quinta-feira, 7 de agosto de 2025

Drácula: Uma História de Amor Eterno, de Luc Besson


Baseado no romance escrito por Bram Stoker, em 1897, a releitura de Luc Besson reapresenta o clássico personagem Conde Drácula às telonas em um épico romântico dividido em duas linhas do tempo. O filme inicia sua jornada em 1491, na Romênia. O príncipe católico Vlad, está perdidamente apaixonado por Elisabeta, sua esposa. No contexto da Idade Média, existia um grande poder da igreja sobre a vida, a morte e a fé das pessoas. Antes de ir para a batalha ele suplica ao Papa para que mantenha sua amada em segurança. Infelizmente, Vossa Santidade é apenas um mensageiro e não tem poderes divinos: o pior acontece e Elisabeta é emboscada e morta. Revoltado por ter lutado todas as batalhas em nome de Deus e mesmo assim ter perdido o grande amor de sua vida, o Conde assassina brutalmente o líder da Igreja. A partir disso, ele é amaldiçoado com a imortalidade, ou seja, terá que suportar a dor de viver sem a sua amada pela eternidade.

O que para alguns poderia ser visto como uma dádiva, para o poderoso príncipe é um castigo. Aos poucos o longa vai mergulhando na saga de transformação do homem em criatura e toma uma decisão interessante ao saltar no tempo direto para 1889. É o centenário da Revolução Francesa e um séquito da igreja está à procura de um ser misterioso e suas amantes. Christoph Waltz (ganhador de Oscar por Bastardos Inglórios e Django Livre, ambos filmes de Quesntin Tarantino nos anos 2000) interpreta O Padre, encarregado dessa tarefa árdua de capturar o monstro estando sempre um passo à frente das pessoas que o rodeiam. A interpretação dele aqui é funcional e carregada de sarcasmo. Ele pesquisou sobre Drácula durante muitos anos e está muito próximo de chegar até ele.

Apesar de todas as alegorias, essa é basicamente a história de um homem incapaz de superar a perda. O roteiro não parece interessado em abordar e aprofundar subtextos que caberiam perfeitamente aqui. A alegoria para a doença desconhecida e o preconceito envolvido se perde na tentativa de impressionar o espectador. A liberdade sexual feminina vira apenas uma nota de rodapé e a discussão sobre fé e sacrifício perdem muita nuance. O objetivo aqui é entreter e isto "Uma História de Amor Eterno" cumpre de forma competente. A comparação com o recém lançado "Nosferatu". de Robert Eagers (2024) é inevitável uma vez que neste a narrativa simples se eleva em torno do que não é dito.

                                                                           Crédito de Imagens: Paris Filmes / Divulgação
O longa participou do Festival de Cannes, fora da seleção oficial

A construção do suspense é, por sua vez, o ponto alto do filme. A elipse temporal abrupta gera uma curiosidade sobre a jornada da transformação do príncipe em vampiro e essa curiosidade é saciada de forma satisfatória ao longo do roteiro sem deixar pontas soltas e sem se explicar demais. A montagem desempenha aqui, portanto, um papel crucial, elevando as intenções do roteirista. Quando o quebra cabeças é montado a condução dos acontecimentos é cadenciada e nada cansativa. A relação entre os personagens é coesa e funcional e a estrutura do ato final entrega exatamente aquilo que se espera: muita tragédia e melodrama.

Há um tom sério e melancólico na maior parte das cenas, mas jamais soturno. Todos os elementos, desde a trilha, passando pela fotografia de cores vibrantes e a atuação exagerada e risonha de Matilda de Angelis como a vampira Maria quebram o clima sombrio e dão nuances leves ao filme contrastando com a atuação melancólica de Caleb Landry Jones. É justamente essa intenção que faz as metáforas e alegorias serem jogadas de escanteio. Além disso, as cenas de batalha ou em campo aberto trazem o aspecto épico que se espera de uma história semi medieval. Inclusive todas as cenas com tema, cenários e figurinos medievais são um ponto alto da narrativa.

No ato final há um alongamento sem necessidade do momento de reencontro de Elisabeta com o ex príncipe (agora Conde Drácula). Uma cena mais curta e impactante teria combinado melhor com o roteiro, que faz questão de ocultar para depois revelar. Após o momento de romance quase novelesco há a entrega de um desfecho satisfatório e que funde todos os elementos que estiveram sendo construídos por todo o tempo de duração. A cena de confronto final foi bem dirigida e passa a urgência necessária que o plot exige. A utilização de gárgulas humanoides como soldados foi algo realmente divertido e inesperado, sem ficar apelativo.

Trailer


🦇 Ficha Técnica
Título Original e Ano: Dracula. 2025. Direção: Luc Besson. Roteiro: Luc Besson, com base na obra de Bram Stoker. Gênero: Terror gótico, Ação, Fantasia sombria. Nacionalidade: França / Reino Unido. Elenco:  Caleb Landru Jones, Christoph Waltz, Guillaume de Tonqu[edec, Matilda De Angeliz, Ewens Abid, Raphael Luce, Bertrand-Xavier Corbi, Zoë BleuDiretor de Fotografia: Colin Wandersman. Montagem: Lucas Fabiani. Trilha Sonora Original: Danny Elfman. Design de Produção: Hugues Tissandier. Direção de Arte: Gilles Boillot e Frédéric Cambon. Figurinista: Corinne Bruand. Maquiagem & Efeitos Especiais: Roxane Bruneton. Empresas Produtoras: Luc Besson Production, Canal+, SND Films, TF1 Films Production, EuropaCorp. Distribuidora: Paris Filmes. Duração: 2h11min. Classificação Indicativa: 18 anos

A épica, sombria e romântica releitura de Drácula é um filme divertido, sem muitas pretensões de entregar subtextos profundos e focado no entretenimento e na mensagem clara sobre sacrifício e perdão. Há, curiosamente, um brilho a mais em toda a imagética medieval e tramas que envolvem os personagens e seus conflitos. Perto do ato final há uma fadiga desnecessária dentro da narrativa, mas nada que comprometa o ritmo do filme como um todo. Sustentado por atuações competentes e um roteiro com intenções claras, o filme causa um gostinho de quero mais, mas não pelos motivos certos.

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