Mussum - o Filmis, de Silvio Guindane | Assista nos Cinemas

 
Desde sempre artistas foram criados e formatados para serem um produto que chegue em certo público e fature bastante, esse não é o caso do multi-facetado Antônio Carlos Bernardes Gomes, o Mussum. Nascido em uma comunidade pobre do Rio de Janeiro, o sambista, que era um humorista nato, ganhou fama e é dono de uma jornada de vida sem igual. Criado por uma mãe solteira, preta e empregada doméstica, que sempre buscou o dar educação e um futuro melhor, Mussum foi além. Conquistou o Brasil com seu talento e foi eternizado como um dos mais amados Trapalhões, programa do qual fez parte durante boa parte de suas aparições na tevê e que gozou de ápice nos anos 80 e 90. A história do artista já fora contada no documentário lançado em 2018 ''Mussum - Uma História do Cacildis'', de Susana Lira, e agora chega aos cinemas a dramatização que apresenta ao público recortes importantes da vida do comediante, que é vivido pelo ator Ailton Graça com direção de Silvio Guindane, em ''Mussum - o Filmis''. A produção escrita por Paulo Cursino se baseia na obra ''Mussum - Uma História de Humor e Samba'', de Juliano Barreto e teve seu pontapé no 51º Festival de Gramado, onde ganhou seis prêmios Kikitos, entre eles, o de Melhor Filme, Melhor Ator para Graça e Melhor Ator Coadjuvante para Yuri Marçal (interprete do personagem na fase jovem), assim como Melhor Atriz Coadjuvante para Neusa Borges (que vive a mãe de Mussum na segunda fase do filme). O longa também contou com passagens pelo Festival do Rio, pela Mostra SP e com inúmeras pre-estréias pelo país.

Quando a tela se abre, uma esquete de humor para um programa está sendo gravada e Mussum (Ailton Graça) fazendo graça a torto e a direito em um ponto de ônibus fictício. Dali o espectador é levado a conhecer o pequeno Antônio Carlos (Thawan Lucas) e o seu dia a dia jogando bola na favela ou levando puxão de orelha da mãe Malvina (vivida por uma Cacau Protásio comedida e séria na primeira fase). O jovenzinho é levado pela mãe ao trabalho e ali é onde é alimentado e cuidado, mas logo ele adentra um colégio interno para aprender a escrever e se tornar alguém. Preocupado em também trazer conhecimento a família, Carlinhos ensina a mãe a compreender o mundo da escrita e a cena chega a emocionar. A película não se apresenta de forma linear e voltamos ao futuro para ver mais cenas de Mussum e logo retornamos para a sua fase de juventude como militar fardado e o orgulho da família. A comédia vem natural no filme quando Antônio Carlos se afeiçoa de moças no bairro ou quando a irmã Nancy indica a mãe que o rapaz gosta de ''noitada, cachaça e samba''. Ali, o público presencia como se daria a vida de Mussum por muito tempo, dividida em dois tipos de trabalhos. No inicio, amplamente distintos, e mais a frente, no mesmo setor, o cultural. 

                                                                                        Créditos: Downtown Filmes / Divulgação
Mussum - o Filmis conta pequena participação  deAntônio Carlos Santana Bernardes, filho de Mussum, e apresenta um elenco espetacular para homenagear um dos maiores artistas que o Brasil já teve.

A trajetória de Mussum no campo das artes (tocando e cantando com Os Sete Modernos do Samba e depois com Os Originais do Samba) o fez cruzar os caminhos de muita gente importante para o cenário artístico brasileiro e o roteiro traz em tela personagens como Grande Otelo (Nando Cunha), Elza Soares (Larissa Luz), Cartola (Flávio Bauraqui), Garrincha (Wilson Simoninha), Alcione (Clarice Paixão), Jorge Ben (Icaro Silva) e ainda Renato Aragão (Gero Camilo), Dedé Santana (Felipe Rocha) e Zacarias (Gustavo Nader), o grupo que Antônio Carlos se juntaria anos mais tarde após entrar para o mundo da comédia com o auxilio de Chico Anysio (Vanderlei Bernardino). Chico, aliás, é responsável por dar dicas a Mussum em como usar o seu jeitão engraçado em um linguajar diferente, finalizando as palavras com ''is''- o que nos anos 2000, já bem depois da morte de Mussum, virou até meme e figurinhas no WhatsApp.

