quinta-feira, 3 de julho de 2025

Jurassic World: Recomeço, Gareth Edwards


Os dinossauros não representam mais o senso de novidade de antes, aparecendo perdidos e atrapalhando o trânsito de Nova York. Porém a genética deles continua a despertar interesses escusos em pessoas e corporações. É com essa premissa que mergulhamos em Jurassic World: Recomeço. A aventura a qual o longa se propõe é a caça ao tesouro, ou seja, uma corporação milionária deseja reunir uma equipe para ir até o Equador e entrar no habitat dos monstros para, usando de engenharia genética, desenvolver a cura para doenças. E não é por um objetivo nobre. Estamos falando do bom e velho capitalismo: patentear e lucrar milhões.

A equipe é composta pela destemida e misteriosa Zora Bennet, interpretada por Scarlett Johansson. A mercenária é apresentada como uma mulher de grandes feitos e capaz de transportar pessoas a lugares perigosos. O arquétipo serve bem ao propósito do roteiro e coloca a atriz em uma posição confortável de atuação. O mesmo pode ser dito do ganhador do Oscar Mahershala Ali no papel de Duncan Kincaid, amigo pessoal de Zora e responsável por levar o time de especialistas em seu barco para dentro da ilha inóspita onde os dinossauros habitam. O personagem sofre com a perda de um filho pequeno, fato este que, na prática, pouco soma ao roteiro ou à atuação.

Jonathan Bailey (o principe Fiyero, de ''Wicked'') faz aqui o papel de nerd, vivendo o paleontólogo especialista nas feras, Dr. Henry Loomis, que simplesmente não convence no papel. E não é culpa do ator, aqui tivemos uma escalação nada inteligente (e talvez de última hora visto que Glenn Powell havia sido convocado e recusou o personagem). Nas cenas com Johansson existe uma química em tela inegável e toda interação dos dois reforça o tema central da aventura, porém todas as vezes que se precisa mostrar performance individual falta a Bailey a linguagem corporal adequada.
 
                                                   Crédito de Imagens: © Universal Studios. All Rights Reserved. 
O filme chega aos cinemas dez anos após o inicio da trilogia ''Jurassic World - O Mundo dos Dinossauros'' (Colin Trevorrow, 2015)
 
O fato de o roteiro de David Koepp se assemelhar a um jogo de videogame foi bem inteligente e divertido. São três desafios diferentes, um no mar, outro na terra e outro no ar. Cada uma das "fases" se relaciona a uma espécie de dinossauro. O espectador sabe exatamente o que o espera e quais personagens não irão morrer. Temos um verdadeiro filme pipoca e que entrega aquilo que se propõe. As cenas de ação são divertidas e conseguem criar razoável senso de urgência. Foi muito perspicaz o uso do CGI aqui: a produção reconhece suas próprias limitações e escolhe com cuidado quais cenas devem chamar mais atenção da audiência. Se destaca uma em especial no campo aberto que permite ao espectador respirar e apreciar o quão exótica a ilha é.

O núcleo da família de férias que se perde no oceano e cruza com os mercenários é a parte mais decepcionante e maçante do filme. Poderia ser completamente cortado sem nenhum prejuízo à narrativa. Que tipo de pai leva uma criança e uma adolescente para um passeio em mar aberto próximo a um local de perigo? Manuel Garcia-Rulfo interpreta Rueben Delgado pai da pequena Isabella e da jovem Teresa, personagens de Audrina Miranda e Luna Blaise, respectivamente. Não satisfeitos com a família desinteressante, o roteiro insere o namorado de Teresa, Xavier, o jovem ator David Iacono, que causa constrangimento toda vez que aparece em tela, seja pelos seus diálogos ou pela atuação ruim. A saga do grupo em alto mar e depois pela ilha não cumpre papel algum dentro da trama e parece estar mais ligada a um desejo de dar ao personagem de Ali um ponto de conexão no terço final e de criar cenas de perigo em uma tentativa (falha) de conceber uma conexão com quem está em cena.

O arquétipo representado por Rupert Friend, como o ambicioso Martin Krebs, consegue ser ainda mais desinteressante que o núcleo da família Delgado. Outro ponto de inflexão no roteiro. Ele é a personificação do que se poderia esperar de um antagonista dentro de uma trama e serve de contraponto às ações nobres do Dr. Henry Loomis. A atuação não é das melhores e o ator é completamente eclipsado pelo próprio clichê que ele está representando. As intenções são rasas, sem sentido e até o dinossauro pet de CGI parece mais interessante de acompanhar.
 
Trailer
 

Ficha Técnica
  • Título Original e Ano: Jurassic World Rebirth, 2025. Direção: Gareth Edwards. Roteiro: David Koepp. Elenco: Scarlett Johansson, Mahershala Ali, Jonathan Bailey, Rupert Friend, Manuel Garcia‑Rulfo, Ed Skrein,  Luna Blaise e David Iacono. Gênero: Ação, Ficção Científica,Thriller. Nacionalidade: Estados Unidos da América. Trilha Sonora Original: Alexandre Desplat. Fotografia: John Mathieson. Edição: Jabez Olssen. Design de Produção: James Clyne. Direção de Arte: Andrew Bennett. Figurinista: Sammy Sheldon. Empresas Produtoras: Universal Picrures, Amblin Entertainment; The Kennedy/Marshall Company, SKY Studios, India Take One Productions, Latina Pictures, Quebec Film and Television Tax Credit, Malta Film Service, Thailand Film Office.. Distribuidora: Universal Pictures Brasil. Duração: 133 minutos.
 
A direção de Gareth Edwards (Resistência, 2023) é consistente e dá atenção especial às cenas de ação e referências a outros filmes da franquia. Há também uma preocupação em situar o público e explicar as coisas na medida certa, sem nunca entrar muito em termos científicos. Grande parte da tensão fica dependente dos atores e suas expressões faciais diante das situações de perigo. Não existe nenhuma cena de tirar o fôlego ou roer as unhas porém todas cumprem seu papel de forma convincente.

Existe a sensação de um filme que poderia ser mais enxuto e ter focado mais em seu trio de protagonistas e menos em seus delírios paralelos. A tentativa de inserir o arquétipo do vilão e o foco duradouro na família Delgado fazem o longa-metragem perder muito em qualidade. No entanto, como um blockbuster, ainda consegue ser divertido, entreter e entregar boas cenas de ação e aventura.
 
HOJE NOS CINEMAS 

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