Por que você não chora? (com spoilers)

 Esta resenha contém spoilers


Estreando neste dia nove do Setembro Amarelo, Por que você não chora?, de Cibele Amaral, aposta na relação entre uma paciente com transtorno de personalidade borderline e sua apática e depressiva terapeuta, na relação de mutualismo que as duas desenvolvem. A primeira, Barbara (Bárbara Paz), tem a vantagem de possuir recursos para investir em remédios e tratamentos, possibilitando um diagnóstico fechado há anos e seu caso amparado por profissionais qualificados que aparecem na forma de uma clínica de reabilitação social e um advogado que a auxilia no processo de recuperação da guarda do filho.


O segundo elemento da dupla, Jéssica (Carolina Monte Rosa), é uma estudante de psicologia que admite não gostar da profissão - seu objetivo era a medicina, mas esta se mostrou um curso de difícil acesso. Independente da confissão, é evidente o desconforto da protagonista com o exercício da psicologia clínica. Em certos momentos, Jéssica repete a sua paciente o que estudou em livros e ouviu de suas professoras, mas não demonstra acreditar em uma palavra do que diz. A falta de familiaridade é tamanha que a personagem escolhe Barbara como “estudo de caso” justificando a ação para sua professora dizendo que não quer lidar com os demais pacientes por estes serem delirantes.

Ao longo das sessões com a mulher que é diametralmente diferente de si, torna-se evidente que Jéssica também precisa de ajuda e que aquelas sessões também são um alento para ela. No entanto, ao contrário da extravagante Barbara, o background da estudante deixa claro que ela vem de uma família simplíssima, carente de recursos e de afetos; que não tem amigos e que tem diante de si uma vida dura sem alegrias e sem significado. Enquanto Barbara vive de altos e baixos e emoções extremas, a vida de sua terapeuta se define pelo monotom empregado tão bem pela atriz.


Esta é uma das poucas obras em que é interessante acompanhar uma personagem por quem não se tem empatia. Jéssica não gosta de falar, não verbaliza muito e dá a entender que não tem o que dizer. E não tem o que dizer porque não conhece sobre si mesma. É incapaz de dizer o que gosta ou o que não gosta, uma vez que nunca pode se dar ao luxo de ter preferências que não acarretassem decepções. O processo que a companhia de Barbara desencadeia nela é interrompido abruptamente com o fim do semestre letivo na faculdade. Sem a companhia daquela com quem trocava os papéis de paciente/terapeuta, a vida de Jéssica desmorona.


Seu suicídio não vem como um choque, uma vez que o letreiro inicial do filme já deixava claro o que ia ocorrer. E esse é um dos principais defeitos do filme. Além de entregar o desfecho, a mensagem inaugural dá um tom de alerta médico ao final dos comerciais de medicamentos; de vídeo institucional do governo que será passado nas escolas de ensino médio como prevenção pública. Esse teor é reforçado pela inflexão didática adquirida ao longo da narrativa. Ao passo que Jéssica aprende sobre o assunto em sua faculdade, o espectador é ensinado de forma semelhante. Não deixa de ser uma intenção nobre, mas perde um tanto de sutileza, poética, sensibilidade, enfim… valor artístico.

Trailer
Ficha Técnica

Título original e ano: Por que você não chora?, 2020. Direção e roteiro: Cibele Amaral. Elenco: Carolina Monte Rosa, Bárbara Paz, Elisa Lucinda, Cristiana Oliveira, Maria Paula. Gênero: Drama. Nacionalidade: Brasil. Fotografia: Maurício Franco Montagem: Gustavo Giani. Trilha sonora original: Patrick de Jongh Distribuição: O2 Play. 

O filme passou por diversos festivais e abriu o Festival de Gramado, em 2020. Assista em cinemas selecionados e nas plataformas digitais a partir de 9 de setembro.

Última edição em 14/09/21

Escrito por Luana Rosa

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1 comments:

Anônimo disse...

Achei o final do filme triste, ela precisava de ajuda também, gostei do papel da Border porém esconderam o que esses indivíduos fazem sem o tratamento adequando traições, egoísmo, promiscuidade, ordalia. Tive dois relacionamentos com Mulheres Borders por isso busquei o filme. Parabéns a quem teve a ideia de criar o filme tema nobre, que ocorre no tecido social.

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