quinta-feira, 25 de maio de 2023

A Pequena Sereia, de Rob Marshall [2023]

 
Live Action de A Pequena Sereia é finalmente uma parte desse mundo.

Aí está ela, a adaptação de A Pequena Sereia do diretor Rob Marshall (Chicago, Annie, Piratas do Caribe). Uma obra que é, sem dúvidas, uma experiência divertida, apesar de alguns deslizes. Nessa história, mergulhamos no mundo de uma das princesas mais clássicas e mais queridas da Disney. O que marcou a produção do live-action, desde o princípio, foi a escolha de Halle Bailey ( da dupla Chlo x Halle) como a nossa amada Ariel. A escalação da popstar e atriz veio para reforçar para as garotinhas tão deslumbradas com esse mundo mágico, que todas elas podem ser princesas. Inclusive garotas negras, como Halle. A protagonista inclusive, contou ao diretor do filme, que costumava fingir ser a Ariel quando era criança. Marshall revelou em diversas entrevistas que chorou quando a viu cantar Part of Your World


O que todo mundo queria ver era a caracterização de Halle, como ela encarnaria a filha do Rei dos Mares, e como o CGI trabalharia cada um dos detalhes. Não somente isto, mas brincar com a imaginação de uma nova e única versão dessa sereia tão apaixonada pelos humanos. Halle é muito carismática e traz uma Ariel doce e curiosa pela vida além dos mares. Ela é puro coração, carisma e voz. A bela voz de Halle Bailey, cuja carreira tem incentivo de ninguém menos que Beyoncé, que motivou não só ela, como a irmã, Chloe. Juntas, as duas indicadas ao Grammy, têm uma carreira musical e participaram de Grown-Ish. Atualmente, trilham caminhos independentes, mas são super conhecidas nos Eua's pela parceria.


Voltando para ao fundo do mar, o que pode incomodar um pouco, são as imagens geradas por computador, ou, o famigerado CGI. Em alguns momentos, principalmente dentro d'água, alguns efeitos geram um leve estranhamento. Nada que atrapalhe a experiência como um todo, porque logo, logo, ficamos habituados e nos tornamos parte daquele mundo. 


                                                                                      © 2022 Disney Enterprises, Inc. All Rights Reserved.

O live-action estrelado por Halle Bailey tem 51 minutos a mais do que a animação que dura apenas 79 minutos.

O longa-metragem começa com lindas imagens do mar selvagem. Logo depois, é introduzido ao espectador os tripulantes do navio do príncipe Eric, papel de Jonah Hauer-King (Little Women). Os marinheiros estão entretidos com algo que se move nas águas e dizem que é dia da Lua Coral. Seguem então contando lendas de como nesse dia o Rei dos Mares manda suas filhas seduzirem os homens, para então os matar. Eric acha tudo isso papo furado e está interessado em conhecer as culturas do mundo, estudar as águas desconhecidas e se aventurar pelos quatro cantos da terra. 


Jonah consegue trazer um certo frescor ao personagem de Eric, que, como diz um novo ditado referente a outro filme que sairá este ano, é somente um acessório da protagonista (Hi, Barbie - Ken). No clássico, ele é somente o interesse amoroso de Ariel. No longa de 2023, Eric, tanto quanto Ariel, se sente preso ao castelo e aos deveres de filho da Rainha. Ele quer desbravar o mundo, não quer ficar para trás. Fica aqui um gostinho de que talvez, o Ken não seja somente o Ken, e tem aspirações, por trás do papel de ser somente o catalisador dos sonhos de Ariel. Ele até ganha um solo para si, ao ser resgatado por Ariel, e acordar sem saber quem foi que o salvou, mas tem a memória de a escutar cantar. 


Eric é filho adotivo da Rainha Selina (Noma Dumezweni), uma das novas personagens da trama, e ela é muito protetora quanto ao filho. A realeza também acredita nas lendas do Rei dos Mares, e teme pelo progênito no mar por tanto tempo. Então o proíbe de voltar a navegar de vez. Não só ela, como Sir Grimsby, interpretado por Art Malik (Homeland), se preocupa muito com o príncipe. Ele fica encarregado de procurar a dona da voz misteriosa, mas com a chegada de Ariel, se vê torcendo para que os dois se envolvam, já que percebe que eles se deram bem.


