quinta-feira, 27 de novembro de 2025

Morra, Amor, de Lynne Ramsay

 

O título “Morra, Amor” (Die My Love, 2025) tem causado burburinho entre os cinéfilos há alguns meses e as razões não são poucas. A primeira delas está associada ao próprio nome da diretora, Lynne Ramsay, que reúne fãs desde Precisamos "Falar Sobre Kevin" (2012). A isso, soma-se o fato do filme ser estrelado por Jennifer Lawrence (Jogos Vorazes, 2012-2015) e Robert Pattinson (Crepúsculo. 2009-2012), ambos protagonistas de duas das maiores sagas cinematográficas juvenis. Apesar da dupla já ter provado que fazem a diferença em qualquer elenco e filme, até os mais demandantes em termos de performance, não há dúvida de que os papéis teen alçaram suas carreiras a um patamar extremamente popular. Colocá-los para contracenar é uma jogada de marketing que resgata esse passado e que foi bem aceita pelo público, pegando os nostálgicos e quem não é chegado a uma aventura adolescente também. Até Martin Scorsese, produtor executivo do filme, entrou na brincadeira e postou um vídeo junto a sua filha Francesca em que os dois tomam partido entre Edward, o vampiro de crepúsculo e Katniss, a arqueira de jogos vorazes.

Com sua premiere mundial no Festival de Cannes deste ano, o frisson em torno da obra aumentou ainda mais. Assim como o primeiro longa de sucesso de Ramsay, esta também é uma adaptação literária, desta vez, da autora argentina Ariana Harwicz. A história em si é simples. Uma jovem mãe de primeira viagem começa a desenvolver sintomas de depressão pós-parto. Não há muitas reviravoltas ou tramas paralelas. O trunfo de Ramsay está em mergulhar na psiquê da protagonista Grace (Lawrence) , fazer um estudo de personagem.

Ela e seu marido Jackson (Pattinson) se mudaram há pouco para uma velha casa de madeira que pertencera ao falecido tio da família. A residência fica isolada, a uma boa caminhada de distância dos vizinhos mais próximos e é cercada por uma floresta. Grace, escritora, passa os dias sozinha com seu bebê enquanto Jackson trabalha fora. O cenário remete a um filme de terror. Mas na verdade, o único terror de que ele é palco é o terror cotidiano da vida real, que acomete milhares de mulheres: o isolamento da maternidade, principalmente no puerpério.

A protagonista perde sua verve literária, sente-se constantemente entediada e não tem energia para realizar as tarefas domésticas. A princípio, seu companheiro é pouco compreensivo, para dizer o mínimo. Além de cobrar o desempenho que ela não está entregando, ainda adota um cachorro sem consultá-la. O animal soma-se às obrigações domésticas e constantemente assusta e acorda o bebê.

          Crédito de Imagens: Excellent Cadaver, Black Lavel MEdia Sikelia Productions- Paris Filmes, Mubi - Divulgação
O produtor executivo do filme, o cineasta Martin Scorcese, escolheu pessoalmente Jennifer Lawrence para o papel devido a sua perfomance íncrivel em Mãe! (Darren Aronofsky, 2017)

Dona de uma sexualidade latente, Grace ainda tem que lidar com a aparente falta de desejo de Jackson por ela, o que afeta diretamente sua autoestima. Ela não parece ter uma vida social. A família e amigos que aparecem na história são a família e os amigos de Jackson, que insistem em falar somente sobre a maternidade, criando ainda mais uma sensação de cobrança.

O som do filme é desenhado de forma a mostrar a irritação da personagem com o mundo. Os latidos de cachorro, as músicas no carro de Jackson, o barulho da motocicleta que não para de passar perto de sua casa, as moscas abundantes… tudo soa alto demais, incômodo demais. Capaz de tirar qualquer um do sério. Mas não tira qualquer um do sério, só tira Grace. Pois, na verdade, o som atua de forma subjetiva.

Contando a história dessa forma, pode parecer que trata-se de um drama clichê. Aí entra o elemento Grace. Sua personalidade histriônica traz momentos cômicos ao mesmo tempo que desvela o abismo em que está se afundando. Ela anda de quatro pela casa, late de volta para o cachorro, faz caretas constantes e diz o que vem na sua cabeça para os conhecidos, mesmo que seja rude. E nisso Jennifer Lawrence dá um show.

Enquanto seus comportamentos fora da caixa vão escalando até se tornarem ações de automutilação, Jackson vai se tornando mais compreensivo, mas nada parece aplacar a fúria e o deslocamento de Grace. Uma sutileza singular que salta aos olhos atentos é o papel de Sissy Spacek, sogra da protagonista. Recém viúva e sentindo na pele a solidão feminina, ela parece a única capaz de entender a nora. Embora cercada de outras pessoas que lançam olhares julgadores, embora dona de uma posição que geralmente é envolta em cobrança e comparação, ela tem um olhar meigo e faz perguntas preocupadas. Não faz muito. Mas é como se quisesse ajudar e não pudesse fazer mais do que se importar. Aliás, ninguém pode. Grace está travando uma batalha individual entre sua mente, seus hormônios e sua identidade.

Trailer

Ficha Técnica
Título original e ano: Die, My Love. Direção: Lynne Ramsay. Roteiro: Lynne Ramsay e Enda Walsh -baseado no Romance homônimo de Ariana Harwicz  (ver aqui). Elenco: Jennifer Lawrence, Robert Pattinson, Lakeith Stanfield, Sissy Spacek, Nick Nolte, Gabrielle Rose, Clare Coulter, Victoria Calderwood, Kennedy Calderwood. Gênero: Drama Psicológico. Nacionalidade: Estados Unidos da América. Trilha Sonora Original:  Raife Burchell, Lynne Ramsay, George Vjestica. Fotografia: Seamus McGarvey. Edição: Toni Froschhammer. Designer de Produção: Tim Grimes. FigurinoCatherine George. Produção executiva:  Martin Scorcese, Jennifer Lawrence, Rachel Smith, Lauren Boyle. Empresas Produtoras: Excellent Cadaver, Black Lavel MEdia Sikelia Productions. Distribuição no Brasil: Paris Filmes (em parceria com MUBI). Duração: 118 minutos.
O filme chega ao país em uma distribuição de parceria entre a Paris Filmes e a Plataforma de Curadoria de Cinema MUBI.

