Amigo Secreto, de Maria Augusta Ramos

Quando tentamos analisar o Brasil dos últimos nove ou dez anos, a partir dos acontecimentos que se deram, é muito provável que vamos dar de cara com a movimentação política medonha que cresceu para desafiar não só a manutenção de políticas públicas construídas para alavancar a classe baixa a uma vida digna como ainda a estabilidade da Democracia. A cineasta Maria Augusta Ramos, responsável pelo longa ''O Processo'' (leia texto aqui), filme este que evidencia como foi realizado um dos eventos históricos do país, o impeachment da Ex-Presidenta Dilma Rousseff e como a presidenciável tentou se defender de sua retirada do poder pela elite brasileira, traz agora película que joga luz na tão imparcial ''Operação Lava-Jato'', encabeçada pelos ditos salvadores da pátria, o jurista e ex-Procurador Deltan Dallagnol e o ex-Juíz Sérgio Moro, titulada ''Amigo Secreto''.

O documentário traz desde cenas do trabalho de jornalistas que estavam dedicados a publicar informações transparentes sobre todos os episódios políticos que se deram na época, como também busca compartilhar a caminhada do ex-Presidente Lula que foi perseguido, julgado e crucificado de forma inidônea. Pautado por clareza e detalhes do que se passou no cenário brasileiro entre 2017 a 2022, o filme é altamente crítico a forma com a qual a operação foi realizada e como tais ações foram fundamentais para auxiliar a eleição do atual presidente.

Amigo Secreto, é uma co-produção Alemanha, Brasil e Holanda e entra em cartaz esta semana com distribuição da Vitrine Filmes.

Trailer


Ficha Técnica
Título original e ano: Amigo Secreto, 2022. Direção e roteiro: Maria Augusta Ramos. Com: Carla Jiménez, Regiane Oliveira, Marina Rossi e Leandro Demori. Gênero: Dcumentário. Nacionalidade: Brasil, Alemanha e Holanda. Direção de fotografia: Diego Lajst. Som direto: Fernando Akira. Montagem: Karen Akerman. Montagem adicional: Eva Randolph.  Direção de produção e pesquisa: Zeca Ferreira. Edição de som e mixagem: Mark Glynne, Tom Bijnen . Finalização e correção de cor: Jan Jaap Kuiper, Michiel Rummens. Produtor executivo: Maria Augusta Ramos, Felipe Lopes, Ilja Roomans. Produtores: Maria Augusta Ramos, Christian Beetz, Ilja Roomans, Silvia Cruz. Coprodução: Vitrine Filmes, ZDF in association with ARTE. Produção: Nofoco Filmes, GebroedersBeetz Filmproduktion, Docmakers. Patrocínio: IREE, Grupo Prerrogativas. Apoio: Netherlands Film Fund e The Netherlands Film Production Incentive, Fenae, Trupe do Filme. Distribuição: Vitrine Filmes. Duração: 131 Minutos.
O filme se inicia com informativos e datas sobre a Lava-Jato ainda no ano de 2017. Temos na sequência, depoimento cara a cara do Ex-Presidente Lula ao então Juiz Sérgio Moro. A cena exibe coerência zero por parte de Moro ao fazer perguntas sem qualquer efetividade para a investigação que tenta validar a todo custo a veracidade de um então imóvel ter sido repassado ao investigado sob a forma de propina por donos de construtoras. O Juiz é repetitivo e sequer presta atenção ao seu papel na mesa. Dali o espectador é levado a conhecer alguns dos jornalistas que cobriam o caso e representam mídias importantes como The Intercept e El País, entre eles, Carla Jiménez, Regiane Oliveira, Marina Rossi e Leandro Demori. 

A seguir os momentos revelam o dia da denúncia do procurador Deltan Dallagnol e a turma do Estado de Curitiba sobre o envolvimento de Lula no sistema de corrupção dentro da Petrobrás. A apresentação da mesma não foi feita através de uma apresentação de provas concretas e uma investigação sólida e contundente, mas a partir de uma imagem com setas apontando para o nome do Presidente como o ''mandante de tudo''. A denúncia é aceita e Lula é preso. 

