quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

Eu, Capitão, de Matteo Garrone | Assista nos Cinemas


O veterano Matteo Garrone (Gomorra, 2008) emplacou com ''Eu, Capitão'' a sua primeira obra a ser indicada a um Oscar. Centrado na jornada de dois adolescentes senegaleses de dezesseis anos que querem chegar à Itália ilegalmente, o filme conta uma história do jeito que a Academia gosta: com crítica social, aventuras edificantes e lições de amizade, perseverança e bondade.

Seydou e Moussa são primos e vivem próximos. Embora vivam em um contexto claramente pobre, os dois têm teto, comida, estudo, trabalho e famílias que zelam por eles. Esta jornada  não entra na lista de emigração por miséria, guerra ou outra calamidade. O que motiva os garotos a buscar a Europa é o sonho de se verem famosos com a música que fazem em um local com maiores oportunidades.

O colonialismo não se dá só na exploração das terras e da mão de obra, mas também no controle dos sonhos, através da propaganda massiva e do controle de narrativa. Ver dois jovens saudáveis e criativos só conseguirem pensar em um futuro próspero fora de seu país e de seu continente de origem é duro e triste. Essa obsessão pelo velho continente está muito bem ilustrada na forma como os rapazes vestem camisas de times de futebol europeus o tempo inteiro.

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Ficha Técnica
Título Original e Ano: Io Capitano, 2023. Direção: Matteo Garrone. Roteiro: Matteo Garrone, Massimo Ceccherini, Massimo Gaudioso, Andrea Tagliaferri. Elenco: Seydou Sarr, Moustapha Fall, Issaka Sawadogo, Hichem Yacoubi, Doodou Sagna. Gênero: drama, suspense, guerra. Nacionalidade: Itália, Bélgica, França. Trilha Sonora Original: Andrea Farri. Direção de Fotografia: Paolo Carnera. Desenho de Produção: Dimitri Capuani. Montagem: Marco Spoletini. Produção: Matteo Garrone, Paolo Del Brocco. Empresas Produtoras: Archimede, Rai Cinema, Tarantula e Pathé. Distribuição: Pandora Filmes. Duração: 121 minutos
Sem perspectiva e tendo acumulado o pagamento de seis meses de trabalho, a dupla parte escondida de suas mães rumo à Líbia, primeiramente. Com passaportes falsos e agentes da polícia da fronteira subornados, os meninos pagam para um atravessador que promete levá-los de carro até seu destino. No entanto, são largados no meio do Deserto do Saara e, junto com os vários outros passageiros, têm que terminar o trajeto a pé. É quando esbarram com uma máfia que impede a passagem daqueles que não entregarem tudo o que têm. Como Moussa tenta esconder o dinheiro dos dois, é levado preso. Seydou consegue ir um pouco mais adiante, onde é capturado por outra máfia que tortura aqueles que não indicam parentes que podem ser extorquidos em troca da integridade de seus entes queridos.

A cada empecilho desses, muitos colegas de jornada ficam para trás. Mortos, feridos, presos ou abandonados sem nada. Parece haver apenas dois grupos de pessoas: os que acreditam no sonho de uma vida melhor na Europa e aqueles que se aproveitam desse desejo desesperado. Em certos momentos, o sofrimento, o esforço e a luta dos personagens chegam a ser espetacularizados. Embora o filme teça comentários sobre a realidade europeia ser distante do sonho e tenha uma tese crítica sobre a imigração, incomoda o fato dos vilões serem apenas os aspectos do lado africano do oceano, não sendo mostrado em nenhum momento a face europeia da maldade.

                                                                   Créditos: Archimede, Rai Cinema, Tarantula, Pathé / Pandora Filmes
''Io Capitano'', título original da produção, já conta com o total de 22 indicações em festivais e premiações ao redor do globo. No Festival de Veneza, em 2023, recebeu cerca de 12 prêmios. Entre eles, o ''Silver Lion'' de melhor direção para Matteo Garrone.

