quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Roma - 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo


De quando em vez somos presenteados com filmes tão incrivelmente bons que é difícil explicar exatamente o que fazem eles se apresentarem tão maravilhosamente bem. Logo, tentar explicar a ideia do filme talvez não faz justiça ao alto nível de sua qualidade. Ele simplesmente vai muito além do que uma sinopse ou trailer conseguem exibir. E é rara a situação onde todos os fatores fazem uma produção ser exaltada pelo seu conjunto e se revela uma obra prima.

Roma, um filme de Alfonso Cuarón (Gravidade), é um desses filmes que se enquadram na denominação 'fantástico. O longa conta a história de Cleo (Yalitza Aparicio), uma empregada doméstica que está extremamente envolvida na vida da família para qual trabalha, as crianças ali a amam e ela é sempre convidada para viagens. Ou seja, ela tem muita intimidade com a família e até parece ser um deles, mas não o é, pois em certos momentos ela é lembrada disso pelos pais dos meninos.

A trama segue praticamente um ano da vida de Cleo, neste decorrer ela descobre que está grávida e seu namorado foge, ao mesmo tempo que a os país das crianças que a empregam começam a ter problemas em seu relacionamento. Baseada na história da babá de Cuarón, Roma revela os percalços da vida de mulheres que precisam cuidar de si mesmas. Aliás, em certo momento, ouvimos Sofia (Marina de Tavira), mãe das crianças, dizer ''não importa o que os homens digam, nós mulheres estamos sozinhas''. O filme também nos mostra um México sofrendo os horrores de uma ditadura e cenas muito tensas nos fazem retornar ao nosso próprio passado.


Ficha Técnica

Título original e ano: ROMA, 2018. 
Direção e Roteiro: Alfonso Cuarón. Elenco: Yalitza Aparicio, Marina de TaviraeMarco Graf. NacionalidadeMéxico. Gênero: Ficção. Produção e Distribuição: Netflix. Duração: 135 min.
Roma, aparentemente, é dividido em duas partes. A primeira dando notabilidade as mulheres e sua lida com os diversos problemas que as fazem ainda mais fortes, enquanto a segunda traz as consequências das ações tomadas. O tom da película, a príncipio, se mostra tranquila e divertida, mas ao longo do tempo vai ficando cada vez mais pesada e extremamente emocional. O que também faz o expectador perceber a beleza como um todo da obra. Cuaron nos entrega uma película muito necessária e que todos deveriam assistir, seja pelo seu valor social seja pela qualidade artística que é arrebenta. Realizado em preto e branco e com uma trilha sonora simples, não há destaque em exato pelo o roteiro ou por uma atuação incrível, todavia, a experiência audiovisual é única. 

Muitos vão querer compará-lo a o outro destaque sem cor da Mostra SP (Guerra Fria) e ambos tem em si muitas qualidades dando talvez um ou dois mais pontos a Guerra Fria. Por fim vale dizer que as decisões técnicas do filme fazem dele mágico e ele deve sim entrar na sua lista de “must watch” deste ano, aliás, se você gosta de maratonar as produções que vão se candidatar ao Oscar, este aqui vai entrar sim, pois foi a escolha do México para a categoria de ''Melhor filme estrangeiro'' e é quase impossível que Roma não esteja entre os indicados.

Com produção da NETFLIX, o filme deve estrear na plataforma em um futuro próximo e certeza que alcançará um público enorme.       

Informações sobre a mostra:
Twitter: @mostrasp
Instagram: @mostrasp
A programação oficial e mais completa pode ser acessada aqui.

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Podres de Ricos


A produção 'Podres de Ricos' tinha tudo para ser uma representação equivocada de um mundo asiático onde luxo e dinheiro se comem no café da manhã, no almoço e no jantar. Isto porque Hollywood nem sempre sabe orquestrar retratações de culturas que não são a sua muito vem. Todavia, o filme é uma maravilhosa surpresa e encanta pela mensagem positiva que quer passar.

