sexta-feira, 22 de setembro de 2017

► Sexta noite de Mostra Competitiva do Festival de Brasilia do Cinema Brasileiro - Comentários


Mais uma noite de filmes surpreendentes e todos eles com segurança da mensagem que queriam transmitir ao público. Ambas produções ambiciosas e de muita coragem tocaram em temas duros da realidade, foram ousadas, afirmativas e conseguiram ser questionadoras. 

Começamos com um curta que trazia relatos de pessoas que perderam familiares na época da ditadura. Mas o impressionante ali era a criatividade do filme em ilustrar aquelas falas e deixar de lado a imagem real de quem narrava os acontecimentos. Uma animação de técnica competente que trouxe emoção dirigida por Nadia Mangolini e titulada 'Torre''.

A segunda produção, 'Baunilha', de Léo Tabosa, também veio cheia relatos, porém, a narração era verdadeiramente um escândalo para os mais conservadores. Ali, um professor de Direito, em Pernambuco, contou um pouco de sua vida e suas experiências com a prática do BDSM (Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão, Sadismo e Masoquismo). O uso de imagens reais contextualizaram bem cada argumento declarado. 

Para fechar, foi exibido o filme de Marcelo Pedroso ''Por Trás da Linha de Escudos''. Um documentário que retratou um pouco do cotidiano do Batalhão de Choque da Polícia Militar de Pernambuco e levantou o debate de como o sistema de doutrinação da Polícia exclui a consciência do cidadão que usa o uniforme e se torna o representante do Estado em situações de caos e protestos. 

A apresentação do evento foi conduzida pela cantora Ellen Oléria e o ator Fernando Eiras.

Leia os comentários.


MOSTRA COMPETITIVA (CURTA)
TORRE, de Nadia Mangolini.
Animação, 18min, 2017, SP, 12 anos.

Sinopse:
Quatro irmãos, filhos de Virgílio Gomes da Silva, o primeiro desaparecido político da ditadura militar brasileira, contam relatam suas infâncias durante o regime.

Exibição:
21 de setembro | 21h | Cine Brasília

21 de setembro | 20h | Teatro da Praça (Taguatinga), Espaço Semente (Gama), Teatro de Sobradinho e no Riacho Fundo (em frente à Administração)

22 de setembro | reprise às 15h | Museu Nacional da República


'Torre'' consegue com muita criatividade e consistência refletir na telona o sentimento de perda que filhos e esposas têm por terem sido arrancado do ventre de suas mães, do colo de seus país e do carinho de seus parceiros. 

O título do curta vem de uma das histórias ali mostradas. Onde uma mãe foi presa e só podia ver seus filhos do alto de uma torre. As crianças, sem pai e sem a mãe, foram entregues ao Estado e faziam de um tudo para ficarem juntas. Os outros incertos das mortes, ou com a confirmação, demonstram também aflições muito similares e o um vira conjunto.

O traço das ilustrações é de uma beleza delicada e simples. Mas que revela um trabalho técnico preocupado em não deixar passar nada. O colorido acontece, mas vem sempre sóbrio e opaco. O que revela a tristeza por completo daquelas pessoas. O roteiro contrói uma narrativa que vai se intensificando com cada relato - são quatro ou cinco - e a direção é eficar em mostrar o seu ponto de vista.

Avaliação: Quatro montantes de saudades (4/5).
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MOSTRA COMPETITIVA (CURTA)
BAUNILHA, de Leo Tabosa.
Documentário, 13min, 2017, PE, 16 anos.

Sinopse:
Olhe a sua volta. Tudo que você vê e toca pode ter o gosto de Baunilha.

