Fortaleza Hotel, de Armando Praça


A Fortaleza turística e glamorosa propagandeada por companhias de viagens e pela TV definitivamente não é o cenário de Fortaleza Hotel, novo filme do cearense Armando Praça. O longa retrata um lado bem mais realista e cru da capital, uma perspectiva que foge de idealizações comerciais. Tal escolha de ambientação segue a vivência de Pilar (Clébia Sousa), uma camareira desgostosa com a falta de oportunidades no Brasil que se prepara para abandonar tudo e se mudar para a Irlanda. Funcionária do hotel que dá nome ao longa, lá ela conhece Shin (Lee Young-Lan), uma hóspede sul-coreana que está no país lidando com as burocracias funerárias para transportar para Seul o corpo de seu marido falecido no Brasil. Shin também é desgarrada de suas raízes. Agora viúva, ela não tem mais motivos para voltar para sua terra natal, passando até mesmo a considerar as terras brasileiras como um possível novo lar. Tal contraste dita a dinâmica da amizade improvável que nasce entre elas.


Fortaleza Hotel constrói sua narrativa simples, porém muito efetiva, a partir de tragédias particulares que deixam suas protagonistas em posição de impotência. Shin perdeu seu marido para sempre, e suas desventuras em bananaland dificultam até mesmo que ela realize uma cerimônia funerária apropriada; Pilar, por sua vez, tem sua filha sequestrada por criminosos devido a uma dívida do namorado da jovem, e só boa-vontade não é o suficiente para resolver o transtorno. O teor melodramático das histórias das personagens, contudo, não dilui os momentos de contemplação e ternura da trama. Muito pelo contrário: situações que podem soar pequenas e triviais trazem camadas bastante valiosas a esta relação. Uma das cenas mais significativas do longa acontece logo após um episódio de conflito aparentemente irreconciliável. As personagens dividem uma garrafa de vinho barato e, em dado momento, Pilar pergunta a Shin se ela conhece música brasileira. Prontamente, Pilar coloca pra tocar Mastruz com Leite e põe-se a dançar. Não demora até Shin, rindo, se juntar a Pilar, mesmo não sabendo ao certo como seguir os passos (ou como se pronuncia a palavra “Forró”). Em seguida, Shin toca uma música típica da Coreia do Sul e dança seus passos delicados, enquanto Pilar tenta copiar os movimentos. É um momento divertido e espirituoso em que a química entre estas duas personas tão diferentes diminui a distância cultural entre elas. Elas são o coração do filme.

Trailer

Ficha Técnica

Título original e ano: Fortaleza Hotel, 2022. Direção: Armando Praça. Roteiro: Isadora Rodrigues, Pedro Cândido. Elenco: Clébia Sousa, Lee Young-Lan, Demick Lopes, Larissa Góes, Ana Marlene e Vanderlei Bernardino. Gênero: Drama. Nacionalidade: Brasil. Fotografia: Heloísa Passos. Montagem: Rita Pestana, Karen Harley, Gustavo Campos. Direção de Arte: Diogo Costa. Figurino: Tarsila Furtado. Som Direto: Pedrinho Moreira e Moabe Filho. Trilha original: O Grivo. Edição de Som e Mixagem: Nicolau Domingues. Colorista: Pablo Nóbrega. Assistência de Direção: Mykaela Plotkin. Direção de Produção: Clara Bastos. Produção: Maurício Macêdo. Coprodução: João Vieira Jr., Nara Aragão. Produção Executiva: Janaína Bernardes e Maurício Macêdo. Produção: Carnaval Filmes e Moçambique Áudiovisual. Distribuição: Vitrine Filmes. Duração: 77 min.

Fortaleza Hotel é uma história sensível e bonita sobre a busca por pertencimento e companheirismo feminino, se beneficiando de atuações ao mesmo tempo sutis e grandiosas e de um olhar cuidadoso de seu diretor.

A película estreia nesta quinta-feira, dia 27 de janeiro, nas cidades de Fortaleza, São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Porto Alegre, Palmas, Manaus, Curitiba, Brasília, Aracaju e Afogados da Ingazeira.

Escrito por Petterson Costa

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