Dirigido por Jon M. Chu (Truque de Mestre 2: O Seundo Ato) e adaptado do livro homônimo de Kevin Kwan, 'Crazy Rich Asians' (título original do longa) nos leva a um romance improvável, mas não impossível, entre uma professora de economia norte-americana, com descendência asiática, e um jovem riquíssimo de Singapura que está nos Estados Unidos se capacitando.

O filme tem em seu elenco o divertido ator Ken Jeong (da trilogia 'Se Beber Não Case', da série Community e etc), a atriz Michelle Yeoh (O Tigre e o Dragão) e também Awkwafina (Oito Mulheres e Outro Segredo). O casal de protagonistas é vivido por Constance Wu e Henry Golding.

Trailer


Na trama, a jovem Rachel Chu (Wu) leciona economia na Universidade de Nova York e tem aulas adoradas por seus alunos. O namorado, o gatão Nick (Golding), inclusive, ama dar um pulo por lá e conferir o trabalho dela. Um belo dia, o moço está conversando com Rachel em um café quando decide a convidar para ir ao casamento de seu primo Colin (Chris Pang) com Araminta (Sonoya Mizuno), em sua terra natal, Singapura. O rapaz só não avisa a professora que a família dele é riquíssima e altamente controladora da vida de todos no clã.

A ida de Rachel ao casamento se torna verdade e todos ficam curiosíssimos para conhecê-la. Exceto, obviamente, pela mãe de Nick, Eleanor (Yeoh) e todas as outras mulheres do país que cobiçam o herdeiro do império Young. Em Singapura, a adorável professora encontra ainda a ex-colega de quarto Peik Lin Goh (Awkwafina) e conhece a sua exótica família. Entre eles, o pai da moça (Ken Jeon). 

Durante as festividades, Rachel é apresentada grande parte da família poderosa do namorado. A irmã Felicity (Janice Koh), a avó (Lisa Lu) e também os primos. São eles o hilário Bernard (Jimmy O. Yang), o sabe tudo de moda Oliver (Nico Santos), o metódico e falastrão Eddie (Ronny Chieng) e também a elegante Astrid (Gemma Chan). Mas é a mãe de Nick, Eleanor que em poucos minutos já diz que não quer a moça na família.

Eleanor (Yeoh), Nick (Golding) e Rachel (Wu)

A produção entrega uma comédia romântica muito adaptada ao ambiente onde se passa - as filmagens foram feitas na Malásia, mas o palco central da trama é em Singapura. Há um bom jogo de cintura para englobar a Ásia como um todo e trazer representatividade. Além disso, como os personagens são ricos, muitos vivem a viajar para a China ou moram em outras capitais como Hong Kong. 

O idioma que mais ouvimos é sim o inglês, que pra quem não sabe é usado como uma das línguas oficiais no país, porém aqui e ali ouvimos mandarim, cantonês ou o dialeto hokien. As tradições são inseridas aqui e ali e refletem a cultura como uma homenagem e não como zoação basta reparar no cuidado que eles tem com os mais velhos, na proteção dos pais com os filhos e até o Mahjong, jogo chinês famoso, entra na roda para complementar a história e se faz essencial para uma cena dos atos finais do filme - que aliás não está no livro. Falando da obra de Kevin Kwan, a trilogia é um bestseller muito aclamado e sofre alterações cinematográficas que não destroem a essência da história - segundo o próprio autor. 

Algo muito legal do longa é que ele traz personagens universais, não importando assim a origem ou a nacionalidade deles, e mesmo que eles sejam engraçados isso não soa como redutivo. Pelo contrário, os tornam globais e pau para toda obra. É legal falar a respeito, pois tanto no Brasil como na Alemanha, a tradução do título da película perdeu o termo que informa o continente a qual pertencem os personagens e houve crítica pesada quanto a escolha das distribuidoras em o fazer, porém, esta ideia de universalidade possa justificar o ato.



