quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Bad Boys Para Sempre


Personagens que se odeiam, mas trabalham juntos, pois se amam, hoje é algo normal de se ver na tela (basta lembrar dos filmes em que Dwayne Johnson, Kevin Hart e Jason Statham tem feito nos últimos anos), mas se Velozes e Furiosos e até o recente Jumanji trabalham esse viés em seus personagens não podemos esquecer de dizer que tais referências vem de produções do passado e uma delas é com certeza BAD BOYS (1995), de Michael Bay

No longa, dois policiais com personalidades distintas trabalham juntos e se irritam o tempo inteiro, enquanto resolvem os mil e um casos envolvendo narcóticos que surgem na área. Bay conseguiu realizar a sequência do longa em 2003, com BAD BOYS II, e agora, dezessete anos depois, temos um terceiro filme sobre a aventura da dupla Mike Lowrey (Will Smith) e Marcus Burnett (Martin Lawrence) na policia federal norte-americana.

Se no primeiro filme, Mike e Marcus tentam salvar uma testemunha e conviver um com o outro, no segundo, tudo é ainda mais pessoal. Afinal, Mike com toda sua pinta de garanhão sempre acaba se envolvendo com as mulheres que aparecem, e na sequência, ele se envolve com ninguém mais ninguém menos que a irmã de Marcus. Fora desse arco, tem se ainda o capitão stressado Howard (Joe Pantoliano) e todo as bagunças envolvendo traficantes internacionais e bandidos locais. Ademais, o relacionamento de Marcus com a esposa Theresa (Theresa Randle) e a família toda é um grande barato em todos os filmes.  

Trailer

Ficha Técnica
Titulo original e ano: Bad Boys For Life, 2019. Direção: Adil El Arbi e Bilall Fallah. Roteiro: Chris Bremmer, Peter Craig, Joe Carnahan - baseado nos personagens de George Gallo. Elenco: Will Smith, Martin Lawrence, Kate Del Castillo, Vanessa Hudgens, Alexander Ludwig, Paola Nuñez, Charles Melton, Jacob Scipio, Nicky Jam, Theresa Randle, DJ Khaled, Joe Pantoliano. Gênero: ação, crime, comédia. Nacionalidade: USA. Trilha Sonora Original: Lorne Balfe. Fotografia: Robrecht Heyvaert. Edição:  Dan Lebental e Peter McNulty. Distribuição: Sony Pictures. Duração: 02h04min.
A iniciativa de agora não ganha direção de Bay, mas da dupla Adil El Arbi e Bilall Fallah e consegue manter o nível dos filmes. Inclusive, chega perto do tom que o primeiro apresenta sendo divertido, cheio de ação e com muita, muita violência, ainda que Marcus já não esteja mais tão afim de lidar com os dias de policial. 

A trama novamente inclui muito bem o mundo latino, aliás, se passa em Miami e até viaja ao México no ato final da película. Os conflitos vem também a partir de uma vingança que está sendo posta em prática por um misterioso criminoso (Jacob Scipio) e sua mãe (Kate Del Castillo - da série A Rainha do Sul), ambos hablantes de la lengua española. Àquele está eliminando policiais, juízes, e funcionários da justiça e Mike acaba sendo atingido pelo vilão. O sempre enervado Capitão Howard forma uma equipe para descobrir o que está rolando e uma turma jovem formada por Kelly (Vanessa Hudgens), Rafe (Charles Melton) e Dorn (Alexander Ludwig) e liderados pela policial Rita (Paola Nuñez), entram na parada para deixar Mike e Marcus para trás, aliás, Mike é proibido de se envolver na investigação e Marcus pede sua aposentadoria. Mas, obviamente, algo ali fará os dois entrarem em ação de novo e sim com muita discussão e porradaria.

 Bad Boys (1995), Bad Boys II (2003) e Bad Boys Para Sempre (2020)

A trama não vem diferente do que já vimos, há até deixas que o bom entendedor de cniema já saca de casa, mas ainda assim surpreende, envolve, e faz você rir litros se gosta da vibe que o filme traz. 

Logo, BAD BOYS PARA SEMPRE merece sim a sua investida, afinal, a simpatia de Smith e o jeito marrento de Lawrence estão novamente no ponto. Ah, e já está previsto um quarto filme com Bay na direção. O cineasta faz uma ponta aqui, como fez em outros dos seus filmes, e Adil e Bilall também podem ser vistos como figurantes em alguma das cenas. 

Avaliação: Três tiros certeiros e meio (3,5/5)

HOJE NOS CINEMAS

See Ya


-B

Os Órfãos, de Floria Sigismondo


''Os Órfãos'' é exatamente aquilo que se espera dele. Seja através do trailer, da ambiência soturna e escura que já vem desde o início, ou até do título que chegou no Brasil. O filme de Floria Sigismondo é um compilado de técnicas bastante familiares do gênero de terror. O que, por si só, não é demérito algum quando utilizadas de modo original ou pelo menos de maneira mais sagaz. Os Órfãos, entretanto, acaba ficando na superfície e acredita que utilizar as armas conhecidas o salvará.

Na trama, Kate (Mackenzie Davis) aceita um emprego de tutora e educadora da órfã Flora (a incrível Brooklynn Prince, a criança protagonista de Projeto Flórida). Flora mora apenas com a governanta Sra. Grose (Barbara Marten) num casarão vitoriano comum em histórias sobre ricos e/ou almas penadas. Apesar de solitária, a criança é alegre, inteligente e brincalhona - algo importante para a trama quando esta adiciona o elemento Miles (Finn Wolfhard, de Stranger Things). O irmão de Flora, que diferente da irmã tem sua educação fora do casarão, num colégio interno. Seu retorno coincide com a chegada de Kate e desencadeia o ciclo de loucura que acompanhamos.