HOJE NOS CINEMAS

quinta-feira, 20 de novembro de 2025

Wicked: Parte ll, de Jon M. Chu

 
A segunda parte do fenômeno Wicked finalmente chega às telas de todo o mundo esta semana. O filme contou com cinco pré-estreias no início de novembro, começando por São Paulo e seguindo para Paris, Londres e Sentosa. Nova York foi a última parada, já próxima à estreia mundial. Filmado inteiramente no Reino Unido, com cenas adicionais no Egito, a superprodução aprofunda a trajetória de Glinda, “A Boa” (Ariana Grande), enquanto ela assume o papel de aliada do Mágico de Oz (Jeff Goldblum) e de Madame Morrible (Michelle Yeoh). A aprendiz de feitiçaria, na verdade, não possui poderes mágicos, e a parceria com ambos a ajuda a parecer competente diante da sociedade de Oz. No primeiro longa isto fica evidente, mas é aqui que vemos Glinda seguir o fluxo conforme a conveniência. É também no filme anterior que se estabelecem os primeiros sinais da perseguição sofrida por Elphaba (Cynthia Erivo), unicamente por ser quem é, uma bruxa de poder inigualável e de pele verde, algo explicado pelo enredo como fruto de relações extraconjugais de sua mãe, revelação que volta a ter destaque nesta continuação.

Rotulada como Bruxa Má do Oeste, Elphaba vive na surdina e continua ajudando os animais a fugirem do controle ditatorial do Mágico - que, na verdade, não é mágico, mas insiste em se manter no poder, declarando-a uma ameaça ao seu reino quando ela se recusa a se aliar a ele. Sua irmã, Nessarose (Marissa Bode), torna-se governadora ao ganhar o posto que era de seu pai e também aceita jogar conforme as regras políticas, restringindo e condenando aqueles que se opõem aos poderosos. Seu adorado Boq (Ethan Slater) trabalha como servo e assistente, embora deseje outra vida. Ao descobrir o anúncio de casamento entre o Príncipe Fiyero (Jonathan Bailey) e Glinda, Boq tenta abandonar Nessa, mas acaba vítima de um feitiço mal executado e se transforma em um Homem de Lata sem coração.  Príncipe Fiyero, agora capitão da guarda real, reencontra Elphaba e foge dali com ela, deixando Glinda devastada ao perceber que não era amada e o aceite de casamento não foi um sonho para ele como era para ela. A situação transforma as antigas amigas em rivais. É então que Madame Morrible manipula os acontecimentos para que todos acreditem cada vez mais que Elphaba é maléfica. Ela convoca uma tempestade que traz de longe a casa da jovem Dorothy (Bethany Weaver), que cai sobre Nessa e a mata acidentalmente. O episódio dá a Dorothy os sapatos da falecida e deixa Elphaba furiosa, ainda mais quando Fiyero é capturado e possivelmente morto pelo Mágico. Dorothy, então, atravessa Oz em busca de ajuda e encontra alguns companheiros pelo caminho: um Leão covarde, um Homem de Lata e um Espantalho. Juntos, eles fazem pedidos pessoais ao Mágico, que, em troca, exige uma prova de que a Bruxa Má do Oeste está morta.

O roteiro insere o contexto de "O Mágico de Oz" (Victor Fleming, George Cukor, Norman Taurog -  1939) como uma camada que auxilia o desenrolar da narrativa, algo esperado, já que o universo de Wicked é uma releitura dos acontecimentos apresentados no longa, por sua vez inspirado na obra original de L. Frank Baum.

Crédito de Imagens: © Universal Studios. All Rights Reserved.
Ariana Grande e Cynthia Erivo ganharam duas músicas inéditas para performar em "Wicked For Good", "No Place Like Home" e "The Girl in the Bubble".


Se no primeiro filme já era explícita a manipulação da opinião pública pelo Mágico e seus comparsas, aqui fica ainda mais evidente como o falsiano consegue fazer com que todos em Oz acreditem no que ele quiser, sobre quem ele quiser que seja atingido. Elphaba nunca é vista atacando ninguém, mas é rotulada como Bruxa Má por se recusar a ser controlada e a agir conforme a vontade alheia. Se na época da escola ela já sofria com o afastamento e perseguição dos outros apenas por ser “verde” - um paralelo claro que se relaciona ao casting de Cynthia Erivo ao papel visto ao racismo enfrentado diariamente por pessoas pretas - em "Wicked For Good" sua jornada é aprender a aceitar que as pessoas terão opiniões equivocadas sobre ela e, ainda assim, seguir adiante, lutando pelo que acredita.

Crédito de Imagens: © Universal Studios. All Rights Reserved.
O primeiro trailer do filme recebeu 113 milhões de views apenas em vinte quatro horas

Apesar de a trama sugerir rivalidade entre Elphaba e Glinda em vários momentos, é a compaixão e a sororidade entre as duas que ganham destaque em ambos os filmes. Elphaba entende por que a amiga está aliada ao Mágico, enquanto Glinda compreende que Fiyero realmente ama Elphaba - e reconhece também que a imagem de Elphie é manipulada pelos aliados do Mágico, muitas vezes com a ajuda quase involuntária dela própria. Mesmo quando Glinda tenta trazer a Bruxa Má para perto, isso se torna impossível diante das artimanhas do Mágico, que sempre acabam prejudicando alguém. Algo que até mesmo os animais encantados de Oz percebem e que acreditam se tratar de uma luta difícil e quase sem esperança de vencer. 