                                                                             © 2022 Disney Enterprises, Inc. All Rights Reserved.

Halle Bailey tinha 18 anos quando as filmagens se iniciaram em 2020 e Jonah Hauer-King, 22. Com a pandemia, as cenas só foram ser completadas no inicio de 2021.


A canção de Eric, “Wild Incharted Waters”, é um clamor pelas aventuras e pelas águas que ainda não foram desbravadas. Tanto a moça misteriosa, quanto a água, se tornam o sonho do príncipe, que sente essa inquietação, a mesma que Ariel. A voz de Jonah é fofa, e a ideia é ótima, porém, o solo fica um pouco cansativo. Talvez a perfomance do ator não seja tão envolvente, mas fica aquela apreensão por ver mais do mundo de Ariel. Ou para adiantar o plot. 

Dito isso, as músicas mais esperadas, são muito divertidas de assistir. Mesmo que, de novo, o CGI seja um pouco falho. Em Under The Sea, vemos que Sebastião, personagem de Daveed Diggs (Blindspotting, Soul, Hamilton) não brinca em serviço. Aliás, ele carrega o filme nas pequenas costas de caranguejo. Quem está uma fofura em seu papel, é Jacob Tremblay (O Quarto de Jack, Luca), como o fiel amigo de Ariel, Linguado. Outra que sempre nos tira um sorriso só de escutarmos a voz, é Awkwafina (Podres de Ricos), que neste filme, empresta sua voz ao astuto e destrambelhado ao mesmo tempo, Sabidão. Os três fazem uma versão magnífica e bem descontraída de Kiss The Girl.

A intensa e necessária Melissa McCarthy (Missão Madrinha de Casamento), que aparece na pele da perversa Úrsula pode não convencer a alguns e dar a impressão de uma atuação forçada, porque embora a vilã seja por si só caricata, não é necessário tanto maneirismo para passar a mensagem. A participação dela gera um conflito muito raso e rapidamente resolvido. Por outro lado, pela perspectiva de outros, o talento de McCarthy é páreo para o negócio. O pai de Ariel, o Rei Tritão, vivido pelo ator espanhol Javier Bardem (Mãe!, Onde Os Fracos Não Tem Vez e Vicky Cristina Barcelona), está muito confortável no papel, não faz tanta diferença. Entretanto, quando ele e Ariel finalmente se entendem, é até comovente, embora a cena se dê de forma mais ligeira.

                                                                             © 2022 Disney Enterprises, Inc. All Rights Reserved.
 Segundo Live-Action de princesas da Disney onde a protagonista é negra. O primeiro é ''Cinderella'', de 1997, estrelado pelas cantoras Brandy e Whitney Houston.

Halle e Jonah tem uma química muito fácil de sentir, sem forçar, e sem sexualizar a história. Ariel, afinal, é uma jovem cheia de sonhos e vontade de conhecer o mundo dos humanos, além disso, Eric é um humano que a faz querer provar para o pai que nem todos os humanos são monstros. Eric é tão prova de um mundo que Ariel quer fazer parte, quanto ela é prova de um mundo que Eric sabe que existe. Não o das lendas de maldições, mas um mundo de culturas diferentes. Os dois se envolvem quando Ariel - sem voz, devido ao trato com Úrsula, ganha pernas e aparece no povoado. Quando está com Ariel, o príncipe se sente menos inquieto, e chega a pensar que está chegando perto de um novo mundo. 

É aí que Úrsula se mete mais uma vez e se transforma em uma humana para clamar o papel da salvadora misteriosa de Eric. Já que ela está com a voz de Ariel. E afinal, o que é uma mulher sem voz no mundo? Ela pode conquistar o coração das pessoas, mas ela vai continuar sendo alguém em segundo plano. Ariel, além de uma sereia que quer conhecer os humanos e seu mundo cheio de cacarecos esquisitos, é uma jovem mulher com uma voz pronta para ser ouvida. Apesar de não ter quem a escute. Ariel está aqui para mostrar para quem a assiste, que não importam as circunstâncias, temos que lutar pela nossa voz. Pelos nossos sonhos. 

Então, mesmo que Úrsula seja um pouco insignificante, no todo, a adaptação não é nada ruim. Consegue entreter e divertir com seus números musicais e trazer uma mensagem da construção de um novo mundo, com um novo começo. Um lugar em que todas as criaturas diferentes podem conviver em harmonia. Um lar com muito a se explorar, pesquisar e compartilhar. 