Trailer

Ficha Técnica

Título original e ano: The Turning, 2020. Direção: Floria Sigismondo. Roteiro: Carey W. Hayes, Chad Hayes - baseado no livro de Henry James. Elenco: Finn Wolfhard, Mackenzie Davis, Barbara Marten, Brooklynn Prince, Joely RichardsonNiall Greig FultonDenna Thomsen. Gênero: Terror. Nacionalidade: EUA. Trilha Sonora OriginalNathan Barr. Fotografia: David Ungaro. EdiçãoDuwayne Dunham e Glenn Garland. Distribução: Universal Pictures. Duração: 01h34min.
O roteiro estende-se mais que o necessário pela primeira metade do filme. Não entendemos muito o que está acontecendo e é notável a tentativa de construção em "banho-maria" de um leque de medos e inseguranças para a personagem da professora. Contar mais do que isso da trama, portanto, pode afetar a experiência que Sigismondo parece querer elaborar com seu filme. A lentidão da primeira parte, porém, é comprometida quando notamos todas as informações necessárias logo nas primeiras cenas na casa. Como dissemos, Os Órfãos se baseia em muitos truques do gênero para dar o clima de horror e ansiedade necessários. Dessa maneira, a repetição de jump scares, partes proibidas da casa e bonecos macabros, por exemplo, acabam cansando rapidamente sem mostrar muito a que vieram.

À medida que Kate vai encaixando as peças do quebra-cabeças que nem sabia que precisaria montar, acompanhamos mais pistas do ocorrido no passado e do que ocorre no presente. A trama avança e o filme parece dizer mais e alguma metáfora começa a se configurar sobre o gaslighting e a violência masculina. Vivendo numa casa quase abandonada, longe do mundo exterior, com crianças ricas e mimadas e uma governanta bitolada, é compreensível que Kate se sentisse acuada. O embate de poder social entre ela e Miles, assim que ele chega, demonstra que as coisas não serão tão fáceis em seu novo cotidiano. As abruptas mudanças de humor de Miles combinadas com a certeza de que pode fazer o que quiser desestabilizam Kate. E isso é só o começo do buraco em que a protagonista se meteu: se não se sente confortável para falar sem ser silenciada ou desmentida, como sair da espiral que seguirá o filme? É a partir dessa encruzilhada emocional que o terreno de Kate é armado e entra a metáfora (talvez mais direta que uma metáfora propriamente dita) da violência de gênero e do assédio.


O problema é que Os Órfãos fica no meio do caminho. Nem se foca na tentativa de uma analogia com um terror sobrenatural sobre o terror cotidiano do assédio, mas também não trabalha com o zelo necessário a maneira de contar essa história, abusando de clichês e truques, às vezes repetidamente numa mesma cena. O resultado disso soa confuso e pode passar como apenas mais um terror genérico com atores promessas.

HOJE NOS CINEMAS

Testemunha Invísivel, de Stefano Mordini


Il Testimone Invisibile estreia nesta quinta-feira (30) eSão Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Curitiba.

A versão italiana dirigida por Stefano Mordini é um remake da película espanhola de 2016 - Contratiempo. Se você não viu a primeira versão, vale a novidade de conferir a obra italiana, já que a trama é bem interessante. Agora, se você assistiu a versão do longa espanhol, fatalmente irá comparar e verá uma semelhança absurda. Muda a língua, mudam os atores e nomes das personagens, porém a história segue igual, porém, um pouco mais aguada.

Adriano Doria (Ricardo Scamarcio) é um empresário de sucesso e vive luxuosamente ostentando carros de luxo e relógios caros. Além de uma linda esposa, sua filha e uma amante também belíssima (Miriam Leone). A vida perfeita até que ele acorda em um quarto de hotel nas montanhas ferido na cabeça ao lado do corpo da amante e várias notas de euros. Detalhe: a porta está trancada por dentro, sem a mínima possibilidade de alguém ter entrado ou saído. Será???

Adriano é o único acusado do crime e sua culpa é praticamente inquestionável. Ele contrata um ótimo advogado para tentar mudar o cenário e este indica uma preparadora de testemunhas. Ele aguarda sua visita já que se encontra em prisão domiciliar. Entra então em cena a advogada criminal Virgínia Ferrara (Maria Parato) para preparar com Adriano uma estratégia de defesa. Ela é considerada uma das melhores da Itália.


A ideia é livrar o cliente de uma acusação que parece inevitável. Mas como tirar o crédito de uma testemunha chave desconhecida e encontrar evidências que comprovem a inocência de Adriano? E eles tem apenas cerca de duas horas para definir seu destino.

Para isso, a profissional precisa de todos os detalhes possíveis sobre o fato ocorrido. A partir daí o diretor cria um jogo de flashbacks e retorno ao tempo atual. Assim, vai moldando o quebra-cabeça do assassinato. Contudo, nem sempre os fatos são verídicos e muitas mentiras vêm à tona.

Por fim, a  trama é interessante, mas alguns dados são muito óbvios e tiram um pouco o interesse do expectador. A amante é pintada como a vilã que arquitetou tudo. Adriano se faz de vítima em outro caso de assassinato de um rapaz que aparece na história para justificar o fato deles estarem em um hotel nas montanhas com uma maleta de dinheiro.

Trailer


Ficha Técnica
Título original e ano: IL TESTIMONE INVISIBILE, 2018. Direção: Stefano Mordini. Roteiro: Oriol Paulo, Stefano Mordini & Massimiliano Cantoni. Elenco: Riccardo Scamarcio, Miriam Leone, Fabrizio Bentivoglio, Maria Paiato, Sara Cardinaletti, Nicola Pannelli, Sergio Romano, Paola Sambo. Gênero: Suspense. NacionalidadeItália. Produção: Roberto Sessa & Linda Vianello. Direção de Fotografia: Luigi Martinucci, Direção de Produção: Cristiano Luciani. Distribuidora: Pagu Pictures. Classificação indicativa: 14 anos. Duração102min.

