segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Carcereiros – O Filme, de José Eduardo Belmonte


Carceiros – O Filme (reparem no subtítulo que reforça que é um filme) é a adaptação da série de televisão baseada no livro de Dráuzio Varella que estreia nas salas de cinema ao fim de novembro. 

A projeção se inicia com imagens de arquivo de rebeliões em presídios e das condições absolutamente degradantes a que os presos são submetidos no sistema carcerário brasileiro. Mas tudo isso é mostrado mais como encenação (mesmo sendo material de arquivo) do que como comentário político. Aliás, todo o filme se utiliza de uma realidade complexa apenas para marcar uma tentativa de verossimilhança à ação que conduz a trama.

Trailer

Ficha Técnica

Título original e ano: Carceiros - O Filme, 2019. Direção: José Eduardo Belmonte. Roteiro:  Marçal Aquino, Fernando Bonassi e Dennison Ramalho - baseado na obra de Drauzio Varella. Elenco: Rodrigo LombardiTony TornadoMilton GoncalvesKaysar DadourJackson AntunesDan StulbachRomulo BragaIvan de AlmeidaGiovanna RispoliBianca MullerSimiliao AurelioGermano PereiraJose TrassiRainer CadeteRafael Portugal. Gênero: Drama, ação, crime. Nacionalidade: Brasil. Trilha Sonora Original: Guilherme e Gustavo Garbato. Fotografia: Alexandre Ramos. Montador: Bruno Lasevicius. Figurino: Manuela Mello. Sonorizador: Tide Borges. Distribuição: Imagem Filmes. Duração: 108min. 
Num dia de folga, o agente penitenciário Adriano (Rodrigo Lombardi) é chamado para um plantão extraordinário. Abdel Mussa (Kaysar Dadour), um estrangeiro condenado por terrorismo internacional está de passagem pelo Brasil e a Polícia Federal precisa alocá-lo num complexo carcerário brasileiro antes que ele possa seguir viagem para ser julgado. A notícia vaza e os presos não estão contentes com isso. Adriano e os outros carcereiros, então, precisam garantir a segurança de todos durante a noite. Claro que nada sai como esperado e somos jogados na ação desenfreada com tiros, explosões e agentes infiltrados.



Sua filha (Giovanna Rispoli) não está nada feliz com o emprego do pai, pelos perigos envolvidos. É uma tentativa de dar perspectiva dramática a Adriano, criando um senso de propósito à sua vida fora do emprego e fazendo com que sintamos melhor o que está em risco toda vez que ele vai trabalhar. A isso é somada a personagem psicóloga de Bianca Müller (as cuidadoras, as únicas mulheres do filme), pra quem Adriano explica como funciona uma prisão – com seus grupos organizados em busca de poder, a estratificação social, os perrengues do sucateamento – e o motivo de ele continuar ali: é seu trabalho.

Todos estes elementos (as imagens de arquivo, a filha e a psicóloga, ou ainda o terrorista) são modos de trazer profundidade aos personagens e à ação. Esse é o maior erro do filme. Sendo baseado na série de televisão, a possibilidade que aproveitada pelo filme, se basta na construção de uma trama mais longa e, com isso, com mais possibilidade de reviravoltas. Escolhe-se o gênero de ação com o intuito de abranger um público maior, mas a tentativa de crítica social atrapalha o caminho do gênero cinematográfico. Não é que longas do gênero não possam tratar de temas sérios, mas do jeito que o roteiro se desenha, soa como se este usasse de tais temas para se provar como valioso. Todos eles, portanto, são apenas jogados e pouco discutidos.

A linha narrativa sobre terrorismo que inicia o drama do filme surge como checkpoint dos tipos de violência que nos envolve em 2019. Mas Carcereiros apenas diz que isso existe, sem que outras violências na real possibilitem a existência desse tipo de ataque. Para ser justo, não é mesmo o intuito do filme dissecar a hostilidade que joga corpos em prisões, mas se você não quer tocar no assunto, não finja que isso trará seriedade ao projeto. A figura do terrorista até pode passar batida já que ela funciona apenas como ponto de partida para o drama. Mas a segunda reviravolta, já no terceiro ato, fecha o discurso da produção e reforça essa aparência de seriedade em meio à ação que não se sustenta. 




Esse descompasso de tons entre a tentativa de seriedade do sistema prisional brasileiro e a ação cinematográfica é o mais marcante no filme. Carcereiros – o Filme se pauta num “isentismo” político (afinal é um filme de ação popular) que finge não tomar partido e bater em quem “merece”. O Estado é bandido, os políticos são bandidos, bandido é bandido, mas os agentes carcerários são a justiça. Querendo ou não, é o reforço de que a punição dos que estão à margem da lei é o único caminho para lidar com a violência. E é aqui que ficam tão perigosas as imagens de arquivo do início: elas denunciam o inferno que é um presídio, mas funcionam muito mais para preparar o terreno de guerra que o longa quer mostrar. Adriano precisa continuar, é seu trabalho, afinal. 

Carcereiros – o Filme é um longa de ação que se perde no caminho entre entreter e levantar questões. Ao tentar criar uma atmosfera de denúncia do descaso do Estado quanto a seus presos e a seus agentes, Belmonte fica em cima do muro e esquece que o debate em volta disso tudo está em outro lugar. No meio disso, a ação até empolga em alguns momentos, mas soa caótica e corrida, se utilizando de truques do gênero e do imaginário dos videogames. Por essa razão, o filme de Belmonte parece muito mais como um episódio especial mais longo do que com um filme de cinema.
28 de Novembro nos Cinemas

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