Uma pena não ter desenvolvido mais sobre o mundo aquático e que as irmãs de Ariel tenham aparecido tão pouco. Ao final do filme, um povoado inteiro do fundo do mar se junta aos humanos para se despedir do casal que vai se aventurar pelo mundo para juntos, conhecerem tradições e histórias de todos os lugares. Um gesto para demonstrar para ambos que os mundos dos dois agora se tornaram um só e que eles estarão lá por eles.

Trailer
Ficha Técnica
Título original e ano: The Little Mermaid, 2023. Direção: Rob Marshall. Roteiro: David Magee — adaptação do conto de Hans Christian Andersen. Elenco: Halle Bailey, Jonah Hauer-King, Javier Bardem, Awkwafina, Jacob Tremblay, Daveed Diggs, Melissa McCarthy, Noma Dumezweni, Art Malik, Jessica Alexander. Gênero: Romance,Aventura, Live Action, Adaptação. Nacionalidade: Estados Unidos Da América. Trilha Sonora Original: Alan Menken. Fotografia: Dion Beebe. Edição: Wyatt Smith. DistribuidoraWalt Disney StudiosDuração: 02h15min.


O diretor Rob Marshall, é o mesmo de Piratas do Caribe: Navegando em Águas Misteriosas. Inclusive, a trama de A Pequena Sereia, de 2023, se passa em águas próximas a uma ilha fictícia no Caribe, e a personagem de Bailey é latina. Diferente da Ariel do conto de Hans Christian Anderser, que muitos debatem qual sua origem, com muitos fatos apontando para o Mar Mediterrâneo, e da Ariel da animação de 1989, que pode-se dizer que é dinamarquesa. 

Com roteiro de David Magee (O Pior Vizinho do Mundo e Em Busca da Terra do Nunca) trilha sonora assinada por Alan Menken (Aladdin), incluindo novas faixas de Lin-Manuel Miranda (Em Um Bairro de Nova York, Hamilton), A Pequena Sereia é a pedida ideal para a família toda ir ao cinema esta semana.

HOJE NOS CINEMAS!

sexta-feira, 12 de maio de 2023

Do Jeito Que Elas Querem - O Próximo Capítulo, de Bill Holderman | Assista nos Cinemas


Existem milhares de ''clubes do livro'' ao redor do mundo. Pessoas que se juntam para ler uma obra e conversar sobre histórias arrebatadoras, sejam elam clássicas ou não. Tais grupos são ainda mais especiais quando são formados por amigos. No longa de Bill Holderman,  ''Do Jeito Que Elas Querem'' (2018), que inglês se nomeia "Book Club", assistimos a quatro mulheres encantadoras dividirem seus dias entre conversas sobre o popular ''50 Tons de Cinza'', da escritora inglesa Erika Leonard James. Não só isso, mas vivenciarem novos amores, reencontros e muita dedicação uma a outra. A produção ganhou sequência este ano subtitulada ''Um Novo Capitulo'' e tem lançamento da Universal Pictures Brasil. O elenco original está de volta e é formado pelas magistrais Diane Keaton, Jane Fonda, Candice Bergen e Mary Steenburgen. Desta vez, o quarteto joga luz sobre outra obra popular (O Alquimista, de Paulo Coelho) como também realiza o sonho de juventude de viajar para Itália e viver dias regados a aventuras e confusões.

A trama, que tem como narradora Diane (Keaton), repassa os últimos anos da mulher e suas amigas Vivian (Fonda), Carol (Steenburgen) e  Sharon (Bergen). Elas, como o mundo todo, só podiam se encontrar virtualmente e escolheram não só falar de suas vidas e do dia dia como dos livros mais pop's e aclamados, entre eles, o romance "Pessoas Normais", de  Sally Rooney, ou até mesmo do suspense "A Mulher na Janela", de A. J. Finn (ambas produções com adaptações para tv e cinema). Diane continua seu relacionamento com o romântico Mitchell (Andy García), enquanto Carol está alucinada tentando controlar a saúde do marido Bruce (Craig T. Nelson). Já a juíza aposentada Sharon tem escolhido atividades diversas para passar seu tempo e não está namorando. A novidade que chega ao grupo é que Vivian foi pedida em casamento por Arthur (Don Johnson) e agora que os dias difíceis passaram a meta é se reencontrar e quem sabe partir rumo a Itália para realizar um planejamento delas de muito tempo atrás. 

