quinta-feira, 28 de agosto de 2025

Os Roses - Até Que A Morte Os Separe, de Jay Roach

 
Quando o livro A Guerra dos Roses, de Warren Adler, chegou às prateleiras em 1981, o mundo era outro, logo, consequentemente, as relações matrimoniais também. Na obra, Oliver e Barbara Rose representam o padrão do casal da época: ele, um advogado de sucesso; ela, dedicada ao papel de mãe e dona de casa. Tudo muda quando Oliver sofre um enfarte quase fatal e Barbara percebe que já não nutre qualquer sentimento por ele. Decidida a pôr fim ao casamento, já também após conquistar seu espaço como chefe de um buffet, impõe uma condição: não abrirá mão da casa que ambos construíram. O best-seller ganhou adaptação cinematográfica em 1989, dirigida por Danny DeVito, que também atua no longa. Com um tom cômico e repleto de sátiras, o filme (disponível no Disney+) mostra como duas pessoas que um dia se amaram podem se transformar em rivais implacáveis, engalfinhando-se para decidir quem ficará com "o bem mais valioso" da relação: a casa onde vivem. 

A trama ganha uma reinterpretação brilhante em "Os Roses - Até Que A Morte Os Separe", com a oscarizada Olivia Colman e o indicado ao Oscar Benedict Cumberbatch assumindo os papéis que um dia foram de Michael Douglas e Kathleen Turner. Sob o olhar de Jay Roach (O Escândalo, 2019) e com roteiro de Tony McNamara (Pobres Criaturas, 2024), a história ganha nova vida ao ser atualizada para os dias de hoje, dialogando diretamente com os debates contemporâneos sobre os papéis femininos e masculinos na sociedade. Aqui, Theo, um arquiteto renomado e metódico, conhece Ivy, uma talentosa chef de cozinha. Ambos ingleses, se apaixonam após uma relação intensa e logo decidem formar uma família, mudando-se para a Califórnia, nos Estados Unidos. Com os filhos, Ivy dedica-se ao afeto e à comida caseira, enquanto Theo impõe regras rígidas, chegando a vetar até o consumo de açúcar. A vida parece estável: ele mergulhado em seus projetos e ela à frente de um pequeno restaurante especializado em caranguejos. No entanto, tudo muda quando uma tempestade destrói o grande projeto da carreira de Theo, deixando-o sem emprego e sem prestígio. Quase simultaneamente, Ivy recebe a visita de uma crítica gastronômica, cuja avaliação excepcional transforma seu restaurante em sucesso imediato. De repente, ela se torna uma chef aclamada, requisitada em outros estados, trazendo mais dinheiro e notoriedade para a família. Esse sucesso, contudo, a distancia dos filhos justamente no início da adolescência, forçando Theo a assumir o papel que nem sempre assisti-se os homens ganhar e ficando próximo as crianças diariamente. Sob sua disciplina rígida, a garotada rapidamente muda: adotam dietas, praticam exercícios e se preparam com afinco para universidades e cursos que prometem levá-los ainda mais longe. O sucesso de Ivy traz consigo dinheiro para que eles construam uma super e confortável casa para a família em um desenho idealizado e tocado por Theo, afinal sua carreira degringolou e ele não conseguiu superar facilmente a vergonha nas redes. Os amigos do casal, Amy e Barry, vividos por Kate Mckinnon e Andy Samberg, ficam bestificados com o lugar e todos também adoram.

Embora tudo pareça perfeito, Theo percebe que já não sente afeto por Ivy. Mesmo com tentativas de resgatar a relação - como viagens de última hora - nada mais se encaixa, e a separação parece inevitável. O impasse, porém, se torna ainda mais doloroso quando Ivy, apesar de não querer o fim do relacionamento, também se vê inclinada a desejar a ruptura. A partir daí, o casal mergulha em um verdadeiro pesadelo de farpas, ressentimentos e até violência, cada um tentando forçar o outro a deixar a casa. Com os filhos já distantes, focados em seus estudos, a relação entra em colapso definitivo. Nem mesmo a terapia é capaz de salvar aquilo que, no fundo, nenhum dos dois tem vontade real de reconstruir. 

O ex-Doctor Who Ncuti Gatwa integra o elenco ao lado de Allison Janney e Sunita Mani. Gatwa interpreta Jeffrey, um dos dedicados ajudantes do restaurante, enquanto Sunita dá vida a Jane, que também assiste Ivy em sua equipe. Já Allison Janney assume o papel de uma advogada implacável, contratada por Ivy no momento decisivo do divórcio.

Crédito de Imagens: Courtesy of Searchlight Pictures. © 2025 Searchlight Pictures All Rights Reserved.
No filme de Danny DeVito, a trama ganha um narrador, já no longa de Roach, o filme se apresenta como uma narrativa mais direta e realista

O filme é, de fato, muito bem escrito, com atuações marcantes (que elencão!) e uma atualização precisa para os dias de hoje. Ambientado em um contexto pós-pandemia, ganha ainda mais relevância ao dialogar com questões atuais sobre os papéis que as mulheres assumem - muitas vezes não aceitos ou sequer compartilhados pelos homens - e sobre a dificuldade masculina em lidar com o sucesso e a autonomia de suas parceiras. A primeira adaptação já explorava esse tema de forma pontual, mas é aqui que ele realmente se expande e ganha corpo. Além disso, as diferentes fases da relação são retratadas com mais profundidade, e há uma sensibilidade maior ao abordar a culpa que muitas mulheres carregam por se distanciarem dos filhos para seguir seus sonhos.

Em alguns momentos, se assiste as hilárias tentativas de Amy (McKinnon) de fazer com que Theo traia a esposa, mas nada real acontece. Tais cenas apresentam o trabalho consistente de Cumberbatch que constrói um personagem com pequenas integridades e nuances raras na representação de um pai dedicado - claro, proposta pela eventualidade da perda do emprego. O ator, dois anos mais jovem que Colman (49 contra 51), carrega uma sólida formação teatral e shakespeariana, algo perceptível em praticamente todos os seus papéis. Já Colman, com uma extensa carreira dramática na televisão e no cinema britânico, conquistou seu primeiro Oscar recentemente pelo filme de Yorgos Lanthimos "A Favorita (2018)". Juntos, Cumberbatch e Colman conseguem com vigor fazer o público rir, se emocionar e ficar espantado com as peripécias de um casal que não tem nada de "floral". Química e talento em tela. É de se maravilhar!

