A Freira 2, Michael Chaves | Assista nos Cinemas

 
A longevidade de uma franquia cinematográfica depende de diversos fatores. Desempenho de bilheteria, aprovação de público e crítica, relevância cultural. Um dos casos mais bem-sucedidos desse modelo mercadológico hollywoodiano é o universo Invocação do Mal, iniciado em 2013 com o filme de mesmo nome. A franquia idealizada por James Wan é um fenômeno. Com seus 8 capítulos, arrecadou mais de 2 bilhões de dólares em bilheteria, com um investimento de produção que sequer ultrapassa a marca dos 180 milhões de dólares. Apesar de não ser exatamente aclamada pela crítica (pelo menos metade destes filmes tiveram um parecer desfavorável de jornalistas), a saga é adorada pelo público, que parece não se cansar da mitologia envolvendo o casal Warren e sua coleção de maldições que se ramificam por outras sub-narrativas, como o spin-off da boneca Annabelle, que já rendeu 3 filmes próprios. Mas após 10 anos de sustos (e inúmeras cópias menos charmosas que surgiram pelo caminho), será que o “InvocaVerso” ainda tem fôlego para manter o interesse do público? 
As intrigas sobrenaturais ganham um novo capítulo nas mãos do cineasta Michael Chaves, já conhecido da franquia por dirigir o spin-off A Maldição da Chorona  e Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio. Em A Freira 2, um vilarejo na França é marcado pelo brutal assassinato de um padre. Ciente de que não se trata de um caso isolado, o Vaticano vê indícios do possível ressurgimento da entidade demoníaca que toma forma de freira, Valak (Bonnie Aarons). Convocada para investigar o caso, Irmã Irene (Taissa Farmiga) acaba sendo atraída para um internato onde reencontra seu velho amigo Frenchie (Jonas Bloquet) e descobre que Valak está em busca de uma relíquia capaz de restaurar seu poder de outrora.
Trailer

Ficha Técnica
Título original e ano: The Nun II, 2023. Direção: Michael Chaves. Roteiro: Ian Goldberd, Richard Naind e Akela Cooper - argumento de Akela Cooper e baseado nos personagens criado por James Wan e Gary Dauberman. Elenco: Taissa Farmiga, Jonas Bloqueit, Storm Reid, Anna Popplewell, Bonnie Aarons, Katelyn Rose Downey, Suzanne Bertish, Léontine d'Oncieu, Anouk Darwin Homewood, Peter Hudson, Tamar Baruch, Natalia Safran. Gênero: Horror, Terror, .Nacionalidade: EUA e Reino Unido. Trilha Sonora Original: Marco Beltrami. Fotografia: Tristan Nyby. Edição: Gregory Plotkin. Design de Produção: Sthépanne Cressend. Figurino: Agnes Beziers. Produzido por: James Wan e Peter Safran. Distribuição: Warner Bros Pictures. Duração: 01h50min.
Chaves parece ter dado ouvidos às críticas que recebeu por seus dois trabalhos anteriores na franquia. Apesar dos jump scares que continuam a se sobressair em seu repertório (o diretor aparenta não conseguir evitar concluir uma cena com um susto barulhento quando a oportunidade aparece), desta vez ao menos existe uma construção mais cuidadosa da atmosfera e da tensão antes do susto. Enquanto o 1º A Freira (leia texto aqui) soava meio indeciso quanto a suas intenções criativas e estéticas, o filme de Chaves estabelece set pieces mais concretas e coesas entre si, com um ritmo mais fluído e um visual muito mais instigante. O senso de fisicalidade dos cenários também dá pontos extras ao longa, fazendo com que o mundo onde a história se passa, de fato, soe vivo e tridimensional, evitando o aspecto barato de trem-fantasmas-parque de diversões que filmes assim podem ter quando não existe algum esmero por parte da equipe de direção de arte.
Outro diferencial que destaca A Freira 2 em relação ao 1º filme-solo do demônio Valak é a qualidade do roteiro. O que tinha tudo pra ser um mero repeteco preguiçoso ao melhor estilo “de alguma forma, o Palpatine retornou” consegue soar genuíno. O roteiro coescrito por Akela Cooper, Ian Goldberg e Richard Naing se preocupa não apenas em dar continuidade direta ao que foi determinado ao final do A Freira original, mas também em propor uma progressão e um desenvolvimento crível tanto para a narrativa quanto para os personagens. A protagonista vivida por Taissa Farmiga evolui em sua formação religiosa, mas também apresenta um amadurecimento palpável desde a última vez que a vimos, com direito a mais detalhes sobre seu passado e seus dons mediúnicos. O charmoso personagem de Jonas Bloquet também parece mais calejado e vivido, desta vez ganhando um peso dramático real na trama e, ainda bem, não se resumindo mais a um constante e, por vezes, irritante alívio cômico como no filme original. Até mesmo a figura antagonista interpretada por Bonnie Aarons ganha um arco de desenvolvimento e tem mais oportunidades de mostrar suas habilidades de mudar de forma e criar ilusões. A fé relutante de uma nova personagem, Irmã Debra (Storm Reid), também chama atenção em A Freira 2. O passado dramático e os questionamentos da freira já renderiam um filme por si só.  Mesmo a personagem não tendo tanto destaque dentro da trama, apenas seu diálogo com a personagem de Taissa Farmiga no qual ela conta sobre sua relação com sua falecida mãe (“Ela era a minha Igreja”) já é uma amostra das texturas e camadas cuidadosas que enriquecem o filme.
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Filmado em uma Igreja abandonada na França, em formato Panavision, diferente dos outros filmes da franquia, A Freira 2 dá ao diretor o topo do ranking com o maior número de produções dirigidas por ele no ''InvocaVerso''.

Apesar de seus méritos, contudo, A Freira 2 continua abusando de clichês do gênero. Com a quantidade de filmes genéricos envolvendo freiras, demônios e exorcismos que são lançados todos os anos (especialmente depois que a própria franquia Invocação do Mal reavivou o interesse do grande público pela temática), era de se esperar que um blockbuster como este ao menos tentasse fugir de certas convenções já tão batidas. O inevitável gostinho de déjà vu deixado por certas cenas do longa faz as novas aventuras do demônio freira drag parecerem mais derivativas e formulaicas do que teriam direito, dado ao impacto da marca da qual se origina. Além disso, o retoque de cenas com efeitos digitais é por vezes exagerado e esconde com um verniz plástico tomadas que talvez fossem mais assustadoras com o uso de maquiagem, lentes de contato e a iluminação certa. 
Com uma atmosfera aterrorizante e sequências memoráveis, A Freira 2 provavelmente não será unanimidade com público e crítica. Mas nem a própria franquia Invocação do Mal parece se preocupar em ser. A marca criada por James Wan desde o início tem como prioridade oferecer bons sustos para quem estiver procurando por eles. E A Freira 2 orgulhosamente mantém esta tradição viva.

HOJE NOS CINEMAS

Escrito por Petterson Costa

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