Com muita sensibilidade, a comédia evoca uma vibe muito positiva retratando a amizade feminina como tem de ser, cheia de parceria e cumplicidade. Ao puxar a história que o brasileiro Paulo Coelho publicou lá em 1988, revive questões ultra pessoais como busca interior, amor e outras realizações. E na produção, ele renasce e se reencontra na maior idade. Lindo de assistir. 

                                                                                                                        Créditos: © 2023 FIFTH SEASON, LLC
O elenco é formado por três ganhadoras do Oscar, Jane Fonda, Diane Keaton, Mary Steenburgen, e três indicados a premiação, Candice Bergen, Andy Garcia e Giancarlo Giannini. 


Cada personagem tem um pouco das atrizes que as interpretam. Fica evidente nas roupas escolhidas para Diane Keaton, por exemplo. Ou nas deixas feministas que Jane Fonda tem. Sua personagem, apesar de encontrar o amor, não acredita nas amarras que a sociedade cria. Outra característica acentuada do roteiro são as falas com tom irônico que Candice Bergen ganha. Sua juíza durona arrasa e se sai como a única do grupo que não necessariamente está atrelada a uma relação conjugal. Vivendo mais livre e pronta para acontecimentos quaisquer, seja o encontro com um policial durão ou com um filósofo aposentado. Mary Steenburgen tem uma deixa mais emotiva por conta de seu jeitinho de querer cuidar de todos e complementa o grupo. 

O filme entrega uma incrível lista de canções italianas bem como versões de sucesso de músicas norteamericanas. Ouvimos a clássica "Felicitá", de Al Bano & Romina Power, e também "Glória", de Umberto Tozzi. Tem também a super famosa "Volare", a versão de Bette Midler para "Mambo Italiano" e também a tradução de "I Am Believer", da banda Smash Mouth, para o Italiano com título de "Sono Bugiarda". Além de muitas outras. 

Bill Holderman, que também dirigiu o primeiro filme, tem muita carga como produtor e acertou em cheio com a produção. Ela é leve, feminista e cheia de afeto. Algo que o mundo precisa demais. Não há em si muitas surpresas, mas a delicia do filme é a união dessas mulheres e seu amor por cultura (livros, viagens, música e até homens).

Trailer


Ficha Técnica

Título original e ano: Book Club 2: The New Chapter, 2023. Direção: Bill Holderman. Roteiro: Bill Holderman e Erin Simms. Elenco: Jane Fonda, Diane Keaton, Candice Bergen, Mary Steenburgen, Andy Garcia, Don Johnson, Craig T. Nelson, Giancarlo Giannini, Hugh Quarshie, Vicent Riotta, Giovanni Esposito, Giampiero Judica. Gênero: Comédia, Romance. Nacionalidade: Estados Unidos da América. Trilha Sonora Original: Tomw Howe. Fotografia: Andrew Dunn. Edição: Doc Crotzer. Design de Produção: Stefano Maria Ortolani. Direção de Arte: Leonardo Grillo e Saverio Sammali. Figurino: Stefano De Nardis. Distribuidora: Universal Pictures Brasil. Duração: 01h47min. 

O acerto da produção da Focus Features, que conta com distribuição internacional da Universal Pictures, é não se levar a sério, mas trazer consistência, um elenco sublime, e uma pitada de misticismo com a ajuda de Paulo Coelho. 

Imperdível!


EM EXIBIÇÃO NOS CINEMAS 

O Homem Cordial, de Iberê Carvalho | Assista nos Cinemas

 
Iberê Carvalho é figurinha carimbada no cenário brasiliense, apesar de ter dirigido apenas dois longas. É natural, então, que estejam todos atentos à estreia de seu novo lançamento - O Homem Cordial. Pegando emprestado o termo cunhado por Sérgio Buarque de Holanda, o filme ainda chama atenção por ser protagonizado por Paulo Miklos e filmado em São Paulo, embora a produção seja local.