A película aborda como foi difícil para o músico ter que viajar para fora do país sem a esposa, que estava grávida, e saber da morte do bebê estando tão longe. Sua relação com a mãe também é muito explorada no filme. Desde como ela queria que ele continuasse no militarismo até a fase onde já está cada vez mais consagrado no humor. Mussum viveu inúmeros relacionamentos e o texto também apresenta algumas das esposas do humorista. Contudo, a questão da escolha de caminhos é o grande conflito e traz o embate do artista consigo mesmo para aceitar que já não tinha mais espaço para a música em sua vida quando a tevê e o cinema o ocupavam em demasia.

                                                                                         Créditos: Downtown Filmes / Divulgação
Ailton Graça faz o espectador rir e traz leveza. Seu bom equilíbrio na transição para o drama faz jus aos seus prêmios pela interpretação de Mussum. 

Anualmente, temos inúmeras apresentações de cinebiografias no cinema brasileiro, porém, a condução orgástica de Silvio Guindane e a performance de um elenco fenomenal faz jus a necessidade de termos esta baita homenagem ao grande e inesquecível Mussum. Cada detalhe da produção é acertado e mágico, desde os cenários ao figurino e caracterizações (que até ganharam menção honrosa no Festival de Gramado). É aquele Brasil que dá orgulho de ver e de torcer para que chegue longe. Principalmente quando se fala de um artista tão importante e que quebrou os padrões do que se está acostumado no establishment. O trapalhão esteve em mais de dez filmes que são recordes de bilheteria em um tempo onde o Cinema não era tão apoiado pela maioria e fez muita diferença. Faleceu devido a um problema cardíaco deixando a todos saudosos de sua persona e de seu sorriso contagiante.

Mussum falava abertamente do racismo e de que não o tolerava. A principio, odiou o apelido ( que é o nome de um peixe) ganho de Grande Otelo durante uma apresentação de seu grupo musical, mas furou a bolha e foi protagonista em sua história fazendo o Brasil o admirar por seu talento e por quem era.

Trailer

Ficha Técnica

Título original e ano: Mussum - o filmis,   2023. Direção: Silvio Guindane. Roteiro: Paulo Cursino. Elenco: Ailton Graça, Thawan Lucas Bandeira, Yuri Marçal, Cacau Protásio, Neusa Borges, Jeniffer Dias, Késia e Cinnara Leal.  Gênero: Biografia, Drama, Comédia. Nacionalidade: Brasil. Direção de Fotografia: Nonato Estrela. Direção de Arte: Rafael Targat. Figurino: Cássio Brasil. Caracterização: Mari Pin e Martin Macías Trujillo. Som Direto: Evandro Lima. Montagem: André Simões. Música: Max de Castro. Edição de som: Acácia Lima e Tomás Alem. Mixagem de som: Rodrigo Noronha e Gustavo Loureiro. Gerente de Pós-produção: Monica Siqueira. Supervisão de Pós-produção: Talita Almeida. Produtor Associado: José Alvarenga Jr.. Produtor: André Carreira. Supervisão Artística: Roberto Santucci. Direção de Produção: Mariângela Furtado. Produção Executiva: Ângelo Gastal e Cacala Carvana. Produção: Camisa Listrada. Coprodução: Panorama Filmes, Globo Filmes, Globoplay, Telecine, RioFilme. DistribuiçãoDowntown Filmes. Duração01h30min.
Com distribuição da Downtown Filmes, a mesma responsável por trazer ''Minha Mãe É Uma Peça'', ''Tô Ryca'' e outros sucessos de grande bilheteria nacional, Mussum - o Filmis chega as telas com força para quebrar tudo e tem a torcida de um Brasil inteiro.

Avaliação: Quatro gargalhadas com nostalgia (4/5).


HOJE NOS CINEMAS

Escrito por Bárbara Kruczyński

    Comentários Blogger
    Comentários Facebook

0 comments:

Postar um comentário

Pode falar. Nós retribuímos os comentários e respondemos qualquer dúvida. :)