quinta-feira, 28 de setembro de 2023

Jogos Mortais X, de Kevin Greteurt | Assista nos Cinemas

 
O nono retorno do ator Tobin Bell como John Kramer, o Jigsaw, tem direção de Kevin Greteurt e se passa cronologicamente entre os filmes ''Jogos Mortais'', de 2004, e Jogos Mortais 2, de 2005. A trama deste décimo longa vem com um cunho mais intimista e pessoal e não evoca um subplot investigativo como muitas vezes o fez. É puramente o jogo e a filosofia de Kramer em prática, ou seja, mais testes em que ele acredita ''transformar e ajudar as pessoas a se redimirem'' ou saírem de sua zona patética de conforto. 

Tudo tem start com nosso antagonista motivacional predileto dos últimos dezenove anos indo ao México para participar de um tratamento sem igual que poderá o salvar de sua doença terminal, o câncer. John encontra então um previsível e questionador ''tratamento de cura'' com o envolvimento de vários golpistas que não sabem exatamente onde estão pisando, entre eles, Cecilia Pederson (Synnøve Macody Lund), a chefe de toda a armação, o ''doente terminal fake'' Park Sears (Steven Brand), a mocinha Gabriela (Renata Vaca), o médico fake Mateo (Octavio Hinojosa), a enfermeira Valentina (Paulette Hernandez) e o motorista Diego( Joshua Okamoto). Um grupo determinado a dar golpes por ai e saírem ilesos, contudo, com o tempo contado.

Direto ao ponto e desta vez sem tanto rebuscado do terror carnificina ou aparatos assustadores, a produção pressupõe que John é mais humano do que se pensa e investe nisto em todos os seus minutos de duração. Sim, em cada teste os jogadores terão de passar por automutilação e correr contra o tempo para escolher entre ''a vida e a morte'', mas o interessante aqui é realmente ver que os personagens vão tentar trapacear até os seus últimos minutos de existência.

Trailer

Ficha Técnica
Título Original e Ano: Saw X, 2023. Direção: Kevin Greteurt. Roteiro: Josh Stolberg e Pete Goldfinger. Elenco: Tobin Bell, Shawnee Smith, Synnøve Macody Lund, Steven Brand, Renata Vaca,  Joshua Okamoto, Octavio Hinojosa, Paulette Hernandez, Costas Mandylor, Jorge Briseño, Michael Beach. Gênero: Terror. Nacionalidade: Eua, México e Canada. Trilha Sonora Original: Charlie Clouser. Fotografia: Nick Matthews. Edição: Kevin Greutert. Design de Produção: Anthony Stabley. Direção de Arte: Ricardo Davila. Figurino: Jimena Tenorio. Distribuição: Paris Filmes. Duração: 01h58min.

O palco dos jogos desta vez se dá no México, pois é para onde John parte para encontrar a equipe que fará sua cirurgia. Ao passo que ele tem que voltar a ''testar'' as pessoas que tentaram o passar para trás revemos um carinha bem conhecida da série e uma das sobreviventes dos jogos que se tornou sua aprendiz. Sim, Amanda Young (Shawnee Smith) é vista novamente e tem participação forte para auxiliar seu mentor nos jogos. Com os testes rolando, um ou outro planejamento de John ''aparentemente'' sai do controle e ele quase perde tudo, mas, obviamente, ele sempre tem cartas na manga e os ''jogos morais'' não são necessariamente vencidos.

                                                                                                                              © 2023 Lionsgate. All Rights Reserved.
Provocando mais questionamentos morais e dando ao espectador um Jigsaw sem muitas mascaras e figrulas, Jogos Mortais X surpreende pela ''transparência'' e vem mais cru que outras vezes.

Em ''Jogos Mortais 2'', de 2005, John deixa claro que ''nunca matou ninguém em sua vida inteira, pois as decisões estão nas mãos dos jogadores''. Um dos personagens menciona o pensamento à ele e o vilão continua com seu semblante frio e modesto, o que afirma que é isso mesmo que sua filosofia implementa na simbologia da redenção e ele não necessita que ninguém o relembre. Não obstante, é intrigante vermos o texto brincar com detalhes da franquia em inúmeros momentos. Desde trazer a idéia central do jogo na fala dos personagens ou até rememorar personagens antigos como Amanda e o Detetive Hoffman (Costas Mandylor). Mas algo ainda mais provocante é ver John em posição de ''vitima'' e falando em ''salvar inocentes''. Situações que fazem seus dilemas internos quase serem pegos de surpresa e dão ao espectador mais e mais camadas deste personagem tão aclamado nos anos 2000.

A direção de Kevin Greteurt combinada a sua edição é algo que ocorre pela primeira vez, já que ele foi o editor do filme que iniciou tudo em 2004 nas mãos de James Wan, mas logo depois dirigiu sem editar Jogos Mortais VI (2009) e Jogos Mortais 3D (2010). Aqui temos um dos filmes mais longos de toda a franquia e um que sai do usual por vir menos titubeante. Há uma preocupação clara em trazer outra perspectiva de John Kramer e visualmente sentimos muito isso. A fotografia vem menos com cara de terror tosco e mais cisuda com pouca entonação para o verde simbólico e um escuridão mais equilibrada.

Estreando em setembro e não no mês do terror, Jogos Mortais X dá chance aos fãs brasileiros de curtir a produção por um precinho camarada na ''Semana do Cinema'' que acontece em todo o país de 28 de setembro a 04 de outubro. #FikDik

Avaliação: Três braços dilacerados e meio (3,5/5).

Hoje nos Cinemas

David Contra Os Bancos, de Chris Foggin | Assista nos Cinemas


“Eu não acredito que tu não conheças Def Leppard: é uma das maiores bandas do mundo!”

Em 1983, o cineasta britânico Bill Forsyth chamou a atenção da crítica especializada e dos cinéfilos por causa de seu longa-metragem “Momento Inesquecível”, sobre um magnata do petróleo que envia um de seus empregados para uma cidade litorânea escocesa, a fim de convencer os moradores a venderem as suas residências. Apesar de seu interesse inicialmente escuso, este empregado pouco a pouco é cativado pela comunidade local e, em dado momento, interpõe-se contra os ditames capitalistas. Dadas as devidas condições comparativas, “David Contra os Bancos” de Chris Foggin, esforça-se para atingir a mesma empatia espectatorial…

Baseado na estória verídica de David Fishwick, o roteiro de Piers Ashworth (conhecido por ter dirigido um videoclipe de Janet Jackson, em meados da década de 1980) esforça-se por tornar crível o dilema de um vendedor de micro-ônibus (Rory Kinnear), que deseja fundar um banco, repentinamente. Acostumado a emprestar dinheiro para os seus vizinhos, este empreendedor, de nome David, dá entrada num processo que não ocorre há cerca de cento e cinqüenta anos. Caberá ao filme explicar o porquê de isso incomodar tanto os poderosos britânicos.