Aurélio, uma espécie de alter ego de Miklos - um roqueiro de sucesso que está de volta com sua banda depois de anos aposentado dos palcos - foi julgado e condenado pelos tribunais digitais das redes sociais. Seu crime foi defender uma criança negra acusada de roubar um aparelho celular em um bairro nobre. Acontece que, horas após Aurélio ajudar a criança a fugir de um possível linchamento, o policial envolvido na situação aparece morto.

Isso é o suficiente para que Aurélio seja perseguido na rua, receba manifestações agressivas na frente de sua residência, seja tratado com hostilidade por prestadores de serviços e tenha seu show interrompido por gritos de “assassino”. Mas enquanto sua preocupação é voltar a ter paz e a de seus companheiros é a reputação da banda, há outros personagens nessa história com preocupações mais sérias.

Procurado por uma jornalista negra empenhada em escavar o outro lado da história, Aurélio entra em contato com a família do garoto que defendeu. Para a sua surpresa, este está desaparecido e ameaçado de morte. A culpa branca leva o protagonista a embarcar em uma jornada de busca madrugada adentro. Acompanhado dos jovens jornalistas Helena e Rudah e de Marina - a irmã mais velha do desaparecido - o protagonista irá tentar descobrir a verdade por si só, uma vez que a polícia tem um conflito de interesses com o caso. Bestia também compõem o grupo. Negro, o ex companheiro de banda do roqueiro menciona que foi gradualmente empurrado para fora do grupo conforme a gravadora apelava por algo mais palatável. Atualmente o homem possui um bar na periferia que é um refúgio para artistas iniciantes e amadores de hip hop.

                                                                                                                                                           Créditos: Divulgação
''O Homem Cordial'' contou com mega pré estréia no Cine Brasília na última semana. Equipe e elenco estavam presentes.

Conforme Aurélio se distancia de seu bairro centralizado e dos restaurantes refinados que frequenta, a trilha do filme se afasta do rock para cair no rap que questiona com mais proximidade a questão da violência policial. Essa construção de mudança de atmosfera é, juntamente com a fotografia, o elemento de maior destaque na estética da obra. A câmera na mão colada no rosto de Miklos a todo o instante transfere ao espectador a sensação de perseguição e encurralamento.

A uma primeira olhada, o filme pode soar clichê, repetitivo e pode até mesmo ser acusado de pregar para convertidos. Isto porque em 2023 já estamos saturados de determinados temas pela própria insistência com que a realidade política do Brasil martelou em nossas cabeças. Mas se pararmos para pensar que O Homem Cordial estava sendo desenvolvido em 2018, percebemos que Iberê e sua equipe tiveram o timing perfeito. Se em alguns momentos ele ecoa como mais do mesmo, é apenas pelo atraso em seu lançamento, por percalços tão característicos do sofrido cinema nacional.

A obra esbarra em alguns personagens caricatos e perde força ao fazer questão de explicar tim-tim-por-tim-tim o ocorrido. Mas sua cena final é de uma potência tão arrebatadora, que todo o resto é esquecido. Enquanto os pobres pagam o preço de terem nascido com a cor de pele errada, no local errado, ao fim do dia, a burguesia se reinventa, se levanta e reassume seu lugar na fila.

Trailer

Ficha Técnica
Título original e ano: O Homem Cordial, 2019. Direção: Iberê Carvalho. Roteiro: Pablo Stoll e Iberê Carvalho. Elenco: Paulo Miklos, Thaíde, Dandara de Morais, Thalles Cabral, Theo Werneck, Fernanda Rocha, Bruno Torres, Murilo Grossi, Mauro Shames, Felipe Kenji, Tamirys O’Hanna, André Deca. Nacionalidade: Brasil. Gênero: Drama, Suspense. Fotografia: Pablo Baião. Direção de Arte: Maíra Carvalho. Montagem: Nina Galanternick. Produção: Quartinho Direções Artísticas, Pavirada Filmes, Acere e Momento Filmes . Distribuição: O2 Play Filmes. Duração: 83 minutos.
EM EXIBIÇÃO NOS CINEMAS

O Amor Mandou Mensagem | Assista nos Cinemas

 
Este texto contêm spoilers

O que importa é tentar

A comédia romântica O Amor Mandou Mensagem, dirigida por James C. Strouse, é baseada no livro de Sofie Cramer, que no Brasil, foi traduzido como SMS para Você. O livro, aliás, já havia sido adaptado, em uma versão alemã. Na produção norte-americana temos Priyanka Chopra Jonas (Baywatch) e Sam Heughan (Outlander) como protagonistas desta história de amor. Certamente, o filme tem lá seus acertos, apesar de ter tomado decisões que poderiam ter se direcionado para outros lugares. Uma coisa é óbvia, o filme não seria o mesmo sem a presença da cantora Celine Dion, que é uma das produtoras executivas do longa. Ademais, ao terminar o romcom, o espectador poderá sentir aquela vontade imensa de dar play na discografia inteira deste ícone atemporal da música romântica.