A força da obra está em seus dois protagonistas. O carisma dos atores está estampado em cada cena. Sua ingenuidade nos cativa e nos comove. Porém, o interessante é ver essa característica apenas nos personagens. Quando a ingenuidade contamina também o roteiro, a trama se torna pouco crível. Certas coisas, como o reencontro dos dois, não são devidamente explicadas e soam boas demais para serem verdade. 

Isso se imprime também na conclusão do longa. Por mais que o final seja dúbio e que saibamos que ainda há muitos obstáculos pela frente na vida de Seydou, não muda o fato de que há um clima de esperança e vitória com a chegada na costa Italiana. Como se a Europa realmente fosse uma conquista a ser alcançada. Mais uma vez a ingenuidade do personagem e do filme se misturam. 

Amanhã, de Marcos Pimentel | Assista nos Cinemas


“Tocar fogo no parquinho não rende direito social para ninguém – e vandalismo é crime!”


Enquanto projeto, “Amanhã” (2023, de Marcos Pimentel) não é inédito: possui diversos antecedentes, como a cinessérie “Up” – iniciada por Paul Almond em 1964 e continuada por Michael Apted, em oito oportunidades vindouras –, ou o documentário “Anna dos 6 aos 18” (1994, de Nikita Mikhalkov). Em todos estes projetos, crianças filmadas num determinado ano são reencontradas em períodos subseqüentes de suas vidas, de modo que seus ideais infantis são confrontados com o pragmatismo da vida adulta. No caso de “Amanhã”, o que há de diferente é a promoção de um encontro entre crianças com realidades sociais radicalmente distintas. 


Em 2002, quando são iniciadas as filmagens, o diretor faz com que os garotos Zé Thomaz, Júlia e Cristian interajam, através das brincadeiras preferidas por cada um deles: o primeiro é de classe social alta, e os dois últimos residem numa comunidade pobre. Como seria o reencontro entre eles, vinte anos depois? A pergunta que justifica o título do filme é feita por Júlia, ainda criança, que, ao encarar a câmera, dispara algo como “amanhã vocês voltam?”… 


Sim, o diretor retorna, com uma equipe modificada, em razão das novas configurações identitárias: no primeiro contato, os profissionais envolvidos eram todos exteriores à localidade registrada; no segundo, moradores da comunidade em pauta desempenham papéis fundamentais na captação de som e imagem, sendo explicitamente elogiados pelo realizador. Ao contrário de outros de seus filmes, em que o que é mostrado é suficiente para despertar as impressões espectatoriais, aqui, Marcos Pimentel preferiu acrescentar a sua voz em ‘off’, comentando diversas seqüências, além do projeto como um todo. O que possui implicações discursivas evidentes, nem sempre positivas!


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Ficha Técnica
Título Original e Ano: Amanhã, 2023Direção: Marcos Pimentel. Com participações de: Cristian de Miranda, Cristiana Santos, Júlia Maria. Depoimentos/Imagens de Arquivo: Cristian de Miranda, Cristiana Santos, Júlia Maria. Nacionalidade: Brasil. Gênero: Documentário. Som: Vitor Coroa e Pris Campelo. Fotografia: Gabriela Matos. Montagem: Ivan Morales Jr.. Produção: Luana Melgaço e Vinícius Rezende Morais. Empresa Produtora: Tempero Filmes. Distribuição: Descoloniza Filmes. Duração: 106 minutos. Classificação Indicativa: 14 anos

No curta-metragem “Sanã” (2013) ou no documentário “Pele” (2021), este diretor obtinha resultados impressionantes, em vista do excelente trabalho de montagem e de seu primor fotográfico, mas, ao demonstrar-se como alguém consciente de seus privilégios classistas e que resolve investigar os percursos vitais de dois irmãos que cresceram numa favela, ele incorre numa problemática moral que torna o seu documentário deveras ambíguo. A começar pelo título, que oscila da abertura às possibilidades imprevistas a uma confirmação de determinismos sempiternos.


