Besouro Azul, de Angel Manuel Soto | Assista nos Cinemas

 
Este texto pode conter spoilers 

A diversidade em Hollywood tem sido um tema constante dos grandes filmes lançados ultimamente. Se mulheres e a população negra, ou até mesmo a comunidade LBGTQIA+, não possuíam representatividade o suficiente, a latina é que não aparecia de forma alguma. E quando aparecia eram exibidos como estereótipos de si mesmo e com um super tom ''amarelo'' nos filtros cinematográficos. No leque de filmes de heróis, a primeira grande personagem que vimos foi a incrível ''X-23'' que joga no time Marvel e é um clone ferrenho de Wolwerine (leia resenha de Logan aqui). No Universo DC, talvez os latinos tenham ganho algum tipo de sub-representação nos ''anti-heróis'' apresentados em ''Esquadrão Suicida'' (2016) com ''El Diablo'' e etc. Todavia, uma trama especificamente voltada a apresentar um herói com raízes na América Latina, não havia sido vista ainda nas telas.

Em 2010, falou-se em uma possível série de tevê para o membro dos ''Novos Titãs'' da DC, ''Besouro Azul''. Mas a ideia ficou no papel e só foi sair dele quando o esgotamento do gênero foi ficando cada vez mais óbvio. Para assumir então as rédeas de um projeto voltado para contar uma história com essência latina Angel Manuel Soto, diretor porto-riquenho que possui dezesseis trabalhos prévios e cerca de onze prêmios, foi chamado. O roteiro é assinado por Gareth Dunnet-Alcocer (Miss Bala) e apresenta a terceira versão de Blue Beetle, pois antes de Jaime Reyes ser possuído pelo escaravelho, e introduzido ao público em ''Crise Infinita'' N⁰ #3, o manto foi de Dan Garrett e Ted Kord. Garrett foi conhecido na revista N⁰ #1, quando ainda pertencia a Fox Comics, e Kord, pupilo de Ted, em ''Capitão Átomo N⁰ #83' , publicado pela Charlton Comics que teve seus direitos adquiridos pela DC nos anos 80. A repaginada do herói foi dada por Steve Ditko (Homem Aranha) e Gary Friedrich e sua versão latina é do trio  Keith Giffen, John Rogers e Cully Hamner. Os criadores de Blue Beetle, no caso, foram Joe Gill e Bill Fraccio.

Na primeira versão dos quadrinhos, e que não é exibida em detalhes no filme, Dan tomava uma vitamina que o dava poderes e quando vai ao Egito encontra um escaravelho que ao gritar ''Khaji Da'' virava um super traje. Seu pupilo, o engenheiro Ted Kord, se une a ele para enfrentar Jarvis Kord que quer criar um super exercito e com a morte de Dan, Ted se torna então o Besouro. Reyes também chega na parada bem depois e, se no quadrinho ele encontra o escaravelho e até tem contato com Ted, no filme a trama de apresentação do herói latino toma outros rumos. Jaime Reyes (Xolo Madureña) está  retornado para casa, em Palmeira City e não no El Paso, como nos quadrinhos, e tem um dia de reencontro com a irmã Milagro (Belissa Escobedo), a mãe Rocio (Elpidia Carrillo), o pai Alberto (Damian Alcázar), o tio Rudy (George Lopez) e avó Nana (Adriana Barraza). A irmã do jovem solta de cara que eles estão em apuros e o pai não está trabalhando, pois sofreu um ataque cardíaco. Assim, podem perder a casa a qualquer momento. Jaime se compromete e ajudar a família e a irmã consegue um trabalho para ele de serviços gerais na mansão da ricaça Victoria Kord (Susan Sarandon). Algo dá errado e os dois perdem o emprego durante uma visita da sobrinha de Victoria, Jenny (Bruna Marquezine). A garota é simpática a Jaime por de alguma forma ter atrapalhado o dia de trabalho e dá à ele seu telefone e pede que o procure nas Indústrias Kord. Dias depois, Jaime vai ao local para falar com ela e a filha de Ted Kord o entrega uma caixa. A moça solicita ao garoto que guarde aquilo com sua vida e não abra. Porém, claro, por uma provocação da irmã, Jaime abre a caixa e o objeto em formato de Besouro pula nele e se acopla ao seu corpo. Minutos depois ele ganha um traje estranho e sai voando dali.

                                                                        Créditos: © 2023 Warner Bros. Entertainment Inc. All Rights Reserved

Em inicio de conversa, o filme seria produzido para ir direto para o streaming da HBOMAX, que em breve se tornará apenas MAX, mas ganhou força para ser lançado nos cinemas.

Ao passo que Jaime se torna o besouro e entende que a ''Khaji Da'' pode dá-lo qualquer arma e o auxiliar a usar a armadura, a tia de Jenny fica possessa. Na verdade, a mulher estava a procura do escaravelho junto ao Dr. Sanchez (Harvey Guillén) e ao seu capataz ''Carapax'' (Rauol Max Trujillo), pois está desenvolvendo um projeto de ''soldado'' do futuro. O escaravelho, na verdade, seria a energia essencial para ativar tais soldados. Carapax é sua primeira tentativa, mas ainda não foi efetivada. Assim, logo que ela entende que o escaravelho achou seu hospedeiro, o rapta para sugar o que precisa e concluir seu projeto bilionário. Jaime ainda está aprendendo a lidar com a força que possui e acaba não resistindo. Mas o que Victoria não esperava era que Jenny e a família Reyes se unissem para salvar Jaime e não deixar que os planos da mulher se tornem reais, pois pode acabar matando o garoto.