Trailer



Ficha Técnica 

Título Original e ano: The Roses, 2025. Direção: Jay Roach. Roteiro: Tony McNamara (baseado no romance de Warren Adler. Elenco: Benedict Cumberbatch, Olivia Colman, Andy Samberg, Allison Janney, Sunita Mani, Ncuti Gatwa, Kate McKinnon, Belinda Bromilow, Jamie Demetriou, Zoë Chao. Gênero: Comédia, Sátira, Remake. Nacionalidade: EUA, Reino Unido. Fotografia: Florian Hoffmeister. Edição: Jon Poll. Trilha Sonora Original: Theodore Shapiro. Figurino: PC Williams. Design de Produção: Mark Ricker. Direção de Arte: Kevin Timon Hill. Produtoras: Garden Studios, Adler Entertainment Trust, South of the River Pictures, SunnyMarch. Distribuidora: Searchlight Pictures. Duração: 1h45min.

Com uma fotografia cheia de tons quentes e vivos, uma edição acentuada e certeira, o longa vem com uma trilha sonora que aparece aqui e ali e se inicia, aliás, ao som de "Happy Together" (The Turtles, 1967), na voz de Susanna Hoffs (esposa do diretor) e Rufus Wainwrighte estabelece um tom encantador para aquela que se revela uma das estreias imperdíveis da semana.

HOJE NOS CINEMAS 

quarta-feira, 27 de agosto de 2025

C.I.C. - Central de Inteligência Cearense, de Halder Gomes


A C.I.C. é uma agência governamental secreta onde atua Wanderley, vulgo Karkará, vivido por Edmilson Filho. Ele é designado para uma missão “super-hiper-mega-ultra secreta”, encarregado de salvar o Brasil de uma ameaça misteriosa após a morte de um cientista nacional que trabalhava em um projeto tão enigmático que nem mesmo a própria agência sabe exatamente do que se trata. Essa é a premissa de C.I.C. – Central de Inteligência Cearense, uma comédia brasileira escrachada e absurdista, sem qualquer compromisso com a seriedade.

O estado do Ceará tem no humor um patrimônio turístico identitário. Essa construção social da comédia cearense como algo marcante da cultura de um povo passa pelos eventos ocorridos na Praça do Ferreira, onde se popularizaram as famosas vaias cearenses e também o hábito de se reunir em grupos para contar as patotas (mentiras absurdas) no dia primeiro de abril. Por exemplo, em 1922 como forma de protesto pela corrupção e desigualdade, um bode chamado "Ioiô" foi eleito vereador na cidade de Fortaleza e virou uma celebridade. Esses eventos inusitados são a prova de que a manifestação do humor não é apenas vão entretenimento, mas esteve presente em protestos e na construção da história da cidade de Fortaleza e do estado do Ceará. 

                                  Crédito de Imagens: Paris Filmes / Divulgação
Halder Gomes e Edmilson Filho já são parceiros de longa data e trabalham juntos mais vez


Dentro desse contexto sociocultural, o filme não tem receio de colocar seus personagens em situações ridículas e rir de si mesmo, abraçando as cenas de luta mais insanas e inusitadas possíveis. Os diálogos são afiados e traduzem bem a irreverência e a alegria do povo brasileiro. Lutas em cima de um avião em pleno voo se transformam em um verdadeiro deleite do absurdo — afinal, quem se importa com a lei da gravidade? Nesse espírito, a direção de Halder Gomes entrega uma explosão de ação, com mãos biônicas, óculos ultrapotentes e golpes acompanhados por aquele barulho clássico de soco que parece saído direto de um desenho animado. Já a fotografia contrasta com o tom escrachado do roteiro ao oferecer visuais exuberantes do Ceará, conferindo escala continental e agregando beleza à narrativa.

Por falar em escala, apesar de ser uma trama brasileira, o longa surpreende ao colocar boa parte de seu elenco falando em espanhol, ou um portunhol enrolado. Temos aqui uma equipe que conta com o agente Karkará, o agente paraguaio e uma agente argentina trabalhando juntos para derrotar a organização criminosa chamada R.O.L.A. chefiada pela misteriosa Koorola (vivida por Tóia Ferraz). A vilã ainda conta com um brutamontes com corpo robótico, um exterminador do futuro à la Brasil. E para chocar um total de zero pessoas, o roteiro cria situações para alimentar a famosa rivalidade entre Brasil e Argentina sempre com muito humor e descontração. O agente paraguaio Romerito, vivido por Gustavo Falcão, está sempre na cola de Karkará e funciona como personagem de apoio. Enquanto Mikaela, vivida por Alana Ferri, a agente argentina, é o interesse romântico de Wanderley. 

As cenas na sede da C.I.C. tem o núcleo do chefe pragmático e terrivelmente fumante, que ironicamente se chama Espírito Santo (vivido por Nill Marcondes) e sua assistente de cabelo colorido, Divina (interpretada por Monique Hortolani) que é a nerd do grupo. A química da dupla se completa com a Inteligência Artificial da agência, Mazé - interpretada por Karla Karenina - que está sempre disposta a fazer comentários inconvenientes e constranger o protagonista. O algoritmo pode realmente ser muito divertido e até mesmo soltar uma vaia cearense no meio de suas piadas e comentários maldosos. A inserção de uma IA ácida e irônica foi uma sacada muito inteligente e deixou o filme ainda mais divertido. De forma geral, a interação do trio da C.I.C. com Wanderley sempre rende bons momentos e faz sátira dos clássicos filmes de espiões com escritórios de visuais ultra futuristas.