O final surpreende, quando visto pela primeira vez!

Confira e nos conte sua opinião!

HOJE NOS CINEMAS

terça-feira, 28 de janeiro de 2020

E Agora? Mamãe Saiu de Férias!


Esqueçam o cérebro em casa, tragam o coração! Ele será inundado com muito amor, alegria e ternura... num imbróglio italiano que lhe deixará gargalhando, por algumas horas, triste, em outras, pensativo em vários momentos, mas se sentindo muito bem no final.

O diretor Alessandro Genovesi, com sua câmera frenética na mão em duração aproximada de 94 minutos, acompanha a vida de uma família italiana em crise porque a mãe, Giulia (Valentina Lodovini), resolve tirar férias em Cuba e deixar os três filhos sob os cuidados do pai ausente. O pai,Carlo (Fabio De Luigi) tem que aprender a se virar sozinho com Camilla (Angelica Elli), adolescente de 13 anos; Titto (Matteo Castellucci), de 10 anos, e Bianca (Bianca Usai), de 2 anos. Para piorar, as férias de 10 dias de Giulia coincidem com problemas no trabalho de Carlo: concorrência de um colega desleal e abusos de um chefe carrasco. O quarentão vai sobreviver a essa verdadeira maratona? Só assistindo para saber.


E as situações de comédia pastelão vão se sucedendo umas às outras, juntando crianças e adolescentes adoráveis, babás, porteiros e parentes, todos excêntricos, mas cativantes. Tratando de situações familiares e empresariais de maneira leve, o filme aquece o coração com diálogos cômicos e ternos, em cenas que criticam sutilmente as relações no mundo do trabalho e no casamento, apresentando sem profundidade discussões de gênero e poder, nada que atrapalhe a diversão de uma Sessão da Tarde.

Os atores principais Luigi, Lodovini e Diana Del Bufalo representam com a segurança característica de quem está sendo bem dirigido, mas as três crianças, com seus amiguinhos e namorado, brilham com a espontaneidade dos novatos. O cinema italiano já tem essa característica, lembrando de Ladrões de Bicicleta, de Vittorio De Sica a Cinema Paradiso de Giuseppe Tornatore, os atores infantis encantam.

O roteiro em si não é crível. As situações beiram o nonsense e as coincidências são despropositadas, mas recordem que o cérebro ficou em casa e a alma sai levinha da sessão de cinema. As boas gargalhadas e o coração cheio de amor no final enternecedor compensam largamente o tempo que se gastou no cinema. 
Trailer



Ficha Técnica
Título Original e ano: When Mom Is Away | 10 Giorni Senza Mamma, 2019. Direção: Alessandro Genovesi. Roteiro: Alessandro Genovesi, Giovanni Bognetti. Elenco Fabio De Luigi, Valentina Lodovini, Angelica Elli, Bianca Usai, Matteo Castelluci, Diana Del Bufalo, Niccoló Senni, Antonio Catania. Gênero: Comédia, Familia. Nacionalidade: Itália. Trilha Sonora Original: Andrea Farri. Fotografia: Federico Masiero. Edição: Claudio Di Mauro. Distribuição: A2 Filmes. Duração: 94min. Classificação: 12 anos. 

Avaliação: Três mamadeiras (3/5).

Assistam!

30 de Janeiro nos cinemas

quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

#ConexãoSundance - O Sudance Film Festival 2020 começa seus trabalhos


Um dos mais importantes Festivais de Cinema do Mundo se inicia neste 23 de janeiro. É o Sundance Film Festival. Visite o programa do festival (link aqui) e saiba o que passa por lá! Serão quase 200 filmes exibidos, com direito a participação dos realizadores pelo evento, além de apresentações artísticas como um todo.

Nós do Wanna Be Nerd, em parceria com os sites Cinemação e Getro, divulgaremos as críticas e a cobertura do crítico Mauricio Costa, do site Razão de Aspecto, usando a hashtag #ConexãoSundance. Costa públicará em nosso perfil no instagram, como fez o ano passado, os bastidores do festival, e vocês poderão acompanhar um pouco mais dessa aventura íncrivel que ele tem vivido todo inicio de ano em Park City, Utah.

Criado em 1985, o festival tem um olhar diferente de qualquer outro que vocês conheçam. Nos dias atuais, inclusive, reforçam a importância de termos filmes dirigidos por mulheres, negros ou LGBTQ+ e com temáticas diversas. O evento acolhe filmes de todo o mundo e ano passado o Brasil esteve por lá com o longa 'Divino Amor', de Gabriel Massaro e também o documentário nomeado ao Oscar deste ano, 'Democracia Em Vertigem', de Petra Costa 

Selecionamos alguns dos filmes que passam pelo festival, a partir de hoje, e que temos muito interesse em assistir, independente se o Maurício fará ou não crítica.

Entre eles:

1 - O documentário 'Hilary', de Nanette Burstein




A sinopse lançada revela que a documentarista cobre o período de campanha da senadora Hilary Clinton, em 2016. Também deve revisitar alguns momentos da vida de Hilary.


2 - O longa de ficção 'Sergio', de Greg Barker



Barker dirigiu um documentário para a HBO, em 2009, sobre o diplomata Brasileiro Sérgio Vieira de Mello, morto no Iraq durante uma missão de Paz da ONU. Ninguem melhor que ele para também dirigir um longa ficcional sobre Mello. Na trama, o ator Wagner Moura dá vida ao diplomata. O filme deve chegar a Netflix em Abril deste ano.


3 - O drama de Ficção ''Shirley'', de Josephine Decker




Com Michael Stuhbarg, Elisabeth Moss e Logan Lerman, no elenco, o filme retrata como uma autora busca inspiração para escrever histórias de terror. Aliás, esse processo se torna bem interessante quando ela e seu marido recebem um jovem casal em casa.


