segunda-feira, 29 de julho de 2019

Abaixo A Gravidade, de Edgar Navarro


Edgar Navarro entrega em seu terceiro longa, 'Abaixo A Gravidade' a história de Bené (Everaldo Pontes). Um idoso que reside na chapada diamantina e é considerado o sábio curandeiro da região. Ali, o senhor leva uma vida tranquila e simples até que conhece Leticia (Rita Carelli), uma jovem que surge em sua vida grávida e solitária. Bené acaba se apaixonando pela mulher, todavia, após o nascimento do bebê que espera, esta resolve voltar para cidade. Com  a justificativa de que necessita cuidar da saúde, o idoso a segue deixando para trás sua vida pacata. Paralelo a tais acontecimentos a passagem de um meteoro pela atmosfera da terra deixa a baia de todos-os-santos momentaneamente sem gravidade.
Trailer

Com um roteiro criativo, a produção é ainda regada a referências cinematográficas. Por exemplo, ao ver um mendigo que passa seus dias catando sucata para a construção de asas lembraremos com facilidade do longa 'Voar É Com Os Pássaros', de Robert Altman, lançado em 1970. Em outra cena, Bené, o protagonista aqui, aparece nu e envolto de flores o que nos leva a pensar sorrateiramente na estética do premiado 'Beleza Americana', do cineasta Sam Mendes (1999). O universo que é construído na narrativa também traz menções a Melancolia (2011) e Doce Vita (1960). Porém, nem só de alusões é feita a obra do 'cinemeiro' (como o próprio se define). Há também muita critica envolvida. E esta se expõe às vezes de forma explicita, como quando os giros da câmera enfatizam anúncios imobiliários onde se lê “seu sonho de moradia” e logo abaixo se encontra um pobre morador de rua dormindo ou também ou pelas metáforas e poesias que encontramos na trama.


Ficha Técnica


Título original e ano: Abaixo A Gravidade, 2017. Direção e roteiro: Edgard Navarro. Elenco: Everaldo Pontes, Rita Carelli, Bertrand Duarte, Fábio Vidal, Ramon Vane. Gênero: drama. Nacionalidade: Brasil. Montagem: Cristina Amaral. Música original e trilha sonora: Tuzé de Abreu. Desenho de Som: Caetano Cotrim De Blasiis. Som: Nicolas Hallet. Figurino: Diana Moreira. Direção de Arte: Moacyr Gramacho. Direção de Fotografia: Hamilton Oliveira. Direção de Produção: Taissa Grisi. Produção Executiva: Sylvia Abreu. Produção: Sylvia Abreu e Edgar Navarro. Distribuição: Fênix Distribuidora de Filmes. Duração: 109min.
Após uma desilusão com o amor de sua vida (conflito que se exibe de forma apressada e um pouco descuidada), Bené passa a circular pela cidade encontrando conhecidos e mostrando uma fotografia suja. Vive assim dias caóticos e estranhos. Quando as cenas vão se encaminhando e nos deparamos com os coadjuvantes da trama, percebemos o quão mais interessantes eles são. Vide o sensacional 'mendigo galego', papel de Ramon Vale. Aliás, sem dúvida, este último traz consistência a história. E agrega muito com seu palavreado chulo e um jeito rebelde de ser que hora revela descrença na humanidade, hora enaltece a beleza de sua alma e sentimentos.

Para contrabalancear o arco de Bené, entra em cena Betrand Duart como um ricaço que assim como o protagonista descobre uma grave doença. A atuação de Duart está longe de ser ruim, contudo, não se encaixa no restante do que é apresentado no enredo.

Em suma, Abaixo A Gravidade entrega sua mensagem e mesmo que este se perca ou tenda ao exagerar no uso das metáforas e simbolismos vem com poesia e todo as confusões que o amor pode trazer.
01 de Agosto nos cinemas.

quinta-feira, 25 de julho de 2019

As Trapaceiras


No anos 2000, as mulheres tem lutado cada vez mais e ganhado voz e não só elas como todo um pensamento de defesa da diversidade vem tomando a frente. Filmes tem ampliado mais seu espaço e todos os gêneros e identidades estão conseguindo alcançar outro tipo de representação nas telas.

Com essa chamada, voltamos os olhos para o longa 'As Trapaceiras', de Chris Addison. A película une duas atrizes em alta em Hollywood, Anne Hathaway e Rebel Wilson - uma é ganhadora de Oscar e a outra uma comediante em ascensão - e as joga para duelar como vigaristas profissionais em uma trama que nos remete ao longa 'Os Safados' (1989), onde Steve Martin e Michael Caine viviam os papéis de dois trambiqueiros que fazem uma aposta para ganhar o coração de uma dama e surrupiar seu dinheiro. Além também de ser remake de outro filme do fim dos anos oitenta, 'Dois Farristas irresistíveis' (1964) com Marlon Brando, David Niven e Shirley Jones e escrita por Stanley Shapiro e Paul Henning.

O roteiro é de Jac Schaeffer e a produção chega aos cinemas brasileiros esta quinta-feira (25).