Trailer



Ficha Técnica 

Título Original e Ano: C.I.C - Central de Inteligência Cearense, 2025. Direção: Halder Gomes. Roteiro: Marcio Wilson. História Original: Edmilson FilhoElenco: Edmilson Filho, Alana Ferri, Tóia Ferraz, Gustavo Falcão, Nill Marcondes, Monique Hortolani, André Segatti e Valéria Vitoriano. Gênero: Comédia. Nacionalidade: Brasil. Direção de Fotografia: Carina Sanginitto. Direção de Arte: Juliana Ribeiro. Figurino: Chris Garrido. Caracterização: Emi Sato. Direção de Produção: Dayane QueirozSom Direto: Márcio Câmara. Edição de Som e Mixagem: Érico Paiva Sapão. Montagem: Helgi Thor. Trilha Sonora Original: Herlon Robson Braz. Produção de Elenco: Monice Mendes. Produção Executiva: Patricia Baía upex, Mariana Marcondes upex. Produzido por: Marcio Fraccaroli, Andre Fraccaroli, Veronica Stumpf. Produção Associada: Rodrigo Castellar, Adrien Muselet. Produção: Paris Entretenimento. Coprodução: Globo Filmes e Globoplay. Patrocínio: ECOTEC Brasil, Cajuína São Geraldo. Apoio: FSA/BRDE/Ancine. Apoio Cultural: Jaguaríndia Village, Jaguaribe Lodge & Kite. Distribuição: Paris Filmes. Duração: 01h41min. 14 anos

Em algumas cenas a sonoplastia fica prejudicada, mas nada que atrapalhe a experiência geral. Muitas vezes isso até mesmo contribui para o clima tresloucado da narrativa. O timing cômico também nem sempre tem o ritmo necessário, mas não chega a arruinar a imersão. Mesmo sendo irregular nesses aspectos, a produção consegue entregar o necessário para que a maioria das piadas funcionem em tela.

Embalado pelo contexto social e cultural do humor como patrimônio cultural cearense, o texto usa comédia escrachada para construir uma trama divertida de acompanhar, com diálogos afiados e atores que parecem se divertir enquanto atuam. C.I.C. é uma comédia que faz ode a uma cultura e também a amizade e pacifismo dos países da América Latina. Divertido de acompanhar, provavelmente vai arrancar muitas risadas nervosas para quem for fã do humor do absurdo.

28 de Agosto nos Cinemas

terça-feira, 26 de agosto de 2025

Guerreiras do K-POP, Chris Appelhans e Maggie Kang l Disponível Na Netflix

 
Mais uma excelente surpresa do estúdio Sony Picture Animation, que já tem em seu catálogo a saga do Aranhaverso (2018-2027)A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas (Mike Rianda, 2021) e o clássico Tá Dando Onda (Ash Brannon e Chris Buck, 2007), Guerreiras do K-POP (título nacional), é um deleite visual e usa e abusa de clichês para encantar. 

Dirigido por Chris Appenhans, que já tem o divertido Din e o Dragão Genial (2021) na conta, e Maggie Kang, que já trabalhou nos storyboards de Trolls (Mike Mitchell, 2016) e Minions 2: A Origem de Gru (Kyle Barda, 2022), e tem sua estreia na direção aqui, o filme acompanha Rumi (Arden Cho na voz original/ Analu Pimenta e Clara Portela na dublagem brasileira), Mira (May Hong na voz original e Vic Brow na dublagem brasileira) e Zoey (Ji Young Yoo na voz original e Taís Feijó na dublagem brasileira), que desejam proteger a humanidade de demônios, e farão isso cantando.

Rumi, é a líder das HUNTR/X, um trio de K-POP que, nas horas vagas, são caçadoras de demônios e buscam estender o domo dourado por todo o mundo, quando todos entrarem em sintonia. Mira, é a dançarina e a pessoa mais criativa do trio. Zoey, é a rapper e tem uma personalidade forte, muito determinada. Juntas elas fazem sucesso e estão perto de completar seu objetivo, mas os demônios preparam um contra-ataque.

Gwi-Ma, com voz original de Lee Byung-hun e perfomance de Guilherme Briggs na dublagem, é o rei dos demônios, ele é mostrado apenas como uma boca em chamas, mas ainda assim, ameaçador. Ele recebe uma oferta do demônio Jinu, voz original de Ahn Hyo-seop e dublagem de Thadeu Matos, para endossar uma boy band de demônios para tomar a atenção dos fãs e impedir que as Huntrix fechem o domo e impeçam os demônios de irem para a terra.

Crédito de Imagens: Divulgação/Netflix - Foto por NETFLIX - © 2025 Netflix
O filme se tornou a produção mais assistida da história da plataforma

De forma simples, o filme vai conduzindo a disputa pela atenção, pelo coração dos fãs, com muitas lutas bem coreografadas, a maioria delas usando do recurso de plano sequência de forma inteligente, com foco no movimento, na coreografia, mesclando as músicas com os movimentos.

Todas as músicas, tanto das Huntrix quanto dos Saja, grupo dos demônios, são excelentes e muito viciantes (escute aqui). Impossível não terminar o filme cantarolando alguma ou ir direto na plataforma de áudio para escutar de novo e de novo. São canções bem produzidas. Vale destacar que as vozes de canto das personagens são feitas por outras atrizes, EJAE é Rumi, Audrey Nuna é Mira, Rei Ami é Zoey e Andrew Choi é Jinu. 

O filme brinca com os clichês e os estereótipos dessas histórias, com o 'enemies to lovers', com montagens comumente encontradas em doramas, mescla estilo de animações cartunescas e 2D. É um deleite visual, como já dito, é um excelente entretenimento. Clichês são tão utilizados porque dão certo. Aqui funcionou mais uma vez.
 
