quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Fuga de Pretória | Em cartaz Somente nos Cinemas|


Filme sobre fuga do encarceramento, este longa metragem inglês e australiano de 2020, produção da TNT Original, dramatiza a história real de Tim Jenkin e seu amigo Stephen Lee, jovens brancos sul-africanos que combateram o regime opressivo do Apartheid da África do Sul, na década de 70. Os rapazes, junto com outro detento também preso político, conseguiram fugir espetacularmente de uma prisão de segurança máxima de Pretoria, exclusiva para brancos, a qual foram condenados pelo crime terrorista de divulgar as idéias radicais do ANC, de Nelson Mandela.

O diretor inglês Francis Annan concentra seus esforços em mostrar, durante os 106 minutos da película, o plano engenhoso de Jenkin em abrir as portas para a liberdade usando chaves de madeira, numa miraculosa fuga e esta foi narrada pelo próprio homem em um livro de memórias, base para o roteiro, que se preenche com suspense e momentos de tensão.

Trailer


Ficha Técnica

Título original e ano: Escape from Pretoria, 2020. Direção: Francis Annan. Roteiro: Francis Annan,  L.H. Adams, Tim Jenkin e Carol Griffiths. ElencoDaniel Radcliffe, Daniel Webber, Ian Hart, Mark Leonard Winter. Gênero: Biografia/Drama/Thriller. Nacionalidade: Reino Unido e Austrália. Trilha Sonora Original: David Hirschfelder. Fotografia: Geoffrey Hall. Edição: Nick Fenton. Distribuição: Cinecolor Films Brasil. Classificação: 13 anos.


Esse é o grande problema do filme, o roteiro. Em um período tão conturbado da história humana, onde um país africano tinha uma política pública de separar as raças branca e negra, condenando os negros a viver em situação degradante para servir os colonizadores brancos, concentrar o drama em apenas um plano de fuga é frustrante. Podia-se ter abarcado com mais riqueza a vida antes e pós presídio, talvez até mesmo dentro da prisão, onde coexistiam presos políticos e presos comuns. Faltou essa visão macro do que acontecia na África do Sul. Inclusive, acredito que 80% do filme poderia ter-se passado em qualquer prisão do mundo e em qualquer época, os 20% restantes é que são interessantes, pois mostram as particularidades desse regime tão absurdo de segregação racial e que era a política oficial deste país no século XX.

Daniel Radcliffe, o eterno bruxinho Harry Potter, personifica o Tim Jenkin e mais uma vez, entra na sua jornada pessoal de apostar a carreira em filmes mais sérios e alternativos. O elenco em si é bom, são competentes no que fazem, pena que o roteiro não ajude. Os aspectos técnicos do filme são bem cuidados, todos a nível de funcionais; é um filme de prisão, então são poucos cenários, naquela visão claustrofóbica que se repete nos filmes do gênero.


É aquele tipo de cinema que deixa um gostinho de quero mais. Os personagens são ricos, a situação calamitosa do apartheid tinha muito o que se explorar. Concentrar o filme na fuga não foi uma boa opção; os dramas individuais eram muito interessantes para ocupar tão pouco espaço. Bem, pelo menos o plano de fuga era engenhosíssimo e o esforço para alcançar a tão sonhada liberdade gerou um divertido thriller. Filme mediano.

Em cartaz 

quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Espirito de Família, de Éric Besnard


Imaginem um croissant, bem leve, amanteigado, daqueles bem suaves e perfumados, que te fazem suspirar as papilas gustativas: é exatamente o que você sentirá se deliciando ao assistir a este filme! Com duração de 90 minutos apenas, esta comédia dramática francesa do diretor Éric Besnard é de uma sutileza necessária. Ambientada numa bela casa de praia, digna das páginas de revistas de decoração (bom gosto europeu, claro!), a estória mostra as atribulações de uma família depois que o patriarca morre. Um dos filhos, escritor de romances totalmente apático em sua existência privada, começa a ver e conversar com o pai falecido e nesses diálogos começa a se abrir para a vida e restabelecer contato com os parentes, em situações cômicas e dramáticas ao mesmo tempo e que te fazem chorar feliz ou até rir triste.