Trailer

Ficha Técnica

Título original e ano: The Hustle, 2019. Direção: Chris Addison. Roteiro: Jac Schaefer baseado no filme "Os Safados" escrito por Stanley Shapiro, Paul Henning e Dale Launer e também no original 'Os Dois Farristas Irresistíveis'' escrito por Shapiro e Henning. Elenco: Anne Hathaway, Rebel Wilson, Alex Sharp, Dean Norris, Nicholas Woodeson, Ingrid Olive. Trilha sonora original: Anne Dudley. Fotografia: Michael Coulter. Figurino: Emma Fryer. Edição: Anthony Boys. Distribuição: Universal Pictures Brasil. Duração: 01h33min.
Penny Rust (Wilson) é uma jovem que vive a dar golpes em homens de forma simples e até escancaradas. Decide então ir fazer um rolê na Europa e alavancar grana de uma galera mais classuda. Durante a viagem, conhece a esperta Josephine Chesterfield (Hathaway) e, apesar de não estar tentando dar o golpe na moça, leva um dela. As duas vigaristas então se reconhecem e Josephine decide ajudar Penny em algumas jogadas, mas logo a dupla inicia uma aposta para ficar com a grana do jovem rico Thomas Westerburg (Ales Sharp).


Claramente, a personagem de Rebel vem com as mesmas características hilárias de Steve Martin e Anne Hathaway esbanja elegância como Michael Caine. A apresentação da dupla até que convence o que não é consistente é o desenrolar do filme e as escolhas bobas que cada personagem assume. O desfecho tenta trazer uma reviravolta, mas só vai enganar aquele espectador que não quiser pensar um pouquinho e a mudança de gênero aqui não consegue ser tão satisfatória quanto poderia. 

Ambas as atrizes se esforçam e em certas cenas até rimos das palhaçadas de Wilson ou de sua interação com Hathaway, contudo, o texto vem com uma atualização caricata e pouco criativa, o que é até irritante e de virar os olhos de pavor. Por fim, o que era para ser empoderamento acaba caindo no clichê machista e perdendo todo o sentido.


Addison tem uma extensa carreira em Hollywood. É ator, produtor, roteirista e aqui faz sua estréia como diretor em longas, pois já dirigiu algumas séries para TV. Entre elas, Vice (2013-2016). A edição nos poupa de muitas horas de enrolação e nos entrega menos que uma hora e quarenta de filme. Fotografia, figurino, design de produção e de arte deixa tudo muito belo, mas nada da técnica consegue vencer as falhas dos arcos dos personagens. A comédia acaba não se validando tanto quanto os filmes nos quais é baseada.

Avaliação: Um golpe desequilibrado (1/5).

HOJE NOS CINEMAS

See Ya!

B-

O Professor Substituto, de Sébastien Marnier



O Professor Substituto, novo filme de Sébastien Marnier (Irreprensivel), choca já em sua cena de abertura ao passo que um professor para sua aula e se joga da janela da sala. A partir da queda nota-se que a reação dos alunos é ainda mais surpreendente. Agem como se nada houvera acontecido e se mantem frios.

Com o falecimento do professor, um substituto é posto em seu lugar e precisa continuar os trabalhos na turma de superdotados do nono ano do colégio St Joseph. Ali estão alocados apenas os melhores e mais inteligentes da série e isto não significa que eles terão qualquer afinidade com o novo docente. 
 Assim, cerca de seis estudantes, dois deles, Apolline (Luàna Bajrami) e Dimitri (Victor Bonnel), lideram o grupo que deixa explicito desgosto pela substituição. Portanto, a chegada de Pierre (Laurent Lafitte) não vai tão bem como queria. Ainda que ele demonstre  empatia pela situação e fique preocupado com o bem estar dos alunos.


Trailer

Ficha Técnica
Título original e ano: L'heure de la sortie, 2018. Direção e roteiro: Sébastian Marnier. Elenco: Laurent Lafitte, Emmanuelle Bercot, Luana Bajrami, Victor Bonnel, Pascal Greggory, Véronique Ruggia, Gringe, Gregory Montel,  Thomas Scimeca. Gênero: Suspense/Drama. Trilha sonora original: Zombie Zombie. Fotografia: Romain Carcanade. Edição: Isabelle Manquillet. Nacionalidade: França.  Distribuição: Supo Mungam Films. Duração: 104 minutos.

A principio, tem-se a sensação que a produção trará um personagem com a tarefa de roubar o coração daqueles alunos, afinal, ele se revela atencioso até quando um dos meninos aparece com hematomas na classe, contudo, ao decorrer da trama nos deparamos com outro rumo. Isto se deve ao fato de Pierre começar a desconfiar dos adolescentes e iniciar uma pequena investigação sobre a vida intima destes.


 
Para quem assiste o trailer e capta uma ideia rasa de que 'O Professor Substituto' vai entregar uma 'aula de superação' ou ainda 'uma mensagem de teor positivo', adverte-se que ele segue outro destino. Sua voz é, aliás, sombria, implicando em uma realidade feia de que a juventude tem cada vez menos razão e não deve criar expectativas para um futuro promissor. Desta forma, os adolescentes da classe de Pierre são uma consequência do mundo no qual vivem. Também se torna óbvio que neste mundo os adultos parecem não dar a minima para os dilemas da sociedade fazendo com que aqueles que estão sensíveis aos acontecimentos realmente decidam o que fazer para impactar e fazer a diferença.

O longa de Marnier se revela um suspense incrível. Questiona o espectador, o faz refletir e dá a chance para este abra suas percepções e Pierre é uma das ferramentas importantes para que tais descobertas transcorram com fluidez e cheguemos a um clímax eletrizante e uma conclusão memorável, ainda que os exageros e a morbidez prejudiquem a percepção de uma realidade clara. 