Trailer
 

Ficha Técnica

Título Original e Ano: KPop Damon Hunters, 2025. Direção: Chris Appelhans e Maggie Kang. Roteiro: Danya Jimenez, Hannah McMechan, Maggie Kang, Chris Appelhans - com argumento original de Maggie Kang e escrita adicional de Bo Yeon Kim, Erika Lippoldt. Vozes Originais: Arden Cho, May Honh, Ji-young Yoo, Ahn Hyo-seop, Yunjin Kim, Ken Jeong, Lee Byung-hun, Daniel Dae Kim, Rumi Oak, EJAE, Audrey Nun, Rei Ami, Andrew Choi. Dublagem Brasileira: Clara Padilha, Taís Feijó Vic Brow, Thadeu Matos, Marcia Coutinho, Klayton Alegre, Alexandre Moreno, João Cappelli, Felipe Drummond, Guilherme Briggs, Marcus Eni. Nacionalidade: EUA, CANADA. Gênero: Animação, Aventura, Ação, Música Pop, Comédia. Trilha Sonora Original: Marcelo Zarvos. Fotografia: Gary H. Lee. Edição: Nathan Schauf. Direção de Arte: Celine DaHyeu Kim. Artista de Storyboard: Jerod Chirico, Alexandra Chiu, Guillermo Cuenca. Produtoras: Creative BC, Netflix, Sony Pictures Animation. Disponível na NetflixDuração: 01h35min. 10 anos
 DISPONÍVEL NA NETFLIX

Cup Noodles® apresenta campanha digital para o The Town 2025



Filme com Massacration e personagens icônicos da marca reforçam a presença do macarrão instantâneo oficial do festival nas redes

Apoiadora do The Town 2025, o maior festival de música, cultura e arte de São Paulo – que acontece em setembro no Autódromo de Interlagos – Cup Noodles® lança campanha digital para movimentar as redes sociais da marca e gerar conversa com seu público. 

Desenvolvida pela Dentsu Creative, a peça central da ação é uma paródia protagonizada pela banda Massacration, que já esteve em outras produções da marca. Nesta edição, os músicos dividem o palco com personagens já conhecidos de Cup Noodles® e Nissin Yakissoba U.F.O., Cupmanzinho e Ufão, com o objetivo de evidenciar os principais atributos dos produtos em um filme inédito, que combina música e humor. 

A narrativa aborda a facilidade de preparo de Cup Noodles® e dá destaque – em uma grande brincadeira – ao sabor Galinha Caipira, que integra o portfólio dos produtos das linhas de copo e de bandeja que serão comercializadas no festival. 

“Participar desta segunda edição do The Town com uma campanha digital fortalece nossa proximidade com os consumidores e mostra como Cup Noodles® e U.F.O. fazem parte da rotina e da diversão do público. Queremos levar essa experiência para dentro e fora do festival”, afirma Andressa Martins, gerente de Marca da NISSIN FOODS DO BRASIL. 

A campanha será veiculada entre os dias 25 de agosto e 14 de setembro nas plataformas digitais da marca, como YouTube, Instagram, Facebook e TikTok, e convida o público a mergulhar no universo de Cup Noodles® e Nissin Yakissoba U.F.O. antes mesmo do início do festival. A iniciativa amplia a conexão com os consumidores garantindo que ninguém fique de fora dessa experiência saborosa e divertida.

"Depois de invadir o Rock in Rio, chegou a hora do MassaCreation (o spin-off hardcore do Massacration) tomar conta do The Town 2025. Dessa vez, usamos a faixa Flight of the Chicken para lançar o sabor galinha caipira de Cup Noodles e U.F.O., que também estarão à disposição do público do festival quando bater aquela fome", comenta Ricardo Dolla, chief Creative Officer da Dentsu Creative.


Campanha Nissin no The Town 2025

Ficha Técnica – THE TOWN 2025

Anunciante: Nissin Foods Brasil Ltda. Produto: Cup Noodles + UFO. Campanha: THE TOWN 2025. Agência: Dentsu Creative. Chief Creative Officer: Ricardo Dolla. Diretor Executivo de Criação: Kojiro Tanoue e Hiroshi Yoda. Direção de arte: Marcelo Feltrin. Redação: Kojiro Tanoue e José Carvalho. Conteúdo: Viviane Teves Frohlich, Camila Nissim e Júlia Almeida. Produção: Juliana D’Antino e Indaiara Pelizario. BI: Silvia Visani, Bruno Honório, Camille Grillo, Diogo Cruz, Naiky Rigatos. Negócios: Bruno Panico, Reo Sakamoto, Marcella Sousa, Pamella Kacelnikas, Jennifer Areco e Jessica Correa. Mídia: Viviana Maurman, Carol Nunes, Gabriele Prospero, Leandro Lourenço. Aprovado por: Kosuke Hara, Ryosuke Takaya, Ana Fossati, Andressa Martins, Brenda Silva, Mariana Soares, Tatiana Curi e Tomohito Mitsuishi. Produtora: Fantástica Filmes. Direção de Cena: Dudu e Felipe Torres. Direção de Fotografia: Valentina Denuzzo. Assistência de Direção: Eloisa Mendes, Vinicius Camala. Produção Executiva Criativa: Marlon Klug. Produção Executiva: Herminio Vinholi Jr. Gerência de Projetos: Ana Maria Sequinel. Coordenação de Produção: Marina Rossignoli. Direção de Produção: Bernie Walbenny. Produção: Luiza Cabral. Direção de Arte: Ana Bona. Produção de Arte: Magno Oliveira Alves. Efeitos e props: Andrei Ceeze e Miniart . Elenco: Marco Antônio como “Metal Avenger”, Franco Fanti como “Red Head Hammett”, Felipe Torres como “Jimmy The Hammer”, Bruno Sutter como “Detonator”, Adriano Pereira como “Headmaster”, CupManzinho, Leonardo Munhoz como “Tonho” e Cristiano Gontijo como “Ufão”. Produção de Figurino: Carla Fescina. Caracterização: Gabi Moraes e Yaci Tata Lott. Assistência de Produção: Marcela Kozinski, Luiz Henrique Torrens. Pesquisa Criativa: Alessandra Labelle Duque. Coordenação de Pós-produção: Maguilla e Renata Petterlini. Montagem, Color Grading e finalização: Allan Carvalho. Clean up: Pedro Castello. Produtora de Som: Lucha Libre Audio. Produtor Musical: Paulinho Corcione e Danilo Barbalaco. Coordenador: Thacio Palanca e Fernanda Pires. Mixagem: Lucas Weingaertner. Produção Executiva: Thais Urenha e Vanessa Nascimento.