De uns tempos para cá, Hollywood voltou a ver valor nas produções que trazem jornadas amorosas as telas, e podemos dizer que assim começou a renascença do gênero. Claro que nem todas têm a mesma energia das clássicas produções dos anos 90 (algumas muitas dirigidas por Nancy Meyers), ou até mesmo das que foram lançadas para atingir o grande público depois dos anos 2000. Mas o que não faltou em O Amor Mandou Mensagem foi a coragem de tentar fazer o público deste gênero em específico, feliz. E a tentativa, às vezes, é o que conta.

Muito do que é preciso para gostar de comédias românticas, é a crença no plot que muitas vezes é exagerado. É impossível. O espectador deve desligar aquele ceticismo, e encontrar dentro de si, a força de vontade de acreditar, não em contos de fadas, mas que os amores impossíveis de acontecer, são possíveis nas telonas. O final feliz é sempre esperado, e muito merecido. E aqui, ele veio também, e ainda bem. Neste longa, Mira Ray (Priyanka), é uma desenhista e autora de uma série de livros infantis, que perde o amor de sua vida, John, interpretado por Arinzé Kene (I’m Your Woman) logo nos primeiros minutos do filme. Eles eram almas gêmeas.

                                                                                                                          Créditos: Divulgação
O ator escocês Sam Heughan, mais conhecido pela série de sucesso ''Outlander'', interpreta um personagem chamado Rob Burns, referência ao poeta escocês Robert Burns - easteregg também para fãs da série, já que por lá, os personagens de Jamie e Claire são reunidos novamente por conta de um poema escrito por Burns.

Mira, de uma mulher feliz, com uma carreira bem sucedida e um amor duradouro, passa a ser uma mulher que convive com o luto. Depois de dois anos escondida na casa dos pais, a irmã dela, Susy, interpretada por Sofia Barclay (In Darkness), a convence a voltar para o apartamento que elas dividem, e a tentar voltar aos poucos para a rotina que tinha antes. Acontece que John ia a pedir em casamento antes de morrer, e na caixa com seus pertences, está o anel de noivado. Ela passa a usá-lo, e começa a tentar lidar com o luto e com a rotina, a voltar a trabalhar - mesmo que só consiga desenhar versões mórbidas para a série infantil.

Até esse ponto, o espectador começa a refletir em como será feita a conexão entre ela e Rob (Sam Heughan), um jornalista crítico de música, que passou a não acreditar no amor, após levar um fora de sua noiva, uma semana antes do casamento. Tempo suficiente de apresentação tinha sido feito, para que os personagens ainda não fossem de certa forma, introduzidos no mundo um do outro. Até que, Rob passa a ter que usar um celular profissional, e certa noite recebe uma mensagem estranha e emocionante de um número desconhecido.

Mira, em sua tentativa de manter John em sua vida, começou a mandar mensagens para o antigo número do namorado morto, contando sobre seu dia a dia, e como tem sido difícil lidar com a perda dele. Acontece que o número agora pertence a Rob, que começa a ficar intrigado e envolvido com as mensagens desconhecidas. Enquanto isso, Rob é designado a escrever um artigo sobre a turnê de Céline Dion. Ele, como um novo cético, passa a estudar as músicas da diva e sua carreira, sem acreditar em nada do que as letras dela dizem.

