Lizzie


O interesse por assassinatos brutais não é uma novidade para os norte-americanos. De podcasts, a filmes e documentários, há uma grande quantidade de materiais sobre os mais diversos assassinos em suas diferentes épocas. No caso de Lizzie Borden, que em 1892 foi a maior suspeita de ter assassinado à machadadas seu pai e sua madrasta, há óperas, seriados, documentários, um ballet, uma música para pular corda cantada por crianças, um musical da Broadway, livros, etc. O que parece mover parte desse dedicado interesse é o fato de que há mais de uma teoria sobre o que teria acontecido na casa dos Borden em 1892, no estado de Massachusets, já que o caso nunca foi resolvido.

O filme elege uma teoria para a sua história e consegue, desta forma, se distanciar do realismo, ao mesmo tempo em que se aproxima dele, já que faz um estudo minucioso do período que antecede os assassinatos através de uma narrativa não-linear na medida em que cenas são repetidas conforme vamos descobrindo mais sobre os Borden.

Como uma mulher de 32 anos, solteira e antissocial, Lizzie (Chlöe Sevigny) vive uma realidade claustrofóbica sob o controle frio e dominador de seu pai. Quando Bridget Sullivan (Kristen Stewart), uma jovem criada, começa a trabalhar na casa da família, Lizzie encontra alguém em quem confiar, e uma intimidade inquietante surge entre ambas.

Trailer

O norte-americano Craig William Macneill mantém em Lizzie, seu segundo filme depois de O Garoto Sombrio de 2015, seu interesse por assassinatos e tenta fazer com que o público simpatize com esses personagens não por uma tendência macabra, mas ao explorar o ambiente aonde tais figuras nasceram.


Lizzie em diversos momentos flerta com o terror na medida em que sua trilha sonora (ouça aqui), composta por Jeff Russo, cria uma atmosfera de tensão muito parecida com aquela criada nos instantes que antecedem um susto. Um dos truques da edição e da direção é usar isso não para assustar o público, mas para nos fazer sentir o quão instável é a casa dos Borden. Não há um grande vilão de terror no filme, todo o horror fica a cargo de uma rotina claustrofóbica, reforçada pelo fato de que todas as personagens mulheres terem como plano de fundo de suas cenas ambientes fechados, e controlada por um pai abusivo.


Uma das imagens mais frequentes do filme é a de Lizzie Borden e seu reflexo, um take duplo que se multiplica durante todo o filme e que tanto acena para as outras teorias na medida em que assume visualmente que há “mais de uma Lizzie” e também sinaliza para dentro de sua própria narrativa quando nos mostra as diversas expressões faciais de Lizzie por mais de um ângulo, como se a câmera buscasse estudar cada mínimo detalhe da vida de sua protagonista.

As atuações são tão minuciosas quanto a análise que as imagens fazem das personagens; contidas durante a maior parte do filme e agressivas em momentos específicos e há muita dedicação aos detalhes da fisicalidade e aos silêncios. O grande destaque do filme é, naturalmente, Chlöe Sevigny que conseguiu encontrar a cadência certa em como interpreta Lizzie na maneira em que ela se distancia e se aproxima do público, mas Kristen Stewart, com poucas falas e agindo sempre mais como uma observadora do que como alguém que impulsiona a ação dramática, está presente nas que considero algumas das melhores cenas do longa.



Lizzie foi indicado para o grande prêmio do júri no Festival de Sundance de 2018 e chega aos cinemas brasileiros em 3 de janeiro de 2019, com distribuição da Diamond Films.

Ficha técnica

Título original: Lizzie, 2018. Direção: Craig William Macneill. Roteiro: Bryce Kass. Elenco: Chlöe Sevigny, Kristen Stweart, Fiona Shaw e mais. Duração: 105 minutos. Gênero: drama. Línguas: inglês. País: Estados Unidos. Produção Executiva: Powder Hound Pictures: Elizabeth Stillwell, Roxanne Fie Anderson, Edward J. Anderson. Produção: Naomi Despres, Liz Destro e Chloë Sevigny. Co-Produção: Josh Bachove. Edição: Abbi Jutkowitz. Diretor de Fotografia: Noah Greenberg. Compositor: Jeff Russo. Produção de Design: Elizabeth Jones.  Distribuição: Diamond Films. Classificação etária: a verificar.

Escrito por Raísa Maris

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