Por motivos compreensíveis – e deveras elogiáveis –, o diretor transforma a comparação entre épocas, nas vidas de seus personagens reais, num comentário político sobre as mudanças ocorridas no Brasil, depois da ascensão (ou assunção) do bolsonarismo. Suas intervenções enquanto narrador são condutivas, explicativas e até mesmo manipuladoras, mas sem obnubilar a inteligência espontânea dos entrevistados, como quando Júlia percebe que aquele filme não é apenas sobre ela e seu irmão, mas “sobre a sociedade brasileira como um todo”. Isso é corroborado por uma das falas do cineasta, que, ao explicar as condições de recusa de Zé Thomaz em voltar a participar do projeto, como adulto, sintetiza: “em tempos brutais como este, optar pelo silêncio é escolher um lado”. Infelizmente, procede. 


Créditos: Divulgação / Descoloniza Filmes

Produção estreará em cinemas de São Paulo, Belo Horizonte, Salvador e Porto Alegre

O modo como Marcos Pimentel filma Júlia, adulta e mãe solteira, reagindo às suas peraltices de criança, é magistral: ela percebe que sua filha é muito parecida com ela, na mesma idade, e chora ao lembrar do irmão, que alega não ver há muito tempo. É quando descobrimos que ele está preso, e telefona para a sua mãe, diante da câmera, no presídio em que estava. Quando ele é solto, repentinamente, percebemos que sua irmã não exagerara ao dizer que “ele continua do mesmo jeitinho alegre, hoje em dia”: Cristian é fascinante, até mesmo em suas contradições, e tem plena consciência de que o que sofreu nos reformatórios adveio de suas más escolhas individuais de vida. Porém, não hesita ao clarificar a sua vinculação política: é simpatizante do petismo, torce pelo “indulto dos manos”, e fica triste ao imaginar o que Zé Thomaz se tornou, naquele fatídico ano de 2022… 


Créditos: Divulgação / Descoloniza Filmes

O longa recebeu este mês de Fevereiro  menção honrosa no 5º Pirenópolis Doc


A despeito dos ótimos participantes, este documentário é permeado por situações julgamentais que prejudicam a naturalidade dos eventos. Vide o modo como um encontro infantil, previamente decidido por outrem, é associado a uma cobrança por amizade – afinal, forçada em sua exigência de continuidade – ou as seqüências ensaiadas em que Cristian e Júlia queimam ou atiram à água, respectivamente, as fotos do que fôra vivido no primeiro registro filmado de sua infância. Isso piora quando um paternalismo directivo é instaurado, no momento em que Júlia pede que o realizador financie uma refeição numa rede de ‘fast foods’ e uma visita a um parque de diversões, ao lado de sua mãe e de seus filhos pequenos, o que se torna “o melhor dia de sua vida”. Na segunda metade do filme, em sua pressa por diagnosticar uma polarização nacional que sempre existiu enquanto projeto, o diretor obriga o que é filmado a caber em suas teses, lamentavelmente acertadas. Ou seja, aquilo que é sociologicamente comprovado afeta a originalidade reativa/interativa das pessoas, frente às câmeras, o que é questionável num documentário. O que nos devolve para o título do filme, repassado para Cristiana, a mãe dos dois irmãos: será que haveria a possibilidade de um novo encontro fílmico, daqui a vinte anos? A resposta dela justifica a relevância da sessão: é um filme que transcende o mero aspecto testemunhal, e que, por conseguinte, requer um bem-vindo debate!