 4 - A comédia 'Downhill', de Nat Faxon, Jim Rash


Se ao ouvir os nomes de Julia Louis-Dreyfus e Will Ferrell você não se empolgar para assistir esta produção, tem algo muito errado com você. A dupla com uma jornada bem distinta, mas com um alto sucesso em comédias, chega aqui como um casal passando as férias nos famosos 'Alpes' para esquiar e precisa rever seu relacionamento. A película é baseada no longa Sueco 'Força Maior', de 2014. Downhill será um dos primeiros  filmes a serem distribuídos pela Searchlight Pictures, antiga FOX Searchlight Pictures.


5 - O documentário musical 'Miss Americana', de Lana Wilson



Lana traz aqui um olhar sobre a transformação da cantora/compositora Taylor Swift dentro da indústria. O filme terá estréia mundial na menina Netflix no próximo dia 31 de janeiro.


6 - ''The Go-Go's'', documentário musical de Alison Ellwood



Ellwood aborda no filme a história da primeira banda norte-americana de rock, formada apenas por mulheres, a atingir enorme sucesso ao fim dos anos 70. The Go-Go's fizeram história por serem instrumentistas e não dependerem do sexo oposto para fazem o seu próprio som.


7 - ''The Nowhere Inn'', de Bill Benz




A cantora/compositora St. Vicent decidiu fazer uma ficção sobre sua produção artística, mas ao contratar uma amiga para realizar o filme, algo bizarro acontece: a diretora não consegue captar a identidade de Vicent. (EMPOLGADA PARA VER ISSO ROLAR)

8 - O drama 'Sin Señas Particulares' de Fernanda Valadez


Co-produção entre México e Espanha, o longa de Valadez retrata o drama de uma mãe ao tentar procurar por seu filho, dito pelas autoridades como morto ao tentar atravessar a fronteira entre o México e os Estados Unidos.


9 - A biografia ''The Glorias'', de Julie Taymor


A feminista e escritora de bestseller Gloria Steinem, vivida aqui por Julianne Moore, ganha um retrato cinematográfico. Janelle Monáe, Bette Midler, Alicia Vikander, Thimothy Hutton e Lulu Wilson estão no elenco. Baseado no livro de Steinem ''My Life on the Road''.


10 - O Drama ''Falling'', estrelado e dirigido por Viggo Mortensen




Viggo escreve, dirige e atua em Falling. O drama revela um pai idoso e que vivia em uma fazenda rural tendo que se mudar para casa do filho gay e viver com sua família em Los Angeles. No elenco, a maravilhosa Laura Linney

Bem, é isso, pessoal. Nos veremos pelas redes e com muitos vídeos sobre os filmes que o Mauricio Costa começa a assistir hoje em Sundance. Simbora!

Ah, e sigam o canal do RAZÃO DE ASPECTO lá no YOUTUBE (link aqui).

See Ya!

B-

1917, de Sam Mendes


O longa 1917, do diretor Sam Mendes (Beleza Americana), faz seu debut nos cinemas brasileiros hoje e com toda a experiência cinematográfica que este traz, não há dúvidas, do porquê ele é o favorito ao Oscar 2020. Aliás, foi indicado nas categorias de “Melhor Filme”, “Melhor Trilha”, “Melhor Diretor”, “Melhor Roteiro Original”, “Melhor Fotografia”, “Melhor Mixagem de Som”, “Melhores Efeitos Visuais”, “Melhor Direção de Arte”, “Melhor Montagem” e “Melhor Cabelo e Maquiagem”. Ganhou prêmios na grande maioria das premiações, nos Globos de Ouro recebeu o prêmio de Melhor Filme” na categoria  Drama” e sua produção também foi ovacionada no sindicato de produtores.

Filmado em plano sequência para trazer mais veracidade aos acontecimentos, 1917 segue a jornada, quase como uma missão de vídeo game, dos cabos Schofield (George MacKay) e Blake (Dean-Charles Chapman), jovens soldados britânicos, ao tentarem evitar um massacre durante a Primeira Guerra Mundial. A dupla recebe a tarefa de levar uma mensagem ao batalhão que já está a caminho do confronto. Para tanto, precisam atravessar território inimigo, se atentar ao tempo que têm, que é curto, e cumprir a ordem. Blake mais que tudo necessita o fazer, pois o irmão é um dos soldados ali. 

A trama é a primeira que o cineasta Sam Mendes assina como roteirista e vem com encargo biográfico, pois reconta as memórias de seu avô detalhadas no copilado de cartas e artigos ''WWI: "The Autobiography", de Alfred H. Mendes, entre os anos de 1897-1991, (ver aqui). O elenco conta com Colin Firth, Mark Strong, Andrew Scott, Daniel Mays, Richard Madden e Benedict Cumberbatch.
Trailer


Ficha Técnica
Título original e ano: 1917, 2019. Direção: Sam Mendes. Roteiro: Sam Mendes e Krysty Wilson-Cairns - baseado nos aritgos e cartas do copilado WWI: "The Autobiography de Alfred H. Mendes (1897-1991)Elenco: George MacKay, Dean-Charles Chapman, Mark Strong, Daniel Mays, Richard Madden, Andrew Scott, Colin Firth, Benedict Cumberbatch. Gênero: Guerra, Drama. Nacionalidade: Eua, UK. Trilha Sonora Original: Thomas Newman. Fotografia: Roger Deakins. Edição: Lee Smith. Figurino: Jacqueline Durran.Distribuição: Universal Pictures. Duração: 01h59min.
O filme não toma tempo para entregar o perfil prévio dos soldados e é reto e direto. Aliás, do momento que acordam ao momento que recebem a missão, ou até mesmo ao desenvolvimento da mesma, Schoefield e Blake são seguidos pela câmera e sua edição vem como um episódio inteiro sem cortes - percebe-se que o tempo real tem um corte apenas na cena em que Schoefield sofre uma queda e o dia que estava claro, não mais está.