Quando o anseio de David é conhecido pelos empresários londrinos, uma firma de advogados decide enviar um de seus funcionários, Hugh (Joel Fry), para transmitir a David a notícia de que seu desejo será frustrado. Ocorre que David possui um poder impressionante de convencimento e não desistirá tão facilmente de seu objetivo. E, como sói acontecer nas comédias românticas, Hugh tornar-se-á benquisto pela comunidade e apaixonar-se-á pela sobrinha de David, a médica Alexandra (Phoebe Dynevor). Se o filme possui algum mérito, é justamente ser previsível!

Trailer

Ficha Técnica
Título Original e Ano: Bank of Dave, 2023. Direção: Chris Foggin. Roteiro: Piers Ashworth. Elenco: Rory Kinnear, Joe Fry, Phoebe Dynevor, Jo Hartley, Paul Kaye, Naomi Battrick, Angus Wright, Florence Hall e Hugh Bonneville. Gênero: Biografia, Comédia, Drama. Nacionalidade: Reino Unido. Trilha Sonora Original: Christian Henson. Fotografia: Mike Stern Sterzynski. Edição: Martina Zamolo. Figurino: Lance Milligan. Design de Produção: Andrew Holden-Stokes. Distribuição: Synapse Distribuition. Duração:01h47min .

Não obstante a trama ser conduzida com leveza e aplicar com efetividade os clichês do gênero, é difícil empolgar-se frente à ambição de um simpático agiota em tornar-se banqueiro. Porém, as interpretações são tão graciosas, que quase esquecemos as intenções perniciosas da trama, no que tange à legitimação comunitária do capitalismo. Para tanto, o discurso pró-democrático e afiliado ao ideário socialista de Alexandra será fundamental!

Depois que David atrai a inveja de Sir Charles (Hugh Bonneville), um poderoso ricaço, o advogado Hugh precisará investir todo o seu potencial advocatício num julgamento local, que atrai a atenção da imprensa inglesa e desemboca no encontro com Rick (Paul Kaye), um roqueiro amigo de David, que tem acesso à banda Def Leppard, uma das favoritas dos dois protagonistas masculinos, e que desempenhará papel fundamental no desfecho do filme. Se isso é suficiente para agradar as platéias? Bom, ao menos, o filme não é insincero: ele entrega-nos justamente aquilo que começamos a adivinhar desde as cenas iniciais!
     
                                                                    Créditos: Synapse Distribuition/Tempo Productions   
''Band Of Dave'', título original da película, foi lançada pela Netflix em janeiro deste ano no Reino Unido e chegou a ficar em primeiro lugar em todo o continente britânico e na Irlanda logo nas primeiras semanas de estréia.


Seguindo à risca a cartilha das comédias românticas hollywoodianas, o filme translada alguns dos motes de Frank Capra [1897-1991] para o contexto de uma pequena cidade inglesa: por mais aquisitivamente favorecidos que sejam os personagens, eles são mostrados como bondosos, compreensivos e solidários, no afã por validar o clímax musical, num ‘show’, em que David amplifica a sua paixão pelos karaokês, que é demonstrada em diversas seqüências. O problema maior é precisamente a representação unilateral do personagem-título: David parece incapaz de contar uma mentira, de enraivecer-se, até mesmo de levantar a voz contra outrem. Como se trata de uma biografia, isso é deveras suspeitoso!

Pesando-se as suas qualidades tangenciais, os cento e sete minutos de duração de “David Contra os Bancos”, que soam intimidadores no início, até que são preenchidos de maneira graciosa: não é um filme inesquecível – e nem pretende sê-lo – mas reitera uma crença quase ingênua no apoio comunitário e na economia solidária, em que o fato de o protagonista gabar-se de “ganhar muito bem” não instaura nenhum conflito vicinal. Muito pelo contrário: em dado momento, o enredo é direcionado para que torçamos para que ele ganhe ainda mais dinheiro. Mais ou menos como ocorre nos clássicos bem-humorados de Frank Capra. É divertido: fica aqui a nossa recomendação despretensiosa.

EM EXIBIÇÃO NOS CINEMAS

Ruim Pra Cachorro, de John Greenbaum | Assista nos Cinemas


Filmes sobre doguinhos no geral são extremamente dramáticos e nos deixam com o coração dilacerado. RUIM PRA CACHORRO, película dirigida por John Greenbaum (Duas Tias Loucas de Férias, 2021), vem quebrar esta estatística e dar ao público adulto momentos de muita diversão (sim, a produção não é para criança). O longa é produzido por uma pancada de gente, entre eles, Phil Lord e Christopher Miller, um dos responsáveis por talvez um dos melhores filmes de comédia do ano, O Urso do Pó Branco. Só esta referência já seria o suficiente para que o cinéfilo habitual corresse para a sala mais próxima, mas não para ai. A sinopse da trama é outra ferramenta importantíssima neste momento crucial de escolha do ''que assistir na telona''. O roteiro de Dan Perrault apresenta um ingênuo cachorrinho chamado Reggie, dublado pelo incrível Wendel Bezerra e com a voz original de Will Ferrell, que se vê abandonado por seu dono Doug (Will Forte). Na perspectiva do viralatinha, Doug é um grande parça e adora brincar com ele de ''jogar bolinhas o mais longe possível'', mas a realidade é que o homem sequer gosta do cachorro e o animalzinho só se dá conta da relação tóxica e abusiva que tem vivido quando já nas ruas conhece outros doguinhos e estes os jogam a real. Deixado basicamente no centro da cidade para se virar, Reggie encontra com o desbocado Bug, voz do ator e comediante Fabio Rabin, no original Jamie Foxx é quem está no papel, Maggie, que ganha a interpretação na versão brasileira de Bruna Louise, também atriz e comediante, na versão Hollywoodiana, Isla Fisher é a voz da cadela, e ainda o cão terapeuta Hunter, voz de Wellington Lima na versão dublada e na original de Randall Park. Logo, quando Reggie acorda para a vida ele decide voltar para a casa do dono, mas não exatamente para o fazer bem e sim para arrancar fora o que Doug mais ama, o p-a-u. Momento vingança ativado. Assim, seus novos amigos acabam o ajudando a encontrar o caminho e a aventura toda é um barato daqueles.