A filmografia de Jon M. Chu é diversificada e trabalha um olhar contemporâneo em seus projetos. Como o roteiro de Adele e Peter é cheio de camadas, mas simples, ele aplica tudo o que pode em tomadas abertas e planos longos. Fora isso, consegue mostrar a enorme riqueza da família e também se empenha em mostrar detalhes íntimos para destacar suas imperfeições.

Aliás, vemos ali mulheres de poder que são traídas, outras que fazem de tudo para agradar a matriarca dos Young, e ainda as que estão entrando em novos desafios. Do lado dos homens, Nick é o mais seguro e correto, o resto esbanja tudo o que pode para mostrar o status de rico. Oliver, o primo gay e que de cara fica amigo de Rachel, é um dos mais divertidos. A família maluca de Peik Lin também consegue encantar. 

O colorido de Podres de Ricos vai além de um mundo nobre e cheio de opções mostra tons que engrandecem uma cultura riquíssima e a fotografia é sagaz nisso. A trilha sonora é animadíssima (ouvir aqui), traz um tom de bossa, lindas interpretações de ''Can't Help Falling in Love With You'' e ouvimos ainda versões orientais para a canção clássica da diva Madonna ''Material Girl''  (escute aqui) e também a romântica ''Yellow'' da banda britânica Coldplay (ouvir aqui).

Ah, e como o livro de Kwan é uma trilogia o filme também será. A sequência deste aqui já está confirmada.



Ficha Técnica.
Titulo original: Crazy Rich Asians, 2018Direção: Jon M. Wu. Roteiro:Peter Chiarelli e Adele Lim - adaptado do livro homônimo de Kevin Kwan, lançado em 2013. Elenco: Constance Wu, Henry Golding, Ken Jeong, Michelle Yeoh, Gemma Chan, Lisa Lu, Awkwafina, Harry Shum Jr,  Ken Jeong, Sonoya Mizuno, Chirs Pang,  Jimmy O. Yang, Ronny Chieng, Remy Hii, Nico Santos, Jing Lusi, Victoria Loke e Jnice Koh. Gênero: Comédia, Romance. Design de produção: Nelson COates. Trilha Sonora: Brian Tyler.  Fotografia: Vanja Cernjul. Figurino: Mary E. Vogt. Edição: Myron Kerstein. Distribuidor: WARNER BROS. Nacionalidade: Estados Unidos. Duração: 02h01min.

A produção chega aos cinemas brasileiros hoje e promete divertir bastante o público. Programa leve e impedível!

Avaliação: Três anéis de esmeralda e meio olhar encantado (3,5/5).

25 de outubro nos cinemas!

See Ya!

B-

Meu Anjo, de Vanessa Filho


Vanessa Filho é uma roteirista, fotografa, cinegrafista, documentarista e musicista francesa que faz a sua estreia nas telas com 'Meu Anjo', longa estrelado pelas atrizes Marion Cotillard e Ayline Aksoy-Etaix. A película teve sua honra máxima ao debutar para o publico seleto do Festival de Cannes deste ano e competiu na seção 'Un Certain Regard' do evento.

O filme revela os dramas da relação entre a pequena Elli (Aksoy-Etaix) e a vivaz Marlène (Cotillard), sua mãe. Marlène não segue regras e tradições e acaba não sendo a progenitora responsável que a menina necessita, o que acaba fazendo com que a criança passe por conflitos sozinha e sem orientações de um adulto.

De uma sensibilidade incrível e altamente indicado as mamães e papais por ai, 'Meu Anjo', pode ser uma boa pedida para desviar dos blockbusters de plantão. Também pode agradar aqueles que não tem vergonha alguma de se emocionar, por algumas horinhas, em uma sala cheia de estranhos.