A NISSIN FOODS DO BRASIL é uma empresa do Grupo NISSIN FOODS e se consolidou no País como líder no segmento de macarrão instantâneo. Atualmente, fabrica 54 produtos para consumidores diretos no Brasil e 12 produtos para exportação. Com fábricas em Ibiúna (São Paulo) e Glória do Goitá (Pernambuco), investe sempre em boas práticas para satisfazer as necessidades de seus consumidores e melhorar continuamente seus produtos e serviços.

O Último Azul, de Gabriel Mascaro


PREMISSA REFRESCANTE

Ao completarem 75 anos de idade o governo brasileiro recolhe compulsoriamente todos os idosos e os enviam para casas de repouso conhecidas como "colônias" afim de que possam desfrutar de seus últimos anos de vida sob a tutela do Estado e dar aos parentes a tranquilidade necessária para seguir suas vidas e continuar trabalhando e produzindo. Essa é a premissa central do novo filme de Gabriel Mascaro, "O Último Azul". O longa nacional encantou a plateia e levou para casa o Leão de Prata e o Prêmio do Júri no Festival de Berlim. A película também está cotada para representar o Brasil no Oscar, pois já figura na lista prévia dos indicados a serem votados pela comitiva brasileira.

DA DISTOPIA AO MUNDO REAL

Uma distopia é uma história fictícia que se passa em um futuro próximo e que extrapola alguns elementos a fim de discutir problemáticas do presente. O roteiro assinado por Mascaro, em parceria com Tibério Azul, trata de um problema sério e urgente do mundo real: o envelhecimento acelerado da população. A medida em que a medicina avançou e doenças até então consideradas incuráveis começaram a ser tratadas, aliado a uma melhoria na qualidade de vida, a expectativa de vida da população mundial aumentou. Combinado a uma queda na taxa de natalidade devido ao acesso à educação, informação e aos meios contraceptivos, o mundo contemporâneo está assistindo a um envelhecimento sem precedentes da população e o início de crises nas previdências públicas.

Em 2022, o governo brasileiro divulgou os resultados do CENSO e foi constatado que, mesmo sem ter passado pelo processo de industrialização, a pirâmide demográfica do Brasil está se alterando. As pessoas idosas foram de 10,8% do total da população em 2010 para 15,6% do total em 2022, um aumento de 56% em pouco mais de uma década. Muito se discute sobre a crise na previdência ou sobre a queda no número de nascimentos e os efeitos que esses fatos podem gerar. Como exemplo de mundo distópico que trata desse tema, temos o livro que virou fenômeno, "O Conto da Aia, de Margareth Atwood", que retrata uma sociedade onde as pessoas estão estéreis e os nascimentos se tornam cada vez mais raros. Olhando para o outro lado da moeda, o filme de Mascaro, por sua vez, busca discutir os desafios de ser uma pessoa idosa em um mundo obcecado pela produtividade.

VIAJAR DE AVIÃO

Tereza, vivida aqui magistralmente por Denise Weinberg, é um membro produtivo da sociedade: tem casa, emprego e independência. Mas tudo isso vira de cabeça para baixo quando é chegada a idade e com ela, o momento de se mudar para as colônias. Ela percebe que passou a vida inteira trabalhando para criar a filha e não teve a oportunidade de viver experiências diferentes, como, por exemplo, viajar de avião. Nesse mundo hipotético, a partir do momento que recebem o ultimato do governo, as pessoas idosas perdem todos os seus direitos. Elas passam a precisar de autorização para fazer praticamente qualquer coisa da vida civil e também são recolhidas por "viaturas cidadãs" em caso de descumprimento, para serem enviadas a força para essas casas de repouso. Carros que Tereza apelida de "cata velhos".

Decidida a não ir, ela embarca em uma viagem solo em busca de realizar o seu sonho de voar de avião. Como está sendo procurada pelas autoridades, ela precisa viajar por meios alternativos e por conta disso se vê em muitas situações inusitadas e, por consequência, acaba por viver experiências únicas. No barco que a leva até a cidade vizinha, conhece Cadu (papel de Rodrigo Santoro), homem cheio de desilusões amorosas e que a ensina sobre o caracol que solta uma gosma azul que, ao ser pingada nos olhos, revela o futuro. O uso do psicotrópico revela para ela outras faces de Cadu. Nesse sentido o filme se preocupa em desconstruir o conceito de masculinidade tradicional. Esse primeiro contato serve para construir em Tereza a possibilidade de experimentar o novo, o desconhecido.

Crédito de Imagens: Desvia Filmes, Viking Filmes, Quijote Cine, Cinevinay/ Vitrine Filmes/Divulgação
Rodado na Amazônia, o filme é uma coprodução entre o Brasil, México, Chile e Países Baixos.


Ao cruzar o caminho de Ludemir (Adanilo) uma reviravolta desagradável se apresenta e o sonho de voar é colocado em cheque por prioridades mais urgentes, mais profundas. Nesse ponto o roteiro toma a decisão inteligente de focar na jornada e não no destino. Durante o filme é possível ver outdoors e propagandas diversas sobre como ir para as colônias "é maravilhoso". É sempre uma peça de propaganda, um letreiro luminoso, uma promessa vazia.

Existe aqui uma discussão palpável sobre jornada. A sociedade de forma geral tende a pensar que uma pessoa idosa já viveu tudo que há para se viver e que eles deveriam descansar e não dar mais trabalho. Porém a verdade é que estamos sempre aprendendo. Não importa a idade, o novo sempre se revela, inclusive para os mais velhos. Existe esse pensamento limitante de que uma idade avançada representa o começo do fim de uma vida, entretanto nas cores vívidas e paisagens vibrantes em tela o que vemos é um exuberante recomeço. 