O elenco original ainda conta com Sofia Vergara como a voz do sofá em que os cachorros adoram se esfregar e de Josh Gad como o cão narrador. No Brasil, o grupo formado por Thiago Ventura, Afonso Padilha, Márcio Donato e Dih Lopes, Os Quatro Amigos, dão voz a alguns dos cachorros piradões que vemos na tela e a escolha dessa turma para os papéis consegue casar com a ''a idéia original'' de trazer atores comediantes nos papéis centrais da história. (E que elencão! em ambas as versões). 

Trailer


Ficha Técnica

Título original e ano: Strays, 2023. Direção: John Greenbaum. Roteiro: Dan Perrault. Vozes Originais: Will Ferrell, Jamie Foxx, Isla Fisher, Randall Park, Will Forte, Bret Gelman, Josh Gad, Rob Riggle, Sofia Vergara, Greta Lee, Jack De Sanz, David Herman, Jimmy Tatro Harvey Guillén, Jamie Demtriou e Dennis Quaid. Versão Dublada: Wendel Bezerra, Fabio Rabin, Bruna Louise, Wellington Lima, Thiago Ventura, Afonso Padilha, Dih Lopes, Márcio Donato, Marcelo Salsicha. Nacionalidade: Estados Unidos da América. Gênero: Comédia, Aventura. Trilha Sonora Original: Dara Taylor. Fotografia: Tim Orr. Edição: Greg Haydem, Sabrina Plisco e David Rennie. Design de Produção: Aaron Osborne. Direção de Arte: Erin Cochran. Distribuição: Universal Pictures Brasil. Duração: 01h36min.
É extremamente divertido acompanhar a jornada dos quatro doguinhos para retornar ao ex-dono de Reggie. Eles passam quase que por um dia de ''Se Beber, Não Case'' de cachorros. Vão ao parque de diversões procurar comida, fogem dos fogos de artificio (totalmente prejudiciais à eles e que ganham na sala de cinema o barulho que eles escutam em formato real), se encontram com ''cachorros policiais'', fazem ''merda'' literalmente e figurativamente, tem inúmeros momentos divertidos entre eles e o melhor de tudo, superam traumas de abandono. Se Reggie é mega inocente e começa a perceber a vida real, Bug é o mais entendido de tudo. Desbocado, raivoso, traumatizado, e muito descolado, o cachorrinho com a pelugem preta e branca é o grande destaque da aventura. O norte que Reggie precisava encontrar. Já Maggie e Hunter vivem um amor platônico e tem um quê de mais ''experientes'' do grupo. Ele é um cão terapeuta e ainda não consegue sair sem o seu colar eliazabethano, já ela tem suas neuras por ter sido trocada por um cachorrinho miniatura e que cabe na bolsa da dona, uma patricinha escancarada. 

                                                                                              Créditos: © Universal Pictures. All Rights Reserved.    
Sim, 95% dos cachorros usados no filme são reais

A comédia escrachada e cheia de palavrões tem teor sexual pesado. O título em português é de uma criatividade enorme, afinal, a palavra ''Cachorro'' toma o lugar de um palavrão muito usado e que é uma das expressões mais fáceis de se ouvir quando algo vai indo mal na vida de alguém. E se o título foi bem formulado, pode se dizer que a escolha dos dubladores bate a meta e ainda dobra. Wendel Bezerra é a perola das dublagens que não poderia faltar, mas a idéia de trazer Fabio Rabin, Bruna Louise e Os Quatro Amigos foi uma ótima sacada. Bruna sempre é bem desbocada em seus espetáculos de stand-up comedy e Rabin ultrapassa os limites da zoeira. Os dois caíram como uma luva nos personagens. Thiago Ventura que traz uma malandragem de rua em seus shows é outro que ganhou passagens muito insanas como um Rottweiller maloqueiro e valentão. Os atores com certeza tem talento para estar na dublagem da produção e arrebentam.

                                                                                                         Créditos: © Universal Pictures. All Rights Reserved.                      O longa traz uma participação de Dennis Quaid, o astro esteve em alguns filmes sobre Cachorros, entre eles ''Quatro Vidas de Cachorro'', de 2017, e ''Juntos Para Sempre'', de 2019.

O conflito principal do filme tem embasamento em uma problemática real: o abandono de pets. No mundo inteiro milhares de cachorros e gatos são abandonados todos os dias, alguns conseguem ser resgatados por Ongs e outras instituições e conseguem um lar, mas é impressionante como nas grandes cidades ainda vemos muitos bichos soltos e jogados nas ruas. Segundo as estatísticas levantadas pelo ''The Zebra'', mais de 80 milhões de famílias norte-americanas são donas de pets e quase cerca de 7 milhões de bichinhos acabam chegando aos abrigos, onde até metade deles conseguem um novo lar. Imaginem então aqueles que não conseguem entrar nesses dados, um número ainda maior e alarmante, já que os pets abandonados muitas vezes não são castrados e se proliferam de forma indeterminada. No Brasil, segundo dados da Universidade de Brasília (leia aqui), se tem hoje cerca de 30 milhões de pets nas ruas. Algo imensamente revoltante e triste. 

Bem, se Reggie consegue sua vingança ao som de ''Wrecking Ball'', de Miley Cyrus, e ainda ganhou muitos amigos. Espera-se que outros cães e gatos por ai consigam lares e seus ex-donos tomem consciência de que o abandono não é o mais indicado em nenhuma situação. Aliás, já pensou em adotar um bichinho hoje? (clique aqui).

Pra fechar, vale lembrar que a produção estava prevista para chegar as salas em junho e acabou não tendo a mesma data de estreia que em outros lugares. Nos Euas, e em uma leva grande de países, o filme estreou em meados de agosto. Mas falando de coisa boa, o brasileiro que for ver o filme nas telonas entre 28 de setembro e 04 de outubro, vai encontrar ingressos pela bagatela de R$ 12 reais, pois esta é a ''Semana do Cinema'' e os ingressos em diversas redes vão ter apenas um preço para qualquer filme, exceto para as salas em IMAX, VIP, 3D e tc. Imperdível!

Avaliação: Cinco uivos de alegria (5/5)

HOJE NOS CINEMAS

Resistência, de Gareth Edwards | Assista nos Cinemas


Um futuro não tão distante, com uma realidade não tão diferente. Ainda assim, tão inimaginável e tão longe de nós, que ao mesmo tempo que parece possível que a humanidade chegue em um cenário tão distópico, parece ser uma realidade de um universo digno de Star Wars. E assim temos The Creator, ou Resistência, como o título foi traduzido no Brasil, filme dirigido e produzido brilhantemente por Gareth Edwards, responsável por "Rogue One: Uma História Star Wars" que traz John David Washington no papel central. 