Trailer


Ficha Técnica
Título Original e Ano: Wicked For Good, 2025. Direção: Jon M. Chu. Roteiro: Winnie Holzman, Dana Fox - baseado no livro de Gregory Maguire e no musical de Stephen Schwartz e Winnie Wolzman com os personagens criados no universo de L. Frank Baum. Elenco: Cynthia Erivo, Ariana Grande, Jeff Goldblum, Michelle Yeoh, Jonathan Bailey, Ethan Slater, Marissa Bode, Colman Domingo, Bowen Yang, Bronwyn James, Aaron Teoh Guan Ti, Keala Settle, Sharon Clarke, Bethany Weaver. Nacionalidade: Eua. Gênero: Drama, Musical, Romance, Aventrura. Trilha Sonora Original: John Powell e Stephen Schwartz. Fotografia: Alice Brooks. Edição: Myron Kerstein e Tatiana S. Riegel. Design de Produção: Nathan Crowley. Direção de Arte: Ben Collins. Figurino: Paul Tazewell. Produção: Universal Pictures  e Marc Platt Productions. Distribuição: Universal Pictures Brasil. Duração: 02h18min.
Neste segundo filme, as músicas carregam significados tão potentes quanto as do primeiro. A canção que dá título ao longa, Wicked For Good, por exemplo, revela que certas pessoas cruzam nosso caminho e nos transformam para melhor simplesmente por existirem em nossas vidas. “No Place Like Home” também tem grande importância ao definir por que Elphaba continua lutando por um lugar que, quase sempre, só lhe devolve ódio. Se no primeiro filme as emoções estão à flor da pele e as lágrimas são inevitáveis, aqui alcançamos um ponto de maturidade e compreensão.

A direção de Jon M. Chu confere ao segundo filme ainda mais vigor, conduzindo seu elenco com precisão renovada. A edição é certeira ao oferecer aos fãs cenas que retornam aos acontecimentos do início da trama, permitindo revisitar esses momentos com calma e dar tempo ao tempo para cada ápice da jornada de Elphie e Glinda. Os figurinos também ganham novas camadas: Glinda abandona o rosa claro e adota tonalidades mais escuras, quase lilases, em certas cenas, uma escolha que reflete as transformações vividas pela personagem de Ariana Grande. Já Elphaba recebe ainda mais trabalho em seus longos vestidos, e até o simbolismo de seu chapéu é carregado de significados ao fim da trama.

Wicked: Parte II entrega tudo o que os fãs dos livros e dos musicais ao redor do mundo tanto amam: um espetáculo grandioso, vibrante e repleto de cores.

PS: O álbum com as músicas do filme será liberado no Spotify (ver aqui) à meia noite.

HOJE NOS CINEMAS



A Queda do Céu, Eryk Rocha & Gabriela Carneiro da Cunha

 
Eu já imitei os ‘napë’ [homens brancos].
Até cortava o meu cabelo como eles”… 

Baseado num livro homônimo (ver aqui) escrito pelo xamã yanomami Davi Kopenawa e pelo antropólogo francês Bruce Albert, “A Queda do Céu” , de Eryk Rocha & Gabriela Carneiro da Cunha, é assertivo por respeitar narrativamente a temporalidade do povo que acompanha: baseia-se num mito de caráter apocalíptico, referente a uma situação ancestral em que o céu quase desabou. Só não aconteceu por completo porque ele foi segurado pelos espíritos ‘xapiris’, que são designados para cuidar da natureza e do equilíbrio terrestre, quando a devastação e outras mazelas atingem níveis alarmantes. Porém, a invasão progressiva dos garimpeiros na floresta amazônica periga ocasionar uma nova e definitiva queda do céu, a qualquer momento… 

Esta é a premissa deste documentário interessantíssimo, que nos apresenta a uma espécie de profilaxia comunitária, em que os parentes e companheiros de Davi Kopenawa convocam os poderes xamânicos, no afã por impedir que as doenças e a poluição trazidas pelos homens brancos [‘napë’] atinjam níveis irreversíveis. Numa seqüência fortíssima e bastante emocionante, um indígena ancião relembra como o seu pai adoeceu e morreu, em contato com invasores de suas terras. Por causa disso, hesita em ser filmado pelos diretores, questionando o porquê de confiar neles. 

Crédito de Imagens: Aruac Filmes, Hutukara Associação Yanomami, Les Films d'lci, Rai Cinema e Stemal Entertainment/ Divulgação
O documentário foi exibido no Festival de Cannes e recebeu indicação em dois prêmios (SACD e o Golden Eye). No Festival do Rio ganhou prêmios direção e som e ganhou mais cinco prêmios em festivais pelos quais passou.


Responsável pela pesquisa antropológica que antecedeu o filme, a atriz carioca Gabriela Carneiro da Cunha alinha os seus interesses artísticos aos apanágios poéticos do realizador Eryk Rocha, responsável por filmes marcantes como “Jards” (2012), “Cinema Novo” (2016) e “Breve Miragem de Sol” (2019) , além do ótimo “Edna” (2021), em relação ao qual seu último trabalho guarda muitas similidades estéticas, inclusive no modo como ocorre a aproximação quanto à personagem titular, visto que Gabriela Carneiro da Cunha é também roteirista de ambas as produções. Em “A Queda do Céu”, o desenho de som, a cargo de Guile Martins, e a extraordinária fotografia, realizada pelo próprio co-diretor, junto a Bernard Machado, impressionam pelo modo como reproduzem as condições idealizadas da conexão entre homens e natureza, segundo as crenças yanomâmis. 

Em mais de um momento, testemunhamos Davi Kopenawa e as pessoas que o acompanham inalando o pó alucinógeno de yãkoana, extraído da árvore paricá, num ritual de imersão onírica, quando os indígenas recebem os conselhos dos xapiris, acerca de como podem intervir diante de problemas imediatos e gerais, como o adoecimento de malária, que acomete as crianças da região. Para ilustrar esta situação, os diretores servem-se de imagens de um antigo média-metragem brasileiro [“Os Bandeirantes” (1940, de Humberto Mauro)] e de um longa-metragem recente do armênio Artavazd Pelechian [“A Natureza” (2019)], que documentam situações opostas, mas relacionadas em suas conseqüências – respectivamente, o ufanismo governamental que validou o desbravamento invasivo do território brasileiro, e o impacto destrutível de elementos naturais, quando desrespeitados irrestritamente pelos seres humanos que vivem sob o jugo do Capitalismo. 

