► Segunda Noite de Mostra Competitiva no Festival de Brasilia do Cinema Brasileiro


E no segundo dia de Festival de Cinema, aqui em Brasilia, não faltaram atividades para o público interagir com o mundo do audivisual. Rolaram debates com equipes das produções e também a masterclass da diretora Anna Muylaert.

Nossa participação, contudo, se iniciou com a ida ao Cine Brasilia para acompanhar a exibição dos filmes a partir das 19hrs. Foram eles, 'A Hora e a Vez de Augusto Matraga', filme de Roberto Santos que está dentro da Mostra '50 anos em 5 dias' e têm meta de celebrar o cinema nacional, e ainda o curta-metragem 'Inocentes, de Douglas Soares', e a o longa de Júlia Murat, Pendular.

Uma noite agradabilíssima e cheia de bons filmes.



A Hora e a Vez de Augusto MatragaDireção: Roberto Santos
Elenco: Leonardo Villar, Jofre Soares, Mauricio do Valle, Flávio Migliaccio
Nacionalidade e ano: Brasil, 1965

A trama é baseada em um conto escrito por João Guimarães Rosa e traz a história do valentão Augusto Matraga (Leonardo Villar). Homem de sangue forte do sertão mineiro que sofre uma reviravolta em sua vida após sua mulher o abandonar por outro e os jagunços da cidade o deixarem para morrer em uma ribanceira. 

O filme retrata a época como veemência e revela personagens muito bem construídos. A religião, claro, fazia parte do cotidiano daquele interior sofrido e os chefes de família sempre eram donos da última palavra. Há poucos personagens femininos, mas nem por isso, menores. O alivio cômico vem, aliás, por causa de duas delas, a filha de Augusto e a 'possível amante' (que incrivelmente lembra a cantora Amy Winehouse), mas é com o matuto covarde de Flávio Migliaccio que o riso corre solta em milhares de momentos, apesar da seriedade da obra e de seu drama evidente. 

Embora o título do longa entregue que o personagem central terá sua hora, o mais relevante da jornada dele é que ele passa a refletir sobre seus atos e como melhorar a partir dali. Ele cresce nos atos finais quando revela não querer vingança, mas sim ajudar o próximo sem qualquer valor de recompensa. 

A trilha sonora é um personagem a parte aqui e a direção de Santos faz takes impressionantes e não deixa o espectador dormir nem um segundo sequer. 

Ganhador do Festival de Brasilia, em 1966, e também representante do Brasil no Festival de Cannes, o longa é uma obra prima e ganhou remake em 2011 com João Miguel no papel principal. 

Restaurado em 2015, o longa de Roberto Santos foi apresentado por sua esposa e por seu filho.

MOSTRA COMPETITIVA (CURTA)
INOCENTES, de Douglas Soares.

Experimental/Ficção, 19min, 2017, RJ, 16 anos.



Sinopse:

Um percurso voyeurístico na obra homoerótica de Alair Gomes.

Exibição:
17 de setembro | 21h30 | Cine Brasília

17 de setembro | 20h | Teatro da Praça (Taguatinga), Espaço Semente (Gama), Teatro de Sobradinho e no Riacho Fundo (em frente à Administração)

18 de setembro | reprise às 15h | Museu Nacional da República

Comentários 


O enredo é claramente LGBT, e mostra uma beleza impar de simbolismos e metáforas sobre o desejo, sobre o amor e sobre o olhar ao íntimo do outro.

Com narração potente e cheia de emoção do ator Marcos Caruso, o curta se desenvolve bem e tem cenas lindíssimas nas praias cariocas e ainda em espaços fechados, onde um personagem reforça o querer do toque e o gozo das relações.  

Douglas foca sua condução no ardor e no desejo de jovens que vivem a intensidade de seus dias de liberdade. O uso de uma trilha ressoante e uma fotografia que olha dentro de seus personagens faz do curto um belo reflexo do tesão juvenil. E o reforço da ausência de cor ali sobressalta isto com vigor.


Avaliação: Três doses de paixão e setenta e cinco olhares puros (3,75/5)




MOSTRA COMPETITIVA (LONGA)
PENDULAR. Direção: Julia Murat. Roteiro: Julia Murat, Matias Mariani. ElencoRaquel Karro, Rodrigo Bolzan, Neto Machado, Marcio Vito, Felipe Rocha, Renato Linhares, Larissa Siqueira, Carlos Eduardo Santos, Valeria Berreta, Martina Revollo. Diretora de fotografia: Soledad Rodrigues. Ficção, 108min, 2017, RJ, 16 anos.




Sinopse: Em um galpão abandonado, um casal de artistas contemporâneos observa a arte, a performance e sua intimidade se misturarem. A partir de sequentes contradições, eles vão aos poucos perdendo sua capacidade de distinguir o que faz parte de seus projetos artísticos e o que nada mais é que a relação amorosa, criando até mesmo um conflito com seu passado.

Exibição:
17 de setembro | 21h30 | Cine Brasília

17 de setembro | 20h | Teatro da Praça (Taguatinga), Espaço Semente (Gama), Teatro de Sobradinho e no Riacho Fundo (em frente à Administração)

18 de setembro | reprise às 15h | Museu Nacional da República

Comentários 

O roteiro de Julia Murat e Matias Mariani revela um casal apaixonado que decide construir uma vida juntos e também dividir um galpão abandonado, onde ambos expressam e trabalham em suas artes. Raquel Karro vive uma bailarina de dança contemporânea e Rodrigo Bolzan vive um artista plástico workaholic. 

Quando o longa se inicia, o casal está traçando a divisão do espaço que dividirão dali em diante. Até determinado momento, tudo se desenrola com calor e afeto. Mas a convivência faz os dois refletirem sobre o que cada um quer para a relação. Ela vive sua liberdade e seu gosto pelo colorido da vida. Ele se frustra com tal fator e começa a invadir em exagero o espaço da parceira, sem nem mesmo perceber. O homem também encontra conflitos a partir de vontades que ele tem e a dançarina não. 

O universo feminino vem solto e belo aqui e faz um embate maravilhoso com o seu oposto. Toda a alegoria por trás da história, na verdade, faz com que seus sentimentos de frustrações se explodam e tudo se encontra no presentes artísticos que o casal e seus amigos nos dão . 

A ambientação do longa é craque nos detalhes. A trilha sonora vai de ruídos agudos a músicas estrondosas como a impactante ''Love Will Tear Us Apart'', da banda inglesa Joy Division. Há destaque para o casal de atores protagonista, mas o ator Felipe Rocha também é uma figuraça ali. Cômico e cheio de personalidade. 

Julia visualiza um mundo que se desequilibra e o esmiúça com lentidão. Uma dança que merece ser contemplada. E um amor que se desconstrói

Avaliação: Quatro transas em ritmo lento e satisfatório (4/5)

A película já tem estréia em circuito nacional marcada para esta quinta-feira (21)


See Ya!
















b-

Escrito por Bárbara Kruczyński

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