25 de julho nos cinemas

Ted Bundy: A Irrestível Face do Mal


Theodore Robert Bundy chocou a nação norte-americana, em meados dos anos 70, quando foi acusado e considerado culpado de cometer inúmeros assassinatos tenebrosos nos Estados do Colorado, Utah, e até Miami. Charmoso, inteligente e altamente sociável, o homem "aparentemente" não se encaixava no perfil de um assassino em série, termo que, inclusive, surgiu em 1974 em leitura de casos policiais de um agente do FBI, e confundiu a cabeça das pessoas. 

O homem mal com cara de galã chegou a estudar um nível superior e por pouco não se tornou advogado. Assim, em muitos dos casos fez a sua própria defesa. Ted Bundy, como veio a ficar conhecido, foi condenado à pena de morte e declarado morto em janeiro de 1989. Uma de suas namoradas, Elizabeth Kendall, escreveu o livro 'The Phantom Prince: My Life With Ted Bundy' e ali contou os momentos de sua vida com Ted onde ao mesmo tempo que ele tinha um perfil de namorado amável e encantador também demonstrava atitudes estranhas.

Depois de trinta anos da morte do assassino, a obra de Kendall foi usada como base para o roteiro de um filme de ficção dirigido por Joe Berlinger. No Brasil, este recebeu o título de 'Ted Bundy: A Irresístivel Face do Mal'. Nos Estados Unidos, o longa, contudo, teve seu título retirado de parte da sentença final de Ted onde o juiz diz que 'os crimes crimes eram extremamente perversos, surpreendentemente malignos, vis e o produto do desejo de infligir um alto nível de dor'. Na trama o ator Zac Efron interpreta Bundy e Lily James a namorada do assassino, Elizabeth Kendall.

A produção esteve no Festival de Sundance, no ínicio do ano, já foi lançada em diversos países na plataforma de streaming da Netlifx, mas chega hoje aos cinemas brasileiros com distribuição da Paris Filmes.

Trailer

Ficha Técnica

Título Original e ano: Extremely Wicked, Shockingly Vile and Evil, 2019. Direção: Joe Berlinger. Roteiro: Michael Werwie - baseado no livro de Elizabeth Kendall "The Phantom Prince: My Life With Ted Bundy. Elenco: Zac Efron, John Malkovich, Lily James, Jim Parsons, Kaya Scodelario, HaleyJ Osment, Angela Sarafyan, Grace Victoria Cox. Gênero: Biografia, crime, drama. Nacionalidade: Eua. Trilha Sonora Original: Marco Beltrami e Dennis Smith. Fotografia: Brandon Trost.  Edição: Josh Schaeffer. Figurino: Megan Stark Evans. Distribuição: Paris Filmes. Duração: 01h50min.
A jovem mãe solteira Liz Kendall (James) belo dia está em um bar com a melhor amiga e conhece o irresistível Ted Bundy (Efron). Os dois logo iniciam um romance e formam uma família. Ted aparenta ser amável, compreensivo e um companheiro divertido. Também se dá super bem com a filha de Liz e isto a tranquiliza para que fiquem juntos e o romance não prejudique a filha em nenhum aspecto. Os anos vão passando e Ted vem precisando se dedicar cada vez mas aos estudos e de ausentar de casa, já que estuda longe dali. Inesperadamente, a jovem recebe uma ligação do namorado dizendo que está preso por uma infração no trânsito, mas a partir dai Ted passa a ser suspeito de homicídios cruéis e é indiciado em vários Estados do país.







É sabido que o mesmo diretor de 'Extremely Wicked, Shockingly Evil and Vile', título original do filme, também dirigiu uma série documental de quatro episódios sobre o caso de Ted e o filme, 'Conversando com um Serial Killer', está disponível na Netflix desde janeiro. Se naquela produção temos os dados factuais seguindo uma cronologia linear e uma apresentação do perfil de Ted mais explicita, aqui temos uma dramatização que escolhe mostrar outros lados da história toda, e, no caso, o papel que Elizabeth teve para que Ted fosse encontrado ou ainda os traumas que esta pode ter sofrido por ter caído na lábia de alguém que se fazia parecer uma cara normal. O que nos leva a refletir sobre como a personagem não conseguia crer que aquele homem tão amável cometera crimes horrendos já que ele realmente criou outra personalidade para construir essa imagem.

Somos apresentados a todo um encantamento das pessoas com Ted. Até mesmo do momento em que este já estava condenado a alguns crimes. A inteligência e sagacidade do criminoso é intensificada e ainda que pareça ridículo toda aquela teatralização da defesa do assassino ela realmente ocorreu, como mostram os videos logo ao fim e também na série de Berlinger. Portanto, o roteiro entrega aqui não os dados exatos, mas o sentimento de trauma e incredulidade que todo o ocorrido causou na sociedade.

Zac Efron como 'Ted Bundy' e o próprio.

O elenco da produção vem com ótimas participações, uma delas a de John Malkovich como o juiz que sentenciou Bundy ao corredor da morte - ainda que o personagem fuja as características da pessoa real sua excentricidade faz jus aos vídeos dos julgamentos. Aparecem também Jim Parsons (The Big Bang Theory) como o advogado de acusação, Angela Sarafyan (WestWorld) como a amiga de Liz, Kaya Scodelario como Carole Ann Boone, última namorada de Bundy, Haley Joel Osment como marido de Liz, e um minúscula aparição de James Hetfield, vocalista da banda Metallica, como um dos guardas que interroga Bundy. Zac Efron faz aqui uma interpretação espetacular de um sociopata egocêntrico, inteligente e vilanesco. Os atos iniciais do filme e o seu desenvolvimento sempre conseguem deixar dúvidas sobre a culpa do assassino e a dualidade em cena do ator contribui muito com isto. Logo, nos minutos finais o espectador vê todo aquele mundo cair por terra e as provas se afirmarem verdadeiras. Lily James também impressiona pela magnitude que dá a sua personagem e revela que o sentimento de esperança durou mais que a realidade.

'Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal' vem complementar o conteúdo documental que já existe sobre o assassino e traz reflexões e mostra empatia com àqueles que já passaram por algum tipo de desilusão na vida.  

Avaliação: Três advogados não seriam suficiente para defender tamanha perversidade (3/5)

HOJE NOS CINEMAS

See Ya!

B-

quarta-feira, 24 de julho de 2019

O Mistério de Henri Pick


Uma pequena biblioteca localizada a oeste da França, se distingue por um projeto inusitado, ali os bibliotecários recebem e mantêm livros que foram rejeitados e nunca chegaram a ser publicados. O acervo vira então um tipo de 'santuário' que enaltece os esforços de escritores desconhecidos.


Esta é a premissa de 'O Mistério de Henri Pick', de Rémi Bezançon (Nosso Futuro). Uma comédia dramática que se constrói a partir da ida da editora Daphné Desespero (Alice Isaaz) a esta biblioteca e encontrando uma obra prima, com autoria de Henri Pick, o pizzaiolo local que morreu há dois anos.


Trailer

O livro é rapidamente posto à venda e vira um best-seller, tanto por ter sido escrito com cautela e maestria quanto por apresentar a distinta história do autor que faleceu sem nunca ter revelado a obra a família e todo este tempo esteve escondido na prateleira dos rejeitados. 

Mas enquanto todos estão encantados com a obra, o crítico literário Jean-Michel Rouche (Fabrice Luchini) começa a suspeitar sobre a autoria real do sucesso de vendas. Rouche não consegue crer que um homem de origem simples seja apto para escrever algo tão complexo com referências a literatura russa e com um grau emocional altíssimo. Por fim, Rouche decide investigar a verdade por trás de toda a história e arrisca até mesmo sua carreira.

No meio das investigações, encontra Josephine Pick (Camille Cottin), a filha de Henri, que apesar de estar feliz com a ideia do pai ser um escritor tão talentoso, ainda quer ter certeza tudo o que vem acontecendo tem fundamento ou não.


Ficha Técnica

Título Original e ano: Le Mystére Henri Pick, 2019. Direção: Rémi Bezançon. Roteiro: Rémi Bezançon, Vanessa Portal - Baseado no romance de David Foenkinos. Elenco: Fabrice Luchini, Camille Cottin, Alice Isaaz. Gênero: Drama, Comédia. Nacionalidade: França. Trilha Sonora Original: Laurent Perez Del Mar. Fotografia: Antoine Monod. Direção de arte: Eric Bourges. Edição: Valérie Deseine. Distribuição: A2 Filmes. Duração: 01h40min.
O Mistério de Henri Pick apresenta uma trama que mescla comédia, drama e suspense na medida certa. As suspeitas e toda a magia por trás da história revela consistência e desde o começo mil e uma possibilidades vem se jogando a frente desse mistério. Ao mesmo tempo, a comédia é maravilhosa nos momentos mais lentos e entretêm ao passo que o enredo progride.

HOJE NOS CINEMAS

quinta-feira, 18 de julho de 2019

O Bar Luva Dourada, de Fatih Akin





Hamburgo, dezembro de 1970, a polícia local encontra os restos mortais de Gertraud Baurer, uma prostituta ocasional de 42 anos. Baurer foi a primeira vítima de Fritz Honka, um serial killer medonho responsável pelo assassinato de pelo menos quatro garotas de programa na Alemanha. A história deste terrível ser humano ganha as telas em ''O Bar Luva Dourada'', de Fatih Akin, e a produção não poupa o espectador em nada. Na verdade, o contempla com imagens gráficas e realistas, o que elevou a classificação para a maioridade (18 anos) no Brasil, feito raramente visto por aqui. 

A película está recebendo muita atenção ao redor do mundo pelo realismo brutal apresentado e causou polêmica em sua passagem pelo Festival de Berlin, onde recebeu uma indicação a melhor filme. Logo em suas primeiras cenas, é possível prever o que veremos pela frente, pois é onde a matança de Fritz Honka, papel de Jonas Dessler, começa e de cara  o flagramos se livrando do corpo de uma de suas vitimas, talvez a primeira. 

Este recorte da vida de Honka perdura até 1975, e o que assistimos é uma tentativa já vista antes onde a narrativa tenta construir um vilão que a platéia goste e de algum jeito se importe com ele. E não demora que referências como 'Laranja Mecânica, Psicopata Americano ou Motorista de Táxi' comecem vir a mente; contudo, enquanto os protagonistas destes normalmente têm algum tipo de carisma ou apreço por uma filosofia de vida, Fritz Honka é apenas nojento, problemático e irredimível. Desta forma, o que salva ali é a direção de Fatih e, sem sombras de dúvidas, uma atuação digna de prêmios para Dessler. Afinal, sua construção consegue trazer um homem perturbado por um background familiar - Honka nasceu em uma família insensível, impiedosa e nunca teve dela qualquer tipo de ajuda, o que se confirma com a aparição de seu irmão mais velho, Siggi (Marc Hosemann). E este último, apesar de talvez não ter cometido crimes como o irmão, também mostra ter uma psique completamente abalada.