É importante que o documentário traga a luz a defesa do trabalho realizado dentro da petrolífera pelos próprios funcionários e é feita também a análise de eventos ocorridos e de todo o cenário por juristas renomados. No caso da participação dos empregados, chegamos a informações de como o que foi desviado de recurso teve número aumentado para dar ainda mais ênfase aos atos cometidos e também do histórico de corrupção longínquo e prévio a tudo isso. Logo, a ética de Moro é contestada o tempo inteiro, pois além de ter contato direto aos denunciantes, advogados e procuradores, que claramente trabalhavam pela prisão do Petista, também os educa ao que liberar para a imprensa publicar. 

Tais ações funcionavam como estratégia clara para quebrar não só a figura simbólica que Luiz Inácio Lula da Silva representa, mas para deixar todo o trabalho feito pela esquerda em cheque. Portanto, é sim revelado que o time de juristas de Curitiba, sob a justificativa de purificação do âmbito político, trabalhava em conjunto e o filme apresenta os dados das matérias feitas pelo jornal Intercept com datas especificas do momento em que estes se unem para conversar e vazar informações que os beneficiem em sua caçada pessoal da cabeça de Lula. Informes entregues ao jornal e liberados publicamente demonstram que desde março de 2016, já haviam estratégias de trabalho até mesmo para fazer barulho na imprensa.


Se de um lado, assistimos Moro aceitar ser Ministro da Justiça do Messias que surgia para livrar o país da corrupção e a responder rasamente sobre sua imparcialidade na operação, chegamos também ao momento em que Lula, depois de 384 dias preso, é levado para falar com a imprensa brasileira e internacional e se mostra com muita vontade de provar que o processo não apresentou provas sólidas. A mídia séria e comprometida continuou a se reunir e a contestar todos os eventos, contudo, é após julgamento no STF que derruba prisão de Lula e o coloca em liberdade, que esta repensou também o seu trabalho. A primeira aparição pública do ex-Presidente foi junto do povo trabalhador e mais uma vez o político renovou os votos de que limparia sua ficha e provaria que seu julgamento foi uma farsa para o impedir de ser candidato novamente. E basicamente foi o que ele fez nos últimos anos.

Assim, é bastante completa a caminhada do filme ao desenhar o mapa de todos os acontecimentos possíveis até agora e ligar ponto a ponto para mostrar como se deu a intervenção do cenário, nas peças do jogo e como a formação da opinião pública foi totalmente contaminada e polarizada. Não bastasse toda a situação, o mundo foi acometido por uma pandemia e todos sofremos com a incompetência do governo que em nenhum momento foi humano e deu a mão a seu povo. Salvadores da pátria se fingiram de cegos por também demonstrarem características antiéticas e pularam do barco para terem tempo de se recompor, não exatamente conseguiram. A justiça trabalhou a trancos e barrancos e sendo muito agredida pelos que estão no poder, porém chega-se ao ano derradeiro em que ou nada foi em vão ou a história percorrerá outro caminho.


Se em ''O Processo'' a diretora tem um espaço de tempo menor e consegue ser sucinta nas teses de defesa e acusação que levanta, em Amigo Secreto talvez se prolongue um pouco pela imersão política super bem preenchida que nos traz. Ainda assim, sua ótica feroz do papel da mídia, da justiça e dos peões do jogo é extremamente 
necessária para uma compreensão ampla, transparente e ética para o equilíbrio da balança.

As entrevistas e conversas realizadas não são meramente ilustrativas e apontam com firmeza os reais sujeitos com culpa no cartório e, certamente, estes não são nenhum pouco patriotas ou defensores do povo brasileiro. Sendo apenas amigos para interesses futuros.

Avaliação: Três baldes de sangue verde e amarelo derramados e meio (3,5/5).

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Escrito por Bárbara Kruczyński

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