O cenário de Resistência, apresenta um futuro em que a inteligência artificial avançou tão longe, que é uma espécie com consciência própria e esta habita a terra e procura seu espaço meio a uma guerra contra os humanos que temem pelo fim da sua existência. A batalha se alastra por todo o mundo e é  alavancada pelos seres humanos, principalmente o exército dos Estados Unidos que luta contra o grupo de rebeldes asiáticos, já que estes últimos convivem em plena harmonia com as inteligências artificiais humanizadas. 

O espectador é  levado a acompanhar tudo isso, pelo ponto de vista do protagonista Joshua Taylor, vivido por John David (Tenet, Malcolm X, BlacKkKlansman). Ele é um agente duplo das forças especiais, que se infiltra na comunidade em que humanos e IAs vivem, para capturar o criador do que ele, assim como todas as pessoas que são contra as IAs acreditam ser somente robôs programados para sentir emoções humanas, mas que não merecem ser humanizados. Joshua se envolve com Maya, interpretada por Gemma Chan (Podres de Ricos, Eternos), que reside na comunidade e foi criada por IAs. Maya engravida, e perto do fim da gestação, a comunidade é invadida por uma equipe americana de militares, que interrompem a missão de Joshua, e uma grande explosão acaba separando os dois. Joshua acredita que Maya está morta, e antes da fatalidade, ela descobre as reais intenções de Joshua, e o perigo que ele representa para a família dela. 

Depois de uma separação mortal e abrupta, Joshua parte para uma vida automática nos Estados Unidos, sendo vigiado pelas forças especiais, para que se lembrasse de toda a vivência na comunidade. Ele então é recrutado pela coronel Howell (Allison Janney), que o convence de que Maya na verdade está viva, e que ele precisa a salvar. Howell se compadece do que ele perdeu, porque ela mesma perdeu os filhos nessa guerra. Ela admite que os filhos se alistaram por causa dela, e se sente culpada, mas mesmo assim, não recua e vai até onde não existem limites da crueldade humana. 

Trailer

Ficha Técnica
Título original e ano: The Creator, 2023. Direção: Gareth Edwards. Roteiro: Chris Weitz e Gareth Edwards. Elenco: John David Washington, Gemma Chan, Madeleine Yune Voyles, Allison Janney, Ken Watanabe, Sturgill Simpson, Amar Chadha-Patel, Marc Menchaca, Robbie Tann, Ralph Ineson, Daniel Ray Rodriguez, Rad Pereira,. Gênero: Drama, Scifi. Nacionalidade: Eua. Trilha Sonora Original: Hans Zimmer. Fotografia: Greg Fraiser e Oren Soffer. EdiçãoJoe Walker, Hank Corwin e Scott Morris. Design de Produção: James Clyne. Figurino: Jeremy Hanna. Distribuição: 20th Century Studios. Duração: 02h13min.
O filme traz uma discussão sobre o que é real ou não, e sobre a crueldade humana. Na comunidade em que as IAs vivem em harmonia com os humanos, quando o exército americano retorna, as crianças e mulheres reféns do exército, declaram que as inteligências artificiais em questão, são capazes de sentir emoções humanas muito mais reais e empáticas, do que os próprios seres humanos de fato. O que é o cerne da questão. Joshua passa o primeiro ato inteiro do filme acreditando que somente o que ele teve com Maya foi real, mas que nenhuma das simulantes (inteligências artificiais com corpos que habitam a comunidade), pode sentir amor de verdade, ou ter uma ligação com Maya. Para ele, a missão era destruir o criador e salvar Maya, para que os dois pudessem construir a família de verdade, em paz. Mas no meio do caminho, ele perde a humanidade que tinha. E é aqui que entra Alphie (Madeleine Yuna Voyles), uma criança simulante muito poderosa, a mais nova criação do arquiteto das inteligências artificiais. Ela é vista como uma arma por aqueles que são contra as IAs. 

A arma que Joshua foi recrutado para destruir. Para os simpatizantes e para as IAs, ela significa a saída para a liberdade. A salvação para o fim de toda aquela guerra. Uma das IAs simulantes, Harun, vivido por Ken Watanabe (Inception), diz para Joshua, que a criança poderia ter sido criada para odiar os seres humanos - coisa que ele frisa que nas circunstâncias apresentadas, ela devia - mas ela foi criada de forma a ter empatia por eles. Desse modo, a criança é vista aqui, como um símbolo de um futuro melhor. Um futuro em que todas as criaturas possam viver em harmonia, sem uma guerra constante, em que a perdas para todos os lados. É como nós fomos ensinados, que o futuro é algo que as crianças vão salvar. Mesmo que quando esse futuro agora seja palpável e as coisas estejam cada vez piores, é sempre tempo de olhar para frente com olhos mais esperançosos, mais novos e ingênuos, como os de uma criança. Alphie e Joshua vão criar uma ligação. Mas não é qualquer ligação. Claro que é típico de Hollywood apresentar um roteiro em que um homem sem alma, completamente frio e pronto para fazer de tudo por vingança, amolece o coração para salvar uma criança da qual ele se apega. Não é apenas isso. No começo, Joshua não vê Alphie como uma criança, e a impressão é que até o último ato do filme, ele ainda não esteja completamente convencido de que os robôs mereçam ser salvos. Entretanto, ele se cansa da guerra, e se compromete a cuidar para que Alphie tenha a sua liberdade, e com ela, libertando toda a sua “espécie”. 

                                                                                               © 2023 20th Century Studios. All Rights Reserved.
Estão entre as referências usadas pelo diretor para a composição de ideias do longa produções como ''Lua de Papel'' (1973), ''Apocalipse Now'' (1979), ''Blade Runner'' (1982), ''Et - O Extraterrestre'' (1982), ''O Traidor'' (1984), ''Akira'' (1988), ''Rain Man'' (1988) e ''Baraka - Um Mundo Além das Palavras'' (1992).


A produção custou R$80 milhões, mas sua estética, efeitos visuais, figurino, edição e trilha sonora, ficaram acima de longaa com um orçamento maior do que teve. O roteiro carrega o conflito entre humanidade e artificialidade, medo e ódio, e foi assinado por Chris Weitz (Rogue One, Cinderella, Antz, Lua Nova) e Gareth Edwards. A cinematografia é assinada por Oren Soffer e a composição de Hans Zimmer.

Como mencionado, é fácil sentir que se trata de uma distopia palpável, ao mesmo tempo que parece coisa de outro universo. Mas com toda a discussão atual sobre a inteligência artificial, se torna algo necessário refletir como seria a revolução das máquinas. Pode ser que essas inteligências não queiram se virar contra nós, mas aprendam a ser melhores do que somos. Pode ser que os seres humanos se voltem contra algo que criaram. De todo modo, como distinguir o que é uma ligação real entre as pessoas, do que é uma ligação artificial, criada por uma programação? 