Trailer


Ficha Técnica


Título original e ano: Der goldene Handschuh, 2019 . Direção: Fatih Akin. Roteiro: Fatih Akin - baseado no livro de Heinz Strunk. Elenco: Jonas Dassler, Margarete Tiesel, Adam Bousdoukos, Marc Hosemann, Katja Studt, Martina Eitner-Acheampong, Hark Boh, Victoria Trauttmansdorff. Gênero: Crime, drama, terror. Nacionalidade: Alemanha. Fotografia: Rainer Klausmann. Edição: Andrew Bird, Franziska Schimidt-Kärner. Design de produção: Tamo Kunz. Direção de arte: Seth Turner. Distribuição: IMOVISION. Duração: 01h55min.


O Bar Luva Dourada, era um dos locais onde o serial killer encontrava suas vítimas, e o espaço se torna o fio conector de alguns dos acontecimentos e conflitos na história. Assim, este é quase um segundo protagonista dentro do enredo e recebe uma personalidade própria. Algo como um pesadelo lynchiano, com frequentadores diários cheios de costumes e vícios amorais. Por lá, uma névoa criada por cigarros ambienta o clima. Músicas alemãs trazem ritmo as danças e as janelas são encontradas sempre fechadas. Escolha que segundo o próprio dono faz as pessoas esquecerem que é manhã e assim podem se embebedar a vontade já que parece noite. Por fim, ele é visto como um lugar para poucos e pode não agradar turistas.





O diretor, Fatih Akin, também assina o roteiro e este é baseado no livro homônimo de Heinz Strunk, lançado em 2016. 

Entre cenas de sexualidade e agressão (ambas sempre explícitas), O Bar Luva Dourada apresenta uma biografia como muito drama e horror sobre uma pessoa impossível de se defender. A imersão dos espectadores é então alcançada já que todos ficam presos não só a intrigante história, mas também as atuações fantásticas do elenco. Cada arco desta história constrói Fritz mais e mais até o ponto de você conseguir sentir compaixão por ele; e qualquer filme que consegue tamanha façanha merece ser assistido.


Visite o site da distribuidora para maiores informações:
https://imovision.com.br/the-golden-glove/

Programação do dia 18/07 a 24/07
Belo Horizonte: Cine Belas Artes 
Brasília: 
Espaço Itaú • Cine Cultura Liberty Mall
Curitiba: Cine Paseo
Goiânia:
 Cinemas Lumière – Banana Shopping
Londrina: Cinemas Lumière – Shopping Royal
Niterói: Reserva Cultural
Porto Alegre: Guion Center
Recife: Cinema da Fundação – Derby
Rio de Janeiro: Estação Net Rio • Cine Santa Teresa • Cine Casal Barra Point • Cine Joia 
Salvador: 
Circuito Saladearte – Cinema UFBA
São Paulo:  Reserva Cultural • Espaço Itaú Augusta

HOJE NOS CINEMAS

O Rei Leão (2019), de Jon Favreau


Uma das produções mais esperadas do ano, O Rei Leão, retorna renovado. O clássico originalmente lançado em 2D pela Disney é adaptado vinte e cinco anos depois com o auxílio da tecnologia de computação gráfica. É difícil não assemelhar as duas produções, visto que o novo longa se compara o tempo todo com a produção original. E infelizmente, não de uma forma agradável.

 
Dirigido por Jon Favreau (Homem de Ferro e Mogli, O Menino Lobo), o filme realiza uma imersão para a savana africana. São paisagens, luzes, sombras e animais produzidos por realidade virtual. Favreau segue o roteiro, quase que frame por frame. A abertura já ambienta aquele clima de nostalgia bem anos 90’, ao som de Circle of Life (escute aqui a nova versão). Com 30 minutos adicionais, a produção traz mais cenas de apoio do que modificações (o diretor utilizou parte dos encontros com os  atores para improvisar e alguns daqueles diálogos foram mantidos). Com a proposta de seguir à risca o clássico e sempre dialogar com a outra produção, quando isso não acontece é perceptível o incomodo. Pela escolha de fazer uma animação mais realista algumas cenas não funcionam tão bem nessa nova roupagem, tirando muito do aspecto lúdico que havia no filme original.

 
O Rei Leão, não é um clássico à toa, baseado na obra Shakespeariana, Hamlet, o filme reúne todos os ingredientes de sucesso. Com momentos cômicos incríveis, é bonito e emocionante. Ao sair da sala de cinema, a principal percepção que temos é que assistimos ao mesmo filme, por isso é necessário ir assistir com o coração aberto e se impressionar com a tecnologia que dá vida à natureza.



