O Primeiro Dia da Minha Vida, de Paolo Genovese | Assista nos Cinemas


“Não dá para ir ao cinema e não sentir o cheiro de pipoca quente com manteiga”! 

O cineasta Paolo Genovese é responsável por uma conquista inusitada para o cinema italiano: dirigiu o longa-metragem “Perfeitos Desconhecidos” (2016), que entrou para o Livro dos Recordes como o mais regravado de todos os tempos. Até agora, existem mais de vinte versões da mesma história, em países tão diversos como França, Hungria, Japão, México, Emirados Árabes Unidos, Israel e Azerbaijão, estando em desenvolvimento até mesmo uma adaptação brasileira. Se, em seu filme mais famoso, o cineasta chamou a atenção pela maneira como construiu reviravoltas cômicas e dramáticas, envolvendo vários casais que aceitam participar de um jogo que expõe os conteúdos e contatos de seus telefones celulares, em “O Primeiro Dia da Minha Vida” (2023), ele aborda uma temática delicada, o suicídio. Mas o faz com a leveza reconhecível em suas demais obras, com franco apelo popular. 

Protagonizado pelo mui talentoso Toni Servillo, o argumento deste filme estende a premissa do clássico hollywoodiano “A Felicidade Não Se Compra” (1946, de Frank Capra): um protagonista não nomeado, com características angelicais, reúne pessoas que estão prestes a acabar com suas próprias vidas e lhes propõe um passeio pela cidade, ao longo de sete dias. Ao final deste prazo, poderão decidir se querem levar a cabo ou não o projeto suicida, mas, até então, ficarão privados de prazeres humanos, como comer, beber e utilizar o banheiro. Poderão observar à vontade como seria o mundo em suas respectivas ausências, entretanto. 

Tal como os personagens selecionados, não sabemos nada sobre este protagonista, em sua aparição inicial. Mas pouco a pouco compreendemos as suas motivações, no afã por auxiliar aquelas pessoas. Na cena de abertura, acompanhamos a aflição de Arianna (Margherita Buy), uma policial atormentada pelo falecimento de sua filha, prestes a atirar na própria cabeça. O protagonista a retira de seu automóvel, no instante em que a arma dispara, e a reúne com mais três pessoas, que também tentaram o suicídio recentemente. Ao longo dos sete dias seguintes, eles conversarão sobre os motivos para a infelicidade que os conduziu a um ato tão extremo… 

Trailer



Ficha Técnica

Título Original e Ano: , 2023. Direção: Paolo Genovese. Roteiro: Paolo Genovese, Isabella Aguilar, Paolo Costella, Rolando Ravello. Elenco: Toni Servillo, Valerio Mastandrea, Margherita Buy, Sara Serraiocco, Gabriele Cristini, Lidia Vitale, Antonio Gerardi, Vittoria Puccini, Thomas Trabacchi. Gênero: Drama. Nacionalidade: Itália. Direção de Fotografia: Fabrizio Lucci. Desenho de Produção: Chiara Balducci. Trilha Sonora Original: Maurizio Filardo. Montagem: Consuelo Catucci. Produção: Raffaella Leone, Andrea Leone. Distribuição: Pandora Filmes. Duração: 121 minutos
Daniele (Gabriele Cristini), por exemplo, é um adolescente explorado pelo pai, que o obriga a gravar vídeos humilhantes, em que ele engole muita comida, em pouquíssimo tempo. Além de se sentir extremamente constrangido, Daniele engorda consideravelmente e passa a ser humilhado no colégio, mas não consegue a afeição de seus pais, obcecados pela fama. Diabético, o garoto decide ingerir vários doces sem tomar a sua necessária dose de insulina. Teria ele uma segunda chance de viver? 

Emilia (Sara Serraiocco), por sua vez, suicidou-se após ter ficado paraplégica, num acidente supostamente acontecido durante um exercício de ginástica. Desconfortável por quase sempre ficar em segundo lugar nas competições desportivas, ela perde a motivação para continuar viva, ao perceber-se confinada numa cadeira de rodas. Porém, ela esconde alguns segredos, que serão desvendados num momento-chave, e também serão decisivos na oportunidade de escolher se quer permanecer morta ou voltar a viver… 

Créditos: Lotus Production e Medusa Film
A película Italiana teve lançamento no país em janeiro de 2023 e chega ao Brasil depois de um ano

Além desses três, há Napoleone (Valerio Mastandrea), aparentemente o mais deprimido de todos, o que é paradoxal, visto que ele trabalha como ‘coach’, vendendo fórmulas  comportamentais, em palestras, para que seus clientes sintam-se dispostos a enfrentar os problemas cotidianos. Ou seja, justamente aquele que passa os dias proferindo frases de autoajuda não consegue lidar com a crise emocional envolvendo a sua esposa Greta (Elena Lietti). Napoleone sente ciúmes do possível relacionamento entre ela e o seu melhor amigo. E, ao invés de dialogar, opta por uma decisão egoísta: atira-se de uma ponte, o que o protagonista angelical considera mui recorrente, no que tange às mortes das pessoas que auxilia. Calha de ser Napoleone o mais dificultoso no tratamento seletivo entre a vida e a morte, pois ele reluta em assumir as suas fraquezas, em reconhecer que é capaz de enfrentá-las. Ajudou muitas pessoas, por dinheiro, mas não consegue salvar a si próprio!

Aderindo a situações óbvias porém bem-intencionadas, o roteiro escrito pelo próprio diretor, em parceria com  Isabella Aguilar, Paolo Costella, Rolando Ravellocontém diversas firulas, justificadas pela estrutura fabular. Por vezes, as seqüências confundem-se com vídeos motivacionais comumente publicados no Instagram, incluindo na trilha musical faixas recorrentes nestes vídeos, como “Hallelujah”, de Leonard Cohen, ou “Experience”, de Ludovico Einaudi. O enredo é imbuído dos sintomas psiquiátricos dos personagens, em vais e vens que emulam a bipolaridade típica de quem opta pelo suicídio. Há muitas simplificações espíritas na trama, direcionadas ao acolhimento espectatorial, cujas pretensões de identificação exortam a beleza da vida, através do reconhecimento do livre-arbítrio, que o filme proporciona. Uma cena maravilhosa é deveras sintética neste sentido, quando o protagonista demonstra que as luzes concernentes à felicidade dos habitantes de uma determinada região acendem-se e apagam-se de maneira frenética e inconstante. Mas é “justamente por sentirem falta da felicidade – e saberem que podem recuperá-la – que eles seguem em frente”. Em meio ao despejo de mesmices, o filme funciona ao nos cativar afetivamente. Será que os quatro suicidas serão demovidos de suas idéias auto-sabotadoras? O desfecho é uma gracinha!

EM EXIBIÇÃO NOS CINEMAS!
 
*Estamos enfrentando instabilidade quanto a segurança do site, portanto, a editoração precisou retirar textos do ar e postar novamente.

Escrito por Wesley Pereira de Castro

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