Hoje nos Cinemas

Duna - Parte Dois, de Denis Villeneuve


sequência da super produção Duna [Denis Villeneuve, 2021] finalmente está chegando as telas de todo o mundo.  Esta ''Parte Dois'' obteve sinal verde para ser realizada apenas quatro dias após a estreia de seu antecessor e devido  ao sucesso inicial de sua bilheteria - o que os fãs aguardam que aconteçam também agora para assim terem a finalização de sua trilogia bombada. Era previsto, aliás, que esta continuação entrasse em cartaz ainda em novembro de 2023, porém com as greves em Hollywood, o filme precisou ter sua estreia reagendada para este ano. Villeneuve retorna ao comando e todo o elenco também, entre eles, Timothée Chalamet, Rebecca Ferguson, Javier Barden, Stelan Skarsgärd, Josh Broslin, Dave Bautista, Charlotte Rampling e Zendaya. Se juntam aos atores, Christopher Walken, Léa Seydoux, Austin Butler, Florence Pugh e Anya Taylor-JoyA obra literária, escrita por Frank Herbert, é tida como um clássico e serviu de inspiração a diversos blockbusters como Blade Runner [Ridley Scott, 1982] e as franquias Star Wars (1977-2019) e Exterminador do Futuro (1984-2019).

Duna - Parte Dois revela a jornada de retorno de Paul Atreides (Timothée Chalamet), um “messias” que se vê dentro uma guerra santa e tem que salvar o planeta desértico de Arrakis da exploração de um item valioso para viagens espaciais, enquanto busca vingança pelo extermínio de sua família. O jovem se une aos Fremen, povo nativo do deserto, para assim continuar, ou melhor dizendo, iniciar sua saga de predestinado. Após os eventos do primeiro filme, o universo se expande e mais personagens adentram a trama. Logo, o resultado final é novamente destacado pelo selo de excelência do diretor Denis Villeneuve. Sua visão exibe a audiência e a indústria do cinema que é inteiramente possível adaptar obras grandiosas e o fazer com maestria, não importando o quão insanas estas o sejam, a meta é sempre entregar trabalhos majestosos como o seu “A Chegada” (2016).

O público recebe nesta parte dois a mesma direção, porém a experiência se apresenta completamente nova e ainda mais incrementada de detalhes. Embora seja um filme de transição, e um que vem para preparar os fãs para o épico conflito final entre Paul e todo o sistema que domina tudo aquilo que toca, somos agraciados com um ritmo totalmente vigoroso. O rapaz acaba aprendendo os costumes do povo da areia enquanto uma guerra tem palco. Os conflitos se dão a todo momento e cenas incrivelmente épicas tomam um bom tempo de tela, principalmente as protagonizadas pelos vermes do planeta desértico de Arrakis. A cultura, religião e organização do povo Fremen se evidencia e toda sua tática de combate também pode ser vista em um ritmo muito mais frenético. Tudo monumental e com corpo e cara de um blockbuster arrasador. 

A trama segue uma linha mais honesta e profunda, portanto, joga luz onde precisa para se desenvolver. É dado ao espectador o ponto de vista geral da situação e se conhece melhor as outras casas e o imperador, tão mencionado no primeiro filme. Entende-se que muitos comandam ou dizem comandar os acontecimentos por debaixo dos panos, a exemplo, a Reverenda Madre (Charlotte Ramplimg) e toda a irmandade mística de Bene Gesserit. Desta forma, munido de conhecimento, quem assiste se divide cada vez mais entre o que é certo e o que é errado, até mesmo questionando os rumos e as escolhas do que parece ser apropriado meio a tamanho conflito. E a maneira que os eventos vão se desenrolando, enquanto vem a tona cada vez mais toda a sujeira dos que tem poder, tem tudo para fazer os olhos do público brilhar. Por sua vez, é válido lembrar que as cenas são notavelmente colossais e trazem sequências inteiras de um deserto deslumbrante ou ainda construções puramente psicodélicas como a sequência do coliseu, momento que fascinará tanto os leitores de Frank Herbert como aqueles que estão conhecendo este vasto universo através das adaptações de Villeneuve.

