Cora, de Gustavo Rosa de Moura e Matias Mariani


O ano é 2064. Cora (Charlotte Munck), a finlandesa filha de Merete Haugen e do brasileiro Benjamin dos Santos Kremz, narra os fatos. A mulher encontrou um documentário inacabado, com imagens corrompidas e craqueladas, feitas por seu pai cinquenta anos antes. O filme tentava resgatar a história da família.

Nas gravações fala-se sobre os bisavós de Cora, Isabel e Xavier e seus quatro filhos, e do mistério envolvendo uma criança morta ao nascer. "Eram quatro filhos, mas um morreu no parto. "Havia uma mulher misteriosa, de nome Elenir", de quem mal se falava por ser "moreninha" e de classe social diferente. Nunca seria aceita pela família, um fantasma a ser evitado.

Histórias permeadas de preconceitos e discriminações, tão comum naqueles tempos, e infelizmente até hoje. Após a decepção amorosa, Xavier perdeu tanto o rumo que teve que levar eletrochoque. A história de loucura na família teria se iniciado, aliás, com ele. Dos filhos oficiais, Henrique era o mais velho, seguido por duas mulheres cujos nomes não se tem registro. Naqueles tempos, mulheres eram invisíveis e sem importância. 

O caçula, Téo, avô de Cora, teve uma vida cheia de intercorrências e também foi "atingido pela loucura". Falam dele como um garoto rico e mimado de São Paulo, que após desavenças com a família, fugiu para o sertão do Nordeste. Logo ficou maluco e teve que ser internado. Foi atendido por Elenir, a mesma enfermeira já citada. Segundo relatos, Téo sabia sobre Elenir e quis repetir a história de Xavier. Estranhas e bizarras coincidências. Em 1975, nasceu Benjamin, pai de Cora, já falecido. São dele os registros.


Cora tenta juntar as peças do complexo quebra cabeças e procura explicar os eventos tidos como "loucura" em sua família. Para ela, seu sangue e seu corpo guardam segredos que viajam através do tempo biológico. Ela vê a si própria como um conjunto de pixels corrompidos, incompletos, armazenados em uma nuvem qualquer. Tragicamente, ela conclui que, se antes já não desejava ter filhos, após as descobertas, isso só se intensificou. A procura por seu passado perdido teria dado um sentido ao seu presente?

"Essa família termina em mim."

A trama é complexa, não linear, repleta de idas e vindas no tempo a partir de um futuro imaginário. Distopia que se constrói bem neste emaranhado familiar que vai sendo moldado e é preciso atenção para não se perder na trajetória.

Tendo como base o livro Antônio, publicado em 2010, por sua mãe Beatriz Bracher, o cineasta Matias Mariani juntou forças com Gustavo Rosa de Moura e optaram por adaptar a obra misturando ficção e documentário, como se fosse uma resposta ao livro.


A intrincada árvore genealógica de Cora vai se moldando através dos arquivos e de gravações em super 8 que dão ao filme um aspecto de antigo, como desejado.

Selecionado para o Festival do Rio 2021, Cora tem no elenco além de Charlotte Munck, Vera Valdez, Sylvio Ziber, Fabio Marques Miguez e Andre Whoong.

Trailer



Ficha Técnica

Título original e ano: Cora, 2021. Direção e Roteiro: Gustavo Rosa de Moura, Matias MarianiElenco: Vera Valdez, Fabio Marques Miguez, Sylvio Ziber, Andre Whoong, Charlote Munk. Gênero: drama. Nacionalidade: Brasil e Dinamarca. Desenho de som: Peter Albrechtsen. Edição: Alexandre Wahrhaftig, Bernardo Barcellos e Luísa Marques. Edição Final: Alexandre Wahrhaftig. Produção: Gustavo Rosa de Moura. Coprodução: Tatiana Leite, Valeria Richter. Pós-produção: Bruno Rezende. Distribuição: Pandora Filmes. Duração: 81 min.

Estreia nos cinemas de São Paulo nesta quinta-feira (23) com distribuição da Pandora Filmes.

Escrito por Helen Ribeiro

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