Ataque de Cães, de Jane Campion


“Livra a minha alma da espada,
 e a minha predileta da força do cão.”
Salmos 22:20

Sabe quando você assiste a um filme e fica “meu deus, que filme maravilhoso. Eu preciso comentar com alguém sobre ele”? Bem, foi justamente isso que senti com Ataque de Cães (The Power of the Dog). O problema é que nenhum dos meus amigos viu ainda, então cá estou escrevendo sobre ele. Não dá pra discutir tão afundo quanto eu queria, mas já aviso que vou fazer pequenas revelações, que alguns podem acabar considerando spoiler.

O filme conta a história de dois irmãos que vivem em Montana, Estados Unidos, em 1925. Os dois cresceram em um rancho, longe dos pais, mas tiveram a presença de um mentor chamado Bronco Henry. George (Jesse Plemons) é honesto, gentil e mais culto. Enquanto isso, Phill (Benedict Cumberbatch) é bruto, sujo e cruel. Phill gosta de exercer poder sobre seu irmão mais novo, sempre o ofendendo e o controlando. Porém, essa dinâmica é abalada quando George casa com a viúva Rose (Kirsten Dunst). Criando animosidade imediata com Rose, Phill faz de tudo para abalá-la psicologicamente. O que ele não contava era com a presença do filho de Rose, Peter (Kodi Smit-Mcphee).

A nova produção da aclamada diretora Jane Campion (O Piano) é baseada em um livro homônimo (veja aqui), de Thomas Savage. Eu fiquei bastante curioso para saber se é uma adaptação direta, pois a história lida com temas polêmicos para a época de publicação do livro (1967). Jane Campion é indiscutivelmente uma daquelas diretoras que tem uma voz muito forte. O filme foi concebido com meticulosidade: roteiro afiado (escrito pela própria diretora), trilha sonora impactante e fotografia crua e fria (mas belíssima). Você fica completamente imerso na trama e as duas horas de projeção passam sem você sentir.



Porém, o que me conquistou mesmo foram os personagens. Eu gosto muito de histórias centradas em personagens complexos e aqui, todos eles possuem camadas que vão sendo reveladas aos poucos (só lembro do Sherek falando que ele é como uma cebola haha). Phill é um homem amargurado, que exala uma masculinidade que a sociedade traduz como força e usa de seu poder para subjugar os outros. Benedict Cumberbatch está impecável no papel. A repulsa que ele causa no espectador é imediata. Porém, percebemos que a pose de machão é fachada que esconde um grande segredo, que ele tenta suprimir a todo custo. Não é algo que justifica suas ações - ou nos leva a gostar do personagem - mas nos faz entender sua complexidade.

Peter, ao contrário de Phill, é uma figura sensível, o que até hoje, em um homem, é visto como fraqueza e falta de virilidade. Porém, o garoto possui uma enorme determinação e instinto protetivo em relação a sua mãe, o que desafia (e de certa forma atrai) Phill. Rose perdeu o marido de forma trágica e ao casar com George, embora ele seja atencioso e prestativo, ela passa a sentir um grande abalo emocional, não só por causa dos ataques de Phill, mas também pelas pressões das expectativas de alguém que subiu de classe social pelo casamento.


Como já perceberam, o filme discute o que é realmente uma pessoa forte e uma pessoa fraca. Desafia nossos olhares sobre masculinidade e sobre poder. É muito interessante como no decorrer da história, as estruturas de poder vão mudando. É tudo construído com muita sutileza por isso o expectador precisar estar atento para perceber certas nuances da história. Porém, apesar de tal sutileza, o filme também consegue criar tensão, que vai crescendo, te envolvendo, e culmina em um desfecho muito satisfatório. O nome do filme/livro é inspirado pelo salmo que abre este texto. Então, qual seria essa força do cão? O desiquilíbrio de poder que existe entre um homem e uma mulher? As pressões sociais que ditam comportamentos? Há muito para se refletir com os símbolos e temas que o filme traz!

Talvez já tenha falado demais e dizer mais do que isso irá atrapalhar sua experiência com o filme. Então termino com minha recomendação máxima para que assistam! Definitivamente é um dos meus preferidos do ano e fico torcendo para que as projeções para o Oscar se confirmem ( a produção já ganhou seis indicações em Festivais, em um deles, o de Veneza, a Jane levou melhour direção). Se eu tivesse que apostar, diria que será indicado para melhor filme, ator (Benedict), ator coadjuvante (Kodi), atriz coadjuvante (Kirsten), direção, roteiro adaptado, montagem e fotografia. Todas indicações serão muito merecidas!
Trailer

 
Ficha Técnica
Título Original e ano: The Power of the Dog, 2021. Direção: Jane Campion. Roteiro: Jane Campion. Elenco: Benedict Cumberbatch, Kirsten Dunst, Jesse Plemons, Thomasin McKenzie e Kodi Smit-McPhee. Gênero: Drama. Nacionalidade: Estados Unidos, Nova Zelândia. Música: Jonny Greenwood. Cinematografia: Ari Wegner. Edição: Peter Sciberras. Distribuição: Netflix. Duração: 02hrs05m.

DISPONIVEL NA MENINA NETFLIX (clique aqui)

Escrito por Vitor Souza

    Comentários Blogger
    Comentários Facebook

0 comments:

Postar um comentário

Pode falar. Nós retribuímos os comentários e respondemos qualquer dúvida. :)