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Ficha Técnica

Título original e ano: Dune: Part Two, 2024. Direção: Denis Villeneuve. Roteiro: Jon Spaihts e Denis Villeneuve - adaptação do clássico homônimo de Frank Herbert. Elenco: Timothée Chalamet, Rebecca Ferguson, Austin Butler, Javier Barden, Stelan Skarsgärd, Dave BautistaStellan Skarsgård, Josh Broslin, Zendaya, Christopher Walken, Léa Seydoux, Florence Pugh, Anya Taylor-Joy e Charlotte Rampling. Nacionalidade: Canadá, Eua. Gênero: Scifi, Aventura, drama, ação. Trilha Sonora Original: Hans Zimmer. Fotografia: Greig Fraser. Edição: John Walker. Design de produção: Patrice Vermette. Direção de arte: Tom Brown. Figurino: Jacqueline West. Distribuição: Warner Bros Pictures Brasil. Duração: 02h46min.
A fotografia é novamente um dos pontos de destaque de todo o longa, quando falamos sobre a parte técnica deste. É simplesmente impressionante como Greig Fraser, responsável por esta, consegue captar um “simples” deserto, formado apenas de sol e areia, com tanta exuberância e calibre. Fraser é ávido em arrancar suspiros genuínos de admiração quando mostra ao público imagens e seguimentos dignos de serem emoldurados e guardados na memória. O CGI projeta vermes e criaturas raríssimas no deserto e o cinéfilo geek deve se surpreender. A própria representação da vivência desses últimos com os freemen pelo deserto é algo inacreditável visto que este povo tem que se tornar invisível diariamente.

Contando com performances ilustres, o elenco se joga e mostra um trabalho intenso e dedicado. Agora que o público foi apresentado a mais líderes e sabe mais do povo da areia, se conecta e sente o desespero e aflição dessa população que sofre no mínimo há quatro gerações. Zendaya tem aqui mais tempo de tela e consegue dar ao público mais do que aparições, mas toda uma atuação que reflete as mazelas que os freemen passaram. É maravilhoso, contudo, como o diretor faz questão que vejamos todos os lados da moeda não deixando de lado as táticas do Imperium e toda a pressão psicológica que seus membros sofrem para continuar guerreando e isso fica escancarado quando voltamos nossa atenção para atuação de Dave Bautista que dá vida a Glossu Rabban. Têm se, na verdade, um casting que se desdobra para trabalhar a ideia de qual lado tem mais razão e presenças ilustres como Christopher Walken e a jovem Anya Taylor-Joy são a cereja do bolo.

                       Courtesy of Warner Bros. Pictures / © 2024 Warner Bros. Entertainment Inc. All Rights Reserved
Duna (2021) foi parcialmente filmado em IMAX , sua sequência foi rodada totalmente usando a tecnologia e a melhor experiência deve ser vivida nestas salas

A trilha sonora de Hans Zimmer (escute aqui) faz jus a grandiosidade da produção, mas mais do que isso é acertada e circula o clímax do filme com devoção. O frenesi insaciável, que mesmo nos momentos mais calmos recebe as fagulhas da guerra e do conflito, se elevam com composições que alegram e acalmam o espírito. Todavia é apenas a calmaria antes da mais intensa e mortífera tempestade de areia começar em cenas que remetem a Mad Max - Estrada da Fúria [George Miller, 2015]. Ademais, agora que a trama anseia por ação temos uma sonoridade que a acompanha no mesmo compasso, o que permite sequências inteiras do mais puro amálgama entre o áudio e o visual.

Em suma, a sequência de Duna vai além e abraça sua robustez. É bem menos lenta em seu ritmo e se formata com mais ação e aventura do que a primeira vez que vimos Paul Atreides tentar sair debaixo das asas da mãe.

HOJE NOS CINEMAS

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

Ferrari, Michael Mann | Assista na Cinemas

 
Surfando na onda da moda de filmes sobre marcas como ''BlackBerry'' (Matt Johnson, 2023) e ''Air'' (Ben Affleck, 2023), Ferrari tem sua estreia brasileira em meio aos lançamentos do Oscar deste ano. No entanto, a convergência destes temas trata-se muito mais de zeitgeist do que algo planejado pelo diretor Michael Mann e seus produtores. Isto porque o projeto vinha sendo pensado há nada menos que duas décadas. E além disso, para a frustração de alguns, o nome do longa-metragem se refere mais ao magnata Enzo Ferrari (Adam Driver) que à empresa criada por ele.

