Ervas Secas, de Nuri Bilge Ceylan | 47ª Mostra SP



PERSPECTIVA INTERNACIONAL| Mais Informações

Samet (Deni̇z Celi̇loğlu) é o professor de artes de um vilarejo das montanhas nevadas da Anatólia, na Turquia. Planejando voltar para a cidade grande Istambul, após o seu serviço obrigatório, divide uma casa com o colega professor Kenan (Musab Eki̇ci̇), nativo destas terras isoladas. Enquanto espera por esse ansiado retorno, tem encontros casuais com outra colega professora Nuray (Merve Di̇zdar) e cultiva um xodó especial por sua aluna preferida, a linda adolescente Sevim (Ece Bağci).
Mas tudo começa a dar errado quando Sevim o denuncia ao diretor da escola por comportamento inapropriado e quando Nuray começa a se interessar por seu colega de quarto Kenan. Em um inferno existencial, mal-humorado e teimoso, Samet assedia moralmente a adolescente e seduz Nuray, levando-a para cama, mesmo sabendo que ela gosta mesmo é de Kenan. Inclusive, faz questão de contar ao Kenan de sua aventura carnal com a bela pretendente.
Estas idas e vindas dos personagens são pano de fundo para um roteiro multidimensional, com protagonistas complexos. Os diálogos do filme são memoráveis, com questões filosóficas complexas sendo abordadas em conversas casuais. Característica notável do diretor turco Nuri Bilge Ceylan e que traz profundidade na abordagem dos temas. Assistir um filme dele é comparável a ler um romance de Tolstoi, Dostoievsky, Thomas Mann. Termina-se as três horas do longa-metragem com uma visão mais completa da vida. Certa sequência da película caracteriza bem o que se cita acima. No jantar onde se dará a sedução de Nuray, Samet e ela conversam longamente sobre como se posicionar politicamente, a mulher defende envolvimento e participação, o homem defende a omissão. Entre argumentos e contra-argumentos, se constrói uma visão do mundo contemporâneo, ressaltando que Nuray é vítima de um atentado terrorista, amputada de uma perna. São personagens complexos, defendendo pontos de vista excludentes de como viver, ao mesmo tempo que se seduzem, com intenções diferentes, num texto cheio de camadas, onde não existem mocinhos nem vilões.
Créditos: 47ª Mostra SP - Divulgação
A trama é baseada em experiência vivida por um dos roteiristas, Akin Aksu quando este teve de servir na Anatolia.

A atenção aos detalhes da Anatólia só faz acrescentar à essa multidimensionalidade. Nessas montanhas cobertas de neve há a opressão política do governo central da Turquia aos camponeses, uma pobreza extrema e falta de oportunidades, terroristas e uma violência latente que permeia todas as relações. Porém, ao mesmo tempo, há uma beleza exuberante. O hobby de fotografia do Samet cria sequências lindíssimas, onde os personagens e paisagens são capturadas em fotos absurdamente bonitas. A fotografia do filme, inclusive, é fantástica. As paisagens da Anatólia são de cair o queixo. Entre os vilarejos pobres, com muitos cachorros abandonados e camponeses sem perspectivas, as montanhas dão uma dimensão mitológica à trama.
Trailer

Ficha Técnica

Título original e ano: Kuru Otlar Üstüne, 2023. Direção: Nuri Bilge Ceylan. Roteiro: Akin Aksu, Ebru Ceylan, Nuri Bilge Ceylan. Elenco: Deniz Celiloglu, Merve Dizdar, Musab Ekici. Nacionalidade: Turquia. Gênero: Drama. Direção de fotografia: Cevahir Sahin, Kürsat Üresin. Direção de arte: Meral Aktan. Música: Philip Timofeyev. Montagem: Oguz Atabas, Nuri Bilge Ceylan. Figurino: Gülsah Yüksel. Tempo: 197 min. Classificação: 14 anos. Produção: Nuri Bilge Ceylan. Distribuição: Imovision.
Essa visão complexa da realidade, onde não existe a bidimensionalidade tão comum no cinema atual, já deu vários prêmios aos filmes do diretor. Merve Di̇zdar ganhou o prêmio de melhor interpretação feminina em Cannes 2023 por sua atuação como Nuray. Este diretor é uma potência na narrativa, todos os filmes deles são um descortinar dos olhos a uma realidade turca distante, mas ao mesmo tão próxima, pois humana.
O final onde finalmente aparecem as ervas secas do título é uma aula de cinema. As três horas do longa chegam a um desfecho inconcluso para os personagens e para os espectadores, pois a vida continua e novas narrativas vão ser contadas, graças a Deus e Alá! Assistam este filme e se maravilhem! 
Nota: 9,5/10.
Vinheta da Mostra

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Escrito por Marcelino Nobrega

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