza um retorno metafórico ao útero, onde o tempo não passa e as mudanças não acontecem. Mas em terra firme, a história é bem diferente.

O primeiro longa-metragem do cineasta Emiliano Cunha, é um filme de passagem. Sua protagonista, Amanda, entra na puberdade e é acometida por todas as características esperadas desta fase de desenvolvimento maturacional. Mudanças (ou a ausência delas) no próprio corpo, a curiosidade pelo sexo, a construção da própria identidade, o conflito com o mundo externo. Toda essa carga de novidades faz com que Amanda sinta uma desconexão quase que insuportável, e Raia 4 quer que você saiba disso. Por uma hora e meia, o filme te convida a embarcar nesta jornada contemplativa de autodescoberta adolescente.


A narrativa da obra constrói este ambiente de isolamento emocional usando a água como símbolo de um mundo à parte. As raias que separam atletas entre si, a piscina como válvula de escape da protagonista, que fica até depois do horário dos treinos de Natação para treinar sua respiração. O resultado disso são belas cenas, tanto em momentos etéreos subaquáticos quanto em competições esportivas muito bem filmadas. Fora d’água, a câmera acompanha o olhar curioso de Amanda, principalmente por Priscilla, uma das colegas de sua equipe de Natação, e emula com sucesso o desconforto da protagonista, assim como a aparente eterna repetição de seus dias. A proposta de imersão (sem trocadilhos) nos conflitos internos da personagem é muito bem executada tendo como trunfo para a realização das cenas reflexivas e silenciosas a excelente fotografia de Edu Rabin, um dos pontos fortes do filme. Nesse sentido, Raia 4 acaba assumidamente priorizando a estética das cenas em detrimento do ritmo do longa. Não chega a ser necessariamente um demérito, mas com certeza pode afastar parte do público.

As atuações comedidas do elenco são bastante corretas para a concepção do longa, não se sobressaindo à polidez da própria trama. Destaque para Brídia Moni, que se sobressai emprestando seu brilho a tímida Amanda. Todo o elenco adolescente, composto basicamente pela equipe de Natação do Grêmio Náutico 8 de Março, interpreta com muita vontade um grupo de adolescentes inconsequentes, barulhentos e curiosos, o contraponto perfeito à reservada protagonista vivida por Moni.

Raia 4 é um filme sensível e coeso dentro de sua proposta que usa muito bem a forma para potencializar uma história que soa tão trivial, mas que pode surpreender mesmo dentro de suas sutilezas.
Trailer


Ficha Técnica

Título original e ano: Raia 4, 2019Roteiro e direção: Emiliano Cunha. Diretor Assistente: Richard Tavares. 1º Assistente de Direção: Daniela Strack. Elenco: Brídia Moni, Kethelen Guadagnini, Arlete Cunha, Fernanda Carvalho Leite, José Henrique Ligabue, Fernanda Chicolet e Rafael Sieg. Gênero: Suspense, drama. Nacionalidade: Brasil. Direção de Fotografia: Edu Rabin.Trilha Musical Original: Felipe Puperi e Rita Zart. Direção de Arte: Sheila Marafon e Valeria Verba. Montagem: Vicente Moreno. Desenho de Som: Marcos Lopes e Tiago Belo. Maquiagem e Caracterização: Baby Marques. Figurino: Francine Mendes. Design Gráfico: Leo Lage. Supervisão de Pós-Produção: Daniel Dode. Produção: Davi de Oliveira Pinheiro, Emiliano Cunha e Pedro Guindani. Produção Executiva: Pedro Guindani. Direção de Produção: Beto Picasso.  Distribuição: Boulevard Filmes. Duração: 0135min.

O filme estréia somente no Rio de Janeiro e em São Paulo nesta Quinta-feira (06) e estará disponível a partir e 20 de maio em todas as plataformas digitais.

Escrito por Petterson Costa

    Comentários Blogger
    Comentários Facebook

0 comments:

Postar um comentário

Pode falar. Nós retribuímos os comentários e respondemos qualquer dúvida. :)