O roteiro (baseado no livro biográfico escrito por Brock Yates) escolhe focar em um momento crítico da vida do milionário ao invés de se debruçar sobre a criação da marca ou a descoberta de sua paixão por carros de corrida. Com o casamento com Laura (Penélope Cruz) falido e sua amante Lina (Shailene Woodlen) cobrando para que seu filho bastardo seja assumido, Enzo deve lidar ainda com uma crise financeira em sua empresa, o fantasma das mortes de seu primogênito e dois grandes amigos e a aproximação de uma corrida decisiva para o futuro de seu legado, a Mille Miglia, de 1957.

Como em todos os seus outros filmes, Mann faz desta uma obra sobre masculinidade. Seja quando reis encomendam carros de corrida para andar no centro da cidade, seja quando os pilotos negligenciam a manutenção de seus automóveis por uma chance de ganhar, seja quando Enzo demonstra seus delírios de grandeza, vemos um comentário sutil acerca do desejo por poder, adrenalina, controle. Chega a ser um pouco patético pensar que havia tantos homens dispostos a competir em um esporte tão letal que os levava a escrever cartas de despedida para suas famílias antes de cada competição.

 Créditos: Diamond Films Brasil/ STX Entertainment/ Foward Pass / Storyteller Productions / lervolino & Lady Bacardi Entertainment /
 Devido a alta taxa de mortes de pilotos e espectadores (mais de cinquenta óbitos), o percurso ''Mille Miglia'' foi permanentemente cancelado após 1957


Não é desta vez que Mann erra na condução. O ritmo é incrível, não se sente o tempo passar. Além disso, a fotografia de Erik Messerschmidt é muito bem decupada, principalmente nas cenas de ação, como era de se esperar. O ponto fraco da obra, é que, apesar de suas virtudes, a história soa extremamente desinteressante para quem não é fã do universo automobilístico. Nem toda a investida na história pessoal de Enzo consegue mudar isso.

Ademais, é inacreditável que a escola de dirigir os atores de forma a performar sotaques estrangeiros enquanto falam suas línguas maternas para fingir que são daquele país esteja tão naturalizada. Ou fizesse o filme com atores italianos, ou assumisse que há a liberdade poética de contar uma história italiana com atores anglófonos e abandonasse o sotaque. Colocar todo o elenco para falar inglês com sotaque italiano soa como quando as novelas globais de Glória Perez investem em abordagens estrangeiras surreais. 

Mas quando conseguimos abstrair isso, podemos apreciar a estética impecável da obra e até atuações fora da média, como a de Penélope Cruz na pele de uma esposa amargurada, enlutada, rancorosa, mas que ainda assim é capaz de pensar o que é melhor para seu marido. Outro destaque é a cena do acidente sofrido por Alfonso de Portago, vivido pelo brasileiro Gabriel Leone. Além de lançá-lo em Hollywood, este longa também funciona como uma preparação para Gabriel, que encarnará Ayrton Senna na cinebiografia que será lançada ainda esse ano.

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Ficha Técnica
Título Original e Ano: Ferrari, 2023. Direção: Michael Mann. Roteiro: Troy Kennedy Martin — baseado no livro de Broke Yates ‘’Ferrari — O Homem Por Trás das Máquinas’’.Elenco: Adam Driver, Gabriel Leone, Patrick Dempsey, Damiano Neviani, Shailene Woodley, Giuseppe Festinese, Alessandro Cremona, Derek Hill, Domenico Fortunato, Jacopo Bruno,Leonardo Caimi, Penélope Cruz,Michele Savoia. Gênero: Drama, Biografia. Nacionalidade: Estados Unidos da América, China, Reino Unido e Itália. Trilha Sonora Original: Danil Pemberton. Fotografia: Erik Messerschmidt. Edição: Pietro Scalia. Distribuidora: Diamond Films Brasil. Duração: 02h10min.
 
