Eu e o Líder da Seíta, de Atsushi Sakahara |É Tudo Verdade

O documentário se inicia com o encontro entre Atsushi Sakahara e Hiroshi Araki, reunião esta que já estava sendo planejada há algum tempo. Um encontro casual entre dois desconhecidos, que só haviam conversado virtualmente. A conversa começa com amenidades e envereda para o real motivo do tête-à-tête. Falar sobre o passado.

Após 20 anos, Atsushi, diretor do filme, ainda sofre as consequências físicas e psicológicas causadas pelo gás sarin usado no ataque terrorista do metrô de Tóquio, em 20 de março de 1995, o qual ele estava presente. Araki não esteve diretamente envolvido no ocorrido, mas é o atual líder executivo da Aleph, novo movimento religioso anteriormente conhecido como Aum Shinrikyo que tem ligação direta com o atentado. Segundo a seita, a humanidade acabaria, exceto para os poucos da elite que se juntaram a Aum. A missão de grupo organizado não era apenas espalhar a palavra da salvação, mas também sobreviver ao final dos tempos.

Na perspectiva de Atsushi, o responsável pela Aleph lhe deve alguma explicação e desculpas pelo ocorrido. Uma postura tipicamente oriental onde para seguir em frente e superar um trauma, seria necessário desculpar-se e perdoar os erros da organização. O encontro é como se fosse uma sessão de terapia, uma catarse para ambos, uma maneira de exorcizar os demônios que habitam seus pensamentos atuais. 

E o que houve? Bem, em 1995, a seita era liderada por Chizuo Matsumoto, que mudou seu nome para Shoko Asahara e declarava-se Cristo ressuscitado e único mestre totalmente iluminado do Japão, cometeu o maior ato terrorista da história do Japão, matando 13 pessoas e ferindo 6 mil usando o terrível gás sarin em três trens de metrôs lotados da cidade. Após o atentado, Shoko e 12 seguidores foram presos, enviados para o corredor da morte e executados em julho de 2018. Mas para Atsushi essa punição não foi suficiente para abrandar seu sofrimento e de seus pais idosos. Eles ainda necessitavam viabilizar um confronto cara a cara e obter possíveis explicações. Assim, durante 1h54min vamos acompanhar essa viagem física e psicológica destes dois estranhos ligados por acontecimentos trágicos e escolhas íntimas.


O diretor, que chegou a se casar, mas o matrimônio não durou muito, pois descobriu ligações da esposa com a organização, escreveu um livro a respeito de toda a situação e ainda tenta entender o porquê do ataque covarde sem justificativa plausível. Mas será que o atual líder da seita tem essas respostas? 

Araki conta que renunciou a vida rotineira em maio de 94 deixando então o seu lar em Osaka para se ligar à seita dita budista Aum Shrinkyo. O homem conta que fez isto sem ter muito claro na mente do que se tratava a organização. Se baseou apenas em ideias lidas em livros de um amigo e se tornou membro. Diz ainda que a comida que eles recebem na seita não tem sal ou açúcar, justamente para que os membros se libertem dos prazeres e não tenham contato com sabores estimulantes.  Para ele, ser um renunciante do mundo moderno exigia sair de perto do aconchego familiar e encarar treinamento e disciplina religiosa. Hoje vive em um local simples, suas vestes não são propícias para o clima frio e anda o tempo todo com uma mochila e um pequeno saco de dormir, seus únicos pertences.  Anteriormente, acometido por uma enfermidade, voltou a pedir abrigo na casa dos pais, mas retornou a  seita.

Trailer

Ficha Técnica

Título original e ano: Aganai/ Me and the Cult Leader - A Modern Report  on the Banality of Evil, 2020. Direção: Atsushi Sakahara. Entrevistas/Elenco: Atsushi Sakahara, Hiroshi ArakiTakako Sakahara e Takeshi Sakahara. Gênero: Documentário, Crime, Drama. Nacionalidade: Japão. Trilha Sonora Original: Soto Ikemiya. Edição: Junko Watanabe. Fotografia: Tatsuya YamadaIdioma: japonês. Duração: 114 min. Classificação indicativa: livre.
Desta forma, o espectador é convidado a viajar nos trens japoneses para visitar as cidades onde os dois viveram, bem como a Universidade de Quioto, em busca de respostas que os ajudem a entender suas jornadas de vida. São belas imagens a julgar pelo que se vê através da janela do transporte. Como se presente e passado desfilassem em suas memórias e recordações mais íntimas voltassem à tona. O barulho da locomotiva e a paisagem, por vezes árida e cinzenta, refletem as mentes confusas dos dois homens.

Se por um lado, Araki se vê confrontado em suas crenças e em seu distanciamento da família e começa a refletir na lógica de suas escolhas confirmando que renunciar é um trabalho difícil, porque as lembranças permanecem. Por outro, Atsushi necessita de respostas e desculpas, mas Araki afirma que cada envolvido daria a sua versão dos fatos com base em suas experiências individuais. O encontro documentado por este filme certamente provocou reflexões profundas em ambos e levou a algumas mudanças pessoais em relação às famílias deles.

Um filme com alto grau de informação e reflexão que merece ser assistido.

Serviço:
Veja a programação completa disponível aqui.
Serviço
19h EU E O LÍDER DA SEITA
Dir. Atsushi Sakahara / Japão, 2020, 114’ 
Competição Internacional de Longas

Como Acessar o Looke:

1. Faça seu cadastro no site www.looke.com.br. Um código SMS será enviado para o seu celular para concluir o cadastro.
2. Acesse o site www.etudoverdade.com.br e clique em “Programação”.
3. Clique no filme escolhido e você será direcionado para a página do É Tudo Verdade / Looke
4. Aperte o play e boa sessão!

Escrito por Helen Ribeiro

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