Trailer

Quando o longa se inicia, somos levados ao mundo de Elli e sua mãe e presenciamos o carinho entre as duas. Nas cenas seguintes, descobrimos que Marlène irá se casar novamente e ambas estão a todo vapor se aprontando para o evento junto com uma das amigas da dupla. A cerimônia acontece e tudo parece estar indo como nos conformes, porém, Marlène é pega no flagra traindo o novo marido nos bastidores do lugar.

A união se desfaz.

Isto abate profundamente a mulher e ali começamos a perceber a pouca atenção que ela dedica a filha. A mesma amiga que estava com ela no dia de seu casamento vem visitá-las e faz de tudo para animar a amiga e a convida para uma festa. Na balada e com a filha a tira cola, Marlène conhece um novo amor e o passado já não dói tanto. O homem solicita um taxi para deixar Elli em casa e dali em diante a menina passa a viver sozinha em casa, pois a mãe não retorna.

Elli, inteligente que só, se vira para comer e para ir a escola sozinha, mas seu brilho e doçura irrita as coleguinhas de classe e ela logo vira o alvo fácil de bullying infantil. Um dia vê um homem (Alban Lenoir) pelo olho mágico da porta chamando seu vizinho e grava seu rosto. Ao andar pelo bairro, avista o mesmo homem e fica amiga dele. O rapaz em questão se chama Júlio e fica instigado no porquê a criança vive andando sozinha e naturalmente começa a protegê-la.

 Elli (Aksoy-Etaix) e a mãe (Cotillard) na primeira foto e, logo abaixo, com Julio (Lenoir).

É possível que corações gelados não se identifiquem com a história. Mas não há como negar que ela encanta e traz reflexão. Vemos dramas muito reais aqui. A pequena atriz Ayline revela no olhar mais do que pode pronunciar em cena e amplifica a dor de um abandono irresponsável. A conexão da personagem com um estranho deixa claro o pedido de socorro e as fantasias que ela vive mostram o quanto ela está sofrendo com as faltas da mãe e também com os ataques das colegas de classe. Ayline realmente impressiona.

Marion mostra facetas de uma mãe que muitos vão julgar e condenar. Até porquê fica óbvio que as motivações de Marlène não levam em conta aprender, mas errar. Lenoir interpreta alguém a salvação para Elli. O pai que ela sempre quis ter e não tem nem idéia de quem seja.

O roteiro é tocante. Traz doçura, mas não deixa de nos dar socos no estômago e no coração. Escrito por Vanessa, Diastème e Françõis Pirot, o texto vem repleto de conflitos e escolhe resolver tudo sem penalizar ninguém dando assim a oportunidade do público sentir todas as emoções possíveis que as situações presentes possam causar.

Na direção, Vanessa escolhe ser sucinta e conduz um drama pouco apelativo. Mira mais a câmera nos sofrimentos de Elli do que exatamente no porquê a mãe não faz o seu papel como tem de ser feito. Dá tempo em câmera para que Ayline brilhe até mais que Cotillard e engrandece a complexidade do que é ser criança quando não houve planejamento algum para sua chegada.

Os aspectos técnicos do filme como trilha sonora, figurino e fotografia contribuem muito para o seu caminhar de reflexão, mas não são o destaque aqui, e sim a trama.


Ficha Técnica:
Título Original: Gueule D’Ange, 2018. Direção: Vanessa Filho. Roteiro: Vanessa Filho, Diastéme, François Pirot. Elenco: Marion Cotillard, Alban Lenoir, Ayline Etaix, Amelie Daure. Fotografia: Guillaume Schiffman. Edição: Sophie Reine. Música: Olivier Coursier e Audrey Ismael. Figurino: Ariane Daurat. Gênero: Drama. País: França. Produção: Carole Lambert. Distribuidora: Imovision. Duração: 108 min. Classificação: 12 anos 

 É provável que este filme lhe toque profundamente.

Avaliação: Quatro pedidos que incluam amor, atenção, cuidado e responsabilidade (4/5)!
25 de outubro nos Cinemas!
See Ya!