EM EXIBIÇÃO NOS CINEMAS

quinta-feira, 21 de setembro de 2023

Nosso Sonho, de Eduardo Albergaria | Assista nos Cinemas


O sonho de conquistar o pais cantando e dançando nem sempre é algo conquistado por qualquer artista. Mas dois meninos pobres de uma comunidade no Rio de Janeiro transformaram suas vidas quando aos poucos se jogaram na vida artística durante os anos 90, uma época na qual ''vídeos musicais'' já vendiam bem as bandas e músicos, mas não tanto quanto o poder de tocar nas rádios. Claudinho & Buchecha se mostraram ao público fazendo passinhos fofos e engraçados ao mesmo tempo que compuseram canções que abordavam a origem humilde, os relacionamentos de amor e de amizade de maneira sincera e sem firulas. Regravaram canções, apareceram em todos os programas globais possíveis, sendo figurinha carimbada, principalmente, nos programas apresentados pela apresentadora Xuxa Meneghel. Entre 1996 e o início dos anos 2000, a dupla lançou cerca de seis álbuns de estúdio, um disco ao vivo e ,durante os anos, chegaram a mercado três compilações. Foram um estouro e conquistaram os mais diversos públicos, desde as crianças, aos adolescentes até os mais velhos. Foram ao Japão, Portugal, Estados Unidos e etc e levaram sua arte com doçura e leveza.

O começo simples da dupla rainha do ''funk melody'', vinda de São Gonçalo, virou filme com direção de Eduardo Albergaria e apresenta a trajetória de Cláudio Rodrigues de Mattos (Claudinho) e Claucirley Jovêncio de Sousa (Buchecha), sob a ótica deste último. Claudinho, falecido em julho de 2002, é reverenciado pelo amigo e parceiro Buchecha e ganha uma baita homenagem pela pessoa fora de série que foi. A sinergia entre os dois, aqui interpretados por Juan Paiva como Buchecha e Lucas Penteado como Claudinho, é preciosa e capturada para as telas de forma singela, logo, consegue emocionar e fazer lindas homenagens. Mais que isso, joga ao espectador temáticas relevantes como a toxidade de familiares, um pai ausente que demora a desenvolver laços de amor com seu filho é um dos conflitos principais em ''Nosso Sonho''.  A produção conta com roteiro de Eduardo Albergaria, Daniel Dias, Maurício Lissovsky, Fernando Velasco e Junior Vieira e tem distribuição da Manequim Filmes. Também estão no elenco, Gustavo Coelho, Boca de 09, Nando Cunha,  Isabela Garcia e muitos outros.

Trailer 

Ficha Técnica
Título original e ano: Nosso Sonho, 2023. Direção: Eduardo Albergaria.  RoteiroElenco: Eduardo Albergaria, Daniel Dias, Maurício Lissovsky, Fernando Velasco, Junior Vieira. Elenco: Juan Paiva, Lucas Penteado, Gustavo Coelho, Boca de 09, Marcio Vito, Nando Cunha, Gabriel do Borel, Lellê, Tatiana Tibur, Flavio Souza, Fp do Trem Balla. Gênero: Biografia, Musica, Drama. Nacionalidade: Brasil. Trilha Sonora Original: Plinio Profeta. Fotografia: Joao Atala. Edição: Felipe Bibian. Assistente de Arte: Patrícia Ramos Pinto. Distribuição: Manequim Filmes. Duração: 01h57min.
O longa tem por todo ele narração do personagem de Buchecha (Juan Paiva). O seu início, na verdade, é uma cena que voltará a tela pouco antes dos atos finais. Vemos um homem caminhar na chuva rumo a um posto de gasolina e logo se entende que aquele pode ser o momento que transformará o caminho dos dois para sempre. Minutos depois, voltamos no tempo para ver o encontro marcante entre Claudinho (Boca de 09) e Buchecha (Gustavo Coelho) ainda pequenos brincando. Se aproximaram porquê o primeiro salvou o segundo de se afogar durante um momento de descontração da turma do bairro. Depois estão ali soltando pipa e conversando de responsabilidades. Não entramos inteiramente na vida de Claudinho, mas sabemos como Dona Etelma (Tatiana Tibur), a mãe de Buchecha, o cria praticamente só e ainda precisa aturar Souza (Nando Cunha) que vez ou outra volta para casa bêbado. Criança, Buchecha ainda tentava ter um relacionamento com o seu velho, já adolescente, bate de frente com as atitudes do homem e quase apanha dele. É quando a mãe o manda para casa da tia Natalina (Flavia Souza) e ali ele reencontra o seu anjo da guarda Claudinho (Lucas Penteado). Claudinho sempre positivo, dá ideia para que se inscrevam em um concurso de rap e aos poucos o Buchecha começa a escrever músicas e toda a empolgação com o mundo artístico vai tomando forma no universo deles. Sempre com muito incentivo de Claudinho. Os dois iniciam relacionamentos com meninas da comunidade e, talvez, este seja o único resquício familiar a aparecer sobre Claudinho na história. Todo o resto é voltado para a relação que este tem com o amigo e do amigo com o pai. 

                                                                                                         Créditos: Manequim Filmes/ VitrineFilmes                
O longa foi rodado em meados de 2022 e apareceu na lista de filmes selecionados pela ABC para concorrer a uma indicação na categoria e ''Melhor Filme Internacional'' no Oscar 2024.

A beleza de ''Nosso Sonho'' está em reverenciar o talento e a amizade de dois brasileiros que possuíam um vontade maior e que correram atrás e trabalharam para que as coisas acontecessem. E elas se deram de forma natural, ainda que rotineiramente lembradas pelo intuito de que ''quem tem talento, não tem chefe'', frase tão falada pelos familiares dos dois. Claudinho e as ''coincidências misteriosas'' de passagens em que pede a Buchecha que o amigo ''entregue os cd's deles para a filha do rapaz num futuro próximo'' ou a atitude de sair do palco e deixar o parceiro sozinho lá em cima dão a trama a camada ultra especial de que o cantor pressentia que o mundo poderia mudar e ele não estar mais ali. Portanto, sempre motivava o amigo a continuar e até a perdoar quem o machuca. Uma positividade impressionante, apesar das situações controversas que se dão. O filme não trás o contexto politico do Brasil dos aos 90, mas pela situação precária em que os dois se encontram é possível ver que tudo se passou na era pré-Lula. Um momento conturbado em que o pobre e ''favelado'' precisava encontrar gente disposta de verdade a estender a mão e abrir um caminho de oportunidades. 

