A Nossa Espera


Olivier Vallet (Romain Doris) e Laura Vallet (Lucie Debay)

O abandono familiar não é um tema estranho ao cinema; há incontáveis filmes que lidam com mães, pais, filhos, que fogem ou desaparecem. Muitos desses filmes direcionam seu foco para o suspense e a narrativa policial: “foi sequestro? Será que foi assassinado e não encontraram o corpo? Quem é o culpado?”.
A Nossa Espera, entretanto, decide focar nas relações familiares, mas não somente para justificar a fuga ou encontrar culpados, mas para nos mostrar como algumas coisas acabam se perdendo diante de uma rotina exaustiva.


No drama dirigido pelo belga Guillaume Senez (conhecido pelo filme 9 Meses) que também assina o roteiro com Raphaëlle Desplechin, Olivier (Romain Duris) é um pai de família dedicado e uma importante figura na fábrica em que trabalha, aonde direitos trabalhistas parecem não existir. Sua já turbulenta rotina se intensifica quando a esposa Laura (Lucie Debay), e uma mãe extremamente carinhosa, inesperadamente abandona a família. Diante disso ele se vê sozinho tendo que lidar com as necessidades de seus filhos pequenos, os desafios do cotidiano e as demandas de seu trabalho.


Em A Nossa Espera a estrutura familiar se torna o centro das atenções e como o pai e os filhos tentam reconstruir uma rotina sem a presença da mãe. Reiterando a história de uma família tentando se manter, Joëlle (Dominique Valadié), mãe de Olivier, e Betty (Laetitia Dosch) atriz de teatro e irmã de Olivier também ajudam a cuidar das crianças e a tentar manter alguma normalidade à rotina de todos.


Trailer



Evitando cair em um clichê que culparia Olivier ou qualquer outro personagem pela fuga da mãe, A Nossa Espera tem inúmeras cenas que deixam evidente o amor que os personagens sentem um pelo outro. Além do relacionamento de Olivier e Laura, o destaque vai para os filhos; o protetor Elliot (Basile Grunberger) e a afetuosa Rose (Lena Girard Voss), que juntos protagonizam algumas das cenas mais bonitas do filme.



Rose (Lena Girard Voss), Betty (Laetitia Dosch) e Elliot (Basile Grunberger)

O filme se divide entre mostrar o ambiente familiar e o de trabalho; enquanto em um o amor e o companheirismo são inquestionáveis no outro é visível o quão nocivo ele é por conta da exploração do trabalho pelo empregador e a precariedade das condições de trabalho. A relação entre Olivier e a responsável pelo RH, Agathe (Sarah Le Picard), é particularmente tensa: Olivier é tido como um líder entre os funcionários da fábrica e se preocupa constantemente com o bem-estar dos funcionários, entretanto, Agathe se mostra apática e despreocupada diante dessas questões. Em uma determinada cena, Olivier discute com ela o fato dos funcionários estarem trabalhando sem luvas e toucas durante o inverno e Agathe reage dizendo “bem, lá fora também está frio, se é que você me entende”. Na cena seguinte, os trabalhadores são forçados a usarem gorros de Papai Noel enquanto trabalham.


Olivier e outros funcionários da fábrica

Um dos maiores triunfos do filme é o de manter um olhar empático e cuidadoso com todos os personagens ao mesmo tempo em que não cai em um melodrama – uma armadilha fácil devido ao tema do filme. Isso acontece por conta da atenção que Guillaume Senez tem com o realismo, que se traduz em cenas aonde o silêncio prevalece e os personagens se expressam através de seus gestos. Um olhar atento certamente irá perceber esses detalhes e a delicadeza com a qual a câmera se comporta com os personagens.


A Nossa Espera foi selecionado na Semana da Crítica do Festival de Cannes e chega aos cinemas brasileiros no dia 03 de Janeiro de 2019.



Ficha Técnica


Título original: Nos batailles, 2018. Direção: Guillaume Senez. Roteiro: Guillaume Senez e Raphaëlle Desplechin. Elenco: Romain Duris, Lucie Debay, Basile Grunberger, Lena Girard Voss, Laetitia Dosch, Dominique Valadie. Duração: 99 minutos. Gênero: drama. Línguas: francês.País: Bélgica e França. Produção Executiva: Taio Facilities. Produção: Isabelle Truc, David Thion e Philippe Martin. Diretor de Fotografia: Elin Kirschfink (SBC). Diretor de Arte: Florin Dima. Montagem: Julie Brenta. Edição de Som: Virginie Messiaen e Sabrina Calmels. Mixagem: Franco Piscopo. Distribuição: Vitrine Filmes. Classificação etária: a verificar.

Escrito por Raísa Maris

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