Essa família peculiar é composta pelo pai falecido hedonista Jacques, interpretado pelo ator François Berléand, pela mãe excêntrica Marquerite, vivida por Josiane Balasko, pelo filho apático romancista Alexandre, vivido pelo excelente ator Guillaume de Tonquédec, e pelo segundo filho frustrado e agenciador de atletas Vincent, papel do ator Jérémy Lopez. Família grande, ainda temos um neto, noras, atletas visitantes, etc. Muita gente para muita confusão e várias situações hilárias.

Trailer


Ficha Técnica

Título original e ano: L'Esprite de Famille, 2019.  Direção e roteiro: Érica Besnard. Elenco: François Berléand, Josiane Balasko, Guillaume de Tonquédec, Jérémy Lopez,  Isabelle Carré, Émille Caen, Papi Tokotuu, Maria-Julie Baup, Jules Gauzelin, Hugues Jourdain. Gênero: Comédia, Drama. Nacionalidade: França. Trilha Sonora Original: Christophe Julien. Fotografia: Jean-Marie Dreujou. Edição: Christophe Pinel. Distribuição: A2 Filmes. Duração: 1h30min.

Essas situações cômicas não dispensam discussões importantes. O roteiro incorpora, entre seus diálogos divertidos e cenas esdrúxulas de diálogo pós-morte, menções delicadas a paternidade ausente, suicídio, depressão, loucura, infidelidade, solidão, etc. Não esqueçam que é um filme francês, então terá uma quantidade enorme de diálogos adultos e discussões de relações, mas tudo muito leve e delicado, naturalmente incorporado à comédia. E o desdobrar das relações familiares, com as mudanças provocadas pela ausência paterna, é libertador. Aplaudimos a segunda chance que a vida está dando a personagens tão simpáticos, todos terminando melhores do que o vimos ao começo do drama.


A fotografia e a cenografia são lindas! Dá uma super vontade de ir morar nessa casa de praia... Os aspectos técnicos do filme são excelentes. As cenas ao livre, na casa, nas estradas, são muito bem conduzidas. Os diálogos são ternos e cômicos, percebe-se que a família se ama muito, só não percebeu isso ainda. E um morto peladão e dançarino é que revela isto, em um texto saboroso igual a um croissant francês.

É muito provável que o público gostará bastante da película e é uma das super recomendações da semana. Afinal, filmes adultos que tratam com leveza temas importantes despertam sentimentos 'feel good' e são muito bem vindos.

Nota:8/10.

DISPONÍVEL NAS PRINCIPAIS PLATAFORMAS DIGITAIS

quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Macabro, de Marcos Prado


Se para quem nasceu nos anos 90 a história dos 'irmãos necrófilos' não é algo tão fácil de se recordar, imagina-se que para a geração 2000 esse caso de terror real, deflagrado na região serrada do Rio de Janeiro, em Nova Friburgo, seja desconhecido. A história é escabrosa e não há quem não se revolte. Acontece que os irmãos Ibraim e Henrique foram acusados de cometer crimes aterrorizantes na Serra dos Órgãos e a vida de um total de oito mulheres, um homem e uma criança foram perdidas à epoca. A situação estava tão bizarra que mais de cem militares do BOPE foram chamados para fazer rondas na região e tentar encontrar os irmãos para descobrir o que estava havendo e parar os ataques a população bem como cessar os assassinatos onde as vítimas tinha seus corpos violados e partes íntimas mutiladas.

Baseado na história real de Ibraim e Henrique, mas não necessariamente seguindo passo a passo os ocorridos, o filme ''MACABRO'', de Marcos Prado, ganhou vida e roteiro da dupla Lucas Paraizo e Rita Gloria Curvo. Na trama, o sargento do Bope Téo, vivido pelo ator Renato Góes, é enviado ao local com uma leva de outros militares e deve investigar as mortes e prender os suspeitos, os irmãos Ibraim e Henrique, no caso. O sargento tem familiares na região e também um ex-amor e teme pela vida dos entes queridos. Com o passar das buscas e conversas com os moradores começa a perceber que os irmãos tem sérios traumas por conta de um pai bêbado e abusivo, além de terem sofrido um aparente racismo praticado por todos ali. A mãe dos meninos, totalmente aérea ao que está havendo só saber pedir para que não os matem, enquanto isso, as moças da vizinhaça só saem e voltam para casa acompanhadas e armadas. 