Outro ponto crucial da película de Albergaria é o tocante da relações entre pai e filho. Temática que merece muita relevância pela questão do ''aborto e abandono paternal'' que incide imensamente no número de mães solteiras no pais criando seus filhos e batalhando sozinhas. Relacionamentos que se fazem nulos ou muitas vezes tóxicos por conta de progenitores que não pensam na paternidade como um estilo de vida. Apenas o iniciam deliberadamente sem intenções de o dar continuidade ou fazer por onde ser um exemplo a criança. O papel do pai de Buchecha é vivido pelo ator Nando Cunha e as nuances que a personagem ganha vão crescendo a cada passo que o filho dá. O homem se evidencia com traços violentos, vícios, manias e meio a tudo isso até tenta incentivar que o garoto busque a arte, mas não cria um espaço de acolhimento para que a relação tenha menos atrito. Deixa seus próprios dilemas se sobressaírem ao que poderia ser um aprendizado. Mas o tempo e as os ocorridos vão mudando os dois, o que é bom para ambos.

A narrativa toma uma rumo muito bonito e tocante sem cair no melodrama. Sentimos a força da amizade da dupla e toda a jornada é muito bem representada pelo quarteto de atores que interpreta as fases de criança e da vida adulta. O figurino emblemático dos anos 90 é visto nos bonés, nas blusa de time, nos óculos coloridos, nas jaquetas gigantes e a edição combina cenas de bailes da época para demonstrar como eram super cheios e o sucesso todo que os festivais de rap conseguiram trazer aos dois.

Eduardo Albergaria tem no currículo inúmeros trabalhos em séries para tevê e dirigiu, em 2017, o filme ''Happy Hour: Verdades e Consequência''. Nosso Sonho dá a ele a segurança para continuar crescendo no cenário e no cinema brasileiro, pois é uma película lindíssima e deve emocionar não só os fãs e quem viu Claudinho & Buchecha ascender ao sucesso como também aos jovenzinhos que conhecem as músicas apenas por ''osmose''.

Avaliação: Quatro canções de amor & amizade e meio passinho engraçado (4,5/5).

HOJE NOS CINEMAS

revisado em 21.09.23, às 13:18.

quinta-feira, 7 de setembro de 2023

A Freira 2, Michael Chaves | Assista nos Cinemas

 
A longevidade de uma franquia cinematográfica depende de diversos fatores. Desempenho de bilheteria, aprovação de público e crítica, relevância cultural. Um dos casos mais bem-sucedidos desse modelo mercadológico hollywoodiano é o universo Invocação do Mal, iniciado em 2013 com o filme de mesmo nome. A franquia idealizada por James Wan é um fenômeno. Com seus 8 capítulos, arrecadou mais de 2 bilhões de dólares em bilheteria, com um investimento de produção que sequer ultrapassa a marca dos 180 milhões de dólares. Apesar de não ser exatamente aclamada pela crítica (pelo menos metade destes filmes tiveram um parecer desfavorável de jornalistas), a saga é adorada pelo público, que parece não se cansar da mitologia envolvendo o casal Warren e sua coleção de maldições que se ramificam por outras sub-narrativas, como o spin-off da boneca Annabelle, que já rendeu 3 filmes próprios. Mas após 10 anos de sustos (e inúmeras cópias menos charmosas que surgiram pelo caminho), será que o “InvocaVerso” ainda tem fôlego para manter o interesse do público? 
As intrigas sobrenaturais ganham um novo capítulo nas mãos do cineasta Michael Chaves, já conhecido da franquia por dirigir o spin-off A Maldição da Chorona  e Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio. Em A Freira 2, um vilarejo na França é marcado pelo brutal assassinato de um padre. Ciente de que não se trata de um caso isolado, o Vaticano vê indícios do possível ressurgimento da entidade demoníaca que toma forma de freira, Valak (Bonnie Aarons). Convocada para investigar o caso, Irmã Irene (Taissa Farmiga) acaba sendo atraída para um internato onde reencontra seu velho amigo Frenchie (Jonas Bloquet) e descobre que Valak está em busca de uma relíquia capaz de restaurar seu poder de outrora.
Trailer

Ficha Técnica
Título original e ano: The Nun II, 2023. Direção: Michael Chaves. Roteiro: Ian Goldberd, Richard Naind e Akela Cooper - argumento de Akela Cooper e baseado nos personagens criado por James Wan e Gary Dauberman. Elenco: Taissa Farmiga, Jonas Bloqueit, Storm Reid, Anna Popplewell, Bonnie Aarons, Katelyn Rose Downey, Suzanne Bertish, Léontine d'Oncieu, Anouk Darwin Homewood, Peter Hudson, Tamar Baruch, Natalia Safran. Gênero: Horror, Terror, .Nacionalidade: EUA e Reino Unido. Trilha Sonora Original: Marco Beltrami. Fotografia: Tristan Nyby. Edição: Gregory Plotkin. Design de Produção: Sthépanne Cressend. Figurino: Agnes Beziers. Produzido por: James Wan e Peter Safran. Distribuição: Warner Bros Pictures. Duração: 01h50min.
Chaves parece ter dado ouvidos às críticas que recebeu por seus dois trabalhos anteriores na franquia. Apesar dos jump scares que continuam a se sobressair em seu repertório (o diretor aparenta não conseguir evitar concluir uma cena com um susto barulhento quando a oportunidade aparece), desta vez ao menos existe uma construção mais cuidadosa da atmosfera e da tensão antes do susto. Enquanto o 1º A Freira (leia texto aqui) soava meio indeciso quanto a suas intenções criativas e estéticas, o filme de Chaves estabelece set pieces mais concretas e coesas entre si, com um ritmo mais fluído e um visual muito mais instigante. O senso de fisicalidade dos cenários também dá pontos extras ao longa, fazendo com que o mundo onde a história se passa, de fato, soe vivo e tridimensional, evitando o aspecto barato de trem-fantasmas-parque de diversões que filmes assim podem ter quando não existe algum esmero por parte da equipe de direção de arte.
Outro diferencial que destaca A Freira 2 em relação ao 1º filme-solo do demônio Valak é a qualidade do roteiro. O que tinha tudo pra ser um mero repeteco preguiçoso ao melhor estilo “de alguma forma, o Palpatine retornou” consegue soar genuíno. O roteiro coescrito por Akela Cooper, Ian Goldberg e Richard Naing se preocupa não apenas em dar continuidade direta ao que foi determinado ao final do A Freira original, mas também em propor uma progressão e um desenvolvimento crível tanto para a narrativa quanto para os personagens. A protagonista vivida por Taissa Farmiga evolui em sua formação religiosa, mas também apresenta um amadurecimento palpável desde a última vez que a vimos, com direito a mais detalhes sobre seu passado e seus dons mediúnicos. O charmoso personagem de Jonas Bloquet também parece mais calejado e vivido, desta vez ganhando um peso dramático real na trama e, ainda bem, não se resumindo mais a um constante e, por vezes, irritante alívio cômico como no filme original. Até mesmo a figura antagonista interpretada por Bonnie Aarons ganha um arco de desenvolvimento e tem mais oportunidades de mostrar suas habilidades de mudar de forma e criar ilusões. A fé relutante de uma nova personagem, Irmã Debra (Storm Reid), também chama atenção em A Freira 2. O passado dramático e os questionamentos da freira já renderiam um filme por si só.  Mesmo a personagem não tendo tanto destaque dentro da trama, apenas seu diálogo com a personagem de Taissa Farmiga no qual ela conta sobre sua relação com sua falecida mãe (“Ela era a minha Igreja”) já é uma amostra das texturas e camadas cuidadosas que enriquecem o filme.
                                                                                  © 2022 Warner Bros. Entertainment Inc. All Rights Reserved.
Filmado em uma Igreja abandonada na França, em formato Panavision, diferente dos outros filmes da franquia, A Freira 2 dá ao diretor o topo do ranking com o maior número de produções dirigidas por ele no ''InvocaVerso''.