A despeito da desconfiança inicialmente demonstrada quanto à equipe cinematográfica, composta por diversas pessoas brancas, Davi Kopenawa consente em compartilhar os seus anseios e (des)esperanças, pois a dupla de diretores integrou vários yanomâmis à equipe, numa lógica de cooperação que tem a ver com o modo orgânico com que o documentário expõe as profecias do xamã, evitando o fatalismo dominante em religiões de caráter punitivo: ao invés disso, a intervenção dos xapiris acontece de maneira espontânea e mui perceptível, através do anúncio radiofônico do nascimento de um bebê, quando as imagens demonstravam como seria uma nova “queda do céu”… 

Trailer



Ficha Técnica
Título Original e Ano: A Queda do Céu, 2024. Direção e Roteiro: Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha . Com partipações de:  Davi Kopenawa, Justino Yanomami, Givaldo Yanomami, Raimundo Yanomami, Dinarte Yanomami, Guiomar Kopenawa, Roseane Yariana e comunidade de Watorikɨ. Gênero: Documentário. Nacionalidade: Brasil. Direção de Fotografia e Câmera: Eryk Rocha e Bernard Machado. Câmera Adicional: Morzaniel Ɨramari e Roseane Yariana. Montagem: Renato Vallone. Som Direto: Marcos Lopes. Desenho de Som: Guile Martins. Mixagem de Som: Toco Cerqueira. Color Grading: Brunno Schiavon, Giovanni Bivi. Consultoria: Bruce Albert, Ana Maria Machado, Dário Vitório Kopenawa, Morzaniel Ɨramari e Marília Senlle. Assistente de Direção: Mariana de Melo. Tradução Yanomami: Ana Maria Machado, Richard Duque, Corrado Dalmonego, Marcelo Moura e Morzaniel Ɨramari. Produção Local: Lidia Montanha Castro e Naira Souza Mello. Gerente de Projeto: Lisa Gunn. Designer: Sofia Tomic, Camilla Baratucci.Produção Executiva: Heloisa Jinzenji e Tárik Puggina. Direção de Produção: Margarida Serrano. Produtores: Eryk Rocha, Gabriela Carneiro da Cunha e Donatella Palermo. Produtor Associado: Richard Copans Produção: Aruac Filmes. Co-produção: Hutukara Associação Yanomami, Stemal Entertainment com Rai Cinema. Produção Associada: Les Films d'Ici. Distribuição Brasil: Gullane+. Distribuição França: La 25ème Heure. Distribuição nos EUA: KimStim Films. Duração: 01h50min. 

Inebriante e mui reflexivo, em seus quase cento e dez minutos de duração, este filme confirma os méritos poéticos de seu co-realizador, que não titubeia ao estender a duração dos planos, com vistas à reprodução de efeitos condizentes com a realidade das pessoas filmadas. Vide a longa caminhada que surge na cena de abertura, filmada num enquadramento frontal, inicialmente à distância, culminando com o protagonista que encara diretamente a câmera – e, por extensão, o espectador. Com este gesto, Davi Kopenawa parece nos perguntar se estamos dispostos a pôr em prática aquilo que é sugerido pelos xapiris, através de sua intermediação. 

Em suas admoestações mui contundentes contra o que ele define como “povo da mercadoria”, Davi Kopenawa conclama-nos a uma integração curativa com o espaço natural, consentindo que os realizadores filmem rituais íntimos, como a preparação de um mingau de bananas ou a celebração de um ‘reahu’, em homenagem ao sogro do protagonista. Ele esclarece que os yanomâmis não enterram os seus mortos, preferindo a prática da cremação, inclusive dos objetos e ambientes freqüentados pelo falecido. Saímos desta sessão muito mais humanizados, portanto. Ótimo filme, e um tratado válido de amor pelo planeta que permitiu a nossa existência. Recomendamos enfaticamente, em defesa de nossa sobrevivência! 

HOJE NOS CINEMAS

O Sobrevivente, de Edgar Wright

 
O escritor Stephen King, assim como muitos autores, teve fases em sua carreira em que publicou obras sob um pseudônimo - no caso, Richard Bachman. Estão entre os títulos publicados nesta fase os livros "A Longa Marcha" (1979) e  "O Concorrente"(1982). Livros que integram essa era particularmente prolífica do autor, iniciada em 1977, e responsável por oito enredos que chegaram às prateleiras. Essas obras, assim como inúmeras outras do mestre do terror, acabaram ganhando adaptações cinematográficas. The Running Man, título original de O Concorrente, tornou-se um longa de ação em 1987, estrelado pelo ícone da época Arnold Schwarzenegger. Já A Longa Marcha recebeu sua adaptação neste ano, dirigida por Francis Lawrence (ler aqui). Em ambos os universos, King explora futuros distópicos em que a sociedade norte-americana vive à mercê de reality shows e é manipulada pelo poder instituído para fazer de tudo, absolutamente tudo, para sobreviver.

O primeiro filme a chegar ao grande público, O Sobrevivente, de Paul Michael Glaser, tratou a adaptação como um espetáculo de ação, conduzindo o protagonista a um desfecho glorioso: inicialmente acusado de desobediência, ele, ao ser lançado em um programa que exalta sua força militar e seu físico, acaba limpando sua própria barra. Com diferenças bastante claras em relação à trama original, o filme conquistou certo reconhecimento e ultrapassou a marca de 38 milhões de dólares em bilheteria mundial. Já o diretor de Todo Mundo Quase Morto (2004) e Em Ritmo de Fuga, Edgar Wright, investiu seu tempo e talento para apresentar às novas plateias uma versão mais fiel e verossímil do enredo de King.

Estrelado por Glen Powell, o novo longa acompanha a jornada de um homem que, enfrentando o desemprego e a doença da filha, acaba cedendo à pressão da emissora e do produtor Dan Killian (Josh Brolin) para participar do reality show mortal The Running Man, ainda que sua esposa suplique para que ele não entre na competição.

