Perspectiva InternacionaL
Filmes de vanguarda são experimentos técnicos que alargam a gramática do cinema, sua morfologia, sua sintaxe, sua concordância e vocabulário. Essas inovações podem gerar longametragens difíceis de se assistir, mas que se evidenciam extremamente necessários para dar novos rumos à sétima arte, criar caminhos na selva para que os sucessores possam trilhar com segurança. Exemplos de obras assim são "O Homem da Câmera" (1929), de Dziga Vertov, "Meshes of the Afternoon" (1943), de Maya Deren e Alexander Hammid, "Scorpio Rising" (1964) de Kenneth Anger, ou boa parte da fase final do gênio francês Jean-Luc Godard.
O filme Folha Seca, do diretor georgiano Aleksandre Koberidze, pode se dizer que encaixa perfeitamente ou faz parte desta vertente. De três horas e seis minutos, a película, enganosamente simples, é a busca de um pai por sua filha desaparecida pelos campos de futebol dos vilarejos do interior da Geórgia. Até o reencontro no final do seu último ato, as cenas repetitivamente são este pai, representado pelo ator Giorgi Bochorishvili, em seu carro com um companheiro de viagem que propositadamente não aparece, dirigindo de cidade em cidade, falando com os locais e procurando estádios ou campos de pelada.
Em uma fotografia desfocada, de cores estouradas, aparentemente feita com um celular de péssima qualidade, essa busca de mais de cento e oitenta minutos cria um efeito hipnótico no espectador. É como se também quem está assistindo estivesse na viagem em busca de algo, mas que está aproveitando cada segundo dessa imersão em si mesmo e no cenário, em uma jornada íntima ao seu próprio eu. Então, cada animal encontrado, cada córrego ou fonte de água potável, cada personagem entrevistado, fica tão importante, que abarca o mundo todo. É uma visão da aldeia, mas que preenche o conteúdo do mundo inteiro e a alma de quem está procurando.
Crédito de Imagens: New Matter Films/ 49ª Mostra Internacional de Cinema
O filme foi exibido no New York Film Festival, no Toronto International Film Festival, no Busan International Film Festival, e tem sua última exibição no Thessaloniki International Film Festival em 07 de novembro.
Ficha TécnicaTítulo original e ano: Dry Leaf. 2025 . Direção e Roteiro: Alexandre Koberidze. Elenco: David Koberidze, Otar Nijaradze. Fotografia: Alexandre Koberidze. Edição: Alexandre Koberidze. Som: Alexandre Koberidze. Trilha Sonora Original: Giorgi Koberidze. Produção: Mariam Shatberashvili, Luise Hauschild, Alexandre Koberidze. Produzido por: New Matter Films, world sales e eretic. Duração: 3h06min
Título original e ano: Dry Leaf. 2025 . Direção e Roteiro: Alexandre Koberidze. Elenco: David Koberidze, Otar Nijaradze. Fotografia: Alexandre Koberidze. Edição: Alexandre Koberidze. Som: Alexandre Koberidze. Trilha Sonora Original: Giorgi Koberidze. Produção: Mariam Shatberashvili, Luise Hauschild, Alexandre Koberidze. Produzido por: New Matter Films, world sales e eretic. Duração: 3h06min
Não espere facilidades nessa procura do outro e de si mesmo. Essa condução hipnótica da narrativa é extremamente cansativa, ainda mais pelas técnicas inovadoras apresentadas. Muitos sairão do cinema, outros dormirão nas cadeiras, mas nesse instante percebe-se, a um olhar mais paciente e inquisidor, que a arte de fazer filmes está se alargando, que trilhas estão sendo abertas. Isso é um feito e tanto nesta arte do cinema, que tem mais de cem anos e já trilhou muitos outros caminhos.
No final, a viagem é o mais importante! Encontrar quem se está procurando, nem tanto. Viagem do personagem, do diretor, do espectador e do cinema. Essas jornadas cansativas são importantíssimas para a história do cinema, cada geração tem que ter seus diretores de vanguarda. Aleksandre Koberidze, também realizador de "What do We See When You Look at the Sky?" (2021), agora é um deles. O filme foi reconhecido com o prêmio da crítica e de "Menção Honrosa" do Festival de Locarno 2025.
Nota: 7/10
Vinheta oficial | 49ª Mostra






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