David Contra Os Bancos, de Chris Foggin | Assista nos Cinemas


“Eu não acredito que tu não conheças Def Leppard: é uma das maiores bandas do mundo!”

Em 1983, o cineasta britânico Bill Forsyth chamou a atenção da crítica especializada e dos cinéfilos por causa de seu longa-metragem “Momento Inesquecível”, sobre um magnata do petróleo que envia um de seus empregados para uma cidade litorânea escocesa, a fim de convencer os moradores a venderem as suas residências. Apesar de seu interesse inicialmente escuso, este empregado pouco a pouco é cativado pela comunidade local e, em dado momento, interpõe-se contra os ditames capitalistas. Dadas as devidas condições comparativas, “David Contra os Bancos” de Chris Foggin, esforça-se para atingir a mesma empatia espectatorial…

Baseado na estória verídica de David Fishwick, o roteiro de Piers Ashworth (conhecido por ter dirigido um videoclipe de Janet Jackson, em meados da década de 1980) esforça-se por tornar crível o dilema de um vendedor de micro-ônibus (Rory Kinnear), que deseja fundar um banco, repentinamente. Acostumado a emprestar dinheiro para os seus vizinhos, este empreendedor, de nome David, dá entrada num processo que não ocorre há cerca de cento e cinqüenta anos. Caberá ao filme explicar o porquê de isso incomodar tanto os poderosos britânicos.

Quando o anseio de David é conhecido pelos empresários londrinos, uma firma de advogados decide enviar um de seus funcionários, Hugh (Joel Fry), para transmitir a David a notícia de que seu desejo será frustrado. Ocorre que David possui um poder impressionante de convencimento e não desistirá tão facilmente de seu objetivo. E, como sói acontecer nas comédias românticas, Hugh tornar-se-á benquisto pela comunidade e apaixonar-se-á pela sobrinha de David, a médica Alexandra (Phoebe Dynevor). Se o filme possui algum mérito, é justamente ser previsível!

Trailer

Ficha Técnica
Título Original e Ano: Bank of Dave, 2023. Direção: Chris Foggin. Roteiro: Piers Ashworth. Elenco: Rory Kinnear, Joe Fry, Phoebe Dynevor, Jo Hartley, Paul Kaye, Naomi Battrick, Angus Wright, Florence Hall e Hugh Bonneville. Gênero: Biografia, Comédia, Drama. Nacionalidade: Reino Unido. Trilha Sonora Original: Christian Henson. Fotografia: Mike Stern Sterzynski. Edição: Martina Zamolo. Figurino: Lance Milligan. Design de Produção: Andrew Holden-Stokes. Distribuição: Synapse Distribuition. Duração:01h47min .

Não obstante a trama ser conduzida com leveza e aplicar com efetividade os clichês do gênero, é difícil empolgar-se frente à ambição de um simpático agiota em tornar-se banqueiro. Porém, as interpretações são tão graciosas, que quase esquecemos as intenções perniciosas da trama, no que tange à legitimação comunitária do capitalismo. Para tanto, o discurso pró-democrático e afiliado ao ideário socialista de Alexandra será fundamental!

Depois que David atrai a inveja de Sir Charles (Hugh Bonneville), um poderoso ricaço, o advogado Hugh precisará investir todo o seu potencial advocatício num julgamento local, que atrai a atenção da imprensa inglesa e desemboca no encontro com Rick (Paul Kaye), um roqueiro amigo de David, que tem acesso à banda Def Leppard, uma das favoritas dos dois protagonistas masculinos, e que desempenhará papel fundamental no desfecho do filme. Se isso é suficiente para agradar as platéias? Bom, ao menos, o filme não é insincero: ele entrega-nos justamente aquilo que começamos a adivinhar desde as cenas iniciais!
     
                                                                    Créditos: Synapse Distribuition/Tempo Productions   
''Band Of Dave'', título original da película, foi lançada pela Netflix em janeiro deste ano no Reino Unido e chegou a ficar em primeiro lugar em todo o continente britânico e na Irlanda logo nas primeiras semanas de estréia.


Seguindo à risca a cartilha das comédias românticas hollywoodianas, o filme translada alguns dos motes de Frank Capra [1897-1991] para o contexto de uma pequena cidade inglesa: por mais aquisitivamente favorecidos que sejam os personagens, eles são mostrados como bondosos, compreensivos e solidários, no afã por validar o clímax musical, num ‘show’, em que David amplifica a sua paixão pelos karaokês, que é demonstrada em diversas seqüências. O problema maior é precisamente a representação unilateral do personagem-título: David parece incapaz de contar uma mentira, de enraivecer-se, até mesmo de levantar a voz contra outrem. Como se trata de uma biografia, isso é deveras suspeitoso!

Pesando-se as suas qualidades tangenciais, os cento e sete minutos de duração de “David Contra os Bancos”, que soam intimidadores no início, até que são preenchidos de maneira graciosa: não é um filme inesquecível – e nem pretende sê-lo – mas reitera uma crença quase ingênua no apoio comunitário e na economia solidária, em que o fato de o protagonista gabar-se de “ganhar muito bem” não instaura nenhum conflito vicinal. Muito pelo contrário: em dado momento, o enredo é direcionado para que torçamos para que ele ganhe ainda mais dinheiro. Mais ou menos como ocorre nos clássicos bem-humorados de Frank Capra. É divertido: fica aqui a nossa recomendação despretensiosa.

EM EXIBIÇÃO NOS CINEMAS

Escrito por Wesley Pereira de Castro

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