Os atores levaram cerca de seis meses ensaiando até o dia das filmagens e o último em cena, Cumberbatch, foi requisitado para estar todos os dias no set caso a filmagem se desse de forma rápida e chegasse até a sua entrada. 


Schoefield e Blake tem personalidade distinta e se o primeiro é sério no que faz e um pouco tímido, o segundo é doce e falastrão. Em seus momentos juntos, fica claro como Blake passa a ser admirado pelo colega e este usa dessa inspiração para continuar seguindo e não entrar em pânico com toda a loucura da Guerra. 

Os dois, muito jovens e claramente se mantendo em pé sem saber muito o que acontece, não são tão cautelosos quanto o deveriam e talvez pela inexperiência ao momento terrível que passam - a primeira guerra mundial durou de julho de 1914 a novembro de 1918 - agem como devem agir. E fecham sim uma parceria camarada.

A atuação de MacKay e Chapman é pontual, há um espaço ou outro em que vemos um destaque, mas o filme não se vale exatamente por isto. O primeiro você deverá lembrar do emocionante e necessário 'Capitão Fantástico' (2016) e o segundo da série de sucesso Game of Thrones. As participações dos atores consagrados Firth, Strong e Cumberbatch caem nos personagens perfeitos e estes tem suas deixas nos momentos exatos. Madden (que também esteve em Game of Thrones) tem a entrega mais emocional, devido a certo ocorrido, mas nada exagerado.  

Sem sombras de dúvidas, a chegada ao terceiro ato e a consequência que se aguarda dá todo um motivo maior a trama, mas também não deixa de nos balancear pelo encontro de Schofield com uma mulher e um bebê escondidos de todo aquele terror, ou ainda quando este se põe em imenso perigo ao descer por um rio de águas incontroláveis.


A direção de Sam aqui é de um primor incrível, mas mais que isso um desafio que o próprio conseguiu se sair gloriosamente muito bem, pois a técnica usada de 'cortes mínimos e escondidos' (algo primeiro usado em Festim Diabólico de Hitchcock ) não se vê tanto hoje em dia.  

Thomas Newman assina uma das trilhas mais fantásticas de sua carreira (escute aqui) - se atente ao momento em que Schoefield está nas ruínas e toda a tensão é construída pela composição de Newman. A fotografia de Deakins é algo que faz qualquer cinéfilo ficar maravilhado, imagina o olhar mais apurado (talvez seja oscar garantido, hein?!).

O público acostumado as pipocas lançadas talvez demore um pouco para perceber a grandiosidade do filme, afinal, ele não apresenta grandes acontecimentos, ele todo é o acontecimento. Ainda assim, Mendes fará com que todos saiam da sala repensando o nosso passado de guerras e tudo aquilo que nos faz humanos.

Avaliação: Quatro fardas estreladas (4/5)

HOJE NOS CINEMAS

See Ya!

B-

O Melhor Verão das Nossas Vidas, de Adolpho Knauth


A girl group BFF Girls é formado por ex-integrantes do programa The Voice Kids, da Rede Globo, e conquistou um grande espaço na música pop brasileira entre os adolescentes. As três cantoras deste – Giulia Nassa, Laura Castro e Bia Torres – que interpretam a si mesmas, ou pelo menos versões ficcionalizadas delas mesmas, são então protagonistas numa comédia adolescente feita sob demanda para os fãs do grupo musical em O Melhor Verão das Nossas Vidas.

Na produção, as meninas conseguem uma vaga para se apresentarem num festival de música no Guarujá, mas acabam ficando de recuperação na aula do professor de matemática (Marvio Lúcio, o Carioca do Programa Pânico). As três precisam, então, conseguir um modo de fugir das aulas de verão e um lugar para ficar no Guarujá. Para isso, elas pedem a ajuda de Júlio (Enrico Lima), o nerd da sala que tem um tio chamado Dênis, interpretado por Maurício Meirelles. Elas tentam pagar o favor ensinando Júlio a conquistar a crush, a vilã Helô (Giovana Chaves).

Trailer

Ficha Técnica

Título original e ano: O Melhor Verão das Nossas Vidas, 2019. Direção: Adolpho Knauth. Roteiro: Cadu Pereiva. Elenco: Bia Torres, Laura Castro, Giulia Nassa, Enrico Lima, Maurício Meirelles, Bela Fernandes, Giovanna Chaves, Marvio Lúcio “Carioca”, Rafael ZulU, Murilo Bispo. Gênero: Comédia, Aventura. Nacionalidade: Brasil. Diretor de fotografia: Daniel Talento. Direção de arte: Ula Schliemann. Figurino: Mariana Baffa e Severo Luzardo. Som direto: Fernando Russo. Trilha sonora e direção musical: Áureo Gandur e La Musique. Montador: PH Farias. Vfx: Luiz Gustavo Czaika e Mistika Post. Produção de finalização e Cor: Çarungaua. Produzido por: Denis Knauth e Adolpho Knauth. Produtores associados Ricardo Costianovsky, Silvia Cruz, Tomás Darcyl, Gabriel Gurman. Produtor executivo: Leonardo Mecchi. Co-Produção: Grupo Telefilms. Co-Produção e Distribuição: Galeria Distribuidora. Produção: Moove House.  
Se a trama parece familiar e repetida, é porque ela é. A partir do trailer já sabemos dos problemas que o grupo enfrentará e como sairá de cada um deles. O filme, então, soa como produto encomendado como product placement da marca BFF Girls. Aliás, tudo no filme parece existir como oportunidade de tela criada pelas próprias cantoras que usam da fama do grupo em troca de financiamento para sua 'logo'. O velho ouroboros capitalista de marcas, produtos, pessoas e artistas que se retroalimentam na criação de valor mercadológico.

