Spencer, de Pablo Larrain

 

Spencer” é um filme avassalador e a prova definitiva de que Kristen Stewart é uma grande atriz.

Passados quase 25 anos de sua fatídica morte em agosto de 1997, aos 36 anos, Diana, Princesa de Gales, é até hoje uma figura controversa. De um lado amada pelas pessoas, o que lhe rendeu o título de “Princesa do Povo”, do outro lado totalmente odiada e reprimida por membros da família real, sua biografia já foi apresentada diversas vezes em filmes, documentários e seriados. Contudo, é em “Spencer” que temos em cena aquele que seria talvez o seu momento mais angustiante quanto libertador.

O cineasta chileno Pablo Larrain, se prova um talentoso narrador da vida real e não importa qual seja esse figura, afinal o diretor já nos apresentou seu olhar minucioso e peculiar ao mostrar as atrocidades de Augusto Pinochet no longa “Post Morten” (2010), assim como a queda do ditador em “No” (2012), já em “Neruda” (2016) trouxe um nova abordagem sobre o poeta Pablo Neruda, assim como expandiu sua maneira de transpor em tela as dores e as angustias de personalidades marcantes para a história em “Jackie” (2017), quando arremessou em tela uma trama mórbida e nada convencional sobre Jacqueline Kennedy.

Em “Spencer”, com estreia prevista para 27 de janeiro nos cinemas nacionais, não apenas este meticuloso diretor, assim como Kristen Stewart, a atriz por trás de sua protagonista, elevam a outro nível a forma como se conjectura, se cria e se narra uma história. Na trama que abre com os dizeres “uma fabula de uma tragédia real”, mergulhamos em um perturbador feriado de Natal em Sandringham, em Nortfolk. Após rumores de traição e de divórcio, a princesa Diana se vê em um impasse quando percebe que seu casamento com Príncipe Charles já não está dando mais certo e nunca dará, já que o príncipe ama somente Camilla Parker Bowles, ainda que ela seja a mãe de seus dois filhos, portanto a mulher decide o deixar. Após o pedido, Diana se vê atormentada pelo fantasma da ex-rainha Ana Bolena, também deixada de lado pelo marido.


Apresar de todo o luxo e o glamour retratados em cenas grandiosas, assim como as reconstituições destes três dias regados a bebidas, comidas e as mais variadas formas de diversão, o roteiro de Steven Knight apresenta com maestria diálogos que transcendem ao que seria apenas especulações dos acontecimentos naqueles turbulentos dias e noites apresentando uma Lady Di que exala angustias, sofrimentos e libertação, onde numa fuga desesperada por liberdade, é na dor e no afeto do povo que ela encontra seu afago.

Kristen Stewart está esplendorosa e transcende uma Diana, que mesmo se apropriando de trejeitos, postura, comportamento e intelecto, a atriz traz um vitalidade nuca antes vista e nem retratada em tudo que se fez ou se falou sobre este ícone da história moderna. Kristen incendeia a tela em uma fervorosa atuação que culmina em uma fúria incontrolável seguida de um clímax carregado de doçura entregando aquilo que pouco de mostrou em outras produções, uma mãe afável e amorosa, tomando iniciativas pensando não só em si, mas muito em seus filhos, e isso por si só já vale qualquer anseio acerca desta obra.


Outro ponto que explora a doçura desta persona, é justamente onde Stewart dá um verdadeiro show de interpretação, ao se desvincular das amarras que “A Saga Crepúsculo” trouxe para sua carreira. Estes momentos se concentram na troca de afeto e de diálogos de Diana com a sua camareira Maggie, interpretada brilhantemente por Sally Hawkins (A Forma da Água). A química entre as atrizes permeia os mais profundos sentimentos, e em tela temos um trabalho de atuação digno de prêmios onde Stewart transmite em olhares, gestos e expressões faciais tudo o que está sentindo e vivendo.

Enquanto o roteiro exalta e idolatra esta personalidade central, principalmente em momentos que ela recebe o apoio dos empregados da realeza, ele também apresenta sem rodeios uma família real amargurada, com figuras arrogantes e personagens capaz de despertar no público os mais horríveis sentimentos de repulsa. Seja nos frames que mostram a rainha desdenhando de Diana ou então o Príncipe Charles tentando a diminuir ao argumentar e defender suas indagações referente ao seu adultério, são diálogos que de tão escrotos chegam a dar um nó no estomago.

Trailer


Ficha Técnica
Título original e ano: Spencer, 2021. Direção: Pablo Larrain. Roteiro: Steven Knight. Elenco: Kristen Stewart, Tymothy Spall, Sally Hawkings, Freddie Spry, Jack Farthing, Sean Harris, Stella Gonet, Richard Sammel, Elizabeth Stefanek, Amy Manson, Lore Stefanel. Gênero: Drama, biografia. Nacionalidade: Reino Unido, Alemanha, EUA, Chile. Trilha Sonora Original: Johnny Greenwood. Fotografia: Claire Mathon. Edição: Sebástian Sepúlveda. Figurino: Jacqueline Durran. Distribuição: Diamond Films Brasil. Duração: 01h57min.
“Spencer” é também uma notável película que enche os olhos por sua estética minuciosa que recria com precisão toda uma época transposta em grandiosas locações, figurinos, maquiagem... tudo sempre acompanhado de uma fotografia mais apagada e nebulosa que se funde com uma trilha que trafega e propaga os mais diferentes sentimentos capaz de nos fazer sentir alegria para depois nos colocar numa tristeza absurda.

Muito mais do que uma esplendorosa obra, “Spencer” é o ápice de um narrador observador que adora explorar os lados mais sombrios e tortuosos de nomes fortes e marcantes da história mundial, mas também um elevado trabalho de atuação que coloca Kristen Stewart no mapa das premiações. E esse encontro supera toda e qualquer expectativa que rondava a produção, transformando-a em algo visceral e avassalador que merece ser descoberta e apreciada, afinal, não é todo dia que temos a chance de conferir situações que deixam a família real em frangalhos.

HOJE NOS CINEMAS

Escrito por Paulo Costa

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