Trailer

Ficha Técnica

Titúlo original e ano: The Lion King, 2019. Direção: Jon Favreau. Roteiro: Jeff Nathanson - baseado nos personagens criados por Irene Mecchi, Jonathan Roberts, Linda Woolverton na história de Brenda Chapman. Vozes originais: Donald Glover, Beyoncé, John Oliver, Seth Rogen, Phil LaMarr, J. Lee, Chance The Rapper, Amy Sedaris, Billy Eichner, Florence Kasumba, Eric André, Keegan-Michael Key, Penny Johnson Jerald, JD McCrary, Alfre Woodard, John Kani, James Earl Jones, Chiwetel Ejiofor. Vozes dubladas: Ícaro Silva, IZA, Graça Cunha, João Acaiabe, Robson Nunes, João Vitor Mafra, Carol Roberto, Saulo Javan, Glauco Marques, Ivan Parente, Rodrigo Miallaret, Marcelo 'Salsicha' Caodaglio, Carol Crespo e Thiago Fagundes. Gênero: Aventura, animação. Nacionalidade: EUA. Trilha Sonora Original: Hans Zimmer. Fotografia: Caleb Deschanel. Edição: Adam Gerstel e Mark Livolsi. Design de produção: James Chinlund. Direção de arte: Blad Bina e Helena Holmes. Distribuição: DISNEY/Buena Vista International. Duração: 01h580min.

Notas adicionais da editora

A imprensa carioca assistiu a versão legendada do filme. Ademais, os cinemas de todo o país exibirão este em cópias dubladas e também com o áudio original. Verifique a programação do cinema de escolha. 

O Rei Leão é o sétimo "live-action" dos estúdios Disney e teve lançamento após "Aladdin", outra produção clássica que ganhou readaptação este ano.  Na trama, Simba (voz de Donald Glover) é um jovem leão cujo destino é se tornar o rei da selva. No entanto, o ambicioso Scar (voz de Chiwetel Ejiofor), seu tio, traça um plano para o pai de Simba e rei, Mufasa (James Earl Jones) morrer ao tentar salvar o filhote e assim ele subir ao trono quando também se livrar do sobrinho. Se sentindo culpado pela morte do pai, Simba foge e em seu novo lar encontra amigos que o ensinam a viver sem olhar para o passado.

 
 
 


Sobre a direção do filme;
A película marca o vigésimo trabalho de Favreau na direção. E o segundo como uma produção em 'live-action'. Aliás, foi anunciado que ele irá dirigir uma continuação para Mogli nos próximos anos. 

Sobre o elenco;
O único ator a retornar pra o papel foi James Earl Jones, a voz de Mufasa no original de 1994. O original, inclusive, foi imensamente criticado na época por trazer um elenco muito mais caucasiano dublando personagens da cultura africana e entre os atores daquele, apenas Jones, Whoopi Goldberg, Robert Guillaume, Madge Sinclair e Niketa Calame eram o símbolo de representatividade. Nesta nova versão, os produtores colocam em cena um elenco que dribla tais críticas. 

Sobre a trilha sonora
O compositor Hans Zimmer foi o responsável pela música original do filme e retorna aqui para o mesmo posto. Grande parte das canções do filme foram escritas por Elton John e o novo elenco é visto as entoando. A música "Be Prepared", alias, quase não entrou nesta nova repaginada da trama. Isto se deve ao tom "nazista" que ela apresenta, contudo, o estúdio decidiu não corta-la do longa.

A cantora Beyoncé, voz de Nala, lança esta sexta-feira (19) o disco ''The Lion King: The Gift'' (O Rei Leão: O Presente). O álbum é uma carta de amor à Africa, segundo a cantora, e chega as plataformas digitais no mesmo dia em que o filme será lançado nos cinemas norte-americanos. Uma das canções, 'Spirit'', já até ganhou vídeo e também entrou na edição da trilha sonora oficial.



HOJE NOS CINEMAS

Jornada Para Vida


Jornada da Vida é uma co-produção França-Senegal dirigida por Philippe Godeau que, em parte, subverte as expectativas ao início da trama. Desta forma, aos primeiros minutos do longa, o foco é direcionado a história de um garoto de 13 anos acabando de conhecer o seu ator preferido e logo a câmera escolhe seguir o artista e não somente o garoto. Usa então aquele personagem como o catalisador do enredo e nos guia para o encontro de um homem com os seus antepassados.

O garoto é Yao (Lionel Louis Basse), um adolescente que vive em um pequeno vilarejo no norte de Senegal. O jovem fica sabendo da vinda do ator Seydou Tall (Omar Sy) a Dakar e planeja viajar trezentos e oitenta e sete quilômetros para conseguir conhecê-lo para assim ter um autografo em seu livro predileto. O artista é descendente de senegaleses e está vindo ao país para a bienal de literatura onde assinará sua autobiografia em um tarde com fãs e amigos.

Trailer

Ficha Técnica

Título original e ano: Yao, 2018. Direção: Philippe Godeau. Roteiro: Philippe Godeau, Agnés de Sacy. Elenco: Omar Sy, Lionel Louis Basse, Fatoumata Diawara, Germaine Acogny, Alibeta, Gwendolyn Gourvenec, Abdoulaye Diop, Ismäel Charles Amine Saleh. Gênero: Comédia, drama. Nacionalidade: França, Senegal. Trilha Sonora Original: Matthieu Chedid. Fotografia: Jean-Marc Fabre. Edição: Hervé de Luze. Distribuidora: Califórnia Filmes. Duração: 01h43min.

Logo ao se conhecerem, Seydou se interessa pela história de Yao, principalmente pelo estado acabado do livro - com páginas escritas a mão que foram colocadas pelo garoto para substituir as que foram rasgadas. Devido a este carinho do garoto com a obra, o ator acaba decidindo ajudar-lo a voltar para casa. Inicialmente, oferece apenas bancar as despesas do retorno do menino de trem, mas, eventualmente decide levá-lo pessoalmente. O que interfere em sua agenda profissional e ele deixa alguns compromissos para passar tempo o fã.

