Tenet, de Christopher Nolan


A primeira grande estreia do segundo semestre do ano não só teve sua pós produção afetada pela chegada da pandemia como também todos os seus eventos de premiere ao redor do mundo. Tenet, o tão audacioso projeto do cineasta Christopher Nolan, joga na tela temáticas que já vimos antes em seus filmes, mas aqui ele tenta ser ainda mais detalhista e explicativo ao falar de teorias da física que envolvem o fluxo do tempo e não exatamente viagem no tempo, tudo com um tom de espionagem à la James Bond.

Protagonizado por um elenco totalmente excelente e diverso formado por John David Washingon, Robert Pattinson, Elizabeth Debicki, Kenneth Branagh, Michael Caine, Clémence Poésy, Dimple Kapadia, Aaron Taylor-Johnson e Himesh Patel, a produção entrega muita ação em uma leva de cenas bem coordenadas que foram filmadas com câmeras especiais IMAX construídas especialmente para captar a movimentação do roteiro pensado por Nolan.

Este mega lançamento da Warner Bros Pictures chega após o Festival Nolan, iniciado na metade de outubro, que fez homenagens ao diretor e disponibilizou sessões de seus filmes anteriores ao público, como ''A Origem'', ''Interestellar'' e ''Batman - O Cavaleiro das Trevas'', ainda com intuito de trazer a nostalgia da boa era do cinema que vivíamos antes da COVID-19.

Trailer


Ficha  Técnica
Título original e ano: Tenet, 2020. Direção e Roteiro: Christopher Nolan. Elenco: John David Washingon, Robert Pattinson, Elizabeth Debicki, Kenneth Branagh, Michael Caine, Clémence Poésy, Dimple Kapadia, Aaron Taylor-Johnson, Himesh Patel. Gênero: Action Sci-fi. Nacionalidade:  Reino Unido e Estados Unidos da América. Trilha Sonora Original: Ludwig Görasson. Fotografia: Hoyte van Hoytema. Edição: Jennifer Lame. Figurino: Jeffrey Kurland. Design de produção: Nathan Crowley. Efeitos Especiais: Scott R. Fisher. Distribuição: Warner Bros Pictures. Duração: 02h30min. 
Ao iniciar do filme, somos levados a um teatro em Kiev, Ucrânia, e ao que parece uma sessão de gala para apreciadores de Ópera. Em instantes, homens armados invadem o espaço e o caos se inicia. Porém, outro grupo operacional também chega ao local para resgatar um senhor que possui um artefato estranho e que deve ser guardado. A missão sai do controle e dois dos soldados na operação acabam nas mãos dos terroristas que invadiram o teatro. Um deles, ao ser torturado, não resiste e morre, já o outro (John David Washington) consegue se safar ao engolir uma pílula que a organização para qual trabalha os fornece em caso de captura. Ao superar essa fase, o homem descobre que passou em um teste e foi integrado a uma missão internacional para salvar o mundo. Neste meio tempo, ele é apresentado a Crosby (Michael Caine) que lhe dá direções importantes a seguir, também a suposta informante da operação Prya (Dimple Kapadia), a cientista Bárbara (Clémence Poésy) e ao agente Neil (Robert Pattinson). Prya comunica ao então integrado agente que eles terão de impedir os planos de um mafioso russo chamado Andrei Sator (Kenneth Branagh) e para chegar até ele poderá usar sua mulher, a avaliadora de quadros Kat (Elizabeth Debicki), pois eles sabem de um ou outro segredo dela. 

Um elenco de tirar o fôlego

Muitas películas deste diretor são pinceladas com teorias do campo físico, mas nem sempre elas tem um sentido completo, apesar de terem base. Pode ser que você assista e se perca aqui e ali e a dica é notar as obviedades do que ele entrega em um texto altamente explicativo (o que também já faz nas imagens) e que até dá uma volta em si mesmo. Seja pela jornada dos personagens ou até mesmo pela forma com que ele filma Tenet. Para começo de conversa, o título do longa em si é um palíndromo (tanto como outras que você verá ali sator, rotas, opera, arepo). Ou seja, lendo da direita para esquerda, ou vice versa, ela terá a mesma sonoridade e escrita. E assim ele aborda o que quer dar ao seu espectador já de cara. A ideia de que o futuro e o passado são quase a mesma coisa já que se você vai para frente, você atinge um ponto, e voltando para trás, atinge o ponto de partida do qual saiu anteriormente. Portanto, ele investiga aqui especificamente o que acontece nesse percurso de tempo. Alterações e consequências. A palavra Tenet também simboliza a concepção do período de  ''dez segundos'' e, em algum momento em cena, esta pequena contagem será crucial. 