                                                            Créditos: © 2023 Warner Bros. Entertainment Inc. All Rights Reserved

A produção tem suas filmagens entre maio e julho de 2022 e foi rodada em Porto Rico, na Califórnia e na Geórgia.

O roteiro de Gareth Dunnet-Alcocer equilibra bem as referências aos quadrinhos. Jenny Kord, o personagem da atriz brasileira Bruna Marquezine, foi criado para o filme, pois não existe na HQ. Já que o Besouro que chega a ser pai é Dan e o nome de sua filha é Danielle. Outra interessante alteração que ele fez foi mudar o sexo do vilão e vemos então Victoria, a irmã de Ted, guiar os conflitos. Nos quadrinhos, é Jarvis Kord, tio de Ted que tenta criar um exército de soldados robóticos. Inclusive, em certa cena que Jenny e Jaime vão ao laboratório Kord escondido em uma mansão velha, o público vai conseguir visualizar os primeiros uniformes do Besouro e inúmeros artefatos construídos por ele. Saindo dessa parte que se refere especificamente a adaptação, o texto de Alcocer é altamente preciso em introduzir latinos. Temos referências ao universo pop que só latinos conhecem como ''Chapolin Colorado'' e etc. Aliás, se prepare para ouvir repetitivamente Thalia e sua canção tema da novela mexicana ''Maria do Bairro'' meio a piadinhas familiares dos Reyes. Também vemos críticas ao imperialismo e evidências claras de como os latinos são unidos e permanecem unidos em qualquer momento. O matriarcado e toda sua potência tem vez com a super performance da atriz Adriana Barraza. Tio Rudy, personagem do ator e apresentador George Lopez, é o engraçadão do grupo e apaixonado por carros gigantescos que auxilia com tecnologia. 

A estética do filme é moderna, mas com diversos elementos dos anos 80 e 90, como o figurino e a trilha sonora. Apesar da aventura se dar em duas horas, ela está tão bem costurada que aparenta ser menor. A edição consegue ser enxuta e não se tem tempo de tela para respirar. O tom de comédia vem em muitos momentos e é maravilhoso ver os latinos ganhando representatividade com tanta perspicácia. Se para tirar ''The Flash'' dos quadrinhos e o introduzir como foi feito no inicio do ano, tendo que ligar sua trama a outros personagens que já tem inúmeros filmes, Besouro Azul, que também está ligado ao universo de Batman, mostra que não há tal necessidade quando a narrativa tem a intenção de dar tempo ao personagem e o desenvolver. Uma baita vitória da equipe de Blue Beetle.

Trailer


Ficha Técnica
Título Original e Ano: Blue Beetle, 2023. Direção: Angel Manuel Soto. Roteiro:  Gareth Dunnet-Alcocer - personagem criado por Charles Nicholas Wojtkowski e repaginado por Steeve Ditko, Gary Fredich, Keith Giffen, John Rogers e Cully Hamner. Elenco: Xolo Madureña, Bruna Marquezine, Susan Sarandon, Adriana Barraza, Damián Alcázar, George Lopez, Becky G, Harvey Guillén, Raoul Max Trujillo. Gênero: Ação, Nacionalidade: Méxooco e Estados Unidos da América. Trilha Sonora Original: The Haxan Cloak. Fotografia: Pawel Pogorzelski. Edição: Craig Alpert. Design de Produção: Jon Billington. Figurino: Mayes C. Rubeo. Direção de Arte: Jay Pelissier. Distribuição: Warner Bros Pictures Brasil. Duração: 02hr07min. 

Bruna Marquezine, aliás, deu muita sorte em ter sido escolhida para este projeto e não ter passado  nos testes do tenebroso The Flash. A atriz cabe na história perfeitamente, pois se constrói que a personagem tem origem brasileira e sim ela fala português em uma super cena do filme. Dá aquele orgulho de ver o Brasil ali se unindo aos hermanos mexicanos e porto-riquenhos, justamente o país que não fala espanhol, mas que tem inúmeras similaridades culturais para poder se identificar. Marquezine aliás contracena com ninguém mais, ninguém menos, que Susan Sarandon. E, apesar de uma ou outra cara de perdida, se sai bem, ou melhor, arrasa. Principalmente por ser uma entrada em Hollywood com tanta credibilidade e espaço. 

Se Xolo Madureña vai ou não viver Besouro Azul em uma nova aventura após o filme ser ou não sucesso, não sabemos. Com a repaginada que o universo DC está ganhando depois da contratação de James Gunn para o reboot das jornadas dos heróis na companhia tudo é um mistério e o próprio já disse que Blue Beetle já estava em produção quando tudo começou a ser repensado e ele não está conectado as novas propostas, mas pode ser que tenha espaço para ele (torcemos para que isso se valide, aliás). Xolo está perfeito no papel e tem uma carreira em construção que é de dar inveja. Fez parte de séries como ''Parenthood'' (2010-2015) e ''Cobra Kai'' (2018-atual) e tem potencial para emplacar uma série de filmes.

A direção de Blue Beetle foi muito certeira. Angel Manuel Soto não deixa o personagem cair em armadilhas e entrega um herói divertido e consciente. Como ele mesmo disse em entrevistas, temos aqui um ''David Cronenberg para crianças e adolescentes'' - referência ao clássico do diretor ''A Mosca'', de 1986. E não ele não soa pretensioso, o filme conquista por toda força latina que exibe e, por ter uma janela enorme com a distribuição Warner Bros Pictures, fará os latinos serem vistos no mundo todo e se sentirem bem consigo mesmos.

Ps: fique até o final dos créditos.

Avaliação: Três gerações de muito poder (3/5).


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Escrito por Bárbara Kruczyński

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