Madalena | 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo


Mostra Brasil e Competição Novos Diretores - Exibido nos festivais de Roterdã e San Sebastián.

É muito comum ouvir críticas aos planos longos e contemplativos. A eles pode ser dado o adjetivo de “pretensioso” ou a culpa por deixar a película entediante. Também se ouve dizer que é um caminho fácil para se fazer “cinema de arte”, se é que esse termo faz algum sentido. De qualquer forma, é preciso entender que, quando bem utilizado, o plano longo é mais do que sua duração, é uma imagem camaleônica. Cada produção se utiliza da opção de filmar a mesma coisa por muito tempo e, em cada filme, esse tempo dirá algo diferente.


Madalena é um filme que entende isso, ou seja, entende as imagens que produz e como as produz. Entende também as imagens que deixa de produzir também. O diretor Madiano Marcheti faz sua estreia em longas-metragens com um domínio tão grande do ofício que arrisca contar sua história em três partes independentes. O corpo de uma mulher trans, Madalena, numa plantação de soja e a partir daí assistimos a 1. uma conhecida que dá seus pulos para conseguir uma graninha dançando e sair do interior; 2. o filho do dono da fazenda de soja e de uma candidata ao Senado; e 3. uma amiga.


As histórias acontecem orbitando a morte de Madalena: começamos distantes e vamos nos aproximando de quem era essa mulher e como seu corpo existia no mundo. Na primeira história, a protagonista se mostra preocupada ao não saber notícias de Madalena, mas segue sua rotina. Assistimos a ausência e vemos o que não está lá. Um fantasma que assombra justamente por ser tão violento e o terror de não sabermos. Temos aqui a definição de ansiedade. 



Ficha Técnica


Título original e ano: Madalena, 2021. Direção: Madiano Marcheti. Roteiro: Madiano Marcheti, Thiago Gallego, Tiago Coelho, Thiago Ortman. Elenco: Natália Mazarim, Rafael de Bona, Pamella Yule, Chloe Milan, Mariane Cáceres, Nádja Mitidiero. Nacionalidade: Brasil. Gênero: Drama, suspense, Sci-fi. Música: Junior Marcheti. Fotografía Guilherme Tostes, Tiago Rios. Montagem: Lia Kulakauskas. Design de produção: Rocio Moure. Desenho de Som : Bernardo Uzeda. Distribuição: Vitrine Filmed. Duração: 85min. 


No segundo segmento, o corpo de Madalena está presente. Depois de vê-lo, o filho da candidata e herdeiro ao trono Agro se desespera porque sabe que um assassinato em sua propriedade não é bom para a família. Os planos longos agora perdem o marasmo do primeiro terço do filme e ganham contornos de thriller. Palpitação e suspense numa crítica simples (mas não simplista) ao modelo econômico brasileiro. Mais do que apontar o dedo na cara da elite do agronegócio, Marcheti parece estar interessado em estabelecer um cenário já conhecido sem profundidade para se focar no impacto que o corpo de Madalena causa no mundo. Sem saber como resolver o problema e com medo de prejudicar a família — ele precisa se provar, vai assumir os negócios num futuro próximo —, o rapaz entra em parafuso. Novamente uma sensação de ansiedade, dessa vez mais destrutiva.


Por fim, temos a amiga. No terço final, acompanhamos uma cuidadora de idosos (interpretada por Pâmela Yulle), também trans, já com a notícia da morte de Madalena. Se as duas primeiras partes flutuam sem muita direção, a terceira chega com tanta força própria que dá sentido ao filme como um todo. Aqui os planos longos, principalmente os de Yulle, são como longas encaradas ao vazio durante episódios depressivos. Entendemos que Madalena foi alguém. Ela não era o corpo morto encontrado na soja, nem o fantasma que cruza nossas vidas. Madalena era alguém que amava e era amada. Sem vê-la, estamos em contato. Conhecemos o que havia de mais verdadeiro, mais interior, sem a câmera. Esse equipamento industrial feito para reproduzir o mundo em sua perfeição, idêntico, não foi nem seria capaz de descrever Madalena. Mesmo que ela seja ficção.


Madalena é um filme muito maduro e surpreende como primeiro trabalho. Além do domínio do diretor sobre como contar sua história, o longa muito bem criando os contextos com que trabalha. Ora melancólico, ora tenso e agitado, ora sentimental. É um filme que decide filmar uma fantasma e os limites e potências do corpo. Filmar o invisível e elevar o peso do visível. Pode ser que demore para conquistar, mas apenas porque está tão confiante e seguro de sua jornada que respeita o espectador o suficiente para entregá-la como deve ser. Respeitando Madalena. 


Vinheta 45ª Mostra de SP

Assista no MOSTRA PLAY, clique aqui.

SERVIÇO:
45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo 
De 21 de Outubro a 03 de Novembro.
Presencial e Online

Repescagem até o dia 07 de Novembro.

MOSTRA PLAY

São inúmeros títulos confirmados na Mostra Play, cada um deles terá um limite de visualizações então, corra para escolher o seu e assistir logo!

Serão oferecidos três pacotes exclusivos (não são válidos para nenhuma exibição presencial) e devem ser solicitados via e-mail (pacote_mostraplay@mostra.org). O pagamento deve ser realizado via transferência bancária. Quantidade e valores: 5 ingressos (R$ 57,00), 10 ingressos (R$ 105,00) ou 15 ingressos (R$ 150,00).

A programação da Mostra Play e das salas tem outro formato, isto se deve porque nem todos os filmes que estão disponíveis nas salas poderão ser assistidos também virtualmente. O ingresso individual para cada título da Mostra Play estará disponível a partir do domingo, 17 de outubro, custa R$ 12,00 e pode ser comprado diariamente no site https://mostraplay.mostra.org (pagamento por cartão de crédito das bandeiras visa ou mastercard). Após a compra, os filmes ficam disponíveis por 72 horas e, após o play, por 24 horas.


Escrito por Marisa Arraes

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