Trailer


Ficha Técnica
Título original e ano: Love Again, 2023. Direção: Jim Strouse. Roteiro: Jim Strouse - baseado no livro de Sofie Cramer. Com argumentos de Andrea Willson, Malte Welding, Karoline Herfurth, Sophie Kluge, Anika Decker. Elenco: Priyanka Chopra Jonas, Sam Heughan, Céline Dion, Sofia Barclay, Russell Tovey, Lydia West, Steve Oram, Omid Djalili, Nick Jonas, Celia Imrie, Arinzé Kene, Tom Blake, Laurence Varda, Harry Attwell, Amanda Blake, Daniel Barry, Haley McGee, Camille Hatcher. Gênero: Romance, Drama, Adaptação. Nacionalidade: Estados Unidos da América. Trilha Sonora Original: Keegan DeWitt. Fotografia: Andrew Dunn. Edição: Jesse Gordon. Direção de Arte: Astrid Sieben, Keely Lanigan-Atkins. Figurino: Annie Symons. Distribuição: Sony Pictures Brasil. Duração: 01h44min.

O filme é quase que uma carta de amor a diva pop Céline Dion, que depois de revelar em 2022, que tem a síndrome da pessoa rígida, deixou todo mundo que já escutou suas músicas, de coração apertado por ela. Na produção, a artista vê em Rob uma luta interna para acreditar no amor, e o dá conselhos acerca das mensagens misteriosas que ele está recebendo. E a trama apresenta essa descrença no, motivadas por dores e traumas passados, como fio condutor da história. Também fala sobre luto, apesar de não se aprofundar muito nisso, mas sim, tentar mostrar para Mira como a vida dela continua, mesmo que a dor da perda não vá embora. Que há espaço para que uma nova vida comece, pois ela é jovem, mas o que viveu com John não será apagado.

Em certo ponto da história, os dois acabam se conhecendo. Rob decide assistir a Ópera de Orfeu e Eurídice e encontra Mira na plateia. O mito de Orfeu, conta que o homem foi até o inferno, negociar com Hades, para que este último o deixasse trazer sua mulher de volta. Com a condição de não olhar para Eurídice, eles podem voltar para o mundo dos vivos. Ela deve o seguir, mas ele não pode olhar para trás para garantir que ela está lá. Ele o faz, e assim a perde novamente. Ao ver a peça, Rob considera que ela tenha um significado esperançoso, porque mesmo que tenha um final triste, Orfeu tentou ir atrás da pessoa que amava. E a tentativa é o que importa. Numa noite dessas, Mira vai à Ópera, e lá está Rob. Os dois têm o chamado "meet cute" pela segunda vez, e assim se envolvem.

                                                                                                                          Créditos: Divulgação
Confira a canção (clique aqui) de Céline Dion especialmente para a trilha sonora do filme.

No envolvimento dos dois, eles acabam ficando, e Rob não consegue contar para ela que recebeu e leu todas as mensagens românticas e tristes que ela mandou para John. Mas ela descobre sozinha e assim, o desentendimento acontece. E é nesta parte que as coisas poderiam tomar um rumo diferente. A reconciliação deles, (*alerta de spoilers*) poderia ter acontecido de outra maneira. O ponto alto do enredo poderia, por exemplo, ter se dado no tão aguardado show da Celine, que foi importante para ambos os personagens ao longo da trama.

Mesmo assim, os personagens entregaram química e carisma. Para quem é fã do casal Priyanka Chopra e Nick Jonas, há uma participação especial de Nick, como um paquera de aplicativo de relacionamento de Mira, que dá errado. Ele está especialmente charmoso e engraçado nos poucos minutos em que aparece. Por fim, vale dizer que a produção tem seu charme, apesar de seguir por caminhos controversos ao longo da jornada de Rob e Mira.

Destaque do elenco vai para Arinzé Kene, interprete de John. Que o ator possa ser o interesse amoroso de sua própria comédia romântica no futuro. Kene tem muito potencial para ser par romântico. O mesmo vale para Sofia Barclay.

EM EXIBICÃO NOS CINEMAS

quinta-feira, 4 de maio de 2023

Dançando no Silêncio, de Mounia Meddour | Assista nos Cinemas

 
Houria, personagem da atriz Lyna Khoudri (Os Três Mosqueteiros: D'Artgnan), é uma mulher com um grande amor pela dança. É bailarina e ao mesmo tempo trabalha como pode para ajudar a mãe Sabrina, papel de Rashida Krani. Também descola algum dinheiro em apostas de lutas/rinhas de animais onde estes ganham nomes de políticos presidentes como Obama, Putin ou Donald Trump. Porém certo dia um dos donos dos animais fica irritado com uma das brigas e com quem ganha dinheiro no lugar. Vê Houria saindo às pressas e a persegue causando um trauma na moça, pois ele a empurra da escada e a machuca para pegar o dinheiro.