Já é de conhecimento geral que a formação de tais grupos musicais, as girl/boy bands, funcionam a partir de um produtor com recursos e expertise para a introdução de novos artistas no mercado. Muitos desses grupos acontecem como início de carreira para carreiras mais longevas, como vemos com Ricky Martin, Negra Li e até a Beyoncé. Esse esquema de produção pode ser visto nas demandas que o grupo passou: inicialmente com Laura Schadek no grupo e clipes com referências norte-americanas (High School, baile de formatura, dinners dos anos 50), as BFF Girls parecem ter entrado num caminho mais inclusivo. A entrada de Laura Castro, jovem cantora negra, não é a única mudança, como podemos ver em músicas como Eu Sou, grito de empoderamento adolescente sobre aceitar-se como se é.



O Melhor Verão das Nossas Vidas trabalha nesse mesmo esquema de produção circulando muito bem quem é seu público-alvo e traçando histórias para esse grupo. Sempre ouvindo as demandas geracionais do mercado. No longa, então, abre-se espaço para uma representatividade com a personagem Carol (Bela Fernandes), deficiente auditiva. 

A perspectiva publicitária do filme (comprovada em um plano que existe apenas para mostrar um pacote de Mentos) acaba ficando com os clichês possíveis para o gênero infanto-juvenil como paqueras e redes sociais. Tudo isso com uma cara e uma ambientação da internet, o que dá ao filme a impressão de ser um episódio de websérie para o YouTube que foi alongada.

Apesar dxs adolescentes protagonistas, o filme decide apontar para a maior parte de sua demografia: as crianças. As BFF Girls são, por exemplo, as responsáveis pela música de Angry Birds 2 (2019) para os cinemas brasileiros. Portanto, os temas propostos pela na narrativa acabam ficando mais rasos e diretos; sem nuances comparados a outros filmes do gênero no cinema brasileiro. Entretanto, O Melhor Verão das Nossas Vidas sabe o público que tem e se foca no que toda essa fatia do mercado espera. É exatamente o filme que poderia ser feito a partir de tais propostas.

HOJE NOS CINEMAS

Um Lindo Dia na Vizinhança, Marielle Heller


O faro de Hollywood para adaptações é conhecido e entrega filmes de todos os tipos e plataformas provenientes possíveis. Nessa toada, recebemos produções como a saga O Senhor dos Anéis, Orgulho e Preconceito e a criação do Universo Marvel nos cinemas. Um Lindo Dia na Vizinhança é a adaptação de um artigo na revista Esquire, datado do fim dos anos 90, que conta a história por trás da escrita do perfil de Fred Rogers, um apresentador de um programa infantil norte-americano entre os anos de 1968 aos 2000. A fonte pode soar um pouco desesperada a princípio e levantar suspeitas, e a diretora Marielle Heller usa isso para baixar nossa guarda. 

O protagonista Lloyd Vogel (inspirado no verdadeiro escritor do artigo, Tom Junop, e interpretado por Matthew Rhys) acha estranho a tarefa de escrever sobre alguém que tem como público crianças de até oito anos. Afinal, começava a ser conhecido por seus textos incisivos e duros sobre os temas que aborda. A visão pessimista do mundo por parte de Lloyd acaba adquirindo uma lente cínica que o faz duvidar das boas intenções do famoso Mister Rogers (Tom Hanks).

Por isso, entrevistar alguém tão gentil e preocupado em nos ensinar o dom a empatia e da compreensão pode ser bastante difícil. Especialmente quando se passa por momentos delicados na vida pessoal como acontecia com o jornalista. Somos, então, apresentados a esse processo de escrita ao longo do filme.

Mr. Rogers é construído pelos roteiristas como o personagem que chega para transformar o protagonista, mas continua o mesmo. É aquele que vem com uma missão quase angelical de guiar a jornada daqueles ao seu redor. Esse tipo de perspectiva sobre a personagem é bastante comum e pode ser vista facilmente em películas como Forrest Gump (1994), com o mesmo Tom Hanks, mas também em personagens mais caóticos, como Axl Foley de Um Tira da Pesada (1984).


O filme de Heller sabe da figura que precisa representar e do carinho que o público norte-americano tem para com este. A persona pública de Rogers gravada no imaginário daquele é do simpático senhor que ouve a todos e nos ajuda a lidar com os sentimentos, especialmente os tidos como ruins, como a mágoa, a raiva e a frustração. Assuntos difíceis, inclusive entre os adultos, mas que Rogers leva ao conhecimento das crianças de modo delicado. Levando tudo isso em consideração, Heller monta seu filme assim como Fred Rogers filma seus programas e atravessa a vida de Vogel. E o apresentador tem noção de seu papel, sendo humanizado no último momento. A cartada final de Heller é “desbeatificá-lo”.

Num primeiro momento, Um Lindo Dia na Vizinhança, pode parecer simplista e água com açúcar com algumas frases de efeito e metáforas visuais e sonoras óbvias. Mas assim como Lloyd não acreditava no trabalho de Rogers, às vezes a simplicidade do encontro e do ouvido aberto para o outro do filme de Heller faz com que o espectador se abra também para a mensagem que se traz. Aliás, se existir o gênero “filme de mensagem”, Um Lindo Dia se encaixa nele. Mas o que pode parecer impositivo e brega dessa proposta acaba como pura sinceridade, tanto das performances quanto do trabalho da diretora. 

Findaram-se os tempos de paz e as disputas dos espaços de poder estão em jogo. Além disso, vê-se crescer o número de diagnósticos de doenças psíquicas, sendo a depressão e a ansiedade as líderes dessa lista. Em dado momento, Lloyd assiste a entrevistas de Rogers para a TV e ele questiona a maneira como crianças são vistas e criadas nos Estados Unidos: afirma que, mais do que pessoas, elas são compradores em potencial. 