Crédito de Imagens: Ross Ferguson/ © 2025 PARAMOUNT PICTURES. ALL RIGHTS RESERVED. PARAMOUNT PICTURES. ALL RIGHTS RESERVED.
Durante a apresentação do programa, notas de dinheiro são jogadas pelo palco e elas evidenciam o rosto do ator e astro de ação Arnold Schwarzenegger, protagonista da primeira adaptação.

O show consiste em fazer com que três concorrentes a um prêmio milionário tentem permanecer vivos por um mês inteiro sem serem denunciados pelas pessoas. Eles precisam enviar vídeos constantes de si mesmos para que o público saiba que ainda estão vivos e cumprindo a tarefa, garantindo assim que a conta bancária de cada um receba os valores estipulados. No fim, apenas um deles voltará para casa. Ben Richards (Glen Powell), Tim Jansky (Martin Herlihy) e Jenni Laughlin (Katy O'Brian) recebem essa missão e devem fugir de caçadores mortais para se tornar o vencedor.

Tim é um homem frágil, de aparência comum, que cai na armadilha do programa ao tentar marcar um encontro, e acaba sendo o primeiro a ser abatido.  A forte e ousada Jenni Laughlin também se deixa seduzir pelo brilho e pela fama, mas não resiste à batalha. Já Richards, a aposta da emissora desde o início, entra no jogo de maneira menos estúpida e tenta sobreviver como pode para conseguir voltar para casa. No caminho, cruza com taxistas babacas e muita gente disposta a denunciá-lo, mas também encontra aqueles que resistem ao controle da mídia e têm disposição para ajudá-lo, como o pequeno Stacey (Angelo Gray) e seu irmão Bradley (Daniel Ezra).

Richards também conhece o revolucionário Elton Perrakis (Michael Cera), já nos momentos finais da caçada, o que o ajuda a persistir. Mas é ao encontrar a patricinha Amelia Williams (Emilia Jones) que ele consegue trazer clareza à situação, fazendo com que pessoas privilegiadas tenham noção do que realmente acontece. Richards sente na pele que o país está completamente corrompido e que quem controla esse caos são os poderosos. Mesmo que tente transmitir essa realidade por meio das fitas que envia, isso se torna impossível, pois os produtores alteram suas mensagens para distorcer sua imagem e fazer com que o público torça por sua morte.

O apresentador do programa, Bobby T (Colman Domingo), está sempre presente, manipulando a audiência e estimulando o julgamento dos participantes. Entre os caçadores letais, Evan McCone (Lee Pace) é responsável por apertar o gatilho e eliminar cada um dos concorrentes. Com Richards, McCone protagoniza um embate intenso e decisivo para o destino de ambos.

Trailer



Ficha Técnica
Título Original e Ano: The Running Man, 2025. Direção: Edgar Wright. Roteiro: Michael Bacall e Edgar Wright - baseado no livro de Stephen King "O Concorrente". Elenco: Glen Powell, Josh Brolin, Colman Domingo, Lee Pace, Jayme Lawson, William H. Macy, Michael Cera, Sandra Dickinson, Alyssa Benn, Sienna Benn, Sean Hayes, Emilia Jones, Angelo Gray, Julia Cumming, Kathy O'Brian, Martin Herlihy, Deby Mazar. Gênero: Ação, Aventura, Suspense, Scifi, Distopia, Adaptação. Nacionalidade: Reino Unido e Estados Unidos da América. Trilha Sonora Original: Steven Price. Fotografia: Chung-hoon Chung. Edição: Paul Machliss. Design de Produção: Marcus Rowland. Direção de Arte: Grant Bailey. Figurinista: Julian Day. Empresas Produtoras: Complete Fiction, Genre Films, Paramount Pictures. Distribuidora: Paramount Pictures Brasil. Duração: 2h13min. Classificação: 18 anos. 

O filme que Wright entrega é muito mais fiel ao livro do que a produção oitentista de Glaser, já que naquela adaptação o protagonista tentava apenas ser um herói e limpar sua ficha - nem sequer possuía família ou uma filha doente. No livro, o final é marcado por uma tragédia em que Richards lança um avião contra a torre da emissora. Diante dos eventos de 11 de setembro, em 2001, seria impossível reproduzir fielmente tal desfecho, mas o personagem passa o filme ameaçando “explodir tudo ali” caso os produtores não se revelem ao público - algo que, de qualquer forma, jamais aconteceria. Ainda assim, o nome de Richards vai gradualmente ganhando status de símbolo revolucionário, e pichações com a frase “Richards Vive!” começam a incendiar o país. Em seu ato derradeiro, aqueles que já não suportam ser manipulados confrontam os ideais de Killian para o futuro do programa e também de suas vidas.

O blockbuster entrega uma crítica social sólida, muito mais alinhada ao que o autor imaginava no original. A força da mídia e das propagandas com intenções covardes de manter a população afastada de um desenvolvimento mais justo é, no fim das contas, o grande vilão do filme. E aqueles que parecem ser apenas caçadores revelam que, na verdade, também já foram caçados anteriormente.


Crédito de Imagens: Ross Ferguson/ © 2025 PARAMOUNT PICTURES. ALL RIGHTS RESERVED. PARAMOUNT PICTURES. ALL RIGHTS RESERVED.
O filme se passa nos Estados Unidos da América, mas foi rodado no Reino Unido e ainda tem passagem pela Bulgária

Se no filme com Schwarzenegger a tecnologia já existia, mas em um nível ainda limitado, aqui encontramos um mundo profundamente transformado pela IA, no qual celulares, telões e a força da internet evidenciam como a comunicação pode ser usada para manipular todos e todas de forma clara e potente. É preciso coragem para não se deixar abater e continuar resistindo. Além disso, o protagonista precisa lidar com milhões de pessoas ao seu redor que agem como verdadeiros robôs do sistema, tornando-se armas perigosas contra a verdade.