Por fim, a jornada então começa e a dupla viaja pelo lado oeste da África nos revelando dois pontos de vista distintos: o de uma criança sonhadora que já está acostumada com todas as peculiaridades da cultura e de um francês que está aprendendo sobre seus antepassados. Inclusive, essa dualidade se mostra viva em diversos momentos do longa. A exemplo, Yao demonstra uma sabedoria maior que o adulto sobre os vícios e maneirismos das pessoas que encontram ao passo que a pureza do adolescente se dá através dos sonhos em se tornar alguém famoso como o ídolo.



A relação entre estes dois personagens funciona muito bem e como foco da trama percebe-se que o papel de mentor e aprendiz se alterna ali. Ambos tem formas distintas de reações as situações e conflitos e isto, de certa forma, vem com equilíbrio.

Senegal, palco da trama, também pode ser tido como um personagem visto que o espectador passará alguns minutos admirando e conhecendo a cultura daquele país, que é tão rica quanto a Brasileira e cheia de particularidades.

Em suma, o longa reflete sobre crescimento, descobrimento e se dá como uma carta de amor ao povo senegalês e a sua cultura.

HOJE NOS CINEMAS

quinta-feira, 11 de julho de 2019

Amor À Segunda Vista


O que você faria se a vida que conhecesse em um piscar de olhos não existisse mais e a mulher que você ama nem sequer sabe que você existe? Esta é a premissa de 'Amor À Segunda Vista', lançamento da Bonfilm para esta quinta-feira (11). 

No filme, o jovem Raphäel Ramisse, papel do talentoso Françouis Civil (Frank), certo dia acorda e não é mais um escritor famoso e muito menos é casado com o amor da sua vida, Olivia Marigny personagem interpretada pela atriz Joséphine Japy

A película passou pela edição deste ano do Festival Varilux de Cinema Francês e tem direção de Hugo Gélin.
Trailer

Ficha Técnica

Título original e ano: Mon inconnue,2019. Direção: Hugo Gélin. Roteiro: Hugo Gélin, Igor Gotesman, Benjamim Parent. ElencoFrançois Civil, Joséphine Japy, Benjamin Lavernhe, Camille Lellouche, Amaury de Crayencour, Edith Scob, Juliette Dol. Gênero: Comédia, romance,drama. Nacionalidade: França. Edição: Virginie Bruant. Fotografia: Nicolas Massart. Direção de arte: Lisa-Nina Rives. Figurino: Isabelle Mathieu. Supervisor do Departamento de Som: Anais Letiexthe. Supervisor musical: Raphael Hamburger.  Distribuição: Bonfilm.  Duração: 1h58. Classificação indicativa: 12 anos.

O primeiro ato do filme vem com o intuito de nos mostrar um pouco da vida de Raphäel no colégio. Ali ele vivia para lá e para cá com o amigo Félix (Benjamin Lavernhe). Mas em certo momento de aventura pelo arredores do local, conhece a jovem Olivia e o amor surge. Ele adora escrever e ela, por acaso, lê um de seus rascunhos e o incentiva a continuar. A moça toca piano lindamente e quer muito enveredar pelos mesmos caminhos que a avó, ser pianista. Juntos eles começam a crescer profissionalmente e logo se casam, mas Raphäel começa a ficar sem tempo para Olivia e os personagens literários criados por ele, que, aliás, tem grande fundamento em sua vida pessoal, se perdem. Isto porque quando o casal briga, o autor age por impulso e muda a história e o que ele não sabia é que ao acordar alteraria também a sua vida. Assim, chega a um mundo paralelo onde a esposa é uma musicista famosa e ele apenas um professor de letras. O amigo Félix também perde muito com esse novo tempo e os dois se juntam para tentar mudar o curso da trama e fazer com que tudo volte ao normal.


O roteiro tem uma delicadeza enorme para falar do romance entre Raphäel e Olivia. Principalmente, porque trabalha o crescimento dos personagens e suas transformações a partir do sucesso. Raphäel já não demonstra que ama a esposa, mas em nenhum momento deixa de amá-la. Apenas está muito apaixonado por si mesmo e colocando o ego a frente de tudo para notar. Quando cai em si parece ser tarde demais, contudo, neste momento esquece por completo suas histórias e vai atrás do amor de sua vida. Inventa mil artimanhas para chegar perto dela e como este 'novo mundo' tem resquícios daquele que o homem conhecia, ele busca as conexões que pode para conseguir consertar o seu erro. Olivia se mostra como uma mulher parceira no inicio da relação e apoia tudo que o marido faz, mas este a decepciona muito e na fase que os vemos separados - e que ela sequer sabe quem ele é, pois eles não chegaram a se conhecer na escola - percebe-se que é ela que agora está focada em ser uma artista de talento e ela atinge esta meta. 

Por todo o filme, a relação de amizade entre Raphäel e Félix é bastante testada. E o primeiro tem sempre a ajuda do segundo, mas também desaponta o fiel amigo e é cruel ao se revelar imaturo e sem coração. Conflito que o longa também consegue resolver e nos deixar bem satisfeitos.


O filme mexe com teorias de universos paralelos, volta no tempo, efeito borboleta, apresenta as subtramas do livro de Raphael e convence bastante com as explicações e razões da mudança radical que acontece à ele. Faz isso de forma leve, agradável e ultra divertida. Aliás, o tom da comédia é no ponto tanto quanto do romance. Você deve sair da sessão apaixonadíssimx pelo casal Raphäel e Olivia e também por toda a trama.

