Abe | Assista nos Cinemas

 

Abe (Noah Schnapp) é um garoto norte-americano de doze anos que tem ascendência judia pelo lado materno e ascendência muçulmana palestina pelo lado paterno. Para completar o quadro, seu pai se reconhece como ateu e abomina as duas religiões. Sendo chamado ora de Abraham, ora de Ibrahim, Abe procura ceder um pouco a cada cultura, um pouco pela coerção cheia de julgamento dos parentes, um pouco por genuína curiosidade e vontade de conectar sua família e suas raízes enquanto cria seu próprio espaço e sua própria identidade.


Apaixonado por culinária e um prodígio na cozinha, o pré-adolescente vale-se da comida como ferramenta principal para se associar às culturas a seu redor, como quando toma vinho com seu avô judeu, quando cozinha junto a sua avó palestina e tenta jejuar para preparar-se para o ramadã e nas duas ocasiões em que tenta preparar sozinho toda a comida dos encontros familiares em uma tentativa de apaziguar os ânimos e unir todos através do paladar.


Nessa jornada, ele ouve falar de Chico (Seu Jorge), chef brasileiro que une a comida da Bahia à multinacionalidade de suas vivências e funcionários e vende seus quitutes em uma banca de rua. Tão logo o cozinheiro surge na história, o filme passa a ser permeado por música brasileira. Enquanto mente para os pais que está frequentando um curso de culinária para crianças, o protagonista secretamente visita a cozinha industrial de Chico, onde começa a trabalhar tirando o lixo e lavando a louça até ir aprendendo segredos da mistura de sabores e texturas.



Algumas decisões de roteiro não funcionam em termos de verossimilhança, como o fato de um imigrante negro aceitar que uma criança branca e rica lave suas louças sem a permissão dos pais sabendo a confusão que isso pode dar. E mesmo deixando as questões socio-políticas de lado, o convencimento de Chico é meio forçado. Outro ponto que chama a atenção é que, ornando a estética “Pinterest” da obra, Abe está sempre com um headphone pendurado no pescoço, o que funciona perfeitamente para compor seu visual e personalidade. No entanto, são mostradas inúmeras cenas em que o adolescente caminha pelas ruas e pega o metrô de sua cidade sem que recorra ao aparelho. Como outros recursos, este adereço não tem função dramática, servindo apenas para agregar valor a uma identidade visual que é linda, se destacando em relação ao roteiro e mise-en-scène.


Porém, adotando o tom “família” do filme, essa verossimilhança pouco importa, pois o longa-metragem funciona em um mundo suspenso. Sim, este é um filme família. Daqueles em que a vida é linda e tudo dá um jeito de dar certo. Do tipo que passaria no telecine touch em um sábado à tarde. É meio comercial de margarina, sabe? Mas margarina sem sal. Não é de rolar de rir, não é de morrer de chorar, nem de provocar uma grande alteridade pelo drama do menino.


Por fim, a título de curiosidade, o filme nos deixa com uma “questão de geladeira”: no início da história, a mãe do jovem compara os conhecimentos químicos do filho quanto à fermentação de bolos ao conhecimento químico do protagonista da série Braking Bad. Na cena imediatamente posterior, o avô Benjamin entra pela porta da casa e vê-se que o personagem é interpretado por Mark Margolis, que também interpreta “Tío” na série mencionada. Ora, se esta série existe no universo do filme, como a família não percebe que Benjamin é idêntico a um de seus personagens? Ou o Vovô é um ator renomado e isto não é mencionado?! A questão obviamente não configura demérito ao filme, mas com certeza salta aos olhos.


Trailer


Ficha Técnica

Título original e ano: Abe, 2019. Direção: Fernando Grostein Andrade. Roteiro: Fernando Grostein Andrade, Lameece Issaq, Jacob Kaber.Elenco:Noah Schnapps, Seu Jorge, Mark Margolis, Salem Murphy, Dagmara Dominczyk, Arian Moayed, Gero Camilo. Gênero: Drama. Nacionalidade: Estados Unidos, Brasil. Fotografia: Blasco Giurato. Edição: Claudia Catello, Bruno Lasevicius, Suzanne Splangler. Direção de Arte: Claudia Calabi. Distribuidora: Paris Filmes. Duração: 85 min.

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Escrito por Luana Rosa

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