Entre Irmãs


Breno Silveira é um diretor que consegue levar emoção ao cinema com muita intensidade. Dono de uma filmografia invejável que inclui 'Dois Filhos de Francisco', trama que contou nas telas um pouco da trajetória da dupla sertaneja Zezé Di Camarco & Luciano, Era Uma Vez... e À Beira do Caminho (comentários aqui), o cineasta chega a realização de seu sexto longa de ficção (tendo ainda dirigido o documentário Paralamas em Close UP sobre a banda Paralmas do Sucesso) .

Aqui Breno escolhe trazer para a telona o laço forte que une duas irmãs. Baseado e Adaptado do romance da autora brasileira, radicada no Estados Unidos, Frances de Pontes Peebles, 'The Seamstress'' - que aqui recebeu o título de 'A Costureira e o Cangaceiro' na edição lançada pela Nova Fronteira - 'Entre Irmãs' nos leva ao interior de Pernambuco, nos anos 30, e nos faz conhecer Luzia e Emilia. Meninas orfãs criadas pela tia que crescem e tomam rumos completamente distintos.

As personagens são vividas por Nanda Costa e Marjorie Estiano, respectivamente, e estão ainda no elenco:Ângelo Antônio, Leticia Colin e Júlio Machado.


Trailer


Quando o longa se inicia, o espectador é levado a seguir os passos das pequenas Luzia (Costa) e Emilia (Estiano) na distante Taguaritinga do Norte, em Pernambuco. Cercadas por enormes árvores,  as meninas decidem brincar em seus galhos e um acidente quase mata Luzia. A menina atrevida acaba ficando com uma sequela. Um dos braços fica paralisado e torto. Além disso, seu jeito vivo de se apresentar se torna opaco e carrancudo. Já a irmã, que era medrosa, se torna uma linda e romântica moça. As duas vivem com sua tia Sofia (Coentro) e são suas auxiliares na costura de roupas que as senhoras da vizinhança encomendam. Contudo, Emília está sempre divagando sobre sua vontade de se casar e ir para a cidade grande. O que atormenta em muito a irmã e as fazem entrar em conflito constante. Mas os dias destas três mulheres é realmente impactado pela chegada do temível cangaceiro Carcará (Machado) e seu bando à região, pois este ordena que o trio costure e restaure os uniformes de seus homens e ao final obriga uma delas a deixar o lugar junto do grupo.


Entre Irmãs é daqueles filmes que trazem suas lágrimas à tona. Apela vez ou outra. Mas se reinventa e deixar caminhos tortos para trás. O protagonismo feminino aqui é óbvio e satisfatório. Não temos, de nenhum lado, mulheres fracas e insossas. Vemos ali apenas personalidades fortes. Aliás, uma mais que a outra.

As duas irmãs são diferentes e tem desejos largamente distintos. Enquanto Luzia esperava passar a vida no sertão, Emília queria casar e ir viver na capital. Algo parecido acontece, mas o que uma deseja com muita força, acontece, na verdade, a outra e, por fim, o amor entre elas as conecta mais uma vez.

Emília tem de lidar com questões a qual nunca imaginara, pois acaba se casando, mas seu príncipe não valida um caráter muito correto e a vida de casada que ela esperava tem um desenvolvimento frágil devido a conexão do marido com o primo. Luzia, por outro lado, conhece o amor e engole as próprias palavras que dizia a irmã, já que descobre que o sentimento não é brincadeira não. 

Essas duas mulheres passam então por fortes acontecimentos e isso as molda e as faz crescer. Há duas cenas, em momentos distintos, que vemos ambas cortarem seus cabelos e o significado que a ação tem para a trama é incrível, pois ambas buscavam por aceitação e liberdade e, de certa forma, elas encontram na 'profissão' que escolhem.

Estiano e Costa são as estrelas do filmes e ganham o destaque certo e fazem ótimas performances. Machado e Estrela fazem papéis que complementam e trazem conflitos interessantes para suas parceiras de cena. Claudio Jaborandy e Rita Assemany interpetram os sogros da personagem de Estiano. Um casal rico e da alta sociedade que tem seus preconceitos e certezas quebrados com uma grande tragédia. Fábio Lago também é craque em botar pano quente. O ator interpreta aqui o 'quase' braço direito de Carcará. Ângelo Antônio aparece em poucas cenas como um médico  e têm a função de auxiliar Luzia em momentos de desespero. Letícia Colin também tem uma função especifica aqui e incrementa bem as cenas de Estiano. O tema da homossexualidade é trabalhado no longa de um jeito importante e complementar a vida dos personagens.

Há um lindo trabalho no filme, diria até em conjunto, de direção de arte, figurino e fotografia. Pois por se passar nos anos 30, a produção faz um retrato perfeito da época, dos usos, dos maneirismos e dos costumes. Há contraste para a cidade e para o sertão, para a dor e para a festa, para o amor e para ódio. Ah, e o sotaque dos atores está afinadíssimo.

O roteiro tenha, talvez, poucos desalinhamentos, mas compensa a emoção forte que transmite e traz um Breno Silveira ainda mais potente e com takes estupendos. Ademais, faz aqui uma condução acertadíssima.


Ficha técnica: Entre Irmãs, 2017.Direção: Breno Silveira. Roteiro: Patricia Andrade - baseado no conto de Frances de Pontes Peebles ''A Costureira e o Cangaceiro''. Elenco: Marjorie Estiano, Nanda Costa, Letícia Colin, Fábio Lago, Júlio Machado, Rômulo Estrela, Cyria Contro, Ângelo Antônio, Claudio Jaborandy e Rita Assemany. Gênero: Drama, Época. Direção de Fotografia: Leonardo Ferreira. Direção de Arte: Cláudio Amaral Peixoto. Distribuidor: Sony Pictures. Nacionalidade: Brasil. Duração: 2h15min.

Avaliação: Três carretéis de linha e meio (3,5/5).

Com mais uma bela e dramática trama, Breno Silveira revela sim que está galgando ser um dos mais sensíveis cineastas brasileiros.

12 de outubro nos Cinemas!

See Ya!











 B-

Escrito por Bárbara Kruczyński

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