Apesar de seus méritos, contudo, A Freira 2 continua abusando de clichês do gênero. Com a quantidade de filmes genéricos envolvendo freiras, demônios e exorcismos que são lançados todos os anos (especialmente depois que a própria franquia Invocação do Mal reavivou o interesse do grande público pela temática), era de se esperar que um blockbuster como este ao menos tentasse fugir de certas convenções já tão batidas. O inevitável gostinho de déjà vu deixado por certas cenas do longa faz as novas aventuras do demônio freira drag parecerem mais derivativas e formulaicas do que teriam direito, dado ao impacto da marca da qual se origina. Além disso, o retoque de cenas com efeitos digitais é por vezes exagerado e esconde com um verniz plástico tomadas que talvez fossem mais assustadoras com o uso de maquiagem, lentes de contato e a iluminação certa. 
Com uma atmosfera aterrorizante e sequências memoráveis, A Freira 2 provavelmente não será unanimidade com público e crítica. Mas nem a própria franquia Invocação do Mal parece se preocupar em ser. A marca criada por James Wan desde o início tem como prioridade oferecer bons sustos para quem estiver procurando por eles. E A Freira 2 orgulhosamente mantém esta tradição viva.

HOJE NOS CINEMAS

sexta-feira, 1 de setembro de 2023

As Tartarugas Ninja: Caos Mutante | Assista nos Cinemas


Se você foi criança durante os anos 80 e 90, sabe que os quadrinhos e desenhos com As Tartarugas Ninja, personagens criados por Peter Laird e Kevin Eastman, eram a sensação da molecada. O grupo mutante e combativo ao crime em Nova York formado por Michelangelo, Donatello, Leonardo e Rafael continuou ganhando destaque em produções nos anos 2000, mas refazendo a jornada do sucesso da franquia, é bom lembrar que Laird e Eastman inicialmente lançaram o quadrinho em preto e branco em 1984 e após a jornada dos repteis nas prateleiras das bancas e livrarias, os transformaram em bonecos licenciados e em jogos de videogame, além de levá-los para a tevê onde foram personagens de uma série animada que durou de 1987 a 1996. Os primeiros filmes da trupe foram sair entre 1990 e 1993, formando uma trilogia. Nos anos 2000, Eastman vendeu seus diretos para Laird e depois do lançamento de mais um longa, ''TMNT'', dirigido por Kevin Munroe, foi anunciado que a Viacom adquiriu os diretos de Laird, a empresa é parte da super companhia Paramount Global, que é também dona da Paramount Pictures, Nicklodeon, MTV e etc. Inclusive, os últimos live-actions das Tartarugas contaram com distribuição da Paramount e produção do todo poderoso Michael Bay, mas não vingaram tanto. Chega agora então uma animação repaginada do grupo, afinal, se a serie e os filmes não exatamente dão o tom teen que a história original propõe, Caos Mutante veio ai para proporcionar isto.

Com direção de Jeff Rowe e co-direção de Kyle SpearsAs Tartarugas Ninja: Caos Mutante tem produção executiva de Seth Rogen, Evan Goldberg e James Weaver. Seth, Evan e Jeff também são roteiristas da trama ao lado de Dan Hernandez e Benji Samit. As vozes originais da co-produção entre Estados Unidos, Japão e Canadá são de atores negros, brancos e adolescentes, basicamente carinhas novas em Hollywood. Não somente isto, mas os personagens humanos ganham traços de pessoas negras, algo que antes não era tão comum para o núcleo de protagonistas. Leonardo, a tartaruga de faixa azul e com uma queda por April O'Neil, a repórter que é uma aliada das Tartarugas, tem como interprete Nicolas Cantu, Rafael, o ninja de faixa vermelha, tem a voz de Brady Noon, já o ninja de faixa laranja Michelangelo ganha vida na voz de Shamon Brown Jr. e Donatello, a Tartaruga de faixa roxa,  Micah Abbey. No Brasil, eles são dublados por Rodrigo Ribeiro, Victor Hugo Fernandes, Enzo Dannemann e Arthur Carneiro. O sábio mestre Splinter sempre teve um look de ''sábio'' e no áudio original da animação ninguém mais, ninguém menos que Jackie Chan é a sua voz. No formato dublado podemos ouvir o preciso Tatá Guarnieri. April, que de moça branca e ruiva voltou como uma mulher preta com dreadlocks, tem a voz de Ayio Edebri no original e é dublada por Anny Gabrielly. Fecham o elenco de vozes originais Giancarlo Esposito, Seth Rogen, John Cena, Ice Cube, Post Malone, Paul Rudd, Rose Byrne e Maya Rudolph.

O longa ganha um rabisco similar a técnica utilizada em Aranhaverso, influência clara do filmee surpreende pela modernizada que apresenta, apesar de ter uma cara oitentista e noventista surreal. A trilha sonora original (escute aqui) assinada pelo gigante Trent Reznor, em parceria com Atticus Ross, não vem pequena e embala as cenas com muito Hip Hop, Soul e R&B de bandas como De La Soul, A Tribe Called Quest e Bruno Mars. A canção de Bruno Mars, aliás, é trilha para entrada do vilão de um jeito maravilhoso. Caos Mutante respira cultura negra em todos os sentidos e é extremamente bem produzido e idealizado.