Exibição:
21 de setembro | 21h | Cine Brasília

21 de setembro | 20h | Teatro da Praça (Taguatinga), Espaço Semente (Gama), Teatro de Sobradinho e no Riacho Fundo (em frente à Administração)

22 de setembro | reprise às 15h | Museu Nacional da República

Em Baunilha, conhecemos o mundo de Bruno, um praticante de BDSM e professor universitário que narra e sabe como viver a própria história. A agonia de certas imagens vem aos poucos, porém suas palavras inferem uma sutileza incomum e aquele universo ganha um novo retrato.

O acadêmico deixa claro a não importância de vermos o seu rosto e a qualidade das imagens fazem este ponto ser realmente desnecessário. Sim há nudez explicita e contextualização das práticas, mas a criatividade do projeto é impecável e faz com que seu desconforto (se é que ele existe) se acalme.

O título do curta explica uma expressão que para Bruno define a sua profundidade na prática. Ele explica que o abandono das relações afetuosas tem muito a ver com isto e é onde o título cabe perfeitamente já que sua ligação com o BDSM é puramente para o prazer e não se refere exatamente a prática do sexo.

A condução aqui é exemplar e todo o design da produção se destaca. Um trabalho de equipe que se preocupou em expressar as várias delicadezas da jornada que queriam mostrar. 

 O curta faz parte de uma trilogia, sendo o primeiro o aclamado ''Tubarão''.

AvaliaçãoQuatro chicotes tinindo (4/5).

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MOSTRA COMPETITIVA (LONGA) POR TRÁS DA LINHA DE ESCUDOS, de Marcelo Pedroso. Documentário, 124min, 2017, PE, 10 anos.

Sinopse:

Documentarista engajado em ideais de esquerda num país em plena convulsão política, o diretor Marcelo Pedroso decide fazer um documentário no Batalhão de Choque da Polícia Militar de Pernambuco. Trata-se da unidade policial treinada para lidar com multidões, atuando na repressão dos chamados distúrbios civis - categoria que inclui protestos e manifestações. Enquanto acompanha algumas operações de rotina e treinamentos no batalhão, ele passa a sentir na pele os efeitos da aproximação.



Exibição:

21 de setembro | 21h | Cine Brasília


21 de setembro | 20h | Cine Brasília, Teatro da Praça (Taguatinga), Espaço Semente (Gama), Teatro de Sobradinho e no Riacho Fundo (em frente à Administração)

22 de setembro | reprise às 15h | Museu Nacional da República





O longa se inicia com imagens da  bandeira brasileira sendo invadida por carrapatos (que tortura), principalmente, o círculo que revela as palavras 'Ordem e Progresso'. Imediatamente temos uma narração simbólica que elucida aquele contexto visual. De lá, somos levados a conhecer um comandante de um batalhão de choque e entendemos que aquele grupo será o nosso objeto de estudo pelas próximas horas. O Batalhão em questão é a corporação pernambubaca Mathias Albuquerque.

A equipe vai afundo e visita o QG, conversa com os militares, participa dos treinamentos, das celebrações, dos momentos de distração e também vai a campo viver o trabalho do batalhão na prática. Meio a isso, a narrativa insere o lado oposto. A face e o corpo de quem é 'agredido' pelos policiais quando estes estão cumprindo as ordens de seus superiores para manter a paz e a tranquilidade da sociedade.

Corajoso e até poético, o documentário questiona este sistema de doutrinação que estrutura o militarismo. Sem dúvidas, provoca o outro lado que se defende dizendo que este é um mal necessário para que haja a contenção de danos e que todos ali reajam como se deve. Contudo, por mais 'ser pensante' que eles se considerem fica claro que não o são e aqui se revela isto otimamente bem.


O diretor e grande parte da equipe aparecem aqui e ali e são sagazes em suas perguntas, mesmo que o recorte, para alguns, 'danifique' a imagem dos militares (se é que isto é possível), é preciso que ele exista. É preciso que ele seja discutido e que traga luz a sociedade. Pois a defesa nunca será em nossa causa, mas sim para o bem estar de quem manda executar.
AvaliaçãoCinco tanques de bravura indômita (5/5).

See Ya!











B-

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