COMUNICAR SEM DIZER

A fotografia de Guilhermo Garza não esconde nada da pobreza de regiões ribeirinhas, deixando claro a dura realidade de um povo em suas casas de palafitas (casas de madeira construídas dentro da água). Todavia, a paisagem ao redor, os rios, as matas e as árvores na jornada de Tereza comunicam uma beleza natural pulsante entrelaçada em harmonia com as ocupações humanas. A paleta e o contraste de cores saturadas são um deleite para os olhos. De repente o que, em uma visão menos atenta, poderia ser considerado feio, passa a ganhar um tom exótico e quase lírico. Construir casas levando em consideração as cheias e secas é, antes de tudo, a harmonia do homem com o mundo.

Essas escolhas cuidadosas da direção de arte fazem praticamente uma analogia entre a velhice da personagem em contraste com a sua resiliência, resultado em um quadro belo de coragem e audácia. Alguns enquadramentos e modos de filmar foram claramente pensados para realçar essa visão de beleza exótica e dar profundidade ao filme para além do texto. Não é apenas o diálogo que comunica: todos os elementos trabalham em sincronia para criar uma experiência visual e sonora completa.

A trilha sonora original de Memo Guerra, por vezes puxada por vocais graves trás em notas o tom de denúncia e a sensação de impotência vivida por Tereza ao mesmo tempo que sincretiza a mística vivida por ela em determinadas situações que envolvem sorte (ou azar). Não se trata de uma jornada para conhecer o mundo, mas sim para conhecer a si mesma. 

O DESPERTAR

Nas idas e vindas pelos rios e cidades amazônicas Tereza conhece Roberta (Miriam Socarrás), uma estrangeira que mora em um barco chamado Caridad. Ela apresenta a Teresa um novo modo de enxergar a vida para além das colônias ou do conforto de uma casa. Munida por essa coragem, ela busca os meios para tentar ir além do que foi programado para ela. Existem então dois caminhos: seguir o que foi planejado ou apostar no peixe mais exótico, se arriscar e viver o extraordinário. É nesse ponto que filme brilha ainda mais do que parecia ser possível.

Trailer


Ficha Técnica

Título Original e Ano: O Último Azul, 2025. Direção: Gabriel Mascaro. Roteiro: Gabriel Mascaro, Murilo Hauser e  Tibério Azul. Elenco: Denise Weinberg, Rodrigo Santoro, Miriam Socarrás e Adanilo. Gênero: Drama, Distopia, Ficção Cientifica. Nacionalidade: Brasil, México, Países Baixos e Chiles. Trilha Sonora Original: Memo Guerra. Fotografia: Guillermo Garza AMC. Edição: Sebastían Sepúlveda, Omar Guzmán. Produção: Desvia (Brasil), Cinevinay (México). CoProdução: Globo Filmes (Brasil), Quijote Films (Chile), Viking Film (Países Baixos). Produtores: Rachel Daisy Ellis, Sandino Saravia Vinay. Coprodutores: Giancarlo Nasi, Marleen Slot. Financiamento: Ancine FSA, BRDE, SUAT, Funcultura, Fundarpe, Secretaria de Cultura de Pernambuco, Banco do Brasil, EFICINE, Actinver, Focine/Foprocine, Fondo de Fomento Audiovisual, Ibermedia, Hubert Bals/ Netherlands Film Fund/ Fundo de coprodução Brasil-México. Markets/Pitching: Cinemart, IFC. Distribuição: Vitrine Filmes. Duração: 01h25min.

Para além de discutir sobre abandono familiar e a forma como a pessoa idosa é tratada dentro da sociedade o enredo fala do poder da escolha. E de uma forma muito sensível. Tudo é filmado com muita delicadeza, todos os diálogos exalam simplicidade e sinceridade e as coisas não óbvias passam a carregar uma simbologia profunda que toma conta da narrativa no terço final. A fusão inebriante de texto, cores e sons do longa emulam o último azul de um caracol jogando luz ao nosso futuro inevitável e parece querer passar a mensagem de que no fim das contas a felicidade reside no trivial, no improvável. 

28 DE AGOSTO NOS CINEMAS

quinta-feira, 21 de agosto de 2025

Rabia – As Esposas do Estado Islâmico, de Mareike Engelhardt

 
“A única prática (sexual) permitida é aquela que gera filhos. Qualquer outra será punida!”

Por ser baseado em relatos verídicos de mulheres sobreviventes das situações apresentadas, o roteiro deste filme – co-escrito pela diretora, estreante em longas-metragens – não titubeia: refere-se, num letreiro inicial, aos recrutadores nupciais como terroristas e descreve o “Estado Islâmico” (devidamente aspeado) da mesma forma. A trama inicia-se em 2014, quando duas amigas francesas, Jessica (Megan Northam) e Laïla (Natacha Krief), abandonam os seus respectivos cotidianos e migram para a cidade de Raqqa, na Síria, onde pretendem se casar com guerrilheiros locais. A primeira delas será rebatizada com o nome que intitula este filme, podendo significar tanto “fúria” quanto “primavera”. E ela fará jus a este significado duplicado… 

Jessica tencionava formar-se em Enfermagem, quando teve acesso ao convite para ser noiva de um soldado sírio. Frustrada que ela estava tanto com o seu trabalho como cuidadora de idosos quanto pelo desdém de seu pai em relação ao seus anseios, ela aprende a falar árabe e larga tudo na França. Porém, o que encontrará na Síria não será idílico como ela imaginava. Inclusive, porque Laïla casar-se-á antes dela, o que causará uma ruptura na relação entre as duas amigas, já que seus planos conjuntos são rapidamente malogrados. 

Confinada, junto a várias mulheres, num local de espera, no qual as jovens são apresentadas e ofertadas aos guerrilheiros, Jessica entrará em conflito com a autoridade de Madame (Lubna Azabal, esplêndida, como de praxe), a controladora desta rede de proxenetismo. Ao ser quase estuprada por um pretendente (Andranic Manet), Jessica é severamente punida, tendo os seus cabelos cortados e sendo bastante chicoteada. O fato de ela não ser virgem, conforme declarou nas entrevistas de seleção, provoca o acirramento dos castigos que recebe, mas, sob extrema tensão psicológica, Jessica denuncia a corrupção das funcionárias de Madame, tornando-se, repentinamente a sua cúmplice preferida. 

