Ademar (Juliano Cazarré) é sócio minoritário de uma empresa de segurança privada e seu associado, o ex-policial Teixeira (Paulo Tiefenthaler), está desaparecido. Assim se inicia a história de Dente por Dente, um thriller brasileiro que faz de tudo para negar sua nacionalidade.
Embora o Brasil já tenha produzido vários filmes de suspense e ação de qualidade técnica e artística que não escondem sua brasilidade, vez ou outra nos deparamos com projetos que, para apostar em filmes de gênero, tentam fazer uma cópia de filmes hollywoodianos. O que, é claro, é uma receita para o fracasso. Este, assim como Assalto ao Banco Central (Marcos Paulo, 2011) ou O Segredo de Davi (Diego Freitas, 2018), conta com um elenco de peso (Juliano Cazarré, Paolla Oliveira, Ana Flávia Cavalcanti, Renata Sorrah, Aderbal Freire Filho, Juliana Gerais, Paula Cohen e etc) que desperdiça todo seu talento em um roteiro com frases de efeito piegas e falas que parecem ter sido escritas em inglês e, depois, traduzidas para o português.
É claro que homenagens e referências ao cinema norte-americano são válidas. E mesmo releituras. Mas o que poderia ser uma proposta interessante de revisitar filmes policiais clássicos com uma visão atual e experimentações modernas se perde ao entregar uma obra que parece ter saído diretamente de uma cápsula do tempo. Há pouco de novo ou relevante.
Para não ser totalmente injusta, cabe citar a presença de uma discussão interessante sobre movimentos de ocupação por moradia. No entanto, a vingança e os direitos desses indivíduos já marginalizados são novamente relegados à margem uma vez que funcionam apenas como uma justificativa para a trama, sem tomar protagonismo, profundidade ou mesmo cenas de destaque.
Todos os elementos do longa-metragem são apáticos. Desde os cenários sem personalidade até o protagonista, que não tem passado, nem futuro, muito menos individualidade. A impressão que fica é a de que Ademar nasceu na primeira cena do filme e planejava morrer na última, de tão desprovido de planos, intenções, objetivos, opiniões. A narração cafona que eventualmente entoa parece ter sido colocada apenas para cumprir um requisito do gênero, dado que não aprofunda em nada a subjetividade do vigilante.
As qualidades da produção residem no rigor técnico, que sozinho não quer dizer nada. Mas observar a competência da fotografia, da finalização de som e da edição (e notar o investimento que fica evidente pelo elenco, caracterizações e cenários) mostra que apesar de todos os desmontes, o cinema brasileiro está vivíssimo e mesmo quando é ruim, conta com profissionais da maior virtude.
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Ficha Técnica
Título original e ano: Dente por Dente, 2018. Direção: Júlio Taubkin e Pedro Arantes. Roteiro: Arthur Warren; Colaboração Michel Laub. Elenco: Juliano Cazarré, Paolla Oliveira, Ana Flávia Cavalcanti, Renata Sorrah, Aderbal Freire Filho, Juliana Gerais, Paula Cohen, Paulo Tiefenthaler, Domênica Dias, Digão Ribeiro, Adriano Barroso, Bruno Bellarmino, Philip Lavra. Gênero: Suspense. Nacionalidade: Brasil. Produção de Elenco: Deborah Carvalho, Fernanda Ranieri. Direção de Arte: Daniela Aldrovandi Concept Art Rafael Mathé. Som Direto: Gustavo Zysman. Montador: Eduardo Chatagnier E Bernardo Barcellos. Direção de Fotografia: Bruno Tiezzi. Figurino: Melina Schleder. Maquiagem E Cabelo: Emi Sato. Direção de Produção: Issis Valenzuela. Produção Executiva: Angelo Ravazi, Paulo Serpa. Produtor Associado: José Alvarenga Jr. Produção: Mayra Lucas, Angelo Ravazi, Halder Gomes. Produção: Glaz Entretenimento, em parceria Com Massa Real, Atc Entretenimentos. Coprodução: Telecine e Globo Filmes. Distribuição: Vitrine Filmes. Duração: 01h25min.
A estreia do longa foi na 44º Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
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