Glen Powell, apadrinhado por Tom Cruise desde "Top Gun: Maverick" (Joseph Kosinski, 2022), tem seguido firmemente seu desejo de se tornar um astro e brilhou em "Assassino por Acaso" (Richard Linklater, 2023). Filme este que lhe rendeu uma ótima performance, uma que inclusive convenceu Stephen King de que Powell seria o oposto ideal de Schwarzenegger para reviver a trama nas telas. E ele de fato alcança lugares mais profundos do que a adaptação anterior - ainda que a obra não traga o final original do livro. O ator, que recebeu a benção do Exterminador do Futuro para reviver o personagem, já tem mais três filmes em pré-produção e dois em pós, além de ter estrelado este ano a série da Hulu Chad Powers: O Quarterback. Powell trilha um caminho diverso, mas sempre olhando para ação como seu norte.

Edgar Wright não entregava algo tão grandioso desde "Noite Passada em Soho" (2021), embora tenha produzido a série animada Scott Pilgrim para a Netflix, tão bem recebida quanto seu filme de 2010 "Scott Pilgrim Contra o Mundo". Aqui, Wright estabelece uma parceria sólida com Powell e permite que o ator brilhe. Apesar das mais de duas horas de duração, o diretor mantém a audiência atenta aos passos e à jornada do protagonista. Os coadjuvantes são fortes e enriquecem o filme: Lee Pace, Colman Domingo e Josh Brolin demonstram que Francine Maisler e Kharmel Cochrane sabem como ninguém montar um elenco. E o trabalho dos atores dão realmente um sabor extra à produção.

O Sobrevivente é moderno, high-tech, sustentado por ideias revolucionárias, mas acaba sendo, inevitavelmente, engolido pelo próprio formato de “filme pipoca”. E tudo bem.

Avaliação: Três corridas desgastantes para o progresso (3/5).

HOJE NOS CINEMAS

Silvio Santos Vem Aí

 
O ano é 1989 e, após mais de 20 anos de ditadura militar, o Brasil terá, enfim, uma eleição direta para presidente. Entre os candidatos mais fortes estão políticos famosos como Lula, Brizola, o outsider Collor e Silvio Santos (interpretado por Leandro Hassum). A polêmica e histórica disputa à presidência pelo animador de televisão é o fio condutor da narrativa de nova cinebiografia sobre o maior apresentador e animador de plateias do Brasil - ele que já foi tema de série (O Rei da TV, Marcus Baldini, André Barcinski, Ricardo Grynszpan, 2022-2023) e filme (Silvio, Marcelo Antunez, 2024).

"Silvio Santos Vem Aí!" exibe um recorte de um momento específico da jornada do patrão de Lombardi e ao invés de tentar destrinchar os mistérios envolvendo sua vida privada, se atenta a alimentar o mito por trás do homem. Durante o inicio de sua carreira, Senor Abravanel, nome real do artista, manteve nebuloso tanto para a imprensa quanto para o seu público detalhes importantes sobre seu eu particular, principalmente, o seu passado, à la Cidadão Kane, como citado verbalmente pela personagem Marília (Manu Gavassi) para descrever a situação.

"Silvio Santos Vem Aí!" apresenta um recorte de um momento específico da trajetória do patrão de Lombardi e, em vez de tentar desvendar os mistérios que envolvem sua vida privada, concentra-se em alimentar o mito por trás do homem. No início de sua carreira, Senor Abravanel - nome real do artista - manteve nebulosos, tanto para a imprensa quanto para o público, detalhes importantes sobre sua vida pessoal, especialmente seu passado. O que remete "à la Cidadão Kane", como a personagem Marília (Manu Gavassi) cita ao descrever a situação. Marília integra a equipe do partido que tenta descobrir todos os “podres” da vida de Senor antes que os adversários o façam e usem essas informações contra ele na campanha eleitoral. O filme oferece uma breve visão de como funcionam os bastidores de uma corrida eleitoral, com todas as suas reviravoltas. Ao longo de todo o longa, acompanhamos a tentativa obstinada da personagem de enxergar além da persona que lhe é apresentada. No entanto, todas essas tentativas fracassam, pois, nas entrevistas, ela recebe apenas respostas vagas e envoltas em misticismo.

                                                  Crédito de Imagens: Paris Filmes/ Divulgação
A candidatura de Silvio Santos foi oficializada pelo "Partido Municipalista Brasileiro" em outubro de 1989 e cassada pelo Tribunal Superior Eleitoral em novembro do mesmo ano com a justificativa de inválida, devido ao partido ser ilegal.

Nesse sentido, há muito mais uma preocupação em prestar homenagem a uma figura histórica da televisão brasileira do que, de fato, em explorar os pormenores das motivações que levam um homem bilionário a concorrer à presidência. E há ainda menos intenção de abordar os detalhes minuciosos da disputa. Tudo permanece muito vago, sem grandes aprofundamentos e, pior: muitas vezes redundante em seu discurso.

A sensação é que a figura de Silvio está sobrando por trás de um plot muito mais interessante que nunca é plenamente desenvolvido. Pode-se traçar a acusação de que se trata de um filme chapa branca, mas este pende muito mais para o campo da homenagem e da admiração, quase idealizada da figura em pixels por trás do empresário e multimilionário. Todos os assuntos sensíveis são sempre tratados dessa forma: lírica, desprendida e romantizada.

A maior prova dessa visão, da direção assinada por Cris D'Amato, e também do roteiro de Paulo Cursino, é que o filme termina de forma abrupta sem concluir o arco que iniciou. Historicamente sabemos que Silvio desistiu da eleição e não mais se interessou por política desde então, mas ao invés de mostrar isso em tela os criadores permanecem na zona romantizada da situação e perdem a chance de dar camadas adicionais ao texto e aos personagens. A atuação de Hassum chama atenção em momentos mais sérios e sóbrios dentro do filme e tenta ao máximo emular os maneirismos que marcaram a figura de Silvio na TV.