Trailer

Ficha Técnica

Título original e ano: A Beautiful Day in the Neighborhood, 2019. Direção: Marielle Heller. Roteiro: Noah Harpster e Micah Fitzerman-Blue - inspirado no artigo de Tom Junod ''Can You Say ... Hero?. Elenco: Tom Hanks, Matthew Rhys, Chris Cooper, Tammy Blanchard, Wendy Makkena, Enrico Colantoni, Maryann Plunkett, Susan Kelechi Watson. Gênero: drama, Biografia. Nacionalidade: Eua. Trilha Sonora Original: Nate Heller. Fotografia: Jody Lee Lipes. Figurino: Arjun Bhasin. Edição: Anne McCabe. Distribuidora: Sony Pictures. Duração: 01h49min.

Assim, a análise por parte de uma diretora sobre a incapacidade de um homem frustrado lidar com seus sentimentos assume um lugar de exposição de um problema social maior do que a vida dessas personagens. A clareza com que mostra a jornada interior de Lloyd Vogel é sobre mostrar como nem sempre os adultos amadureceram tanto quanto pensam e como isso é um problema social, mais do que individual.

HOJE NOS CINEMAS

quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

A Divisão, de Vicente Amorim


A Divisão é a versão fílmica da série de mesmo nome dirigida por Vicente Amorim para o canal de streaming Globoplay. Os cinco episódios acontecem dentro da DAAS, a divisão anti-sequestro da Polícia Civil do Rio de Janeiro. Com a chegada do trio de policiais rebeldes e corruptos Santiago (Erom Cordeiro), Ramos (Thelmo Fernandes) e Roberta (Natália Lage), a DAAS passa a tentar operar com inteligência em vez de força bruta, como era com a liderança do delegado Mendonça (Silvio Guindane).

O filme se inicia com um panorama do surto de sequestros que se deu no Rio no fim dos anos 90. O foco da narrativa é, portanto, mostrar como essa mudança de hábitos resultou no fim da onda desse crime na cidade. Para isso utiliza-se de um caso ilustrativo: a filha do deputado Venâncio Couto (Dalton Vigh). 

Assim como em Tropa de Elite (2007), talvez o maior filme brasileiro sobre a instituição policial, A Divisão usa da violência presente nos batalhões e delegacias para tentar criar algum tipo de crítica sobre como lidamos com a segurança pública no Brasil. Enquanto Tropa de Elite se perde no debate que tenta promover – algo que é melhor conduzido no segundo filme –, A Divisão deixa bem claro o que quer entregar. O filme de Vicente Amorim tenta criar contradições nas atitudes dos personagens para dar a eles algum tipo de profundidade, mas seu discurso é sempre transparente. 

O que pode parecer uma qualidade se o próprio filme não entrasse em contradição consigo mesmo. As contradições dos personagens, como as propinas recebidas no passado por Santiago, bastam-se aí e ficam cada vez piores. As mortes praticadas por Mendonça, por exemplo, são meios extremos, mas justificados pela luta contra o crime organizado no Rio de Janeiro. Mendonça é a figura representativa da retidão moral, aquele que não admite o que acha errado, mesmo que para isso precise matar alguns suspeitos.

Cena do filme

A base dessa narrativa é mostrar a podridão das corporações e como elas só funcionam na marginalidade, obrigando seus policiais à extorsão ou ao assassinato. Mas o filme não sustenta a crítica que pretende fazer e tenta focar-se na construção de um clima de ação com longas e numerosas cenas de tiroteio. Dessa forma, as contradições que tentam questionar o papel da polícia somem na tentativa de plasticidade e adrenalina das cenas de ação, deixando para o personagem do Chefe de Polícia Paulo Gaspar (Bruce Gomlevsky) a tarefa de apresentar as críticas em falas expositivas através de coletivas de imprensa.

A contradição rasa das personagens também é encontrada na estrutura do roteiro. A corrupção de Santiago, tão importante para a visão que seus colegas e a imprensa têm dele, é perdoada por ser o protagonista, já que outros personagens da trama também o são e com menos compreensão por parte do filme. Pode-se pensar que isso se dê pelos métodos violentos e manipuladores dessas personagens, mas Mendonça também o é e se torna o maior aliado do detetive All Star, apelido de Santiago dado por um chefe de facção por conta dos tênis do policial.


Todas essas são inconsistências comuns em filmes, especialmente os de ação e aventura onde o foco está em outro lugar. Mas o problema maior acontece com a própria direção de Amorim. O longa não desperta o interesse plástico das coreografias dos atores e das câmeras pelas vielas e casas abandonadas, tornando-se uma cópia saturada do que acontece no gênero há alguns anos. Mas também não existe mérito nas críticas feitas. Tudo é introduzido como se houvesse uma espécie de checklist de temas a serem abordados e que acabaram sendo jogados na tela. 

A Divisão é uma produção que se leva a sério demais, mas que, ao não atingir os lugares que pretende chegar, tenta disfarçar de filme de ação pipoca com algum fundo social. O problema em que se mete é até bastante comum em realizações cinematográficas: confundir o que se quer dizer com o que está sendo dito efetivamente. Não há crítica ao sistema de segurança pública quando bandidos e mocinhos agem da mesma forma, mas recebem tratamentos distintos por parte do filme. As contradições que buscam a profundidade só deixam mais raso tudo que a narrativa faz. Qualquer tentativa de problematizar se perde quando os bandidos menores perdem o rosto, quando se tortura e fuzila apenas uma massa de corpos. A desumanização de um dos lados desse confronto só opera para que eliminá-los não seja um problema.

A película termina e surgem os letreiros que afirmam que, a partir daquele momento, a taxa de sequestro foi zerada, enquanto a dos outros crimes continuou aumentando nesses 20 anos. Tudo o que filme diz se encontra nestas palavras que se exibem quando ele acaba. Dado que por si só deve ser um problema. 

