Coringa, de Todd Phillips


Coringa sempre foi um dos vilões mais amados do público que lê HQs. Sua excêntrica personalidade, contudo, só havia ganhado destaque naquele universo. Nas telas e em live-action, sempre o vimos como antagonista ao homem morcego e com um grupo seleto de criminosos que perambulam por Gotham City.

Após o estrondoso sucesso do ator Heath Ledger em "Batman - O Cavaleiro das Trevas", de Christopher Nolan (2008), ficou claro que o anti-herói era intrigante o suficiente para também ter uma apresentação cinematográfica  só sua. Todavia, o falecimento precoce de Ledger excluiu o ator da chance de estar no papel, porém, ainda assim, o seu talento expôs o personagem e a ele próprio a um nível nunca antes imaginado, fervor com a crítica e um Oscar póstumo. A partir dali, a concepção de um filme origem foi também levada a serio.

Com base então na HQ, a escrita por Alan Moore, principalmente, ("Piada Mortal") esmiuçar as características deste e trazer sua jornada de surgimento ficou mais fácil. E o produtor, roteirista e diretor Todd Phillips se jogou de cabeça na ideia. Conhecido por realizar produções mais voltadas para a comédia, Phillips começou a contrabalancear seu currículo com películas como "Cães De Guerra" (ler comentários aqui).

Phillips e o parceiro de roteiro, Scott  Silver, revelam que, desde o início, escreveram o texto com Joaquin Phoenix em mente e o ator acabou comprando a possibilidade de interpretar Coringa pela proposta humana que os realizadores queriam e conseguem entregar.

Assim, para o nosso delírio e contentamento, o filme chega as telas mundiais esta semana, após fazer uma linda caminhada no Festival de Veneza e levar pra casa o Leão Dourado de Melhor Filme.

A distribuição é da senhora maravilhosa Warner Bros Pictures do Brasil.

Trailer
Título original e ano: Joker, 2019. Direção: Todd Phillips. Roteiro: Todd Phillips e Scott Silver — baseado nos personagens criados por Jerry Robinson, Bill Finger e Bob Kane. Elenco: Joaquin Phoenix, Robert De Niro, Marc Maron, Zazie Beetz, Brett Cullen, Frances Conroy, Dante Pereira-Olson, Shea Whigham, Glenn Fleshler, Leigh Gill, Sharon Washington, Carrie Louise Putrello, Bill Camp, Douglas Hodge. Gênero: Drama, crime suspense. Nacionalidade: EUA. Trilha Sonora: Hildur Guðnadóttir. Editor Musical: Daniel Waldman. Fotografia: Lawrence Sher. Edição: Jeff Groth. Figurino: Mark Bridges. Direção de Arte: Distribuidora: Warner Bros Pictures. Duração: 02h01min.
Na trama, Arthur Fleck (Phoenix), um homem solitário e atormentado que sonha em ser comediante, trabalha como palhaço em hospitais e faz apresentações circenses por aí. Em outros momentos, Fleck cuida da mãe doente, Penny (Frances Conroy), e também vai a consultas com uma agente social (Sharon Washington) para tentar estabilizar seus problemas mentais. Ademais, o homem sofre de uma condição que o faz rir em horas impróprias e constrange todos a sua volta.

Uma dessas horas, aliás, vem a acontecer enquanto este está voltando para casa de metrô e três homens de classe alta se incomodam com sua presença. Cansado de apanhar e de ser aterrorizado, Fleck reage atirando nos três e matando-os com uma arma que um colega de trabalho o emprestou. A cidade de Gotham fica consternada com o ocorrido e um movimento popular toma as ruas, mas não para vingar as mortes e sim para exigir respeito a população de classe baixa. A elite, representada por figurões como Thomas Wayne (Brett Cullen), começa a temer que serão atacados perante o caos criado e a vida de Arthur Fleck começa a se transformar a partir deste acontecimento. 


