Noite Infeliz, de Tommy Wirkola | Assista nos Cinemas


O próprio conceito do Natal já é um clichê por si só. O comércio pelas ruas ganha decorações que emulam neve, mesmo em países tropicais cuja população convive diariamente com altas temperaturas; artistas musicais regravam canções já interpretadas incontáveis vezes antes; séries de TV ganham episódios temáticos de Natal, encaixando a temática até onde não faz sentido. Este vício também é replicado à exaustão no Cinema, especialmente com filmes voltados para o público familiar e comédias fofas de aquecer o coração, com tramas previsivelmente acolhedoras, figurinos verdes e vermelhos e sentimentos açucarados. O hábito entranhado na cultura ocidental beira a obsessão, de modo que é certa a chegada anual de uma nova leva de produções natalinas aos cinemas, na TV e nos serviços de streaming. Em 2022, o cineasta norueguês Tommy Wirkola garantiu que a tradição permaneça viva. Mas toda boa tradição ganha um gostinho especial com um toque de rebeldia.

Em Noite Infeliz, David Harbour interpreta uma versão beberrona e desbocada do Bom-Velhinho, frustrado com os rumos de sua carreira milenar devido à crescente ânsia consumista das crianças do século XXI. A aposentadoria dele é uma possibilidade, até seu caminho cruzar com o de Trudy (Leah Brady), uma garotinha esperta e cativante que está preocupada com o aparente desgaste do casamento de seus pais. A pequena ganha mais motivos pra se preocupar quando um perigoso esquadrão de mercenários com codinomes natalinos torna sua família refém na noite de Natal a fim de esvaziar o cofre da matriarca ricaça. Noel se envolve na situação e compra a briga contra o grupo criminoso, para salvar o Natal de Trudy e garantir que todos os nomes em sua lista de pessoas malvadas recebam os “presentes” que merecem.

Créditos: Universal Pictures   
 '' - Papai Noel, mas, por favor, me chame de Noel'' 

Esta comédia de ação natalina é totalmente histérica. Cheia de piadas ácidas, palavrões e violência explícita, definitivamente não se trata do filme familiar convencional. Tanto a estrutura da trama quanto a construção disfuncional da família representada foge aos padrões esperados pelo público em obras audiovisuais lançadas no fim de ano. Contudo, Noite Infeliz acaba sendo bem menos cínico do que sua proposta sugere. Mesmo com cenas repletas de sangue e mortes inventivamente gráficas, o espírito do filme não renega a mágica fantasiosa do legado no qual se inspira, garantindo momentos inesperadamente emocionais em meio ao caos generalizado. É uma mistura de Duro de Matar com Esqueceram de Mim, adicionando uma pitada de sadismo às desventuras vividas pelo personagem de Bruce Willis e ironizando o risco potencialmente mortal das armadilhas improvisadas pelo personagem de Macaulay Culkin.
                                                                                                                                                                                                                                                                                              Créditos: Universal Pictures
No filme, temos referências emblemáticas até mesmo ao clássico de Charles Dickens ''Um Conto de Natal'' e o personagem de John Leguizamo recebe o codinome de ''Scrooge''.

O elenco afiado, que conta com John Leguizamo, Beverly D'Angelo, Cam Gigandet, Edi Paterson, entre outros, mostra uma química admirável em suas interações, com interpretações ora sensíveis ora propositalmente canastronas. David Harbour brilha como Noel, sendo bem-sucedido no misto de violência e coração exigido da construção de seu personagem, recusando-se a tomar atalhos que poderiam torná-lo uma espécie de Deadpool natalino. A mocinha de Leah Brady é o perfeito contraponto e, ao mesmo tempo, complemento ao protagonista de Harbour, sendo a catalizadora da magia que torna esta história tão especial, mas sem deixar de entrar na onda adoravelmente brutal desta versão não-tão-boazinha do Bom Velhinho.

Noite Infeliz simultaneamente subverte e abraça os clichês dos filmes do gênero, sem medo de soar sanguinolento demais ou talvez infantil demais (extremos que em qualquer outro contexto soariam excludentes entre si, mas que funcionam dentro da proposta). Cenas bem construídas, sacadas espirituosas (como usar elementos musicais natalinos numa trilha de ação), e uma trama genuinamente encantadora tornam esta comédia hiperviolenta numa das grandes surpresas da temporada. Talvez um novo clássico em potencial. Melhor do que renegar as tradições é tornar as tradições em algo MAIS LEGAL.

Trailer

Ficha Técnica
  • Título original e ano: Violent Night, 2022. Direção: Tommy Wirkola. Roteiro: Pat Casey e Josh Miller. Elenco: David Harbour, Beverly D'Angelo, John Leguizamo, Cam Gigandet, Edi Paterson, Brendan Fletcher, Alex Hassell, Mike Dopud, Mitra Suri, Alexis Louder, Leah Brady, Alexander Elliot, Stephanie Sy, André Eriksen, Sean Skene, Erik Athavale, Frederik Allen. Trilha Sonora Original: Dominc Lewis. Fotografia: Matthew Weston. Edição: Jim Page. Design de Produção: Roger Fires. Direção de Arte: Ksenia Markova. Figurino: Laura DeLuca. Distribuição: Universal Pictures Brasil. Duração: 01h41min.     

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Escrito por Petterson Costa

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