Trailer

Ficha Técnica


Título originale ano: Macabro, 2020. Direção: Marcos Prado. Roteiro: Lucas Paraizo e Rita Gloria Curvo. Elenco: Renato Góes, Amanda Grimaldi, Guilherme Ferraz, Diego Francisco, Eduardo Tomaz, Juliana Schalch, Flávio Bauraqui, Paulo Reis, João Pydd, Claudia Assunção, Osvaldo Mil, Thelmo Fernandes. Gênero: Suspense, Terror. Nacionalidade: Brasil.Trilha Sonora Original: Plínio Profeta. Diretor de Fotografia: Azul Serra. Montadores: Lucas Gonzaga e Quito Ribeiro. Diretora de Arte: Ula Schliemann. Figurinista: Ana Avelar. Editor de Som: Tomás Alem e Bernardo Uzeda. Editor de Som: Tomás Alem e Bernardo Uzeda. Produtores: Marcos Prado, João Queiroz Filho e Justine Otondo. Produtores Associados: José Alvarenga Jr. e Rodrigo Pimentel. Produtoras Executivas: Justine Otondo e Mariana Bentes. Distribuição: Pandora Filmes. Duração: 01h52m.
O inicio da película mostra ao espectador a jornada de Téo na polícia e como ele tem enfrentado problemas por conta de operações em que atingiu e matou pessoas inocentes pelas favelas cariocas. Sem exatamente ir a julgamento, o policial é então enviado para região de Nova Friburgo com um baita batalhão para dar fim aos crimes que tem acontecido no local. Tem a sorte de que uma das vítimas consegue fugir de um ataque em uma cachoeira onde estava com o namorado e indica à ele quem são os criminosos que mataram seu companheiro e a estupraram. Por ser uma vila interiorana, claro, as pessoas são acolhidas pela igreja e Téo aproveita para tomar alguns depoimentos, após os encontros religiosos.

Ao chegar também revê sua tia Ligia (Cláudia Assunção), o tio José (Paulo Reis) e a crush Dora (Amanda Grimaldi) e logo sabemos um pouco do passado familiar do sargento. Ao contatar o pai dos irmãos foragidos, Tião (Flávio Bauraqui), se dá conta que nem este e nem a mãe dos meninos tem tido contato com eles, mas todos avisam que os jovens conhecem bem a região e estão escondidos na mata como faziam quando era criança. O pai, aliás, é sempre visto realizando rituais, mas pouco se sabe pra quê. Téo tem então uma super tarefa e quando o perigo começa cercar as pessoas que ele ama é que realmente ele se vê obrigado a dar um basta na situação.


Macabro tem cara, corpo e alma de filme de terror e merece a investida. Isto devido ao fato de que ele se valida trazendo uma boa técnica fotografica, uma direção instigante e momentos de suspense bem realizados. Se o texto de Lucas Paraizo e Rita Gloria Curvo escolhe caminhos diferentes da história real, imagina-se que isto não afete tanto o resultado final e que a decisão surja pela naturalidade de dramatizar os ocorridos, os dando um outro olhar. Há a tentativa clara de humanização da policia, mas talvez não punição pelos seus erros. Trabalha-se também a idéia de que Henrique não tenha cometido crimes e sido apenas cumplice ao assistir - dado relatado no tribunal onde o homem se declarou inocente. A violência e o medo no filme causam horror, mas não é algo feito de forma explicita e sim calculada. Por exemplo, um ou outro crime, o espectador verá as costas de um dos irmãos praticando, e ao fim verá a forma com que o corpo da vítima foi encontrado. 

Os irmãos necrófilos não só matavam, mas estupravam as vítimas, após estarem mortas e cortavam suas genitálias. Cometeram crimes odiosos entre 1991 e 1995, o que cumilnou na morte de Ibrahim durante a época das buscas e a prisão e julgamento de Henrique. O homem foi condenado a 34 anos.

Avaliação: Três cidades amendontadas (3/5).


MACABRO teve circuito de estréia em julho e inicio de agosto no Cine Belas Artes Drive-In, em São Paulo, e hoje tem sessão especial no Cine Drive In de BRASILIA, às 22 horas.

See Ya !

B-