Paterno, de Marcelo Lordello

 

Em 2022, o diretor brasileiro Marcelo Lordello, realizador dos filmes ''Eles Voltam'' (2012) e ''Boca Fechada'' (2022), resolveu abordar aspectos da crise imobiliária em Recife, tema do consagrado filme ''Aquarius'' (2016), de Kleber Mendonça Filho. Em vez de abordar os moradores como Clara (Sonia Braga), que estavam sendo acossados por construtoras para vender seus imóveis para erguimento de arranha céus lucrativos, o recorte do Marcelo se volta para as famílias donas dessas construtoras. O foco do roteiro não seria as vítimas dessa vez, mas os perpetradores desse abuso econômico e moral. Fazendo um paralelo com o filme do Kleber, em vez da Clara, o protagonista seria o infame Diego (Humberto Carrão).

Assim foi filmado o longa-metragem Paterno. Uma família muito rica de Recife, dona de uma construtora de prédios, está em uma crise de sucessão dolorosa e complicada, pois o patriarca está morrendo de câncer. Sérgio (Marco Ricca), o irmão mais novo, idealista na juventude, mas agressivo e ambicioso na atualidade, planeja um grande projeto na área da comunidade Brasília Teimosa. Arquiteto talentoso, sua proposta de empreendimento não é aceita pelo irmão pois, por se tratar de um projeto muito ambicioso, exigiria um investimento muito vultuoso, que colocaria a empresa familiar em risco.

Não se contentando com a recusa do irmão, Sérgio começa a comprar imóveis na comunidade, Sorrateiramente, vai concretizando seu projeto. Para isso conta com a ajuda do Claudio (Thomás Aquino), morador do bairro, que, traindo seus vizinhos, planeja ganhar algum dinheiro para sair de lá. Nesse afã de conquistar seu sonho, duramente planejado numa vida cheia de frustrações, Sérgio entra em conflito com todos da família: a esposa Solange (Fabiana Pirro), o filho Tomás (Gustavo Patriota) e a mãe Lígia (Selma Egrei).

Crédito de Imagens: Plano 9 e Trincheira Filmes / Filmes do Estação, Divulgação

Mais um lançamento do Filmes do Estação

No meio de todos esses conflitos familiares, ainda há a descoberta que o pai moribundo tinha um filho de outro relacionamento com uma professora universitária. Além de problemas com políticos da câmara de vereadores que não querem aprovar os projetos imobiliários da empresa e com os cunhados, com quem não se dá bem porque são influências negativas para o filho, que não quer seguir os planos do pai em se tornar também um arquiteto e prosseguir com o legado da família.

No meio de todos esses conflitos burgueses, o filme vai se desenrolando. O problema é que são muitas linhas narrativas que não se concluem a contento. Atores excelentes são desperdiçados, com pouco tempo de tela. Atira-se para todo canto e, no final, não se chega a um resultado uniforme do que se quer passar, a radiografia de uma sucessão familiar, à base de muita cobiça. Talvez, concentrando-se em uma das estórias, o resultado tivesse provocado mais empatia no espectador. São muitos conflitos com personagens que desaparecem rapidamente, exceto o protagonista Sérgio, o menos interessante no roteiro.

Trailer

Ficha Técnica

• Título original e ano: Paterno, 2022. Direção: Marcelo Costa Lordello. Roteiro: Marcelo Lordello e Fábio Meira. Co- Roteirista: Letícia Simões. Elenco: Marco Ricca, Fabiana Pirro, Gustavo Patriota, Thomas Aquino, Selma Egrei, Germano Haiut, Cláudia Assunção, Rejane Faria, Thardelly Lima, Wilson Rabelo. Nacionalidade: Brasil. Gênero: Drama. 1º Ass. de Direção: Felipe Oliveira. Produtor de Elenco: Marcelo Caetano Gabriel Domingues. Continuísta: Gabriela Miranda. Montagem: Eduardo Serrano. Produção Executiva: Mannu Costa. Direção de Produção: Dedete Parente. Diretor de Fotografia: Barbara Alvarez. Direção de arte e cenografia: Iomana Rocha & Yana Luz. Maquiadora: Cris Malta. Figurino: Caroline Oliveira. Som Direto: Moabe Filho e Guga Rocha. Desenho de Som: Nicolau Domingues. Mixagem: Jean-Guy Veran, Chefe de Elétrica e Maquinária Broa. Still: Hélder Tavares. Colorista: Pablo Nóbrega. Estúdio de Pós-produção de som:     Sound 8 / Navio do Sertão. Música Original: Piero Bianchi (baseada em um tema de Caçapa      e Mateus Alves). Gravação e edição de música original: Arthur Dossa e Piero Bianchi. Mixagem da música original: Nicolau Domingues. Produção executiva: Mannu Costa. Produção geral: Mannu Costa – Plano 9; Marcelo Lordello – Trincheira Filmes. Coprodução: Caravan Pass (França). Distribuição: Arthouse e Filmes do Estação. Duração: 110 minutos

É uma narrativa muito seca, em poucas sequências se abre espaço à emoção. E, quando ela raramente acontece, não é bem resolvida. Isso provoca um distanciamento por parte de quem está assistindo. O tema do filme, porém, é relevante. Os atores são talentosos. A discussão dessa especulação imobiliária é mais bem resolvida em Aquarius, contudo, mas é sempre bom ver outro ponto de vista do problema, ainda que mascarado numa crise familiar de sucessão. A questão da paternidade é o laço que tenta unificar as trajetórias dos personagens, as intersecções entre avô, pai e filho seriam o cerne da estória, inclusive no título Paterno, mas infelizmente não é bem explorada no nível emocional.

O filme chegou aos cinemas em 07 de Agosto e segue em cartaz.

Nota: 5/10.

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