A Fratura, de Catherine Corsini


A França se tornou Brasil! Ou qualquer outro país do Terceiro Mundo. 
 
Excelente sátira política, o filme A Fratura, de Catherine Corsini, cutuca com sadismo e muita ironia as feridas políticas de uma Paris envolvida com os problemas das manifestações dos coletes amarelos, do globalismo, da extrema-direita e do presidente Macron.

O roteiro inteligente contrapõe os arcos de um casal burguês lésbico, um caminhoneiro colete amarelo, uma enfermeira do sistema público de saúde e outros personagens coadjuvantes interessantíssimos num verdadeiro dia de cão, onde a manifestação dos coletes amarelos é combatida com muita violência por uma polícia brutal. Vários dos personagens agredidos vão para um hospital público, onde o caos se instala numa noite de muita confusão, gargalhadas e terror. Não parece o Brasil das manifestações? O Brasil de um dia comum?

Raf (Valeria Bruni Tedeschi), uma cartunista lésbica, azucrina sua esposa Julie (Marina Fois) com um comportamento irascível e temperamental. A situação chegou a tal ponto que elas vão se divorciar. Tentando reconquistar a esposa, Raf cai, machuca-se sério, fratura o braço e é socorrida para um hospital público. Em paralelo, o caminhoneiro Yann (Pio Marmai) vai para o protesto dos coletes amarelos no Champs Elysees, provoca a polícia e é barbaramente atacado. Alvo de uma granada, tem a perna retalhada por estilhaços e também vai para o hospital público. Lá trabalha a enfermeira Kim (Aissatou Diallo Sagna), fatigada por vários turnos, com o filhinho doente em casa e muitos problemas no serviço, desde falta de pessoal e medicamentos, excesso de tarefas e outras loucuras. Nesse dia em especial, o hospital vira um pesadelo completo, com os coletes amarelos indo se refugiar no hospital, por causa de bombas de gás lançadas pelos policiais anti-manifestantes.
 

No meio dessa balbúrdia generalizada, assistimos muitas confusões entre os personagens principais e com os coadjuvantes, numa inteligente sátira política à situação política atual da França, onde a classe trabalhadora observa seus direitos dilapidados por um globalismo econômico mundial e se refugia em protestos como o dos coletes amarelos ou em partidos de extrema direita. Uma classe burguesa surpresa com o desenrolar dos acontecimentos, ora ataca os trabalhadores, ora ataca os políticos. Enquanto isso, as condições dos serviços públicos são degradadas e os trabalhadores são cada vez mais reduzidos a situações de desespero total, fazendo de tudo para manter os empregos parcos e de baixos salários.

As situações são cômicas. O assunto é sério, mas tratado de maneira leve. São várias camadas de interpretação, o espectador pode focar-se na comédia ou aprofundar-se no subtexto político. O casal de mulheres interpretado por excelentes atrizes, especialmente uma Valeria Bruni Tedeschi em estado de graça, representa a burguesia assustada com a violência dos coletes amarelos. O final do longa é excelente, uma nota política atordoante e muito triste. A França realmente se tornou o Brasil. 
 
Não deixem de assistir por nada esse lançamento da Imovision em cinemas de todo o Brasil. Uma película que com certeza divirte com a comédia que apresenta e faz refletir como sátira política! 
 
Ganhador do Queer Palm, o prêmio lgbtquia+ de Cannes

Nota: 8/10.
Trailer  
 
Ficha Técnica
 
Título Original e ano: La Fracture, 2021. Direção: Catherine Corsini. Roteiro: Catherine Corsini, Agnès Feuvre, Laurette Polmanss. Elenco: Pio Marmaï, Valeria Bruni Tedeschi, Marina Foïs, Jean-Louis Coulloc'h. Nacionalidade: França. Gênero: Comédia. Trilha Sonora Original: Robin Courdet. Fotografia: Jeanne Lapoirie. Montagem: Frédéric Baillehaiche. Produtor: Elisabeth Perez. Distribuição: Imovision. Duração: 98 min.
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Escrito por Marcelino Nobrega

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