O roteiro de Phillips e Silver usa como referências cinematográficas Taxi Driver: Motorista de Táxi (1976), Touro Indomável (1980) e O Rei da Comédia (1982). Este último ganha ainda mais força, pois insere-se na trama um apresentador de televisão no qual Fleck e a mãe são aficionados, o popular Murray Franklin (Robert De Niro). E como naquele, aqui o apresentador sofre com o 'amor' advindo do fã - consequência clara de uma sociedade que não é inclusiva e escolhe maltratar e apontar as fragilidades alheias, ao invés de acolher os que precisam de cuidados especiais. 


Outro fator importante é como Fleck lida com suas emoções e desejos. Somos apresentados a sua vizinha, Sophie Dumond (Zazie Beetz), exatamente para termos a ideia psicológica de como sua mente funciona. Suas interações com outros seres humanos, os colegas de trabalho trapaceiros, moleques de rua que o espancam ou até crianças procurando afeto dentro de conduções de transporte, também nos revelam que seu estado doce e inocente é ao mesmo tempo muito exótico e atrai perseguição.

A direção é estupenda em nos trazer uma análise potente do personagem e de como sua caminhada se deu. Seu crescimento conturbado, sua vida estranha e todos os julgamentos por quais ele passou a vida toda. Sua transformação não acontece, em nenhum momento, para instigar a violência, pelo contrário, temos a oportunidade de conhecer quem realmente Coringa é e porquê ele tem tantos transtornos. Esta hora, temos empatia, e até o olhamos de outra forma - afinal, vemos alguém ser surrado apenas por estar a margem. A relação com a mãe é uma das chaves para também sentirmos a sua dor e esse circulo se fecha com o plano de funo criado a partir do 'acidente' em defesa da própria vida.

O ato final do filme, na verdade, mostra que era impossível ter controle da situação. Gotham, dominada por uma classe alta soberba e vil que não olha para os mais pobres, claramente não se importa com ninguém além deles. Os políticos pouco ligam se há ou não limpeza e precaução para impedir a proliferação de ratos nos bairros, imagina então cuidar daqueles que sofrem de problemas neurológicos e que necessitam de atenção especial. Inclusive, até cortam as verbas destinadas a este tipo de assistência e assim deixam pessoas como Arthur Fleck desprovidas de ajuda. A saída encontrada por ele nasce naturalmente dai. Do total descaso. Um caminho sem volta que lhe é imposto e leva ao caos e as reações do personagem serão sim julgadas, mas não esquecendo toda a sua humanidade.

As atuações coadjuvantes na produção são a base para a criação de Phoenix. De Niro tem pouquíssimas cenas, mas sua participação é sublime. É de seu apresentador canastrão que sentimos as máscaras da sociedade se mostrarem. E esta farsa quando se revela muda as feições de Fleck que até então via em seu ídolo uma escape para momentos felizes. 



Criado por Jerry RobinsonBill Finger e Bob Kane, o vilão já foi interpretado inúmeras vezes. Jack Nicholson, Heath Ledger e Jared Leto trouxeram ao público suas versões únicas de Coringa e Phoenix consegue atingir outro patamar. Talvez um que se iguale ao de Ledger, pois a performance do ator é brilhante e, apesar de fugir de comparações, consegue ser tão excelente quanto a do ator falecido. Certos takes até lembram os feitos de Ledger no passado e a caracterização de Joker tem certa semelhança.

Na primeira imagem, Phoenix como Coringa, e , na segunda, Ledger. 

Com belíssima técnica da fotografia, trilha sonora e uma lista de músicas (escute aqui) que esbanja elegância (ouvimos canções de Frank Sinatra, Nat King Kole, The Guess Who, Tony Bennett e muitos outros) o filme constrói muito bem seu tom de suspense. 

Por fim, vale dizer que CORINGA não dá só aos fãs um tão sonhado 'filme origem', mas a todos os cinéfilos boas horas de entretenimento com consistência.

Avaliação: Cinco passos rumo ao OSCAR (5/5)

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See Ya!

B-

Escrito por Bárbara Kruczyński

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