Trailer


Ficha Técnica
Título original e ano: Tartarugas Ninja - Caos Mutante, 2023. Direção: Jeff Rowe e Kyle Spears. Roteiro: Seth Rogen, Evan Goldberg, Jeff Rowe, Dan Hernandez, Benji Samit com argumento de Brendan O'Brien - baseado nos personagens criados por Peter Laird e Kevin Eastman. Vozes Originais: Micah Abbey, Shamon Brown Jr., Nicolas Cantu, Brady Noon, Ayo Edebiri, Maya Rudolph, John Cena, Seth Rogen, Rose Byrne, Natasia Demetriou, Giancarlo Esposito, Jackie Chan, Ice Cube, Paul Rudd, Post Malone. Vozes Nacionais: Rodrigo Ribeiro, Victor Hugo Fernandes, Enzo Dannemann e Arthur Carneiro, Léo Santana, Tata Guarnieri, Any Gabrielly, Márcio Dondi, Duda Ribeiro, Iabel Lira, Ricardo Rossatto, Adriana Torres, Jorge Lucas. Gênero: Animação, Aventura, Ação. Nacionalidade: EUA, Japão  e Canadá. Trilha Sonora Original: Trent Renor e Atticus Ross. Fotografia: Kent Seki. Edição: Greg Levitan. Design de Produção: Yashar Kassai. Efeitos Especiais: Marta Lucia Velasco. Distribuição: Paramount Pictures Brasil. Duração: 01h39min.  

A trama se inicia com a apresentação da possível forma de como as Tartarugas chegaram a sua forma, mas ainda não é exatamente ali que vemos a transformação. Na verdade, o espectador é introduzido a busca insana de Cynthia Utrom (Maya Rudolph/Iabel Lira) pelo cientista Baxter Stockman (Giancarlo Esposito/Ricardo Rossatto) e suas experiências com mutações em insetos. O homem aliás tem uma Super Mosca de estimação e ao ser levado embora, é ela quem salva as outras experiências e foge dali. Nesse momento, um tubo de ensaio com uma gosma verde desconhecida cai em buraco e dali em diante adentramos as aventuras das Tartarugas anos mais tarde. O grupo vive subindo para a superfície para assistir filmes ou andando pelo telhado dos prédios no Brooklyn respirando muita jovialidade e se divertindo. É só ao retornarem e levarem aquela baita chamada do seu ''pai de criação'' (Jackie Chan/Tatá Guarnieri), um rato idoso com roupas de Ninjitsu, que o espectador conhece então como elas se tornaram Tartarugas com estatura de homens e ainda com habilidades em artes marciais ensinadas por ele, o rato chamado de Mestre Splinter. O roedor lutador explica como o grupo de Tartarugas não deve ir a superfície e que ele os protegerá dos humanos e de qualquer tentativa de experiências com todos eles, mas como adolescente que só querem ser aceitos e aproveitar a juventude, o que escutam não necessariamente faz muita diferença.

                                                                                                           Créditos: Paramount Pictures 

O formato original do filme contou com gravações das dublagens em grupos e não como de praste onde os dubladores gravam o texto separados. Alguma sessões contaram com mais de seis pessoas no estúdio.

Em uma dessas saídas das Tartarugas do esgoto, auxiliam a jovem April O'Neil (Ayo Edebiri/Any Gabrielly), pois a mesma é assaltada. A garota acaba então conhecendo o grupo e não fica com medo como Mestre Splinter citou que os humanos ficariam. Mas isto se deve ao fato deles terem se mostrado como heróis e o encontro ter sido mais leve que em outros encontros dos humanos com mutações. April então conta à eles como seria demais se eles deixassem que ela redigisse uma matéria sobre como os quatro se transformaram. Também fala de como tem medo de ficar em frente as câmeras e que seu amor pelo jornalismo ainda precisa superar um certo medo de câmera que ela possui e faz passar vergonha online. E não esquece de contar que tem um tal de Super Mosca (Ice Cube/Jorge Lucas) tem aprontado por ai a ponto de deixar a polícia no seu rastro. Logo, eles poderiam ajudar a pegar o Mega Mutante, pois todos estão com receio de que o baile de formatura seja cancelado. Michelangelo,Rafael, Leonardo e Donatello então saem em busca do inseto que tem colocado o medo na vizinhança. Monstrão anda com uma super gangue e quando os grupos se encontram, em um primeiro momento, fazem amizade e ficam felizes de descobrir que são ''meio primos'', pois sofreram mutação a partir da mesma gosma verde. Contudo, as Tartarugas compreendem que o Moscão mutante não quer paz com os humanos, mas sim eliminar todos eles ou os fazer escravos como forma de vingança pelo que fizeram com ''o pai'' dele e também por tentarem sempre matar o bando quando se aproximam. Nesse momento, April e os ninjas mutantes bolam um jeito de destruir os planos do Super Mosca e até Mestre Splinter é chamado quando Cynthya Utrom chega na parada para tentar raptar as Tartarugas. O fim desses eventos conturbados ganham muitas visualizações e as Tartarugas lutam juntas pelas vidas dos humanos e dos mutantes. Algo que só se assistindo para saber o quão irado é. 

                                                                                                 Créditos: Paramount Pictures 


O filme traz vários easter eggs e homenageia os criadores Kevin Eastman e Peter Laird em cenas do filme. A escola onde April estuda se chama ''Eastman High School'' e o prédio em que a jovem entrevista as tartarugas se chama ''The Laird''.

Com um tom super cômico e maneiro, o roteiro é assertivo em trazer a cultura nova yorkina com força. A cultura pop está presente no gosto dos personagens e a modernidade tecnológica na vida teen deles. A essência das Tartarugas é mantida, mas temos mudanças no estilo delas ou até mesmo de outros personagens centrais da história como Splinter, Super Mosca ou April. O filme tem pela primeira vez adolescentes dublando adolescentes e filmes como ''Lady Bird'' (Greta Gwerig, 2017) e ''Conta Comigo'' (Rob Reiner, 1986) servem como inspirações para o ''coming of age'' das Tartarugas. Em certa cena do filme, o grupo assiste ''Curtindo a Vida Adoidado'' (John Hughes, 1986) e sentimos a vibe do grupo querendo apenas ser jovem e viver. Algo que as referências acrescentam em cada cena.

Jeff Rowe têm créditos como roteirista em sua carreira e foi co-diretor de ''A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas'' (2021). Soube conduzir muito bem o seu elenco aqui e entrega personagens que atravessaram o tempo e continuam sendo ultra-legais. Dentro do longa, temos transformações da imagem para live-action de cenas de karatê e etc e é muito interessante ver as várias cores e formas que se dão na tela.

Avaliação: uma Pizza Quatro Queijos, por favor! (4/5)

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See ya!

B-