 HOJE NOS CINEMAS

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

Demon Slayer: To The Hashira Training | Assista nos Cinemas


Demon Slayer: To The Hashira Training é o terceiro filme exibido nas telas do cinema originado a partir do mangá/anime Demon Slayer. O primeiro estreou em 2016, o segundo em 2019, e desde então, a obra vem conquistando muitos fãs ao redor do globo por conta de suas histórias e personagens cativantes. A produção ganhou os cinemas japoneses no inicio de fevereiro e chega ao Brasil nesta quinta-feira (22/02). A trama aposta em uma crescente intensificação na relação dos personagens onde as questões de confiança tem destaque. Logo, amigos ganham a chance de acreditar cada vez mais um no outro e só com duras batalhas poderão vencer medos e trabalhar em equipe. Uma narrativa que realmente vem repleta de detalhes pitorescos que fortalecem a qualidade excepcional da animação, que é capaz de encher os olhos com tanta beleza.

Entre a relação de personagens que se intensifica, é possível destacar a química entre os irmãos Tanjiro Kamado (Natsuki Hanae) e Nezuko Kamado (Akari Kitô), o filme aposta em uma gradativa relação entre os personagens que vêm sendo construída desde o início da história (o que remete ao anime que data de 2019). A dupla passa por um momento bem marcante durante o longa-metragem e emociona a todos. Outro ponto que vale a pena ressaltar é a trilha sonora. Somada com a história, e a simpatia dos personagens, tais ferramentas são um verdadeiro show para o espectador. A trilha consegue te envolver, por ser muito emocionante e se fundir em momentos de resolução da produção. A música em uma determinada luta do personagem Tanjiro, é tão sublime que acessa um tom celestial, no sentido de renovar e renascer do personagem.

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Ficha Técnica
Título Original e Ano: Kimetsu no Yaiba Kizuna no Kiseki, Soshite Hashira Geiko e, 2024. DireçãoHaruo Sotozaki. Roteiro: Koyoharu Gotouge. Vozes originaisNatsuki Hanae,Akari Kitô, Kengo KawanishiHiro Shimono, Yoshitsugu Matsuoka. Dublagem nacional: Daniel Figueira, Isabella Guarnieri, Erick Bougleux, Patt Souza, Andre Sauer, Tatiane Keplmair, Philoppe Maia, Arthur Salerno, Clecio Souto. Gênero: Animação. Nacionalidade: Japão. Empresas Produtoras: Shueisha, Aniplex e Ufotable. Distribuição: Sony Pictures Brasil. Duração: 01h44min.
De um modo geral, a história dos nossos personagens continua cativante, a cada passo que eles dão, surgem vilões bem desafiadores, o que destaca a necessidade de intensificar o trabalho em equipe, o que aumenta de certa forma a nossa preocupação com o bem estar dos nossos heróis. Os personagens secundários além de ser obviamente adoráveis, conseguem roubar a cena em alguns momentos, e são o braço direito dos nossos heróis protagonistas. 
                                                                                                                                            Créditos: © Sony PicturesA produção chegou aos cinemas japoneses no inicio de fevereiro e ainda contou com pré estréia em Tokyo
Vale pena destacar que o personagem Zenitsu Agatsuma (Hiro Shimono) é extremamente querido e na sessão de pré-estreia do filme, ele foi ovacionado por toda sala de cinema em certa cena em que Zenitsu é a grande estrela. Com toda certeza, é perceptível nesse terceiro filme de Demon Slayer, que a batalha entre demônios e humanos começa a acalorar, suscitando um interesse do próximo vilão na nossa heroína Nezuko Kamado, prometendo um grande embate entre nossos tão amados heróis.

EM EXIBIÇÃO NOS CINEMAS

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

Masha e o Urso - Diversão em Dobro | Assista nos Cinemas

 
Nesse fimzinho de férias escolares (ou inicio de aulas), os pequeninos que são fãs da animação russa ''Masha e o Urso'' vão poder correr para os cinemas para assistir a nova aventura cinematográfica da dupla subtitulada ''Diversão em Dobro''. No filme de pouco mais de uma hora, a espevitada Masha agita um casamento, se diverte com amigos do mundo animal nos preparatórios para o natal e ainda vive uma aventura mágica com os doze magos guardiões de cada mês do ano. 