B-

Halloween (2018)


Quarenta anos após o lançamento do primeiro filme da franquia (Halloween – A Noite do Terror - 1978), um filme com o mesmo título surge em 2018 como uma espécie de continuação-reboot. É uma continuação do filme original, mas desconsidera todas os nove filmes subsequentes.

Jamie Lee Curtis volta ao papel da velha Laurie Strode, que agora vive em uma casa afastada da cidade e de sua família, que é composta por sua filha traumatizada pela infância que teve com uma mãe obsessiva por segurança; seu genro que a vê como uma figura estranha; e uma neta que tem fascínio sobre a avó, mas é impedida de vê-la com frequência.

O halloween se aproxima e Michael Myers (James Jude Cortney/Nick Castle) aproveita uma transferência do sanatório em que está preso para fugir e atacar novamente. Juntas, Laurie, Karen (Judy Greer) e Allyson (Andi Matichak) – avó, filha e neta – terão que enfrentá-lo. Essa é a noite que Laurie esperou por toda a sua vida para finalmente por fim à trajetória sangrenta de seu algoz.

Trailer


Ficha Técnica
Titulo original: Halloween, 2018. Direção: David Gordon Green. Roteiro: David Gordon Green, Danny McBride e Jeffrey Fradley— baseado nos personagens criados por John Carpenter e Debra Hill. Elenco: Jamie Lee Curtis, Judy Greer, Haluk Bilginer, Will Patton, Rhian Rees, Jefferson Hall, James Jude Courtney, Nick Castle, Virginia Gardner, Mile Robbins e Andi Matichak. Gênero: Terror, suspense. Fotografia: Michael Simmonds. Edição: Thimothy Alverson. Figurino: Emily Gunshor. Distribuidora: Universal Pictures do Brasil. Nacionalidade: Eua. Trilha Sonora: Cody Carpenter, John Carpenter e Daniel A. Davies. Duração: 01h49min.
Seguindo a lógica do filme original, o rosto de Michael não aparece em momento algum. Mas ao contrário dele, no filme deste ano, a máscara do serial killer é mostrada ao público em primeiro plano logo nos primeiros momentos do longa. A máscara branca e desgastada é a face do mal. É ela que representa a ameaça. Tanto que quando em determinado ponto do filme outro personagem cobre o rosto com ela, o perigo é o mesmo.

A trama evoca a força feminina representada por Laurie e sua família. As três mulheres lutam a sua própria maneira contra a barbárie personificada em um homem e as figuras masculinas ao redor são ineficazes. Marido, amigo, médico, namorado, policiais... todos mais atrapalham que ajudam.


Os signos clássicos do gênero estão presentes aos montes, como não poderiam faltar. Mas embora se utilize de jump scares, o filme é muito mais eficiente ao evocar terror quando constrói cenas de tensão e violência com planos fechados de objetos e pequenos pedaços do que está acontecendo.

A história se torna um pouco incômoda quando vemos a personagem que se preparou física e emocionalmente a vida inteira para enfrentar um assassino cometendo deslizes bobos típicos de alguém que não sabe o que está fazendo. Mas frente às qualidades do filme, concordamos em fazer vista grossa e deixar isso passar. Halloween é um ótimo filme temático para curtir o clima do dia das bruxas e estará em cartaz a partir do dia 25 de outubro.

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Pedro e Inês: O Amor Não Descansa - 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo




De vez em quando aparece um ou outro filme de um gênero comum que surpreende pelo seu“plot twist”e se faz único. Essa virada, como traduzimos literalmente a expressão citada, pode ser essencial para que a sua resposta na hora do ''e ai gostou?'' seja, mais complexa que aquele simples ''sim, gostei''. Pode ser que a construção ali seja tão bem realizada que talvez você nem ame o filme de cara, mas ainda assim, ele ficará em sua memória.

