Mare Nostrum


O diretor Ricardo Elias traz ao público um filme baseado em um relato pessoal de sua família e contempla a todos com minutos de muita delicadeza.

Lançamento da Imovision para esta semana, a produção revela as conexões humanas que acontecem a partir da venda de um terreno, no sul de São Paulo, que, como em uma fábula para os corações sensíveis, acredita-se ser mágico.

O longa é estrelado pelo grupo de atores: Silvio Guindane, Ricardo Oshiro, Carlos Meceni, Livia Santos e Ailton Graça.

Trailer

Quando a tela se abre, a chuva cai em um terreno vazio e vemos Nakano (Edson Kameda) protegido por um guarda-chuva a espera de João (Ailton Graça) que logo chega para conversarem.

Nos carros de ambos, estão as famílias. No de Nakano, o filho Mitsuo com seu caderno de desenhos. E no de João, a esposa e o filho Roberto que de cara já demonstra sua paixão por futebol ao manusear com cuidado o seu álbum de figurinhas.

Ali fora, os homens negociam a venda do terreno em que pisam. Nakano quer o dinheiro para começar um negócio. Uma Peixaria. E com o fim da Chuva, após a negociação, João sente que há algo especial no lugar e que fez a compra certa. Anos se passam, e assistimos dois homens retornarem ao pais. Um é Roberto (Silvio Guindane). O outro Mitsuo (Ricardo Oshiro). Roberto estava trabalhando na Espanha como repórter esportivo e com a crise econômica teve que voltar. Mitsuo morava com a esposa no Japão e perdeu tudo que construiu com a tragédia que assombrou a Ásia, em 2011, chamada Tsunami. A vida dos dois volta a se cruzar quando Roberto descobre que o falecido pai não obteve a transferência definitiva daquele terreno para seu nome e constam muitos boletos do IPTU para pagar no nome da família. Além disso, para aliviar a crise financeira do clã ele necessita vender a propriedade, mas só pode o fazer com a assinatura do pai de Mitsuo, o senhor Nakano. 

Após estabelecerem contato, o repórter descobre que a família de Nakano também não está muito bem de dinheiro e Mitsuo ainda aproveita para pedir 20 mil reais para realizar a transferência. Roberto além da dívida do imóvel tem que quitar as dividas do colégio da filha Beatriz (Livia Santos) para que ela possa estudar normalmente e se desespera. Com a ajuda do corretor Orestes (Meceni), ambos entram em um acordo. Mas não antes de reencontrar o passado de seus pais e olharem ao seu presente.


Ganhamos aqui personagens muito interessantes e bem construídos. De um lado, temos dois pais que viveram a sua maneira e de outro dois filhos que também escolheram caminhos próprios. João era um cara amado e do mundo. Teve diversas mulheres, além da mãe de seu filho, e quando Roberto vai visita-las, para procurar um documento do pai, ouve muitas histórias a seu respeito. Sua volta ao Brasil acaba propiciando sua reconexão com a mãe e com filha adolescente Beatriz (Lívia Santos) e aos poucos eles vão construindo um caminho bonito. Ele tem ainda o sonho de lançar um livro sobre um grande ídolo seu do futebol, mas para isto necessita da autorização da família. O repórter é muito admirado por amigos e um deles até parece ter interesse em ajudá-lo. Mas de uma forma não muito leal.

Mitsuo também percebe que fez falta ali para ajudar a irmã com a peixaria do pai e com o próprio. Afinal, Nakano já é um senhor bem debilitado. Sua tristeza vem ainda mais, pois a esposa decide ir ficar com os pais no interior, enquanto ele se restabelece em Santos e tenta montar sua empresa de design gráfico.


A direção de arte e até a equipe do figurino nos mostra um trabalho detalhista para nos trazer as épocas em que o filme caminha. Camisas clássicas de futebol, carros mais antigos e álbuns de figurinhas nos levam aos anos 80/90 e a época dos smartfones, tablets e wifi nos fazem assimilar os anos 2000.

O roteiro entrega bons diálogos e confere aos personagem de Carlos Meceni jargões e expressões populares para aliviar o peso da trama. Silvio, Ricardo e Lívia também tem bons ganchos e a atuação do elenco, como um todo, é louvável.

O ritmo do filme começa com lentidão, mas seu desenvolvimento consegue prender a atenção e quando menos você espera está encantado pela história.

Ricardo Elias faz aqui um filme com contexto, com amor, com suavidade e suas tomadas se diversificam ao longo dele todo. Bem como os tons da fotografia. Isso transparece bem a transformação que os personagens precisam passar para entenderem a ironia da vida.


Ficha Técnica
Direção: Ricardo Elias. Roteiro: Ricardo Elias, Eneas Carlos e Claudio Yosida. Elenco: Silvio Guindane, Ricardo Oshiro, Carlos Meceni, Lívia Santos, Ailton Graça, César Mello, Vera Mancini, Edson Kameda, Teka Romualdo. Gênero: Drama. Nacionalidade: Brasil. Diretor de Fotografia: Hélcio Alemão Nagamine ABC. Diretor de Arte: Ana Mara Abreu. Música original: André Abujamra. Montagem: Willem Dias. Distribuição: Imovision. Duração: 01h41min. Classificação indicativa: Livre

Indicado a quem quer se surpreender com uma trama doce e familiar.

Avaliação: Três viagens mágicas com a familia (3/5).
04 de outubro nos cinemas!
See Ya!

B-

Escrito por Bárbara Kruczyński

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