A jovem estava prestes a se apresentar para um grande crítico de Ballet, porém acorda na cama de hospital machucada e com fraturas graves na perna. Dali em diante sua vida muda completamente e tem que iniciar fisioterapia para voltar a andar. Também se vê atormentada pela pouca ação da polícia para pegar o homem que a agrediu. A mãe está sempre ao seu lado e ela mantem uma amizade grande com uma moça que trabalhava junto a ela como camareira. Suas conexões também se transformam quando inicia a fisioterapia e descobre que ensinar as mulheres do lugar a dançar pode ser algo que ajude com seus traumas. E diz a amiga que tem vontade de ter uma escola de dança. Assim, vai montando com suas alunas e amigas espetáculos que evidenciem a força da dança e a faça se movimentar e não pensar no que sofreu.

O longa passou por cerca de dez festivais ao redor do mundo e a atriz argeliana Lyna Khoudri é ganhadora de prêmios como o César Awards (''Most Promissing Actress'') de 2020 e tem mais duas indicações uma também ao Cesár e outra no Festival de Veneza por suas perfomances em filmes que participou.
         
                                                                                                                                                    Créditos: Divulgação
''Houria'', título original do longa, estreou na frança em circuito comercial em março de 2023.

A película de Mounia Meddour fala de um mundo onde mulheres são guerreiras e por serem tão resistentes, sobrevivem. Junto a arte a protagonista encontra toda sua força para continuar, apesar do trauma da agressão sofrida. Não somente isto, mas aos abalos sísmicos que acontecem na caminhada da vida como a perda de uma amiga muito próxima. Encontra força também na família que continua lutando por ela e está sempre segurando sua mão. Houria tem seu momento de expressar dor, mas luta por pela vida e traz a arte para perto de todos que a cercam. Ilumina a todos quando dança e motiva também. Não se coloca de vitima em nenhum momento e cobra da polícia uma reposta quanto a sua agressão, e mesmo que pessoas que saibam ou conheçam o homem que a atacou fale que ela deve fazer isto ou aquilo para se manter a salvo, não arreda o pé de sua vizinhança e continua dançando com o grupo que monta na fisioterapia. Transforma dor em arte e vai amenizando suas dores internas com a movimentação do seu corpo, alma e pensamento.

O filme tem inúmeros personagens que se expressam pelo dialogo, mas não nossa protagonista e alguns outros coadjuvantes. Assim, o uso da linguagem de sinais permeia todo a obra de Meddour e se conecta aos movimentos de dança apresentados. 

Temos uma lista de canções pop  e de inúmeras nacionalidades ''Single Ladies'', de Beyonce, ''Gloria'', de Umberto Tozzi e ''Felicita'', de Al Bano & Romina Power) que ressoam em diversas cenas fazendo a película brincar com os ouvidos do público que não tem costume em assistir filmes falados em francês.

Trailer


Ficha Técnica
Título original e ano: Houria, 2022. Direção e Roteiro: Mounia Meddour. Elenco: Lyna Khoudri, Rachida Brakni, Nadia Kaci, Hilda Amira Douaouda, Meriem Medjkane, Zahra Manel Doumandji, Sarah Hamdi, Sarah Guendouz, Amina Benghernaout, Camila Halima-Filali, Marwan Fares, Hassen Ferhani. Gênero: Drama. Nacionalidade: Argélia.Trilha Sonora: Maxence Dussèr, Yasmine Meddour. Direção de Fotografia: Léo Lefèvre. Desenho de Produção: Chloé Cambournac. Produção: Lyna Khoudri, Rachida Brakni, Amira Hilda Douaouda. Montagem: Damien Keyeux. Distribuidora: Pandora Filmes. Duração: 104 minutos.
Lyna Khoudri está em cartaz no Brasil com a produção ''Os Três Mosqueteiros : D'Artagnan'', mas aqui é protagonista e naquele é somente o par romântico do protagonista. Aqui tem tempo para mostrar sua força como atriz e esmiuçar as características e detalhes que precisa para fazer esta dançarina real e identificável. O simbolismo do universo feminino está presente em todo o filme vale muito assistir ao filme.

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