E Pedro e Inês: O Amor Não Descansa, de António Ferreira, atinge essa meta. A co-produção Brasil-Portugal é um baita exemplo de longas fora do normal. Baseada no romance ''A Trança de Inês'' de Rosa Lobato de Faria, o enredo conta a história de Pedro (Diogo Amaral), um homem que acredita ter se casado com a mulher perfeita. Mas ai surge a bela Inês (Joana de Verona) e lhe rouba completamente coração. A partir de então, Pedro não consegue viver em um mundo onde os dois não estejam juntos.

A razão que esta breve sinopse é tão aberta é por que, de certo modo, ela fala tudo, mas ao mesmo tempo ela não fala nada. De fato, a base da trama é essa, porém, a película se destaca, pois usa a criatividade para narrar a mesma história três vezes em épocas e situações completamente distintas. Ah, e ainda dá tempo para trazer um universo paralelo, onde Pedro está em uma clínica para deficientes mentais.

Então, acabamos ganhando uma narrativa com quatro arcos e todos acontecendo quase ao mesmo tempo, só que três deles seguem uma estrutura parecida e o quarto se distancia um pouco. Talvez este seja um leve spoiler (sobre a técnica do filme), mas o susto é maior quando comparamos uma das cenas que se dá nos tempos atuais a que volta no passado e revela uma Portugal medieval. Uma reflexão que condiz com a experiência que o filme passa e lhe faz entendê-lo melhor. Até porque experimentamos sensações longas e vivemos as fortes emoções do romance presente aqui.


  Ficha Ténica:
Titulo nacional/ original: PEDRO E INÊS, O AMOR NÃO DESCANSA/A Trança de Inês. Direção: António Ferreira. Roteiro: António Ferreira - baseado no livro de Rosa Lobato de Faria. Elenco: Joana de Verona, Vera Kolodzig e João Lagarto. País: Portugal e Brasil. Ano: 2018. Trilha Sonora Original: Luiz Pedro Madeira. Fotografia: Paulo Castilho. Edição: António Ferreira. Figurino: Silvia Grabowski. Gênero: Drama. Duração: 120 min. Estreia comercial: a confirmar. Distribuição: Pandora Filmes.

Seria muito fácil dizer que o filme soa maçante por trazer uma certa repetição dentro dele, todavia, a competência do diretor e escritor Antonio Fereira, junto com as atuações fiéis de Diogo e Joana, interpretes de Pedro e de Inês, além da retratação fiel de cada época e situação, fazem com que mesmo que a estrutura da história seja a mesma, o jeito que ela é contada e as diferenças entre elas revelam um projeto muito prazeroso de se assistir. Tudo em cena te prende a atenção, ainda mais com o bom jogo de revelações feitos logo no ínicio do longa. É ali que temos a compreensão exata (ou imaginamos ter) do que veremos pela frente.

Talvez uma crítica à ser feita aqui é que os personagens vem ao mundo com poucas dimensões e a ênfase é direcionada apenas a relação entre os dois quando se sairiam melhor se fosse mais complexos. Por outro lado, a narrativa te dá com precisão o que você precisa para compreender a jornada desses personagens.
 
Portanto, seja você um romântico inconsolável ou apenas alguém que aprecia a criatividade de realizadores nos flmes, Pedro e Inês pode vir a te agradar. 

Exibições: 

SEXTA 19/10 :small_blue_diamond:18h50
Instituto Moreira Salles

TERÇA 23/10 :small_blue_diamond: 17h30
Espaço Itaú Frei Caneca

SÁBADO 27/10 :small_blue_diamond: 19h50
Caixa Belas Artes
(com presença do diretor e dos atores Diogo Amaral e Joana Verona)

QUARTA 31/10 :small_blue_diamond: 19h40
Espaço Itaú Frei Caneca




Informações sobre a mostra:
Twitter: @mostrasp
Instagram: @mostrasp
A programação oficial e mais completa pode ser acessada aqui.