Disco Boy: Choque Entre Mundos, de Giacomo Abbruzzese | Assista nos Cinemas


Disco Boy: Choque Entre Mundos, estreia desta semana nos cinemas, é uma mixórdia de temas que não dá liga. Com premissa interessante, atores excelentes, fotografia tecnicamente brilhante e ganhadora do prêmio de contribuição artística no Festival de Berlim 2023, não consegue ter unidade no roteiro, criando uma estória confusa e inconclusiva.

O enredo concentra-se em dois arcos realistas que colidem em um embate sangrento e se harmonizam no final em um desfecho fantástico. Primeiro acompanhamos a trajetória de Alex, interpretado pelo excelente ator alemão Franz Rogowski, um migrante bielo-russo que entra clandestinamente na França, procurando uma vida melhor. Perseguido por policiais na travessia da fronteira, Alex presencia a morte de seu amigo e, sozinho em Paris, decide alistar-se na Legião Francesa, para um dia conseguir a cidadania francesa, regularizando seus documentos. O espectador então passa a presenciar seu árduo treinamento na Legião. Aí já temos dois temas de filmes: uma peça de crítica social dos migrantes ilegais e um filme de formação de soldado numa estrutura militar.

O segundo arco é um documento etnográfico-ecológico sobre a Nigéria, onde petrolíferas estão destruindo o ecossistema de um delta de rio, prejudicando a sobrevivência de uma tribo que vive lá. O líder da aldeia, Jomo (Morr Ndiaye) resiste a esses capitalistas gananciosos e, fortemente armado, sequestra funcionários franceses, numa tentativa de parar essa exploração. Em paralelo, conhecemos sua irmã, Udoka (Laetitia Ky) que deseja ir para cidade grande. Ambos os irmãos compartilham heterocromia (cada olho com cor diferente) e são dançarinos rituais nas festividades tribais. Neste trecho do filme, num diálogo entre os africanos, Jomo revela que se tivesse nascido no ocidente, seria um disco boy, dançarino de festas eletrônicas.

Há então o embate. A Legião Francesa é convocada para libertar os sequestrados. E, numa noite de caos, Alex mata Jomo, enterrando-o na beira do rio, num ato de compaixão. Em sequências de puro terror, presenciamos a aldeia ser incendiada, para consternação do soldado, que tem empatia pelas mulheres e crianças do local.

Trailer



Ficha Técnica
Título Original e Ano: Discobooy, 2023. Direção e Roteiro: Giacomo Abbruzzese. Gênero: drama. Nacionalidade: França, Itália, Bélgica e Polônia. Elenco: Franz Rogowski, Morr Ndiaye, Laetitia Ky, Leon Lucev, Robert Wieckiewicz, Matteo Olivetti, Michal Balicki. Direção de Fotografia: Hélène Louvart. Trilha Sonora: Vitalic. Montagem: Ariane Boukerche, Fabrizio Federico, Giacomo Abbruzzese. Desenho de Produção: Esther Mysius. Produção: Lionel Massol, Pauline Seigland. Gênero: drama. Nacionalidade: França, Itália, Bélgica e Polônia. Distribuição:  Pandora FilmesDuração: 91 minutos. Classificação Indicativa: 12 anos.

De volta a Paris, após algum tempo, Alex passa a apresentar comportamento estranho. Essa aventura na África abalou suas convicções e certezas. Numa saída para uma boate, assiste a dança de uma mulher, onde reconhecemos Udoka, que se refugiou na Europa. Em uma guinada de realismo mágico, Alex passa a assumir comportamento errático, afastando-se dos companheiros de farda e assumindo características de Jomo, inclusive a heterocromia. No apoteótico final, após incendiar seu armário com itens pessoais no centro de treinamento na Legião Francesa, o transformado Alex reúne-se a Udoka, na boate, numa sequência de dança tribal.

                                                                                                                                           Créditos: Divulgação
A produção passou por inúmeros Festivais, além do Festival de Berlim, entre eles o Hong Kong International Film Festival, o Vilnius International Film Festival, o Crossing FilmeEurope FilmFestival, o Jerusalem Film Festival e também o Italian National Syndicate of Film Journalists.


Então temos amalgamado no mesmo filme, em hora e meia, drama de crítica social, formação militar com direito a nus masculinos gratuitos, documentário etnográfico, guerras coloniais e mutações místicas, num desfecho de realismo fantástico. Isso dá certo? Não. Essa diversidade de temas não dá unidade à estória e acaba criando um roteiro superficial, onde a temas importantes não é dada a devida atenção. Inclusive, a cena da dança é até ofensiva, comparar uma dança tribal africana milenar a sacolejos numa boate de música eletrônica européia é até indelicado, para dizer o mínimo. Uma apropriação cultural indevida, ainda mais dançada por um homem caucasiano.

Quem se esbaldou aqui foi a fotógrafa francesa Hélène Louvart que, aproveitando-se da diversidade de temas e cenários, demonstrou toda sua versatilidade nos filtros e câmeras, em sequências criativas, belas e inusitadas. Inclusive A Vida Invisível, do Karim Ainouz, mostra um Rio de Janeiro belíssimo graças ao excelente trabalho dessa fotógrafa. O prêmio no Festival de Berlim 2023 foi mais que merecido. Talvez focando o longa em um único dos vários temas apresentados, o resultado desse primeiro longa-metragem de ficção do diretor italiano Giacomo Abruzzese tivesse sido bem melhor. Assistam! Prestigiem o cinema! 

Nota: 4/10.

HOJE NOS CINEMAS

Escrito por Marcelino Nobrega

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