Trailer





Ficha Técnica 
Título Original e Ano: Silvio Santos Vem Aí. 2025. Direção: Cris D’Amato. Roteiro: Paulo Cursino. Elenco: Leandro Hassum, Manu Gavassi, Marcelo Laham, Regiane Alves, Gabriel Godoy, Hugo Bonemer e Vanessa Giácomo. Gênero: Drama, Biografia. Nacionalidade: Brasil. Direção de Fotografia: Hélcio Alemão Nagamine. Direção de Arte: Magherita Pennacchi. Figurino: Gabriella Marra e Gabriela Monnerat. Caracterização: Simone Batata. Som Direto: Lia Camargo. Supervisão Musical e Música Original: Beto Villares. Edição e Mixagem de Som: Ricardo Cutz. Montagem: Bernardo Pimenta. Direção de Produção: Rodolfo Grec. Produção de Elenco: Alessandra Tosi. Produção Executiva: Laura Boorhem, Eduardo Nasser. Produzido por: Marcio Fraccaroli, André Fraccaroli, Veronica Stumpf. Produção Associada: Rodrigo Castellar e Adrien Muselet. Coprodução: Simba Content, Claro. Apoio: FSA/BRDE/Ancine (+bandeira nacional). Produção: Paris Entretenimento. Distribuição: Paris Filmes Duração: 01h31min.

Silvio Santos Vem Ai! é uma realização idealizada em torno da vida, carreira e mistérios envolvendo o Homem do Baú. A produção presta uma bonita homenagem sem entrar demais em tópicos sensíveis e apesar de ter um pano de fundo que renderia um excelente thriller político, parece covarde demais para adentrar em suas espinhosas possibilidades.

EM EXIBIÇÃO NOS CINEMAS

sexta-feira, 7 de novembro de 2025

Começa amanhã o Lumen Festival de Cinema Independente do Rio de Janeiro


 
A primeira edição do Lumen Festival de Cinema Independente do Rio de Janeiro começa amanhã, 8 de novembro, e transforma o Rio de Janeiro em um dos principais pontos de encontro do cinema independente mundial. O evento, inteiramente gratuito, acontece até o dia 15 de novembro, ocupando o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB RJ), a Cinemateca do MAM, o Estação NET Rio e o CineTeatro Gomeia Galpão Criativo, em Duque de Caxias. Em dezembro, o festival segue para Brasília, com sessões no Cine Brasília, entre os dias 5 e 7.

Com produções vindas de mais de 20 países e passagens por festivais como Locarno, FIDMarseille, TIFF, NYFF, Berlinale, BAFICI, Karlovy Vary e True/False, o Lumen estreia no calendário brasileiro apresentando uma seleção que atravessa fronteiras entre ficção, documentário e ensaio. A programação inclui longas, médias e curtas-metragens nacionais e internacionais divididos em sete mostras, com uma exclusiva de produções realizadas na Baixada, além de debates, masterclass e uma retrospectiva de Guto Parente.

Entre os destaques estão filmes de grandes nomes do cinema independente, como Rita Azevedo Gomes, James Benning e Alex Cox, e de novas vozes que vêm se afirmando no circuito internacional, como Rhayne Vermette, Camilo Restrepo, Tato Kotetishvili, Hikaru Uwagawa e Lorena Alvarado, além de uma forte presença do cinema brasileiro, com obras de Maria Clara Escobar, Fábio Rogério, Guto Parente, Lucca Girardi, Renan Rovida e Ramon Coutinho, entre outros.

“O Lumen é um espaço para cineastas que, por diversos motivos, não chegam ao grande circuito ou aos cinemas de modo geral. Nossa proposta é levar filmes independentes para todo tipo de público”, afirma o curador e co-diretor do festival Pedro Tavares. “A seleção da primeira edição garante um panorama mundial do que é feito no cinema além das salas comerciais. Filmes de diversos países, entre diretores consagrados e iniciantes, que passaram em grandes festivais ou em nenhum. O importante para nós é levar este cinema às pessoas, apresentar ao público que existe um cenário além do que conhecemos das salas de cinema de arte e que, aos poucos, estes cineastas ganhem seu devido reconhecimento", diz.

A sessão de abertura acontece amanhã, às 20h, na Cinemateca do MAM, e traz o longa Morte e Vida Madalena, de Guto Parente, e o curta Em Busca de S., de Gustavo de Mattos Jahn. Exibido no FIDMarseille, o longa venceu o prêmio da crítica no Festival de Brasília 2025 e acompanha uma produtora à beira do parto tentando concluir o filme de ficção científica deixado pelo pai recém-falecido. Já o curta de Jahn, inédito no Rio, amplia o olhar sobre o cinema como gesto de criação e memória.

Além das exibições, o Lumen Indústria, que acontece no dia 14 de novembro, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB RJ), promove um espaço de encontros, painéis e atividades voltadas ao fomento do cinema independente e à troca de experiências entre realizadores, programadores e profissionais do audiovisual.

Sobre o Lumen
O Lumen – Festival de Cinema Independente do Rio de Janeiro tem como objetivo trazer ao público produções independentes que dificilmente encontram espaço nos circuitos tradicionais, além de promover encontros, masterclasses e debates para troca de ideias e experiências sobre o tema.

Com direção de Pedro Tavares, Waleska Antunes e Gabriel Papaléo, o evento ainda conta com Raphaela Leite, Pedro Gonçalves Ribeiro, Alice Godoy, João Pedro Santos e Fernanda Eda Paz em sua equipe.

O evento acontece de 8 a 15 de novembro no Rio de Janeiro, com uma itinerância em Brasília de 5 a 7 de dezembro. A programação é gratuita.

O Lumen é produzido pela 7 a 1 Filmes e pela Primeiro Andar, em parceria com Gomeia Galpão Criativo, Filmchief, Embaúba Filmes, Grupo Estação, PitchLab e Abraccine.
Conta com apoio institucional do Centro Cultural Banco do Brasil, Cinemateca do MAM, Cinemateca Brasileira, Sociedade Amigos da Cinemateca, Cine Brasília, Box Cultural e da Secretaria de Cultura e Economia Criativa, e com o apoio de divulgação do Canal Curta!, Canal Like e Wam Publicidade.