Crédito de Imagens: Films Grand Huit, Starhaus Filmproduktion, Kwassa Films, Arte France Cinéma, Radio Télévision Belge Francophone (RTBF) - Pandora Filmes, divulgação.
Antes de "Rabia - As Esposas do Estado Islâmico Mareike Engelhardt dirigiu seis curtas e uma série de tevê. Tem em seu currículo títulos como Assistente de Direção e Roteirista


Em encontros que oscilam entre o desafio e a necessidade de submissão, Jessica e Madame assentem numa colaboração: a jovem francesa, que aceita ser chamada como Rabia, demonstra-se crente nos valores muçulmanos que foi obrigada a recitar, enquanto Madame consente que ela lhe aplique injeções de morfina, a fim de aplacar as dores provocadas por uma doença – possivelmente, câncer. Quando Jessica/Rabia pergunta do que se trata, Madame responde com uma frase típica dos fundamentalistas religiosos: “a dor significa que a pessoa é amada por Alá”!

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Ficha Técnica

Título original e ano: Rabia, 2024.Direção: Mareike Engelhardt. Roteiro: Mareike Engelhardt e Samuel Doux. Elenco: Megan Northam, Lubna Azabal, Natacha Krief, Lena Lauzemis, Maria Wördemann, Klara Wördemann, Andranic Manet. Nacionaldiade: França. Gênero: Drama. Trilha Sonora Original: David Chalmin. Figurinista: Catherine Cosme Fotografia: Agnès Godard. Direção de Arte: Qais Masadeh. Edição: Mathile Van de Moortel. Produção: Films Grand Huit, Starhaus Filmproduktion, Kwassa Films, Arte France Cinéma, Radio Télévision Belge Francophone (RTBF). Distribuição no Brasil: Pandora Filmes. Duração: 95 minutos. Classificação indicativa: 16 anos.


Em seus noventa e quatro minutos de duração, este filme progride de maneira desesperançosa e aflitiva: a fim de que as mulheres consigam sobreviver àquele ambiente crudelíssimo – por conta da concordância de outras mulheres em relação à misoginia supostamente justificada por deturpações de versos do Alcorão –, elas passam a desconfiar umas das outras, tratando-se com brutalidade e anuindo em converter-se em mercadorias de troca. Até que, alguns anos depois, Jessica reencontra Laïla, com uma filha pequena, marcada por inúmeras chagas no corpo e castigada por tentar fugir de seu marido, em ao menos quatro oportunidades. Seria a oportunidade para a protagonista recuperar a sua identidade?

Os atos finais do filme tornam-se ainda mais violentos, pois ouvimos continuamente os sons dos bombardeios que atravessam a cidade e testemunhamos o ambiente de destruição nas ruas. Evocando elementos que conhecemos noutros longas sobre o tema – com destaque para “A Noiva” (2022, de Sérgio Tréfaut – comentando aqui) e o excelente documentário “As 4 Filhas de Olfa” (2023, de Kaouther Ben Hania) –, “Rabia – As Esposas do Estado Islâmico” (2024) chama a atenção para a complexidade na abordagem do jihadismo, pela perspectiva feminina, visto que as agressões extremas a que estas mulheres são submetidas estão atreladas ao convencimento de que isto seria a vontade de Alá. O desfecho é devastador naquilo que expõe, quando Jessica caminha com um bebê nos braços, diante de um deserto que parece infindável… 

 

Em termos cinematográficos, a diretora cercou-se de um elenco competente e de profissionais predominantemente femininas, na equipe técnica (destaque para a fotografia da célebre Agnès Godard), de modo que o filme é exitoso ao fazer com que compreendamos as mudanças comportamentais de Jessica, ainda inconseqüente e precipitada, no fulgor de seus dezenove anos de idade e sob o peso de diversos traumas acumulados. Numa decisão mui corajosa, o roteiro não torna a vilã Madame desprovida de empatia, visto que não sabemos efetivamente o que ela sofreu, até se tornar uma mercenária negociante de mulheres. Em razão da tomada de partido que o enredo assume, este filme possui contribuições mui válidas em seu teor denuncista, somando-se de maneira vigorosa aos longas-metragens anteriormente citados, que abordam a mesma conjuntura. É impossível sair emocionalmente incólume desta sessão! 

HOJE NOS CINEMAS

Amores à Parte, de Michael Angelo Corvino


Kyle Marvin e Michael Angelo Corvino, parceiros de longa data e responsáveis pelo texto e atuação de "A Subida''(2019), se unem novamente para a comédia romântica “Amores à Parte”, estréia desta semana com distribuição da Diamond Films Brasil. Além do roteiro a quatro mãos, Corvino também dirige a película e ambos perfomam e integram o núcleo masculino da trama. O protagonismo feminino fica a cargo das garotas do momento, Dakota Johnson e Adria Arjona.

Carey (Kyle Marvin) e Ashley (Adria Arjona) estão casados há um ano apenas quando a aparente normalidade da relação é subitamente quebrada, pois a mulherassume suas crises existenciais admitindo que traiu o marido algumas vezes e quer se divorciar para explorar sua sexualidade e ter novas experiências. Toda essa D.R. acontece durante o trajeto de uma viagem para a casa dos amigos Julie (Dakota Johnson) e Paul (Michael Angelo Corvino). A situação cai como uma bomba na cabeça de Carey que, literalmente, “pira na batatinha” e foge da situação - reparem no simbolismo que a cena em plano sequência apresenta. 

O roteiro apresenta de forma lúdica e descontraída a vulnerabilidade das relações e a complexidade da vida a dois. Ashley busca se descobrir, mergulhando em relacionamentos superficiais, aleatórios e até bizarros, enquanto Carey, com seu jeito pacato, ainda acredita em uma união tradicional, monogâmica e estável. No entanto, tudo muda quando descobre que o casamento perfeito de seus amigos — com filho, casa impecável e aparência de “propaganda de margarina” — não passa de fachada: uma relação aberta que se vende como madura e “de boas”, mas que também guarda muitos segredos. A curiosidade leva Carey a se aventurar nas relações, extrapolando limites que irão mexer com os sentimentos de todos.