As atuações são no estilo francês de sempre: incrivelmente extraordinárias. Este é o segundo filme do ator Françouis Civil que ganhou exibição no Festival Varilux, pois Civil também faz parte do elenco de ''Quem Você Pensa que Sou'', filme com Juliette Binoche que deve chegar as telas em breve.

Hugo Gélin (Uma Familia de Dois) que não só dirige, mas escreve o roteiro em parceria com Igor Gotesman e Benjamim Parent, nos entrega um trabalho sólido e que deve trazer um sentimento de leveza como quase todos os filmes franceses conseguem o fazer. 

Um ponto alto no filme é a trilha sonora e ela ajuda a construir a sintonia em algumas das cenas mais legais da trama. Fotografia se faz em dualidade para mostrar as transformações dos personagens e os ambientes por quais eles vão passando (escola, teatro, praia) e o figurino é bastante complementar as caracterizações e detalhes de cada um.




INDICADÍSSIMO!

Avaliação: Três corações reconquistados e oitenta  (3,80/5)

See Ya!


B-

Inocência Roubada


Odette é uma garotinha de 8 anos que têm paixão por desenho e dança. Em sua infância, fase doce e inocente da vida, não desconfia quando um amigo da família a convida para "brincar de fazer cócegas". Já adulta, por volta dos seus 30 e poucos anos, Odette Le Nadant se transforma em uma mulher de personalidade forte, determinada, e acima de tudo, focada em sua carreira de bailarina. 

Belo dia, na sessão de terapia, a mulher revela ter sofrido abuso na infância. E pela primeira vez encara seu passado. O que a leva a uma jornada de descobrimento e faz perceber que sua vida nem sempre foi tranquila.

Inocência Roubada é um filme forte e real, apesar de tratar de um assunto tão avassalador com leveza e esperança. Baseado na peça teatral de Andréa Bescond e Eric Métayer, a produção traz a real trajetória de vida e a dolorosa experiência pela qual passou a própria Andréa. Aliás, a diretora, roteirista e atriz,conta que falar sobre o abuso sexual do qual fora vítima na infância a ajudou a se sentir bem e a perceber que seu testemunho vem para ajudar outras pessoas que passaram pela mesma violência. Escrever e encenar também preencheu uma lacuna em sua vida de extrema solidão.
Trailer

O filme se passa como um quebra cabeça de memórias traumáticas. O presente se dá nas conversas com a terapeuta e nas lembranças de Odette que surgem desconexas, além de diversas camadas temporais.

Com um elenco composto por Andréa Bescond, Karin Viard, Clovis Conillac, Pierre Deladonchamps, Grégory Montel, Carole Franck e Cyrille Mairesse, o drama francês chega aos cinemas do Rio de JaneiroBelo HorizonteBrasíliaPorto AlegreVitoria,SalvadorTeresina e São Luís esta quinta-feira (11) depois de ter recebido vários prêmios enquanto peça teatral, um deles o Molière de 'Melhor Solo Cena'.


A intenção do filme é  relatar o abuso e fazer pensar a respeito da reação dos membros familiares para com o fato onde uns encaram ou negam o ocorrido. Também traz à luz um dado especifico, pois o abusador, geralmente, é alguém próximo e conhecido.

A mãe ao saber do fato entra em um processo de negação e em momento algum oferece um abraço de carinho ou um pedido de desculpas a filha por não tê-la protegido. Embasa suas atitudes com falas medíocres onde diz ''ter sofrido coisas piores''. O pai não assume seu papel de adulto que zela pela cria e a pequena Odette sente medo e prefere não contar à ele o que está acontecendo. Quando o faz, já adulta, vê o quanto àquele se atormenta por não ter feito nada e por não ter notado a situação já que fez vistas grossas.

Logo, a violência que a menina sofreu é encoberta não só pelo ambiente em que vive, mas também pela pouca segurança que sente para poder se abrir com adultos. E todo este trauma guardado traz sérios traumas. Este últimos que só são trabalhados com a ajuda da terapia e da dança. Assim, sua dor e raiva se transformam em arte e são aparentes em suas coreografias.


Ficha Técnica


Título Original e ano: Les Chatouilles , 2018. Direção e roteiro: Andréa Bescond, Eric Métayer. Elenco: Andréa Bescond, Karin Viard, Clovis Cornillac. Gênero: Drama. Nacionalidade: França. Trilha Sonora: Clment Ducol. Edição: Valérie Deisene. Fotografia: Pierre Aïm. Figurino: Isabelle Pannetier. Distribuição: A2 Filmes. Duração: 108min.

Segundo o parceiro de Andrea na direção, Eric, eles "não queríam fazer um filme clínico e encenar uma vida assustadora com o peso da tristeza. Queríam manter uma forma de poesia e humor com uma lufada de ar fresco. E a dança consegue trazer isto."

Os adultos tem responsabilidade para com as crianças e devem fazê-las sentirem-se confortáveis para conversar sobre tudo. Caso contrário, casos assim vão se tornar cada vez mais frequentes e já o são uma praga do nosso tempo. Algo triste e revoltante. E o filme denuncia e até dar voz a muitas pessoas de forma eloquente. 

Neste aspecto "Inocência Roubada", apesar de abordar um tema denso, consegue tratar tudo com delicadeza e trazer poesia e emoção.

Nossa dica da semana!

HOJE NOS CINEMAS.