sexta-feira, 27 de junho de 2025

Quebrando Regras, de Bill Guttentag

 
A cultura afegã tem predominância do Islamismo e a religião prega proteção à mulher de forma que esta possua ''direitos'' e deveres, além de um enorme respeito e subserviência aos seus pais, irmãos e maridos. O grupo fundamentalista Talibã, enraizado no dogma religioso citado, governou o Afeganistão de 1996 a 2001 e após período foi possível que a população, inclusive as mulheres, tivesse maior liberdade para se educar e alçar um  caminho de esperança por uma vida melhor. Logo, em ''Quebrando Regras'', filme com direção de Bill Guttentag, que também produz o longa-metragem, a história da CEO da Citadel Software Company, Roya Mahboob, que ao ir atrás de um futuro diferente para si fez história ao incentivar jovens meninas de seu país a se tornarem estudantes de ciência e computação em cursos lecionados por ela. Não bastando ainda a inovadora ideia, montou o primeiro time de garotas para competir em batalhas de robôs ao redor do mundo. Na película, Nikohl Boosheri vive Roya. A mulher contou com o auxilio de Samir Sinha, vivido por Ali Fazal, para dar suporte as seus projetos e também ajudar a conseguir patrocínios. 
 
Quando Roya faz a chamada para que garotas tomem um teste de matemática e ciências, Taara (Nina Hosseinzadeh), Haadiya (Sara Malal Rowe), Arezo  (Mariam Saraj) e Esin (Amber Afzali) passam na prova. O que a CEO achava impossível começa então a tomar forma e ela precisa agora convencer pais, tios e familiares a deixarem as meninas participarem de seu projeto. Todos eles, ou quase todos demoram a formalizar a autorização e Roya, junto ao esposo Ali Mahboob (Noorin Gulamgaus), persistem nos pedidos para que isto aconteça. Com coragem, Roya ainda inscreve o time em uma competição em Washington, DC, nos Estados Unidos, para participar de seu primeiro grande evento. Contudo, o visto de quase todas é negado e a CEO precisa correr atrás de visibilidade na mídia estadunidense para chamar a atenção das autoridades e pedir revisão do visto. O apelo dá certo, mas as garotas quase não conseguem embarcar por falta de assentos no avião e mais uma vez pedem auxilio no aeroporto contando o porquê precisam estar naquele voo rumo ao continente americano. Conseguem então mais uma vez auxilio pessoal e desembarcam na capital política para tentar uma chance contra nações que já desenvolvem projetos científicos há anos e são permeadas de homens e mulheres de diversas instituições e escolas importantes.
 
O grupo inscrito como ''Afghan Dreamers'', ou em bom português, ''Sonhadoras Afegãs'', tem todas as desvantagens possíveis, pois desde o treino tem tido problemas em receber robôs rápidos para a prática e o mesmo acontece em quase todas as competições, mas a dedicação e perseverança dessas garotas geniais as leva longe e chamam atenção pela bravura de enfrentar todo um sistema para estar ali. Muitas delas sonham em ir à faculdade e se tornarem engenheiras ou programadoras e o projeto de robótica as faz entender, mesmo quando a própria Roya já está sem forças para combater ataques e empecilhos, que elas tem uma oportunidade única e não querem largar de mão.
 
O filme tem uma onda muito inspiradora e mesmo sendo um recorte pequeno da grande jornada destas meninas, é inspirador. Produzido pela Black Autumn Show e distribuído nos Estados Unidos pela polêmica Angel Studios, a mesma de ''O Som da Liberdade'', ele ganha estreia no Brasil esta semana.
   
Trailer
 

Ficha Técnica
 
  • Título Original e Ano: Rule Breakers, 2025. Direção: Bill Guttentag. Roteiro: Jason Brown, Bill Guttentag e Elaha Mahboob. Elenco: Nikohl Boosheri, Ali Fazal, Phoebe Waller-Bridge, Amber Afzali, Noorin Gulamgaus, Nina Hosseinzadeh, Mariam Saraj, Sara Malal Rowe. Gênero: Nacionalidade: EUA. Trilha Sonora Original: Jeff Beal. Fotografia: John Pardue. Edição: Hibah Schweitzer. Design de Produção: Franckie Diago. Direção de Arte: Magdolna Varga. Figurinista: Louize Nissen. Empresa Produtora: Black Autumn Show. Distribuidora: Paris Filmes. Duração: 02h00.
A competição inicial que o filme evidencia ocorreu em 2017 e o Talibã, infelizmente, retornou ao poder em 2021. Grande parte das meninas hoje vivem fora do Afeganistão e conseguiram cursar uma Universidade devido ao seu mérito pessoal e também o famoso projeto de robótica criado por Roya. A mulher também reside em solo yankee e tem uma trajetória enorme no campo da tecnologia que o filme, de certa maneira, não conta da forma correta. 
 
Na trama, é evidenciado que ela é autodidata quando, na verdade, após viver certo tempo no Irã, retornou ao Afeganistão e estudou inglês e também Ciência da Computação e em diversos cursos do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Chegou a trabalhar no Departamento de TI da Universidade de Herat, além de ser coordenadora de projetos tecnológicos para o Ministério do Ensino Superior. Em 2010, ainda na faculdade, fundou a Afghan Citadel Software Company com um investimento de vinte mil doláres de sua união com mais dois parceiros. O projeto visava dar empregos a recém formados e era voltado em especial a contratar mulheres. Toda essa incrível trajetória levou Roya a entrar para o rank de 100 pessoas mais influentes no mundo, apresentado pela revista Time em 2013.
  
                                 Crédito de Imagens: Black Autumn Show / Angel Studios / Paris Filmes - Divulgação
O drama foi lançado nos Estados Unidos em março deste ano

Bill Guttentag é responsável pelos documentários ''Spyral'' (2024) e ''Soundtrack to Revolution'' (2009). Segue um percurso normal de tramas inspiradoras e conduz bem seu elenco. O filme conta com a participação do astro Will.i.am, da banda Black Eyed Peas, como ele mesmo. O artista aparece empolgando momentos de descontração durante os eventos. A atriz renomada Phoebe Waller-Bridge faz participação como engenheira e uma das apresentadoras de uma das competições finais e tem discurso emocionante para inspirar a todos e todas.
 
A história do grupo foi tema do documentário dirigido por David Greenwald ''Afghan Dreamers'', em 2022. A produção da MTV e Paramount Pictures não está disponível no Brasil, mas tem um foco mais profundo na representatividade e trabalho iniciado por Roya. Ainda assim, o filme de Guttentag tem sua valia fílmica.
 
Infelizmente, desde o retorno do Talibã ao poder inúmeras meninas tem sido proibidas anualmente de terem acesso à educação (veja aqui). Desta forma, o filme acaba sendo um sonho para as meninas nascidas em uma terra tão cheia de conflitos. 

EM EXIBIÇÃO NOS CINEMAS

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