Crédito de Imagens: Watch This Ready, Neon, TeaTime Pictures, FirstGen Content, Topic Studios - Diamond Films Brasil, Divulgação
Este é o segundo longa de Michael Angelo Corvino que já dirigiu cinco curtas é ator, produtor e roteirista

Um caótico quarteto amoroso se forma, causando uma grande confusão. “Amores à parte”, de forma bem humorada, joga luz sobre questões sensíveis como os relacionamentos líquidos do mundo moderno, onde ao menor sinal de problemas ou desavenças parte-se para o próximo da fila, sem ao menos pensar nos sentimentos envolvidos. A narrativa é dinâmica com alguns planos sequência, o que dá uma dinâmica bastante atraente à película.

A fotografia, com tons quentes e vividos, enaltece o filme e a história que se assiste. A trilha sonora original, assinada por Dabney Morris e David Wingo, também agrada imensamente. A lista de canções originais vem embalando o filme com sons de Kenny Loggins e Stevie Nicks (Whenever I Call You Friend), The Pretenders (I Wanna Be (Your Everything)), The Fray (Never Say Never) e o brasileiro José Roberto (Criola Multicolourida).

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Ficha Técnica

Título Original e ano: Splitsville2025. Direção: Michael Angelo Covino. Roteiro: Michael Angelo Covino e Kyle Marvin. Elenco: Kyle Marvin, Adria Arjona, Dakota Johnson, Michael Angelo Covino, Simon Webster, O-T Fagbenle, David Castañeda, Charlie Gillespie, Tyrone Benskin, Nahéma Ricci, Nicholas Braun. Gêneros: Comédia, Romance e Comédia dramática. Nacionalidade: Estados Unidos da América. Idioma Original: Inglês. Trilha Sonora Original: Dabney Morris e David Wingo. Fotografia: Adam Newport-Berra. Edição: Sara Shaw. Design de Produção: Stephen Phelps. Direção de arte: Ryan Scott Fitzgerald. Figurinista: Callan Stokes. Empresas Produtoras: Watch This Ready, Neon, TeaTime Pictures, FirstGen Content, Topic Studios. Distribuidora: Diamond Films Brasil. Duração: 01h40min. Classificação Indicativa (Brasil): 14 anos.

O filme teve sua estreia no Festival de Cannes e agradou público e crítica. Ademais, o longa de Covino foi exibido nos Festivais de Cinema de Sydney, Karlovy Vary, Nova Zelândia e Melbourne. Sua estreia nos Estados Unidos acontece esta sexta-feira, 22 de agosto.

Faça Ela Voltar, de Danny e Michael Philippou


Danny e Michael Philippou merecem ser incluídos no debate sobre os diretores de terror mais promissores da atualidade. O primeiro trabalho de destaque da dupla, ''Fale Comigo'' (2023), já conquistou entusiastas do gênero, tanto pela criação de ícones visuais marcantes, quanto pela direção segura e inventiva.

A mais recente incursão na indústria reafirma esse potencial, propondo uma fusão entre o terror psicológico — tão em alta nos últimos anos — e um grafismo visual impactante, que flerta com o body horror em momentos pontuais. Essa combinação pode despertar curiosidade sobre os rumos que o longa pode tomar, mas também corre o risco de afastar quem se sente saturado pelas metáforas e camadas simbólicas que marcaram muitos sucessos recentes.

A trama acompanha dois adolescentes que enfrentam o luto pela morte do pai e precisam se adaptar a uma nova casa, agora sob a tutela de uma terapeuta excêntrica. Desde os primeiros encontros, a direção não hesita em destacar comportamentos estranhos e atmosferas inquietantes, tornando explícitos os motivos de desconforto dos protagonistas. Esse recurso intensifica a sensação de urgência, mas, ao mesmo tempo, reduz o espaço para mistério, tornando previsível o desenrolar da narrativa.

Crédito de Imagens: Causeway Films, RackaRacka, South Australian Film Corporation, Salmira Productions, SAFC Studios. Sony Pictures / Divulgação
A atriz inglesa Sally Hawkins esteve no aclamado "A Forma da Água", de Guillermo del Toro (2017) e tem uma extensa carreira em comédias e dramas


O ponto mais frágil está na forma como o sobrenatural é construído. Há boas ideias em jogo, mas elas permanecem superficiais e pouco exploradas, deixando a sensação de que o filme não aprofunda sua própria mitologia. Ainda assim, há um charme estético evidente e um cuidado minucioso nos detalhes que conferem identidade à obra. O trabalho com os personagens se destaca: falhos, vulneráveis e bem interpretados, eles se tornam críveis e cativam pela forma como suas motivações dialogam com o tema central.

No fim, Bring Her Back (“Faça Ela Voltar”) se firma como uma narrativa sobre a inevitabilidade da perda e sobre a forma como lidamos com suas consequências. Mais do que o luto em si, é sobre o sofrimento causado pela ausência, a tentativa de restabelecer vínculos rompidos e a dificuldade de aceitar que certas conexões simplesmente não podem ser recuperadas. A ironia é cruel: diante de tudo aquilo que já não pode voltar, o pedido implícito no título soa menos como promessa e mais como sentença.

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Ficha Técnica
Título Original e Ano: Bring Her Back, 2025. Direção: Danny Philippou e Michael Philippou. Roteiro: Danny Philippou e Bill Hinzman. Elenco: Billy Barratt, Sora Wong, Sally Hawkins, Jonah Wren Phillips, Sally-Anne Upton e Mischa Heywood. País de Origem: Austrália. Fotografia: Aaron McLisky. Edição: Geoff Lamb. Trilha Sonora Orifinal: Cornel Wilczek. Design de Produção: Vanessa Cerne. Idioma Original: Inglês. Produção: Samantha Jennings & Kristina Ceyton. Produtoras: Causeway Films, RackaRacka, South Australian Film Corporation, Salmira Productions, SAFC Studios. Distribuidora: Sony Pictures Brasil. Duração: 01h44min. Classificação Indicativa (Brasil): 18 anos.
HOJE NOS CINEMAS