O Cidadão Ilustre | Assista na Netflix|


Realidade ou Ficção?

Disponível no catálogo da menina Netflix (ver aqui), a co-produção entre Argentina e Espanha, foi exibida no Festival de Veneza, em 2016, e aclamada com o 'Golden Lion' de Melhor Ator para Oscar Martinez. Ainda naquele ano, também foi responsável por encerrar o Festival do Rio e foi o comentário em muitos outros.

A película pode até passar despercebida para alguns, mas a nossa sugestão é clara: Assista!! Isto porque é possível dizer que você sofrerá um impacto super agradável e positivo com ela e sairá indicando a todos os amigos.

Dirigida por Mariano Cohn e Gastón Duprat, esta obra, que a princípio parece simples, se revela instigante e reflexiva, ao tocar o dedo em algumas feridas que todos já sentimos em algum momento da vida. Soberba, renegar o local de onde veio, orgulho.

Trailer

Ficha Técnica
Título original e ano: El Ciudadano Ilustre, 2016. Direção: Mariano Cohn e Gastón Duprat. Roteiro: Andrés Duprat. Elenco: Oscar Martinez, Dady Brieva, Nora Navas, Andrea Frigerio, Manuel Vicente, Emma Rivera, Marcelo D'Andrea, Belén Chavanne. Gênero: Drama, Comédia. Nacionalidade: Argentina, Espanha. Trilha Sonora Original: Toni M. Mir. Fotografia: Jerónimo Carranza. Figurino: Laura Donari. Distribuição: Cineart Filmes. Duração: 01h58min.

Tudo começa com o escritor Daniel Montovani (Martinez) recebendo a premiação máxima da vida de qualquer autor - o Prêmio Nobel de Literatura. Qualquer outro se sentiria lisonjeado com a premiação. Não ele. 

Daniel, em trajes simples,vai a premiação, mal cumprimenta todos na cerimônia e ao agradecer faz um discurso que choca a plateia o que evoca aquele momento de silêncio constrangedor!

Para ele, ser reconhecido é como chegar ao fim da carreira, uma verdadeira sentença de morte em sua veia criativa. Após tal júbilo só lhe restará colher os louros e aceitar que seus livros se tornaram algo que o grande público é capaz de digerir. Não há crítica ou questionamento em obras que se tornam populares. E, para ele, o papel de um bom escritor é incomodar e fazer o leitor pensar.

A partir deste dia sua vida se torna monótona e tudo que lhe resta são convites para eventos e palestras. Que são canceladas um a um. Até que chega um convite de sua cidade natal - Salas. Uma pequena província argentina de onde Daniel se despediu 40 anos atrás para nunca mais voltar. Aliás, ele conseguiu sair de Salas, porém seus personagens, não. Ademais, ele ser agora agraciado com o título de "Cidadão Ilustre", na cidade pela qual nutre rancor e desprezo, não cai muito bem mesmo.


Para ele, ser uma figura ilustre é ser uma espécie de herói, que se tira do armário, limpa-se a poeira para que se apresente em algum evento cultural, fale algumas frases famosas e, depois volta-se a guarda-la no armário.

Rever antigos amigos, amores, a vida pacata de um lugar que parece não ter evoluído com o passar dos anos causa um grande impacto em Daniel.

Viver tanto tempo na Europa fez de Daniel uma pessoa muito mais crítica, com outra visão de mundo. Assim, todo aquele culto à celebridade de forma rústica e interiorana causa um choque cultural no autor. É perceptivel ainda que conciliar as memórias do passado com a vivencia adquirida nos anos que viveu fora de Salas o causa um certo estranhamento. Mas por um lado, Daniel ainda sente, embora negue, um certo carinho saudosista dali. Contudo, ele agora é um cidadão do mundo. 

"Realidade ou ficção. Que importa. A realidade não existe, mas sim interpretações. O que chamamos de verdade, nada mais é que uma interpretação que prevaleceu sobre outras!"

A fotografia é impecável em mostrar as casas simples, ruas de terra, vida de cidade pequena e habitantes humildes.

Daniel é um personagem dúbio e em muitos momentos do filme é impossível se afeiçoar a ele. Porém ele também demonstra ser sentimental e consegue conquistar nossa simpatia. Uma tarefa árdua o definir e, exatamente por isso, o personagem se torna tão interessante. E pensando bem, muitas vezes nos colocamos no lugar do escritor quando negamos nossas origens e assumimos a vida em um mundo globalizado e impessoal, com uma cultura que não nos pertence. 

"A palavra cultura sai da boca das pessoas mais ignorantes, estúpidas e perigosas."

Com um desfecho impactante ''O Cidadão Ilustre'' pode confundir criador e criatura e mostra-se perfeito em sua narrativa.

Escrito por Helen Ribeiro

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