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Ficha Técnica

Título original e ano: A Divisão, 2019. Direção: Vicente Amorim. Roteiro: Gustavo Bragança, José Luiz Magalhães, Rafael Spínola, Aurélio Aragão, Erik de Castro, Fernando Toste e Vicente Amorim. Roteiro final: Gustavo Bragança e José Luiz Magalhães. Elenco: Erom Cordeiro, Silvio Guindane, Natalia Lage, Thelmo Fernandes e Marcos Palmeira, Hanna Romanazzi, Vanessa Gerbelli, Dalton Vigh, Osvaldo Mil, Marcello Gonçalves, Bruce Gomlevsky, Paulo Reis, Augusto Madeira, Beatriz Saramago, Rafaela Mandelli, Cinara Leal, Guilherme Dellorto, Amaurih De Oliveira, Dério Chagas, Lucio Andrey, Helena Fernandes,Val Perré, Nill Marcondes. Gênero: Drama, Ação. Nacionalidade: Brasil. Direção de Fotografia: Gustavo Hadba, ABC. Montagem: Danilo Lemos. Direção de Arte: Daniel Flaksman. Figurino: Cristina Kangussu. Trilha Sonora Original: Lucas Marcier e Fabiano Krieger. Supervisão de Efeitos Visuais: Marcelo Siqueira, ABC. Produtor de favelas: João Paulo Garcia. Produção: AfroReggae Audiovisual. Coprodução: Globo Filmes, Hungry Man e Multishow. Produção Executiva: Luis Vidal, Carolina Aledi, Fabiana Guzman, Marcelo Torres e Mário Diamante. Produção: José Junior. Patrocínio: Petrobras e Gávea Investimentos. Investimento: Investimage e BRB (Banco de Brasília). Apoio: Ambev, Afinal Filmes, CQS Advogados, Gol, Globoplay e Telecine. Distribuição: Downtown Filmes e Paris Filmes. Duração: 02h14min.

23 de janeiro nos cinemas   


quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

Os Miseráveis


O diretor Ladj Ly conhecido como o novo "Spike Lee francês" nos traz uma França sob uma ótica diferenciada. Esta que é então permeada de preconceitos raciais e desníveis sócio-econômicos, longe do romantismo visto no cinema em geral. É como se tivéssemos um pais visto por um viajante destemido que arriscou encarar um trajeto fora do roteiro pré determinado e adentrou o lado B - sofrido, escuro, violento e desigual. Algo que um turista que procura a bela, harmônica e iluminada frança pouco encara.

A imagem criada para a exportação não é a mesma vista por Ladj Ly. E exatamente por isso o longa nos prende por 1h 42 minutos.

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Ficha Técnica
Título original e ano: Les Misérables, 2019. Direção: Ladj Ly Roteiro: Alexis Manenti,  Ladj Ly e Giordano GederliniElenco: Damien Bonnard, Alexis Manenti, Djibril Zonga, Issa PericaAl-Hassan LySteve TientcheuAlmamy KanoutéNizar Ben FatmaRaymond LopezLuciano LopezJaihson LopezJeanne BalibarSana JoachaimLucas OmiriRocco Lopez. Gênero: Suspense, crime, drama. Nacionalidade: França. FotografiaJulien PoupardEdição: Flora Volpelière. Figurino: Marine Galliano. Distribuição: Diamond Films. Duração: 01h42min.  
Os Miseráveis nasceu de um curta metragem feito em 2017 e aquele recebeu indicação de 'Melhor Curta' ao Cesar, Festival de renome que é considerado o Oscar Francês. 

Como primeiro longa metragem do ousado diretor outra vitória alcançada foi a apresentação do filme em Cannes, e a mesma atraiu olhares, chegando a levar o Prêmio do Juri junto com o nosso BACURAU.

O título "Os Miseráveis" nos remete à obra clássica de Victor Hugo e não é por acaso. Ambientado na periferia da região de Paris e nos motins e episódios de violência ocorridos em 2005, quando após a perseguição pela polícia e um incidente com jovens, a revolta se instalou. O confronto se espalhou rapidamente pela região e os embates duraram dezenove noites consecutivas. Na película tudo acontece na comunidade de Gavroche (que traduzindo para o português significa criança travessa) outra referência ao célebre personagem de Victor Hugo. 


As cenas iniciais mostram um jogo de futebol e a torcida unida assistindo e vibrando por um país único é o ponto de contraste para o que está por vir. Aliás, a utopia da igualdade acaba aí.

Cada grupo ou facção administra sua área e gerencia as tréguas a sua maneira. Cristãos e muçulmanos, brancos e negros, crianças e adultos, polícia e comunidade. Cada qual têm ''os seus acertos'' para continuar sobrevivendo em paz. Um filhote de leão simboliza a Lei da Selva que impera.

O cenário violento é mostrado pelos olhos do jovem policial Stéphane (Damien Bonnard) que foi transferido para Montfermeil para se juntar ao esquadrão anti crime da comuna. Seus parceiros serão Chris (Alexis Manenti) e Gwada (Djibril Zonga), dois oficiais que vivem no local, estão inseridos na realidade violenta e portanto usam métodos nada convencionais de trabalho.

O novato, que até então não tinha um perfil violento, precisa se adaptar, pois tem um filho para criar. 


A marginalização do mais fraco se dá em ambos os lados, pois a sobrevivência aqui não é apenas do mais forte, mas principalmente daquele que se adapta.

Os desníveis sociais, o racismo, a violência que existe nos cantos sombrios da cidade luz são abordados de forma dramática e humana. Não existe bandido ou mocinho, tanto polícia como comunidade sofrem a pressão de uma realidade cruel. As chamadas "crianças" perdem a inocência para não morrer, enquanto o policial durão chora no colo da mãe ao final do dia.

São cenas fortes e chocantes que fazem o público refletir sobre como decorridos tantos anos após o clássico de Victor Hugo ainda vivemos a mesma realidade.

E temos assim uma história atemporal e densa de uma França sem glamour algum e que o público deve correr para conferir.

Os Miseráveis recebeu uma indicação ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e concorre a estatueta no próximo dia 09 de fevereiro.

HOJE NOS CINEMAS