Bárbara (Poésy) - Uma dessas balas é como nós viajando à frente do tempo e a outra segue o caminho inverso. Você consegue perceber qual é qual? e agora?

Nolan ainda trabalha o conceito de que o futuro quer destruir o passado e usa um vilão russo grotesco, papel do fenomenal Kenneth Branagh, para ser o braço direito deste tempo que pode talvez não chegar se o agente integrado que se auto titula ''O Protagonista'' (Washington) não conseguir resolver os dilemas que tem a sua frente. O presente tenta então retroceder para entender o que está a frente e com a amizade que o  agente começa a incentivar pela esposa do mafioso a missão acaba ganhando um duplo sentido. Ademais, o bromance que surge entre ele e o também agente 'Neil' ajuda a amenizar as incertezas que o homem tem de todo o trabalho.

Perceba que as cores da fotografia dizem se eles estão avançando no tempo (vermelha) ou retrocedendo (azul)

Tenet tem outra intrigante característica: revelar como os passos de Nolan até aqui foram importantes para construir  o filme. E ele mesmo aponta, em entrevista a BBC Radio, que a ideia central já tinha sido avistada em Amnésia (2000). Fora toda a questão de trabalho em time que ele revela no fenomenal ''A Origem'' (2010).

Takes de 'Amnésia' e 'A Origem' comparados a Tenet

Tenet é a produção, até a presente data, com o orçamento mais caro tendo um homem negro como protagonista. Foi filmada em diversos lugares do mundo, Reino Unido, Índia, Dinamarca, Itália, Estados Unidos e Noruega, e faz o seu coração acelerar desde as cenas iniciais pela incrível trilha sonora de Ludwig Görasson (Nolan geralmente trabalha com Hans Zimmer, mas este estava envolvido em Duna e não pôde estar no filme). Ele casa a corrida contra o tempo do longa com batidas rápidas e até compôs junto a Travis Scott uma canção para o tema do filme usando o Hip Hop como fundo (escute aqui). 

Classudo e no ponto,  o elenco performa as idéias malucas de Nolan com muita notoriedade - eles precisaram filmar muitas cenas ao contrário. Se todos, aliás, devem ser louvados por terem aprendido a falar de trás para a frente, Kenneth Branagh deve ser aplaudido de pé por o ter feio ainda com um sotaque russo. Inclusive, ele já interpretou personagem similar em ''Operação Sombra: Jack Ryan'' (2014). Mas não deixemos de falar da alegria que é ver John David Washington aqui. Um ator em ascensão que brilhou em Infiltrado na Klan, de Spike Lee (leia os comentários) e aos poucos vem trilhando uma carreira tão interessante quanto a do pai. Pattinson está arrasando (haters se mordam) e a  participação que é a cereja do bolo, Aaron Taylor-Johnson, aparece mais ao fim do filme.

E o que falar deste diretor que tanto queria ver seu filme nos cinemas e teve que encarar a realidade de uma doença viral ainda sem cura (complicado). Bem, ele diz pensar na idéia do que apresenta por quase dez anos e se consegue fazer tudo com grandeza em Tenet (explodir aviões, reconstruir teatros em outros países, exibir embarcações gigantescas em movimento reverso e experimentar as teorias físicas mais impossíveis ever), ele atinge um bom lugar. Não um perfeito, mas um patamar extremamente empolgante.

Avaliação: Três balas mortais e setenta e cinco pulos de um Iate (3,75/5)


HOJE NOS CINEMAS


See Ya!

B-

Escrito por Bárbara Kruczyński

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