A aventura tem direção de Vasiko BedoshviliNatalya Berezovaya e Artyom Naumov e contou com estréia em diversos países ainda no natal de 2023. De lá pra cá, o filme já arrecadou mais de um milhão de dólares mundialmente. 

Criada por de Oleg Uzhinov, a animação chega ao país com distribuição da Paris Filmes e levou mais de trinta mil pessoas as salas em sessões antecipadas durante o feriado de carnaval.

                                                                                                      Créditos: Animaccord / Paris Filmes
O filme apresenta celebrações muito amadas pelas famílias como casamentos e o natal e Masha faz a festa a todo momento

Nas primeiras cenas do filme, a criançada deve rir bastante com as loucurinhas que Masha vai aprontar e torcer para que o Urso consiga a tirar de enrascadas. A menina e o amigo acabam entrando para a equipe de um casamento e itens essenciais da festa, como o bolo, vão precisar ser substituídos de emergência. Enquanto Masha está ajudando em uma área, o Urso vira o fotografo dos noivos e tenta de um tudo não tirar o olho da amiguinha agitada. Nos dois primeiros casamentos, apesar de interferências de Masha, as coisas se saem bem. Mas no terceiro casamento, que é o mais especial da noite, algo muito chato atrapalha inicialmente as comemorações, porém Masha consegue apresentar uma baita surpresa para a noiva e organizadora de casamentos.

                                                                                           Créditos: Animaccord / Paris Filmes
A fantasia toma conta do terceiro conto de aventuras do filme com a apresentação de uma lenda natalina

Masha e o Urso começam os preparatórios para o natal e vão recebendo visitas inusitadas. O Urso, aliás, adora fazer mágica durante os intervalos das aventuras e segue limpando as bagunças da pequena e a mesma aqui e ali aprende lições importantes. Mas é só quando Masha conhece o jovem ''Janeiro'' e inocentemente fazem mil e uma atrapalhadas é que ela finalmente entende que precisa desfazer suas próprias arrumações. Fevereiro, Março, Abril, Maio, Junho, Julho, Agosto, Setembro, Outubro, Novembro e Dezembro entram na trama como personagens diversos e cheios de personalidade e também dão aos mãos para consertar o que precisar ser consertado.

O lúdico da animação é entregue de forma simples e gradual. Temáticas como amizade, amor, compreensão e união permeiam o filme e a mensagem, no geral, é muito positiva. Assim , o final dessa fantasia repleta de referências a cultura russa é encantadora e ultra divertida. 

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Ficha Técnica
Título Internacional e Ano: Masha and the Bear - Twice The Fun, 2023. Direção: Vasiko BedoshviliNatalya BerezovayaArtyom Naumov. Roteiro: Mariya BolshakovaElena ChernovaDmitry GordinskyOleg Uzhinov - baseado nos personagens criados por Oleg Uzhinov. Vozes Originais: Alina Kukushkina, Varvara Sarantseva, Anastasiya Radik, Yulia Zunikova e Boris Kutnevich. Dubladores nacionais: Ava Patel, Nicolle Apolônio, Giulia Guarino de Carvalho Nicolle Rogerio Silva. Distribuição: Paris Filmes. Duração: 01hr15min.

Masha pode lembrar um pouco as crianças sapecas que conhecemos, mas também nos faz rir pelas trapalhadas. O Urso é quase um reflexo dos adultos tentando educar os meninos e meninas por ai e sente-se até um pouco de compaixão pelo tanto de trabalho que o coitado acaba tendo com a garotinha maluquinha. Reconfortante, contudo, ver algum tipo de entendimento das próprias ações por parte da menininha sorridente. 

Daqueles programas para toda a família.

HOJE NOS CINEMAS