Uma Carta Para Papai Noel, de Gustavo Spolidoro | Assista nos Cinemas

 
“Apelemos para o TO-JUN-SO-FOR: Todos Juntos Somos Fortes!”

Quem conheceu o cineasta gaúcho Gustavo Spolidoro através de trabalhos como o curta-metragem “Outros” (2000), o longa-metragem em plano-seqüência único “Ainda Orangotangos” (2007) ou o semidocumentário “Morro do Céu” (2009) – todos eles interessantíssimos –, estranhará a sua propensão em dirigir um típico filme natalino, com todas as convenções genéricas deste subgênero hollywoodiano. Partindo de um argumento próprio, inspirado em uma situação familiar, ele consegue dotar essa trama simplista de uma inaudita simpatia. Ainda que os problemas eventualmente se sobressaiam, em relação aos acertos… 

Se as menções ao Rio Grande do Sul não fossem explícitas em mais de um momento, poder-se-ia dizer que “Uma Carta para Papai Noel” (2023) era um típico exemplar das produções norte-americanas que abundam em canais pagos de televisão, nos derradeiros meses do ano. Há problemas de ritmo e muitas firulas na construção dos personagens e acontecimentos, mas o diretor conseguiu dotar esta obra de um toque minimante pessoal, não obstante este não ser tão autoral quanto em seus exercícios directivos anteriores. 

Nesta sua caracterização brasileira, o mítico Papai Noel é interpretado pelo carismático José Rubens Chachá, e ele demonstra-se fatigado, após as tarefas executadas em dezembro. Ao lado de sua companheira Maria Noel (Totia Meireles), eles entregam presentes para todas as crianças do mundo, mas, por algum motivo, os moradores infantis de um lar de acolhimento reclamam que não recebem nada, há vários anos. E, a partir de determinado instante, eles investigarão o porquê disso.

O supracitado Lar de Acolhimento – na verdade, um orfanato – é regido pela austera Léia (Elisa Volpato), que, por algum motivo, não parece gostar do Natal. Ela justifica o fato de os garotos do orfanato não receberem presentes através do suposto mau comportamento dos mesmos, que, infelizmente, começam a acreditar nisso, o que intensifica a solidão e o abandono que eles experimentam. Até que o garotinho Jonas (Caetano Rostro Gomes) escreve uma carta para o Papai Noel, não apenas pedindo presentes, mas fazendo-lhe perguntas pessoais e demonstrando preocupação com o seu bem-estar, o que faz com que, imediatamente, o bom velhinho resolva perquirir em quais circunstâncias os presentes sumiram… 

Créditos: Divulgação / Pandora Filmes
O longa participou da 56० Edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro pela Mostra Paralela ''Outros Olhares''

Disfarçado de faz-tudo, Noel (agora rebatizado Leon) conta com o auxílio de sua assistente Tata (vivida pela competente mas histriônica Polly Marinho), e consegue penetrar o Lar do Acolhimento, mas sente-se vigiado por Léia, sempre que ele se aproxima de um quarto secreto, permanentemente fechado e cercado por placas, exigindo afastamento. Tudo indica, por extensão, que os presentes desaparecidos estão atrás dessas paredes, mas… Por quê? A resposta talvez esteja no caráter questionável do mantenedor do orfanato, o vilanaz Senhor Peabody (Adriano Basegio), situação que fica irrespondida até o desfecho, quando conhecemos os motivos da amargura de Léia.

Ao final, o filme consegue justificar de maneira graciosa a sua moral da história: “não existem crianças más, apenas situações ruins. Sempre temos a chance de consertar as coisas”. Há diversos problemas na sujeição do realizador a um enredo tão permeado por clichês e lacunas que prejudicam a lógica do “contrato” diegético: por mais que aceitemos as incompletudes do roteiro (aquilo que envolve o sumiço da cadela Amiga, por exemplo), as reações aos diálogos soam pouco credíveis, nalgumas oportunidades, sobretudo no que tange ao frenesi dos membros da UFA (União dos Famintos Ajudantes de Papai Noel) e aos pantins das crianças, que são mimadas, a despeito de suas condições de vida no orfanato (deveras privilegiadas, admitamos). 

Ostensivamente cinéfilo, o diretor destila várias homenagens a clássicos estadunidenses – em cenas-chave, ouvimos acordes que emulam trabalhos famosos de George Lucas ou Steven Spielberg – e conta com a animada trilha musical de Arthur de Faria e Fernanda Takai, sendo que esta última, além de compor a canção “Um Dia Especial”, também cantarola uma versão acústica de “Sobre o Tempo”, da banda Pato Fu, da qual é vocalista. No saldo geral, por mais que seja previsível em suas movimentações tramáticas, “Uma Carta para Papai Noel” conta com um humor inocente (vide a piada sobre o susto que quase faz Leon se “numerodoizar”) e com boas interpretações infantis (e caninas). Deve-se citar, neste sentido, a eloqüência da garotinha Lívia Borges Meinhardt, no papel da imperiosa Beca, em contraponto à inexpressividade de Theo Goulart, como o melindroso Cabeleira. Estando voltando para um nicho muito específico do mercado cinematográfico (reservado às crianças), este filme cumpre com habilidade os seus requisitos formulaicos!

Trailer

Ficha Técnica
Título original e ano: Uma Carta Para Papai Noel, 2023. Direção: Gustavo Spolidoro. Roteiro: Gibran Dipp e Gustavo Spolidoro. Elenco: José Rubens Chachá, Totia Meirelles, Polly Marinho, Elisa Volpatto, Caetano Rostro Gomes, Lívia Borges Meinhardt, Mariana Lopes, Cecilia Guedes, Theo Goulart Up. Preparação de Elenco: Adriano Basegio. Produção de Elenco Nacional: Andrea Imperatore. Gênero: Infantil, família. Nacionalidade: Brasil. Trilha Sonora: Arthur de Farias. Edição de Som e Mixagem e Mixagem: Kiko Ferraz, Ricardo Costa e Chrístian Vaisz. Direção de Fotografia: Bruno Polidoro. Direção de Arte: Tiago Retamal. Montagem: Pablo Riera. Supervisão de Efeitos Visuais: Pedro de Lima Marques. Produção: Aletéia Selonk. Produção Executiva: Aletéia Selonk, Graziella Ferst, Marlise Aúde e Gina O'Donnell. Direção de Produção: Tito Mateo. Distribuição: Pandora Filmes. Duração

EM EXIBIÇÃO NOS CINEMAS!

Escrito por Wesley Pereira de Castro

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