SERVIÇO
 
Lumen Film Festival 2025
Rio de Janeiro: 8 a 15 de novembro
Brasília: 5 a 7 de dezembro
Lumen Indústria: 14 de novembro — Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro
 
Programação gratuita
Mais informações: lumenfilmfestival.com
Instagram: @lumenfilmfestival

Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro
Rua Primeiro de Março, 66, Centro, Rio de Janeiro (RJ)
Contato: 21 3808-2020 | ccbbrio@bb.com.br
Mais informações em bb.com.br/cultura
Siga o CCBB nas redes sociais:
facebook.com/ccbb.rj | instagram.com/ccbbrj | tiktok.com/@ccbbcultura
Funcionamento: De quarta a segunda, das 9h às 20h (fecha às terças).
Atenção: Domingos, das 8h às 9h – horário exclusivo para pessoas com deficiências intelectuais e/ou mentais e acompanhantes (Lei Municipal nº 6.278/2017)

Cinemateca MAM Rio
Av. Infante Dom Henrique, 85, Aterro do Flamengo, Rio de Janeiro (RJ)
Contato: 21 3883-5600
Mais informações: mam.rio/cinemateca
Instagram: @mam.rio

Estação NET Rio
Rua Voluntários da Pátria, 35 – Botafogo, Rio de Janeiro (RJ)
Contato: (21) 2146-7975
Mais informações: grupoestacao.com.br
Instagram: @estacaonetdecinema

CineTeatro Gomeia Galpão Criativo
R. Dr. Lauro Neiva, 32, Jardim Vinte e Cinco de Agosto, Duque de Caxias (RJ)
Contato: gomeiagalpao@gmail.com
Mais informações: gomeia.com.br
Instagram: @gomeiagalpaocriativo

quinta-feira, 6 de novembro de 2025

Predador: Terras Selvagens. de Dan Trachtenberg | Assista nos Cinemas



No mais novo filme da franquia temos um jovem renegado Predador chamado Dek Yautja (Dimitrius Schuster Koloamatangi), lutando para matar um monstro que supostamente não pode ser morto e provar o seu valor para o seu povo. Nessa jornada em um planeta desconhecido ele encontra uma robô humanoide hiper-realista chamada Thia (Elle Fanning), que está sem as suas duas pernas. Ela se oferece para agir como uma ferramenta para Dek se utilizando de seu conhecimento sobre o Planeta Genna para tornar a jornada dele mais fácil. Ele, por sua vez, passa a carregá-la para todos os lados literalmente como faria com uma ferramenta, com a diferença crucial de que Thia não para de falar em momento algum.

Thia está em busca de encontrar sua "irmã" Tessa (também interpretada por Elle) e cumprir os objetivos da empresa Weyland-Yutani que foi quem trouxe os androides para aquele planeta e à qual Thia chama de "mãe". Essa é a mesma empresa que financia as expedições que ocorrem nos filmes da franquia Alien que começou com o clássico "O Oitavo Passageiro", em 1979, de Ridley Scott. As intenções em explorar recursos nunca são as melhores, mas como já era de se esperar as coisas não saem como planejado e a relação que surge entre Thia e o Predador (graças a sua capacidade de ter emoções) coloca em cheque sua habilidade de completar a missão.

A química entre os atores é a alma do filme. O tom bem-humorado de Thia contrastando com o mal humor de Dex rende ótimos momentos de alívio cômico e faz com que os espectadores criem uma conexão imediata com o dilema deles. A adição da personagem apelidada por Thia de "Bud" (Rohinal Nayaran) acrescenta ao desenvolvimento dos personagens e é uma peça chave dentro da narrativa.

Crédito de Imagens: © 2025 20th Century Studios. All Rights Reserved.
O filme caminha sozinho dentro da Franquia "Predador", náo tendo relação direta com "O Predador? A Caçada"(2022, Dan Trachtenberg)


A direção de Dan Trachtenberg é sagaz e cria o ambiente alienígena do filme através de uma mescla muito interessante de elementos familiares do que seria uma selva ou floresta na terra e elementos exóticos, sempre apostando em cenas de batalhas em campo aberto e usando essas cenas para trabalhar o vínculo dos personagens. Quem assiste ao filme nunca se esquece de que está em outro mundo e isso pouco tem a ver com animais de espécies exóticas em CGI e sim com uma construção inteligente dos elementos de cada cena.

O roteiro assinado por Patrick Aison entende como nunca seus próprios clichês e evita se alongar nas conclusões óbvias de seus temas, minimizando, dessa forma, seus pontos fracos. O ritmo fluído do longa-metragem se explica numa dosagem equilibrada entre cenas que envolvem o drama individual dos personagens com takes de ação e batalhas onde feras alienígenas aparecem, sem pesar nem para um lado, nem para outro. O texto também é inteligente ao escolher um recorte do mundo que aborda, deixando o espectador na curiosidade sobre tudo que ainda pode existir.

Trailer



Ficha Técnica
Título Original e ano: Predator: Badlands. 2025 Direção: Dan Trachtenberg. Roteiro: Dan Trachtenberg & Patrick Aison - baseado nos personagens criados por  Jim Thomas e John Thomas. Elenco : Elle Fanning, Dimitrius Schuster‑Koloamatangi,Rohinal Nayaran, Cameron Brown, Michael Homik. Gênero: Ação, Ficção Científica,  Aventura. Nacionalidade: Estados Unidos da América. Trilha Sonora Original: Sarah Schachner, Benjamin Wallfisch. Design de Produção: Ra Vicent.  Direção de Arte: Andy McLaren e Adam Wheatley. Figurino: Ngila Dickson. Fotografia: Jeff Cutter. Edição: Stefan Grube e Dan Trachtenberg. Distribuidora no Brasil: 20th Century Studios. min. Duração:  Classificação Indicativa: 16 anosh

Predador: Terras Selvagens é um longa fluído, divertido e com personagens muito carismáticos conduzindo o fio da narrativa, muito pelo mérito dos atores que estão para lá de à vontade em seus respectivos papéis. As cenas de ação entregam entretenimento na dose certa e a construção de mundo é feita de forma inteligente e dinâmica e deixa um gostinho de quero mais. O filme desenvolve muito bem todos os seus temas e termina com um gancho para uma outra aventura em um mundo alienígena que certamente ainda tem muito o que oferecer.

HOJE NOS CINEMAS